segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Ir na boca de um peixe e tirar uma moeda.


 

“Lança o anzol e abre a boca do primeiro peixe que tu pescares, ali tu encontrarás uma moeda; pega então essa moeda e vai pagar o imposto”(Mt.17,27).

Aqui é colocado um tremendo desafio com duas faces, verso e reverso. O primeiro era a consideração de que o imperador de Roma era o senhor das terras, peixes e mares, e tudo que se encontrasse nas águas e nos mares lhe pertencia. Mas aqui há um desafio: Jesus vinha mostrar que o senhor dos mares não era o imperador, mas Jesus. Este poder era representado na moeda que o peixe trazia na boca. Então essa é uma parábola, um ensino. Sobre os peixes e o imperador se dizia até que quando o imperador ia passear nas praias dos mares os peixes iam lamber lhe as mãos, e também que certo pescador conseguiu apanhar um enorme peixe e o apresentou a ele, porque o peixe tinha mostrado que queria ser pego para ver o imperador.

O imposto que antes era para o Templo de Jerusalém agora ía para os templos de Roma e humilhava muito os judeus. Ele lembrava-lhes a vitória de Roma sobre eles desde a revolta que resultou na total destruição de Jerusalém e do Templo no ano 70 d.C. Com isto o imposto agora definia os Judeus como uma raça derrotada e castigada na sua nacionalidade que tinha sido aniquilada. No entanto, nesta parábola e catequese que se seguiu à destruição do Templo, se enfoca o tema escatológico que acompanha sempre o povo judeu, que de derrota em derrota sempre o povo judeu tentavam levantar a cabeça  pensando e anunciando as vitórias futuras onde o Deus Javé  iria mostrar o seu poder pelos seus enviados, e agora pelo seu servo Jesus Cristo, destinado a ser o senhor das terras, dos peixes e dos mares e não mais o imperador.

Esta parábola tem um fundo muito característico sócio-político. Os imperadores romanos eram os donos e senhores dos mares, terras e águas de todas as nações conquistadas, e portanto da Palestina. Todo peixe pescado era patrimônio do imperador e tinha um imposto próprio além do imposto do ofício do pescador. Esta é a primeira consideração. A segunda consideração é a seguinte. Nesta parte trata-se do imposto para o Templo, por isso é dito, “vosso Mestre não paga o imposto do Templo?” (Mt.17,24). Antes de 70 d.C. os judeus pagavam o imposto para sustentar o templo de Jerusalém. Com a queda de Jerusalém e do templo no ano 70 Roma estabeleceu uma tesouraria imperial para arrecadar e desviar o imposto para o templo do Júpiter no Capitólio de Roma. Portanto aquilo que devia servir para o culto de Javé foi para o culto dos deuses pagãos dos romanos. Daí a pergunta e as dúvidas se Jesus devia pagar imposto ou não.

Conclusão. Vimos em outras páginas que os evangelistas falam muitas vezes que Jesus “só falava em parábolas”. E vimos também que os próprios evangelistas também eles mesmos contavam parábolas. E não só, botavam o nome de Jesus e lhe atribuiam as parábolas. Este é um exemplo por demais claro desta estratégia de que estamos falando. Esta é uma cena numa situação em que  já não há Templo porque já não havia cidade nem Templo. Era esta época exata em que estavam sendo confeccionados os evangelhos e suas catequeses e postos por escrito.

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br  

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