segunda-feira, 12 de junho de 2023

Templo versus as Tendas, Amazônia versus pobreza, e a linguagem figurada.


 

Desde já argumentamos que o Templo representa o império, por exemplo de Davi, de Constantino, da Idade Média, e dos colonizadores. E as tendas significam a Amazônia, as fábricas e os seus trabalhadores, os campos e os agricultores, os escravos e os escravizadores, os quilombos e as senzalas. Já tivemos ocasião de nos reportarmos a isto no tema: O Messias de Pedro e o Messias de São Francisco www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 10/04/22.

Tentarei dar uma resposta a uma pergunta  enigmática que o evangelho de Marcos coloca na boca de Jesus: “Como é que o próprio Davi chamando o Messias de Senhor poderá então ser seu filho?” (Mc.12, 37). A resposta vem do ambiente e do local onde Jesus se encontrava, o Templo. O ambiente era a polêmica em três questões entre Jesus e os ouvintes perigosos: a parábola dos vinhateiros assassinos, o tributo a César, e a mulher que serviu de cobaia aos sete irmãos sem deixar filhos. E de supetão vem a questão quase sem nexo que vamos procurá-lo, da seguinte maneira, como segue. As classes reinantes apoiavam-se no Templo para a volta de um Messias que restabelecesse o império de Davi com o poder simbolizado pelo Templo. E proclamavam e reivindicavam a volta do filho ou rebento de Davi como o Messias esperado para restabelecer o antigo poder de Davi. Volta Davi com o teu Messias! E na sequência cobravam que Jesus se manifestasse dessa maneira caso fosse ele o tal Messias. “Se tu és o Messias diga-nos abertamente” (Jo.10,22). Implicitamente este tipo de Messias enchia a cabeça e o imaginário de todo mundo. E em primeiro lugar, dos próprios discípulos, como manifestou Pedro afirmando que o Messias não podia ser um homem fraco que pudesse passar por algum sofrimento “Mc.32-33.

Ao lado desta ideologia de domínio imperialista havia outra que não se baseava na instituição do Templo, mas na Aliança original do deserto, num Messias como Moisés caminhando com o povo e no meio do povo, sem Templo e seu reis. Esta ala achava que a monarquia é que tinha afundado o povo de Israel tornando-o escravo das nações vizinhas. E não só, esta ala mantinha a teoria de que Davi tinha sido usurpador, e nem era um rei legítimo, haja vista que não tinha sido ungido, pelo contrário usurpou o trono de Saúl vendendo-se aos Filisteus para vencer Saúl e subir ao trono. (Cf.Chad Meyers, Evangelho de Marcos, p 93-95 e 296).

A reposta de Jesus, portanto está implícita na recusa, e pelos vistos, rechaçando a primeira ideologia, dos dirigentes judaicos e as suas pretensões, e seguia a via da segunda ideologia do Messias do Sinai. Os reis tinham abandonado o Deus do Sinai e introduzido na monarquia toda a espécie de deuses e ídolos da nações vizinhas com quem faziam alianças, deixando para trás a Aliança do Sinai.

Como resultado, a decepção e a ruina. Estas duas ideologias estão estampadas hoje, senão vejamos: O Messias de Pedro e o Messias de São Francisco; o Messias da Idade Média e os Messias dos Pobres; o Messias do império e o Messias dos povos; o Messias dos colonizadores e o Messias dos colonizados, das senzalas e dos quilombos; o símbolo do poder do Templo do Edir Macedo e o outro símbolo das tendas do deserto, da Amazônia, dos trabalhadores das fábricas, das favelas e dos campos.

Conclusão. A resposta não respondida da cena do evangelho em questão dependia do tipo de Messias que esperavam. Uns, do tipo do rei Davi, guerreiro e vencedor de todo mundo para sujeitar todos os povos ao seu domínio. Outros, do tipo de Moisés que caminhava no meio do povo e com o povo, rechaçando o rei usurpador que tinha sido Davi. O Messias imaginado não poderia ser o tal filho de Davi que eles pensavam. Marcos coloca para suas comunidades a resposta de Jesus onde conclui: “Portanto, o próprio Davi chama o Messias de Senhor; como é que ele pode, então ser seu filho?” (Mc.12,37). Pela resposta concluímos que a opção de Jesus não seguia a ala do Messias dos poderosos e do seu Templo mas da Aliança do Sinai, o Messias das tendas dos pobres e de Moisés.

P.Casimiro João    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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