segunda-feira, 28 de julho de 2025

A ALMA E AS ESTRELAS.


 

“Eu me tornei uma estrela da manhã entre os deuses”, dizia um epitáfio antigo. Sêneca dizia que a alma humana imortal veio de fora deste mundo, das estrelas, e fará seu caminho de volta para lá. Sendo assim ela ia reunir-se com os deuses. Para Platão, a alma humana é imortal, e, como imortal, é divina, porque divinos são os “imortais” que são os deuses. A morte se define em termos de separação entre alma e corpo, e alguns filósofos da corrente de Platão diziam que a alma, na sua separação, carregava o corpo com ela. Quando o imperador Otaviano foi assassinado, uma testemunha afirmava ter visto a alma do imperador subindo aos céus, e que ele não tinha sido assassinado porque sua divindade não podia ser extinguida. Como era explicada a origem da alma humana? “No princípio o Criador fez um número igual de almas igual ao número de estrelas, e tendo-as colocado ali como numa carruagem mostrou-lhes as leis do destino. As almas assim devem ser implantadas nos corpos humanos. A sua principal tarefa é governar os sentimentos e desejos do corpo. Depois do seu tempo de vida retornarão e habitarão junto à sua estrela gêmea, e lá terão a bem-aventurança e agradável existência”. ( em Aristófones: O Timeu de Platão, apud N.T.Wright, “A ressurreição do Senhor”, pag.107). Por isso, ninguém em sã consciência, uma vez libertados do corpo que é o cárcere da alma, iria querê-lo ou algo parecido de volta. Porque assim chamavam vida essa libertação, e morte à vida encarcerada no corpo. Não se deve portanto temer a morte, ela é o dia em que nascemos na eternidade e todos vão para a ilha das bem-aventuranças. Epicteto, nessa época, dizia que o nosso objetivo na vida é que se deve aprender a ser feliz, ou, ao menos, não infeliz. Na verdade, a alma libertada do corpo ia de volta para as estrelas e para os deuses. Ali os mortos irão ganhar uma vida bastante completa com Osíris, e como Osíris nos deleites da eternidade. E como muitos pensavam que, na separação do corpo a alma carregava também o corpo, para eles a cremação era inaceitável e uma coisa hedionda. A morte era uma saída à luz do dia. Falamos que a habitação da alma seria na estrela gêmea da qual tinha saído. Durante muito tempo houve um grande debate filosófico acerca de qual material exatamente era o das estrelas e da alma, mas havia o sentido geral de que não seria de coisas muito diferentes. Eram, por assim dizer, feitas umas para as outras. Por exemplo, muitos acreditavam que a alma era um tipo particularmente especial de matéria feito de uma substância ígnea, exatamente o que estava presente nas estrelas. Ficamos com a impressão de que estamos em termos de cristianismo. Mas esta era a teoria de Platão, no séc.V a.C. desenvolvida por seus discípulos como Sêneca, Aristóteles e Epicteto, entre os gregos; e por Cícero, Virgilio e Cipião entre os latinos. Platão fez uma reviravolta da teoria do Homero, sec.VIII a.C. que foi o pioneiro desta  filosofia, junto com seus discípulos Ésquilo e Sófocles. Por isso alguns autores têm Homero como o iniciador do A.T. do helenismo antigo, e Platão como o N.T. do mesmo mundo antigo helenístico. A mudança de Homero para Platão deu-se com o seguinte objetivo: Proporcionar aos jovens aprender a verdadeira concepção filosófica para amar a Pátria e a sociedade sobre a morte não ser algo lamentável, mas algo bem vindo, a vida aquirida na ilha das bem-aventuranças. É o meio pelo qual a alma imortal se liberta da prisão domiciliar do corpo em que viveu na terra. “Se o mundo antigo não judaico tinha uma Bíblia, seu antigo testamento era Homero, e Platão o novo testamento do mesmo mundo helenístico antigo”. (N.T.Wright, o.c.p.71). Dizemos isto porque no Antigo Testamento da Bíblia judaica também não se falava na ressurreição, justamente como Homero que viveu na mesma época de Moisés. Só começou a surgir a teoria da ressurreição num tipo de conceito platónico pelo ano 167 antes da vinda de Cristo e por circunstâncias históricas, na época dos Macabeus.

