segunda-feira, 14 de abril de 2025

DEUS NÃO É DEUS SEM NÓS, E NÓS NÃO SOMOS NÓS SEM DEUS.

 

Trata-se da transcendência e imanência de Deus. Transcendência enquanto está acima de todas as coisas, imanência enquanto está “dentro” de nós e do cosmos. Porque é isto que define Deus. Deus é transcendência e imanência, e tanto uma como a outra. Deus não precisa de nós, mas não existe sem nós. Enquanto não precisa de nós é transcendência, mas enquanto não existe sem nós é imanência. E dizer de nós é dizer do cosmos e seus mistérios. E não é por uma necessidade que Deus precisa de nós, mas é por pura doação ou entrega de si mesmo. Porque se fosse por uma necessidade, essa necessidade tiraria a liberdade de Deus. Por outro lado, essa doação gratuita e livre de Deus é que faz nós ser nós. Em consequência, nós e o cosmos estamos “fora” e “dentro” de Deus. Enquanto estamos “fora”, não somos “Deus”, e enquanto estamos “dentro” somos “de Deus”. Isto o entendeu já o rezador do Salmo quando disse: “Vós sois deuses, sois todos filhos do Atíssimo” (Sl.82,6). E também não é panteísmo, porque “o que define o panteísmo é a negação da gratuidade, ou seja, do caráter radicalmente gratuito, “de graça” do “ser cristão”, de sorte que o panteísmo chega a afirmar que Deus, internamente, precisaria de criaturas para completar a própria definição do seu ser divino” (E.Schilleebeeckx, Jesus, a história de um Vivente, p. 638). Exatamente é esse “ser de Deus” que acompanha o ser humano em tudo, que é a base e fonte de nossa própria existência humana. Isto fundamenta também  o núcleo de realidade e experiência contida em tudo o que na história se apresenta como religiões” (o.c.p.637). Dissemos que Deus não é Deus sem nós, sem sua entrega e presença em nós e no cosmos. O corolário é que também o ser humano só se torna pessoa quando se entrega aos outros. “Independentemente dessa referência interna a Deus no cerne da nossa existência, podemos refletir sobre a pessoa humana e chegar à conclusão de que o ser humano, a bem dizer, somente se torna pessoa quando se entrega aos outros no mundo que ele tem de humanizar” (o.c.p. 637). É aí, no intercâmbio das ações que fazemos em benefício dos outros que se manifesta a voz soberanamente livre do criador. No momento em que o outro apela para a minha generosidade a fim de que eu cuide dele, isso manifesta os apelos de Deus. É um clarão do amor universal criador do Deus único querendo realizar a libertação em e pelos seres humanos para a salvação de todos. Por outro lado, e como uma derivação desta realidade, a criatura e o cosmos não apenas revela, mas ao mesmo tempo esconde Deus. Isto é, a transcendência de Deus nos permite apenas uma limitada visão de sua transcendência. Deus não recebe o que ele é, o seu “ser Deus”. A sua abundante presença ou imanência nas suas criaturas não limitam nem restringem a transcendência de Deus, apenas deixam que esta presença apareça dentro de uma certa medida limitada, criada, não divina. Mas, então, isso significa que o ser humano, de fato, ao revelar que é “de Deus” esconde ao mesmo tempo o que Deus é. É por isso que o humano “aponta” para o que Deus é em si mesmo e por si mesmo. “A criatura – o mundo, a história, o ser humano – é uma presença de Deus “como dádiva”. Significa isto que a nossa perspectiva sobre o Deus transcendente é limitada, porque o percebemos através de sua imanência em nós e nos seus vestígios neste mundo, na história e no ser humano. As criaturas, portanto, intermedeiam para nós a presença de Deus, mas elas não são Deus. Por isso só sabemos de Deus a partir do “não-divino”, i.é, a partir do que não é Deus” (o.c.p.639). O mundo criado tem partículas de Deus mas não é Deus. E nós, dentro do mundo criado também. Não somos Deus mas temos algo de Deus. Chamamos isso de imanência. Por isso Deus não é Deus sem nós. E nós não somos nós sem Deus porque não viemos de nós mas dessa realidade que se derrama em nós, e no cosmos de uma maneira dadivosa que faz o todo de Deus e a partezinha de Deus que somos nós.

Conclusão. Antigamente se dizia: “Lembra-te oh homem que és pó e em pó te hás-de tornar”;  Os astrônomos agora  dizem: ”Lembra-te oh homem que és partícula de estrelas e em estrela te hás-de tornar”; O cristão hoje diz: “Lembra-te oh homem que és partícula de Deus, e para Deus hás-de voltar”.

P.Casimiro João        smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br


Nenhum comentário: