sábado, 30 de maio de 2020

A DESCOLONIZAÇÃO DA TEOLOGIA



No século XVIII e XIX países novos se emanciparam de seus colonizadores, e se descolonizaram. Se libertaram da ideologia da classe dominante que impunha suas estruturas, seus costumes, e sua ideologia.

A teologia como um todo custou mais a descolonizar-se pela pressão central da Europa, e não seguiu a caminhada libertadora como aconteceu com a descolonização das Nações. Roma ainda era a cultura, as estruturas e a ideologia.

A Igreja de Roma confundia Unidade com Uniformidade. Na Idade Média era proibido fazer perguntas. A “verdadeira fé” era só aceitar sem perguntar. Na colonização também era assim, e na Igreja também. Porém, na independência dos Povos as coisas mudaram. Só que na Igreja as coisas não aconteceram assim, ela não queria mudar. A Igreja queria os seus fiéis sempre como gente de menoridade. Ficou feio.

Por isso que condenou filosofias que proclamavam estes avanços, como o Iluminismo, e Modernismo que apavoravam os eclesiásticos. E de quebra condenava também as teologias que se baseavam também nesses princípios filosóficos. Seria por exemplo como condenar os novos princípios pedagógicos de Piaget para continuar com os métodos antigos tradicionais.

Hoje em dia apareceu um despertar de novas maneiras de explicar a fé. Há visível insatisfação com as clássicas  abordagens da teologia, Na Idade Média havia o conceito da Imobilidade

Nada podia ser mudado segundo os conceitos da teologia do Antigo Testamento que passaram a influenciar o Novo Testamento, e que ganharam novos reforços com a filosofia gnóstica, e depois com a filosofia platônica, continuando com Aristóteles, e ganhou “status sagrado” com Tomás de Aquino por toda a Idade Média. Era a clássica teologia perene, como lhe chamaram.

Esta teologia clássica carregou, de forma inconsciente, a ideologia centro-europeia. Assim legitimava preconceitos e formas de opressão. 

As reações foram aparecendo e levantando novas bandeiras. Graças a Deus, as Igreja cristãs vão apresentando hoje expressiva teologia, com correntes de pensamento e enfoques teológicos múltiplos. Se as “Sementes do Verbo” estão no mundo como afirma o Vaticano II (AG,11), essas sementes têm os seus frutos em todas as religiões.

As Religiões Tradicionais Africanas, e não só, estão sendo valorizadas e colocadas no seu patamar e no seu status de religiões de salvação, como afirma na sua tese de doutorado o Padre José Armando Vicente cujo Tema é: O VALOR SALVÍFICO DA RELIGIÃO TRADICIONAL AFRICANA (RTA), no contexto da pluralidade das religiões na África.

E no livro que em o sugestivo título é A IDENTIDADE NEGADA E O ROSTO DESFIGURADO, de Irene Dias de Oliveira, onde afirma: “Teólogos, antropólogos e psicólogos devem compreender que ao abordar as crenças e as práticas religiosas dos povos africanos faz-se necessário  abandonar preconceitos, ideia pré-concebidas e definições rígidas para observar, com a máxima objetividade possível que todos os povos africanos têm capacidade (mesmo que os métodos sejam diferentes), de se relacionar e comunicar com seres e poderes que não se vêem mas cuja presença sentem”.

Na mesma linha vêm outros teólogos, como Adriano Langa e José Batista Lundin, que pergunta: “Até quando as religiões permitem aos homens e mulheres e crianças darem sentido e dignidade às suas vidas e se tornarem a “glória de Deus Vivente”?

Outro  exemplo contemporâneo é a teologia negra de África do Sul, que assumiu inclusivamente a teologia da Libertação. Lá, como nos outros países, o Povo assumiu sua própria história e tradição. 

Foi-se o tempo da história contada pelos colonizadores europeus que santificavam a escravidão africana. Esta teologia agora defende que Jesus passou a vida restituindo a vida aos oprimidos e oprimidas, e defendendo as tradições que lhes eram negadas. 