Conclusão. A busca da felicidade é uma constante da sabedoria humana. E antes que chegasse a teologia e as teologias surgiu a filosofia e as diversas filosofias. Assim, paralelamente a Moisés existiu um Homero, e paralelamente às preocupações de Daniel, o maior expoente da nova doutrina da ressurreição apareceu um Platão também quase contemporâneos, e  temos  influências tanto no conceito de alma como de ressurreição ainda hoje em dia tanto de Daniel como de Platão.

P.Casimiro João        smbn

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segunda-feira, 21 de julho de 2025

ATOS DOS APÓSTOLOS E PAULO ANALISADOS.


 

Noutra página falamos no tipo de epopeia em que parece estar redigido o livro dos Atos dos Apóstolos como está sendo assumido pelos estudos atuais. Vejamos: “Os relatos dos primeiros capítulos do livro dos Atos dos Apóstolos não constituem fonte confiável para as origens das primeiras comunidades cristãs; Tendências lendárias e idealistas impregnam esses capítulos.” (Helmut Koester, Introdução ao Novo Testamento vol. II §8, p.102). Mais à frente fala que o livro trata os apóstolos Paulo e Pedro como são tratados os heróis da Ilíada e da Eneida, de Homero; o que leva a crer que o autor tinha em mente as epopeias de Homero onde se inspirou para a composição do Livro Atos dos Apóstolos. (o.c.&9,p.158). Falemos então sobre Paulo. Em primeiro lugar, há uma discrepância entre o livro dos Atos e as Cartas acerca da procedência de Paulo. Em Atos se diz que Paulo era cidadão romano. E nos fragmentos das Cartas aos Filipenses, 2Coríntios e Gálatas Paulo descendia de uma família israelita da tribo de Benjamin, circuncidado ao oitavo dia, e membro da seita dos fariseus (Fil.3,5); 2Cor.11,22; Gl.1,14; 2,15), o que nos tira do sério sobre a historicidade dos Atos como dissemos. Podemos enxergar vários exageros e absurdos sobre a valentia e braveza de Paulo no referente ao seu esforço persecutório narrado nos Atos. Vejamos o que nos dizem os estudiosos: “O relato do livro dos Atos diz mais do que é possível acreditar: a presença de Paulo na morte de Estêvão é excluída em Gl.1,22; É impensável que Paulo recebesse cartas dos sumos sacerdotes, pois nem os sumos sacerdotes nem o Sinédrio jamais tiveram esses poderes para fazer isso.” (o.c.§9,p.115). O que realmente começou acontecendo foi que os próprios judeus começaram a excluir os cristãos das suas Sinagogas mormente depois do congresso de Java no ano 70 d.C. Pois daí em diante eram considerados como uma seita ilegítima judaica, e por isso sujeitos à lei romana da perseguição pois eles tinham perdido os direitos que eram só dos judeus. E o que dizer sobre as narrativas de “vocações” com sabor e ao jeito do Antigo Testamento? Acontece também na narrativa da famosa “conversão de Paulo o mesmo jeito épico e lendário do Antigo Testamento. Os estudiosos dizem que o chamado de Paulo “é um escrito no estilo de lenda”, como as lendárias vocações proféticas. De quebra, é introduzida outra narrativa como um galho nos diálogos entre Paulo e Ananias, o que cria um ambiente mágico e fabuloso próprio do gênero épico de todo o livro, como outros episódios da soltura de Paulo do meio das correntes e das grades das prisões, equiparando assim os dois heróis de Atos com os heróis da Ilíada, Ulisses e Aquiles ou da Eneida, Eneias e Agamenon. Aliás, heróis que quebram correntes, somem e se tornam invisíveis e quebram colunas, que andam sobre ondas do mar, são comuns em poemas antigos, como os de Apolônio de Tiana, Ben Adab, e Sansão no poema do livro dos Juízes. Aqui os heróis são Pedro e Paulo. Vendo mais sobre Paulo: “Embora o livro dos Atos dedique um total de 7 capítulos à narrativa do julgamento de Paulo e à sua viagem a Roma, não existem dados historicamente confiáveis  sobre essa viagem e julgamento. O discurso ao povo depois da prisão (At.22), seu comparecimento diante do Sinédrio (At.22,30), e o seu julgamento diante de Festo e Agripa II, como o relato completo de naufrágios (At. Cap.22 e 23) são produtos da habilidade novelística de Lucas “ (o.c. §9, p.158). Também não há certezas sobre o fim da vida de Paulo. “O propósito da épica de Paulo é o seguinte: terminar a história que começou em Belém e Jerusalém, e terminar com a chegada vitoriosa do evangelho à capital do império, e daí conquistar o mundo.” (o.c.§9,p.158). Este é o objetivo da obra de Lucas em Atos e no evangelho, dois livros que primitivamente eram um só Livro. Originalmente Lucas escreveu um único livro, que compreendia Atos e Evangelho contando toda a história desde o anúncio do nascimento de João Batista até a chegada e pregação do apóstolo Paulo em Roma. E o que contribuiu para essa divisão em dois livros Atos e evangelho? Há uma razão no sentido de considerar Atos um romance em que histórias prazerosas de prodígios, maravilhas, e especialmente histórias de naufrágios, soltura de prisões e quebras de grades e correntes são apropriadas. Nos contos épicos do mundo greco-romano, especialmente de Eneida de Virgílio estes elementos são essenciais. Além do mais os críticos têm mais a acrescentar sobre o prólogo de Atos, que terá sido um grande acrescento feito entre os séculos II-IV” indo buscar elementos do Antigo Testamento. (o.c.§12,p.330).

Conclusão Encerro este resumo com as conclusões de H.Koester: “A obra de Lucas é uma epopeia da instituição da Igreja que substitui a epopeia de Israel, especificamente a história do êxodo do Egito por uma nova história que sela a separação de cristãos e judeus” (o.c.§12, p.332). Justamente com esta finalidade podem acontecer dúvidas, ou ser consideradas inverdades muitas narrativas hoje consideradas lendárias, segundo o gênero épico em questão. Na verdade, quanto a Paulo, “a tradição sobre sua chegada a Roma e o martírio sob Nero é lendária” (o.c. §10,p.176). A crítica moderna se inclina, como lugar mais provável para o martírio de Paulo em Filipos, segundo a análise das Cartas Pastorais, e confirmado por recentes escavações. (Id.158). Para a crítica moderna também é lendária a tradição da morte de Pedro em Roma, sendo o lugar mais provável na Síria. Para Eduard Arns, “os Atos dos Apóstolos são uma história em forma de novela”. (E.Arnes, “A Bíblia sem mitos”, p.231).

P.Casimiro João

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segunda-feira, 14 de julho de 2025

PRISÕES DOS APÓSTOLOS E PRISÃO E PÁSCOA DE JESUS.


 

As narrativas da prisão e a soltura de Pedro mostram ser paralelas com a saída de Jesus do túmulo É impossível que não haja uma intenção explicita de comparar uma coisa com a outra, dando ênfase à prisão como sendo o túmulo, e a saída como ressurreição. Em todas aparecem anjos, tremores de terra, correntes que caiem e portas que se abrem e grandes luzes. Aliás, outros paralelos aparecem na cura do paralítico no templo por Pedro, At. Cap.3 e o paralítico curado por Jesus “levanta-te e anda”, no capítulo cinco de João (Jo.5,8). Há ainda os paralelos das prisões de Paulo na narrativa de um grande tremor de terra que abriu as portas da prisão, e as correntes caíram de suas mãos (At.16,26). Aliás, os editores poderiam ainda apoiar-se naquele dito de Jesus “fareis coisas maiores do que estas” sobre os que viessem a acreditar em Jesus. (Jo.14,12). Para uma avaliação geral, é bom termos em conta o caráter épico dos Atos dos Apóstolos, como falei na página anterior onde citei um dos maiores estudiosos do Novo Testamento. Na verdade, Helmut Koester (Introdução ao Novo Testamento, vol.II, pag102 nos diz que os Atos dos Apóstolos têm um enredo do jeito dos épicos latinos, como a Ilíada de Homero, que lhe teria servido de modelo. Nos Atos, Lucas teria criado um ambiente mágico e fabuloso próprio do gênero épico de todo o livro, com os episódios da soltura de Paulo e de Pedro do meio das correntes e das grades da prisão, equiparando assim os dois heróis de Atos com os heróis da Iliada Ulisses e Aquiles, ou Eneias e Agamenon da Eneida. Aqui os heróis são Paulo e Pedro. Aliás, heróis que quebravam correntes, somem e se tornam invisíveis e quebram colunas, que andam sobre o mar, são comuns no imaginário antigo, como Apolônio de Tiana, Bem Adab, e Sansão, no poema dos Juizes. (Jz.16,23-30). Por outro lado, estas narrativas mostram a comparação com a prisão de Jesus no túmulo e a sua saída. Os estudiosos afirmam também que a vida e atividade de Jesus passava para os seus seguidores, manifestando-se neles. Por isso, fatos extraordinários como prisões, tremores de terra, correntes que caíam, e portas que se abriam eram comuns a Jesus e aos discípulos. Eram fatos reais? Não interessa, o que interessa é o objetivo catequético. (Cf. E.Schillebeekx. Jesus, a história de um Vivente, p. 382ss). Vejamos os seguintes paralelos, onde colocaremos os versículos referentes aos apóstolos nos Atos em itálico: Evangelho: “Era a preparação do sábado, e esse sábado era particularmente solene”(Jo.19,31) Atos dos Apóstolos sobre a prisão de Pedro: “Era dia dos pães ázimos” (At. 12,3). Evangelho: “Tendes um guarda, ide e guardai o túmulo como entendeis” (Mt.28,65). Atos: “Na prisão colocaram quatro grupos de soldados” (At.12,4). Evangelho: “Um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela” (Mt.28,2). Atos: “Eis que apareceu o anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela” (At.12,7). Evangelho: “Houve um grande tremor de terra e um anjo do Senhor rolou a pedra do sepulcro”(Mc.16,4). Atos: “As correntes caíram-lhe das mãos”(At.12,7). Evangelho: “Os guardas pensaram que morreriam de pavor”Mt.28,4). Atos: “Passaram a 1ª e a 2ª guarda, e o portão de ferro abriu-se sozinho”(At.12,10). Evangelho: “As mulheres correram a dar a boa nova aos doze”(Mt.28,8). Atos: “A Igreja orava incessantemente a Deus por Pedro”(At.12,5).

Conclusão. Após este estudo comparado, será mais fácil olhar para o trabalho pessoal dos autores do Novo Testamento, que, no dizer do capitulo 16 da LG do Vaticano II são chamados de verdadeiros “autores, exercendo as suas capacidades humanas”.

P.Casimiro João      smbn

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segunda-feira, 7 de julho de 2025

RELIGIÕES COMO DIFERENTES CONFIGURAÇÕES DA FÉ.


 

