sábado, 19 de abril de 2025

EXPERIÊNCIA PASCAL VERBALIZOU A FÉ DA RESSURREIÇÃO NO NOVO TESTAMENTO.


  1.  Jesus era israelita, e também os seguidores de Jesus eram israelitas e pensavam como israelitas. E era dentro dos contextos israelitas que verbalizaram suas experiências religiosas. Um dos contextos é o seguinte: O pagão que se convertia para a Torah, ou Lei de Moisés era “iluminado e ungido” (Schillebeeckx, Jesus, a história de um Vivente, p.496). Outro contexto da vida dos discípulos herdado do A.T. era que o justo tinha que sofrer para ser exaltado, como acontecia com todos os profetas. Nesse contexto nós estamos acostumados a ver os apóstolos convivendo com Jesus como homens já alinhados com a sua vida e o seu projeto, e adequando com seus procedimentos, o que não era bem assim. Por outro lado, observamos como estavam longe do pensamento de Jesus, com atitudes como esta: “quem de nós é o maior?”  Ou quando Jesus puxa a orelha de Pedro lhe dizendo: “Afasta-te de mim, satanás” (Mt.16,23). E  já no final da história, na ascensão de Jesus: ”É porventura agora que vais restaurar o reino de Israel?” (At.1,6). Atitude esta que deve ter deixado Jesus totalmente decepcionado, como quem diz: os três anos que passei com vocês foram completamente inúteis! Em resumo, viveram com Jesus num curso de três anos pensando que era outro Jesus. Até que no evangelho, quando Jesus falava de sua morte e ressurreição “eles não entendiam nada, e tinham medo de perguntar”. (Mc.9,31).  Mas mesmo assim Jesus falava amiúde que o reino de Deus estava para chegar, e era urgente, tanto que corriam o risco de não “acabar de percorrer as aldeias de Israel antes que chegasse o reino de Deus, e do filho do homem”  (Mt.10,24). Tudo aconteceu até que na prisão de Jesus na chegada de Judas, “todos os discípulos o abandonaram e fugiram” (Mc.14,50). Vale dizer, os apóstolos ainda não conheciam Jesus. Viviam com ele mas pensando que era outro Jesus. Eles não eram “convertidos” nem “iluminados”,  ou seja, continuavam ainda alinhados pela lei da Torah, não ainda pela pessoa de Jesus. Faltava um “milagre”. Aconteceria esse milagre? Aconteceu. Na verdade, no evangelho de Marcos vem o tal milagre naquelas palavras que nem damos conta quando Jesus mandou eles irem “para a Galileia, e lá me vereis”(Mc.16,7).  Como? Eles ainda não tinham “visto” Jesus? Não, porque, como disse, eles andavam com um Jesus que não “viam”, o outro Jesus lhes seria revelado agora, na Galileia. Porque foi na Galileia que foi o inicio da sua vocação, e agora tinham que voltar ao princípio da sua vocação, com “outro chamado”, porque no primeiro chamado eles tinham sido reprovados. Era agora que precisavam passar da antiga “conversão” da Torah e da sua “iluminação” antiga para a “nova conversão” e “nova iluminação”. A antiga iluminação da Torah agora eram trevas, precisavam passar para a “iluminação” da nova Luz, que agora era Jesus. E veio o tempo de esfriar a cabeça. Os apóstolos, devagarinho começaram revendo o filme de Jesus nas suas andanças e pregações. O que mais Jesus insistia era a chegada do reino de Deus. E viram que apesar de se aproximar do fim e da morte ele não esmorecia desse reino. E uma intuição e uma “iluminação” veio na cabeça deles: esse reino era ele mesmo, a pessoa de Jesus. E donde eles tinham saído, há três anos, da Galileia, partiam agora noutro recomeço e noutra vocação para a mesma Galileia, que sendo a mesma, agora era iluminada pelo Espírito de Jesus. “Ele ainda não tinha sido dado porque ainda não tinha sido glorificado” (Jo.7,39). E com essa “iluminação” eles “viram” Jesus com outros olhos e com outra missão. Os teólogos chamam a isso de “visão de conversão” e “visão de missão”: “Os seus olhos se abriram” (Lc.24,31). Isso foi também a “visão” de Paulo em Damasco, e a visão de Pedro, expressa na afirmação tão manjada de Mt.16,16, sobre a qual os teólogos refletem que é localizada depois da ressurreição, assim como a cena da transfiguração, “Tu és o Cristo, o filho de Deus vivo”, Mt.16,16 (Cf.o.c.p.388). Não fosse essa visão eles não teriam palavras para falar de ressurreição e de ascensão e de glorificação. Daí a verbalização do que antes era o Jesus terreno partiu para a verbalização para o “Cristo da fé”, o “Kyrios”, o glorificado pelo Pai e o juiz da história. Tanto que os cristãos das comunidades de Paulo chegaram a se sentirem também já glorificados, “ressuscitados”, e “sentados” na glória. (1 Tes.4,17-18) aos quais Paulo corrigiu para não extrapolarem tanto. Foi tão impactante essa “visão de conversão” e de “iluminação” dos apóstolos, que alguns teólogos afirmam que “nas suas tentativas de verbalização disso que eles sentiram, os discípulos lançaram mão de conceitos que conheciam, “exaltação, ascensão do justo para o céu, ressurreição. O que havia acontecido com Jesus eles o puderam compreender e verbalizar nas categorias do A.T e da fé judaicas, resultado de séculos de experiências de Israel” (o.c.p.519). “Nas narrativas judaicas sobre conversão, a conversão de um pagão para a lei judaica era frequentemente apresentada segundo o modelo já clássico de uma “visão de conversão; a pessoa é de repente  surpreendida por uma luz resplandecente e escuta uma voz, como aconteceu com Paulo em Damasco. É como um “ver”, uma “iluminação”.(o.c.p.496). Nos evangelhos tudo leva a crer que Pedro foi o primeiro, como vimos, a ser objeto dessa “iluminação”: “Todos diziam: o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão” (Lc.24,34). “Apareceu a Cefas, em seguida aos Doze” (1 Cor.15,3-5). “Ide dizer aos seus discípulos e a Pedro” (Mc.14,6). Assim, tudo bem resumido nessa afirmação:” Foi Deus que fez Jesus levantar-se dentre  os mortos” (1 Ef.1,10).
  2. Conclusão. Talvez mude alguns graus a nossa perspectiva. Mas é importante esta análise dos acontecimentos do ocorrido após a morte de Jesus, e acompanhar a reflexão teológica sobre o que teria passado na consciência e na nova “visão” dos apóstolos, e como foi interpretada pelas primeiras comunidades, segundo as quais a nossa história terrestre estava-se acabando, e o reinado de Cristo seria logo inaugurado. E como os cristãos já pensavam que tinham sido ressuscitados, Cristo era o primeiro ressuscitado (1Cor.15,13). Não daquele jeito como “nalguns círculos judeus, onde havia a respeito da ressurreição uma ideia muito materialista: uma volta para a vida terrena, com o mesmo corpo, e até com as mesmas roupas”. (o.c.p.394).
  3. P.Casimiro João         smbn
  4. www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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