Este exemplo está sendo seguido por outras nações e teólogos, como Tekunboh Adeymo, MacArthur, Herman Maia, Kleber Campos, Martyn Llonck, Jones e Jame Kone.

domingo, 24 de maio de 2020

“ PALAVRA DE DEUS” E CIÊNCIA E FÉ

A Bíblia como “Palavra de Deus” vem do século XVI. A expressão “Palavra da salvação” vem do Concílio Vaticano II em 1965. Vejamos mais.

Os gregos “veem” Deus, os Judeus “ouvem Deus”. É por isso que a arte escultórica ou iconográfica vem dos gregos; e a arte da palavra vem dos hebreus. Para eles toda a palavra boa vinha de Deus.

A expressão ”Deus falou” aparece 2200 vezes na Bíblia. E “assim falou Deus” 428 vezes. É evidente que é uma maneira antropomórfica de falar, pondo Deus a falar como uma pessoa. Igual como quando Deus “formou o homem do barro” é maneira antropomórfica de colocar Deus como um homem oleiro.

Outras vezes a Bíblia conta que Deus reuniu os membros da sua corte e dialoga com eles no seu palácio (1R.22,1-28 e Jó 1.6). Outras vezes mandou “mensageiros”, os “anjos” para mandar as suas ordens ou palavras.

Na única afirmação que encontramos na Bíblia: “ Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir, e para formar na justiça”(2 Tim.3,16) a tradução mais legítima é “soprada por Deus” semelhante ao sopro no homem formado de barro para que ficasse vivo. E igual àquela expressão “fica de pé filho do homem, porque eu vou falar” (Ez.2,1).

Podemos constatar que nenhum texto da Biblia fala acerca da Biblia como “palavra do Senhor”. No próprio Apocalipse, como em todos os livros canônicos o termo “palavra de Deus” nunca é aplicado a um texto, a um livro ou coleção de livros, mas é reservado a Jesus Cristo: “O seu nome é Verbo (ou Palavra) de Deus” (Ap.19,13), e para a mensagem de testemunho da igreja sobre ele (Ap.1.2.9)  e Ap.20,4). Então como é o histórico da situação?

Quando os Judeus ganharam muita relevância no mundo onde tinham se espalhado, muita gente estava interessada nos escritos bíblicos. Porém, eram muitos e separados e escritos em diversas épocas. 

Então  em 245 a.C. foi inaugurada a Biblioteca de Alexandria  por Ptolomeu II, e ele pediu ao sumo sacerdote Eleazário que  precisava uma Biblia hebraica para a biblioteca. Mas como, se só havia escritos tantos e tão separados?

Então Eleazário escolheu 70 escribas para juntar e traduzir todos os escritos num só livro, e resultou a BIBLIA DOS SETENTA. Eles espalharam o boato ou lenda que cada um tinha ficado isolado num quarto, e que sua tradução tinha vindo de um anjo, “palavra por palavra” de tal modo que a tradução de cada um era igualzinha às dos outros.

A essa lenda dos SETENTA juntou-se outra no ano 90 d.C. quando um mestre judeu fez, junto com cinco escribas outra tradução de vários livros. Ele espalhou também o boato de que tinha visto Deus numa sarça de fogo e lhe deu essa ordem para fazer esse trabalho em 40 dias. Este é chamado o II ESDRAS que copiou o nome do Esdras antigo do século V a.C.

Com a lenda dos SETENTA e  do II ESDRAS os Judeus estavam bem aparelhados para se apresentar diante das Nações como tendo em mãos a “PALAVRA DE DEUS”.

No entanto, as primeiras correntes dos cristãos não entraram nessa onda, embora esses escritos tiveram muita influência nos evangelhos e não só.

A Bíblia como “PALAVRA DE DEUS”, digamos oficialmente entre os cristãos começou só no século XVI com o costume dos protestantes. E porquê? Porque eles negavam o valor da Tradição da Igreja, e por isso a “palavra de Deus” era reservada só para a  Bíblia.

O terceiro marco foi o adventos do Iluminismo no séc. XIX na época do Renascimento. A reviravolta deu-se quando a razão iluminada (daí o termo Iluminismo) começou vendo as contradições entre a fé e a ciência. Se a Biblia é a “palavra de  Deus” e tem científicos, como pode ser considerada palavra de Deus?