Fé é uma coisa, religião é outra. O ser humano já nasce com fé. O ser humano que despertou para a consciência despertou também para a fé. Por isso nas democracias modernas se manda respeitar a fé das pessoas, como se respeita a pessoa. Os ancestrais, de todos os continentes e ilhas tinham fé. E no dizer dos antropólogos, o sinal indicador é o culto dos mortos mostrado nas descobertas e escavações arqueológicas, o que distingue os humanos dos puros animais. Então, cada agrupamento tentou organizar a sua fé, ou configurar, colocando-a inteligível e apta para a memorização, e socialização. Deram assim uma configuração para as ideias segundo as quais  expressavam sua fé, trazendo para a palavra o que estava na cabeça e no coração e dando-lhe forma. Avançando mais um ponto, assim surgiram as diferentes religiões para expressar a fé igual em todas as latitudes. Apareceram então as várias” doutrinas”, ou configurações da fé. Os teólogos chamam-lhes de sistemas, e também paradigmas, mas detenhamo-nos no termo “sistemas” que na linguagem da computação de hoje chamamos também de “configurações”. Vamos recuar para tempos mais antigos, para os exemplos de fé dos povos antigos. Exemplos mais conhecidos e sofisticados, os Judeus e os Gregos. Tanto para uns como para os outros havia o deus principal no panteão dos deuses, e havia os deuses subalternos. O caso mais conhecido era o “demiurgo” no mundo grego. Segundo Platão, o demiurgo era o artesão divino ou o princípio organizador do universo. No pensamento gnóstico, ele era distinto do Deus supremo e em geral considerado mau. O deus principal não se misturava com a matéria por ser má, e vivia indiferente ao mundo criado, como coisa que não lhe dizia respeito. Então o deus de segunda classe se evadiu do seu comando, e conseguiu criar este mundo como está agora, e ficou o chefe deste cosmo, chamado mundo, que não tinha nada a ver e a dever ao deus supremo. O evangelho de João faz referências a este demiurgo, chamando-lhe “príncipe deste mundo”, e “chefe deste mundo” (Jo.14,29-31).  Na alta filosofia, os sábios lhe chamavam de “Logos”, que passou para os latinos como “Palavra” e “Verbo” por “quem tudo tinha sido criado e sem ele nada do que foi feito se fez”, como refere também o mesmo evangelho de João (Jo.1,3). Passando agora para a cultura e a filosofia judaica, no capítulo oito dos Provérbios vem a mesma figura do demiurgo e do Logos poeticamente descrita e identificada, à semelhança também de um segundo deus, e que tinha sido “mestre de obras” de todas as obras de Deus. (Prov. 8,30): “Eu existia antes de suas obras mais antigas, desde a eternidade eu fui constituído, desde o princípio, antes da origem da terra. Fui gerado quando não existiam