Aí se confrontaram duas correntes: uns escolhendo a ciência e rejeitando a Bíblia. Outros escolhendo a Bíblia e rejeitando a ciência.

Entre os Protestantes nasceu a Teologia liberal, sobretudo na América do Norte. Para uma parte deles a Biblia não como um todo a “palavra de Deus”. Ao passo que os fundamentalistas  afirmam que cada palavra é ditada por Deus palavra por palavra. Para os primeiros, a Bíblia não contém a palavra de Deus quando entra nos limites da ciência.

Tempo atrás também a Igreja Católica considerava a Bíblia como “palavra de Deus” como cada palavra ditada por Deus. Porém desde o Vaticano II a Pontifícia Comissão Bíblica tem alertado várias vezes que não é bem assim. 

Nessa época também a Igreja católica considerava a ciência como serva, ou escrava da fé; agora pode acontecer o inverso, a Igreja se dobra diante dos vereditos da ciência. O CORONAVÍRUS que venha nos ensinar.

Porém, se ambas caminham juntas, os braços  de uma são os braços da outra, mas só abraçadas. Aí a Bíblia é a palavra de Deus. E a Ciência é também palavra de Deus. Porque a mesma ciência foi feita por Deus. 

E antes das leis da Bíblia já havia as leis da Ciência, e a Bíblia não pode mudá-las. 
O COVID-19 que o diga.



sábado, 16 de maio de 2020

AS HABILIDADES DE LUCAS DE CONTAR HISTÓRIA NO MODO NOVELÍSTICO DA ÉPOCA.


Certa vez estava São Paulo e Barnabé na cidade de Listra, quando curou um coxo de nascença. Nessa hora chegaram uns judeus de Antioquia e Icônio que vinham perseguir Paulo, e o espancaram, e apedrejaram deixando-o só quando pensaram que estava morto, porém os irmãos o rodearam e o levaram para a cidade, e na mesma hora continuou o seu trabalho. (At.14,19-21)

Em outra ocasião a viagem era de barco e levantou-se uma tremenda tempestade de tal maneira que andaram mais de 15 dias à deriva no escuro, no vento e nas ondas sem rumo e sem comer nada. Até que chegaram na ilha de Malta onde puderam saltar em terra. Ali foi picado por uma serpente venenosa, e diante do espanto das populações nada sofreu, até que os presentes exclamaram, “este homem só pode ser um deus” (At. 28,6).

Eu estava lendo e fiquei pensando em tanta arte de Lucas nestes relatos. Aí me lembrei dum livro “Técnicas da História helenística”. Nestas técnicas eram seguidos os principais historiadores clássicos Heródoto, conhecido como o pai da História, Tucídides, Horácio, Tácito e Josefo.

Horácio tem a teoria para contar história: “Disfrute com prazer o benefício de ler histórias, não pode excluir o deleite de uma boa história bem contada incluindo temas de ação e de entretenimento em que o herói escapa da prisão, resiste ao apedrejamento, e picada de cobra".

Justo aqui tem todos esses condimentos. Além de outras ocasiões em que  Paulo e Silas saíram de noite de uma prisão quando o chão tremeu como num grande terramoto e se quebraram as suas correntes.(At. 16,26).

São Lucas lidava com esses conhecimentos, assim como eram conhecidos dos seus leitores. Assim nos diz Eugênio Boring que quando Lucas empreendeu a tarefa da composição de Atos dos Apóstolos “adotou e adaptou em boa consciência esse material com o qual podia contar a história cristã”. (Introção ao Novo Testamento, 1039).

O próprio Platão compôs longos discursos e colocou na boca de Sócrates como sendo dele, na época do seu julgamento. Do mesmo modo Josefo pôs discursos em pessoas que nem ele conhecia, e noutros que eram bem conhecidos, como fez com os discursos que colocou na boca de Eleázar na tomada da fortaleza da Massada pelos romanos.

Ao falar de discursos, São Lucas usou este mesmo método dos sábios da Antiguidade. Em Atos uma terça parte é feita de discursos. E outra terça parte são apresentações como se fossem citações literárias. Tanto nos discursos como nas citações usou o mesmo artifício histórico.