os abismos, antes das águas, antes das montanhas, antes das colinas fui gerado. Antes das terras, campos e os primeiros vestígios do mundo. Estava presente na preparação do céu e da abóbada celeste, lá estava eu firmando as nuvens no alto, e reprimindo os mananciais do abismo, e fixando os limites ao mar, de modo que não ultrapassasse suas bordas” (Pov. 8,22-30). Este segundo deus “mestre de obras” é em tudo outra versão do demiurgo ou Logos dos Gregos. Avançando para o Novo Testamento, os primeiros cristãos quiseram dar forma à fé no Deus Javé, e aglutinando estas categorias tanto do Antigo Testamento quanto do demiurgo dos gregos, no meio dos quais viviam. Os Padres, os Filósofos e Teólogos da primitiva Igreja, pensando ainda na promessa de Jesus do Espírito Santo, se preocuparam em organizar ou configurar a fé em dados que servissem para todas as igrejas e comunidades. E estavam bem por dentro das figuras do demiurgo  ou Logos dos gregos,  e do “deus-sabedoria-mestre-de-obras” dos Judeus. Isso se expressou no Deus Pai, no Deus filho e no Deus Espírito Santo, que nas suas filosofias aglutinaram num só Deus com uma natureza ou essência única mas distintos como pessoas subsistindo por si. A união do filho de Deus com a natureza humana ficou chamada de união hipostática, que, como dizem os teólogos, para o povo ficou ininteligível, como para nós também. E da promessa de Jesus do Espirito Santo, as dúvidas eram se procedia só do Pai, ou também do Filho. Para os gregos, só do Pai; para os latinos, do Filho e do Pai. Ficou firmada a configuração da SS.ma Trindade. Configuração que os teólogos chamam de sistema ou paradigma. Para acabar com a discussão que não terminava, foi convocado um concílio para a cidade de Éfeso no ano de 325. Quem presidiu e quem convocou o concílio foi o imperador Constantino que temia um racha na Igreja e no império. Das duas alas de opinião ele escolheu uma, e essa foi imposta para todos. Aos que não concordavam mandou para o exílio, e outros mandou assassinar. E como seria se ele tivesse escolhido a outra ala?

Conclusão. Geralmente a gente pensa que o Papa sabe tudo, mas ele tem os assessores, e convoca reuniões e sínodos e concílios para estudar: ora quem estuda é para saber; os bispos não sabem tudo; os teólogos que vivem estudando não sabem tudo; os padres não sabem tudo. Até porque Papas e concílios já afirmaram coisas como dogmas e depois outros Papas e concílios desfizeram. O último exemplo foi a condenação da teoria da evolução pelo concílio de Colônia, em 1860, e há pouco tempo essa teoria foi aceita como certa pelo Papa João Paulo II no dia oito de dezembro de 1969.

P.Casimiro João      smbn

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