Sobre isso, o fundador da HISTÓRIA, Tucídides nos diz: “Os discursos eu dou na língua em que me parece que os oradores se expressaram e em que eu julgo que  exprimiram os seus sentimentos”. O mesmo fizeram  os historiadores Heródoto, Horácio, Tácito e Josefo.

Sobre o autor de Atos e evangelho de Lucas, devemos saber que no primeiro momento os Atos foram catalogados como CARTAS, e somadas às CARTAS PASTORAIS. Num segundo momento acharam por bem separá-las. Aí ficou de um lado o evangelho e Atos à parte. Qual o motivo? Porque  Atos não tinha tanto controle e ficou mais sujeito a interpolações novelísticas.

Além do já dito da dependência da maneira histórica de narrar do São Lucas, especialistas apelam para a base bíblica  dos SETENTA, agora mais concretamente no que se refere à composição do evangelho onde Lucas se inspirou para usar o mesmo método novelístico em que ele era mestre.

E aí vemos muitos assuntos confluentes e paralelos por ele adotados e adaptados também, como no evangelho da infância, e mais à frente no episódio da viúva de Naim, onde copiou e adaptou as cenas de Eliseu e Elias para a sua composição.

Terminando, podemos afirmar que a habilidade de Lucas é mostrar ao invés de relatar uma animada e envolvente maneira de contar uma história no modo regular dos novelistas e outros autores bíblicos.


sábado, 9 de maio de 2020

A PANDEMIA DA FOME E A PANDEMIA DO VÍRUS


A pandemia do vírus vai matar 350 mil no mundo; a pandemia da fome atinge mais de 50 milhões no brasil.

Eu fiquei olhando a reação do governo para enfrentar a crise. Custou agir, mas finalmente, aos trancos e barrancos saiu uma emergência de $600 reais para 3 meses.

O governo brasileiro começou abrindo os cofres do dinheiro público. Dinheiro para empresas, dinheiro para as populações de baixa renda e de renda nenhuma. Primeiro 200 reais, depois foi para 500 e acabou sendo $600 reais para o plano de emergência. Além dos milhões e bilhões para empresas e indústria.

Para os trabalhadores dispensados, a indústria no seu pagamento descontado, o restante pago pelo governo. Para os trabalhadores tinha o FGTS que foi solto, mas depois soltaram também outros dinheiros que estavam represados pertencente também aos trabalhadores,  o PISPASEP. 

Dinheiros escondidos que apareceram. E o que apareceu fruto dos impostos de todos os brasileiros guardados nos porões de Brasília. E aos trancos e barrancos o dinheiro foi aparecendo. 

E de tal maneira que nenhum dinheiro fez falta no Planalto. Lá continua tudo igual, salários milionários, mordomias, hiper-aposentadorias, e compras de cargos milionários...

Para a situação presente um grande cientista político, Ray Dalio fez uma análise da situação que pode nos interessar para refletir. Ele vê quatro pilares da reconstrução: primeiro a austeridade com corte de gastos; segundo a reestruturação e com perdão das Dívidas aos Países pobres; terceiro, redistribuição da riqueza, e quarto, Impressão de dinheiro.

Ele já observa que está acontecendo já no mundo, pela força das circunstâncias, uma tremenda transferência de riquezas. Reformas serão necessárias, e a atual redistribuição pode ajudar no combate à desigualdade social, principalmente através de investimentos na Educação.

Na verdade, no Brasil, por exemplo, atualmente 20% das populações vive abaixo do nível de pobreza. Estes milhões de pessoas e de famílias estavam escondidos. Eram invisíveis como o CORONAVÍRUS. Mas agora apareceram diante de todo o mundo, “nós existimos”. 

E o governo foi forçado a dar a pouca esmola ao menos por três meses. E depois?... O dinheiro do governo continuará  existindo, como agora apareceu. Será que continuarão escondendo?  Nos cofres de CHAPADINHA entraram $7 milhões para a crise.

E o Dr.Ray Dalio continua dizendo: “Estas reformas precisam criar produtividade e não significa só apenas dar dinheiro, significa como fazer as pessoas mais produtivas, e investir na Educação. 

A maior bênção da Humanidade é seu poder de adaptação e criatividade. Por isso os grandes vencedores da CRISE serão aqueles que souberem se adaptar melhor e inovar, além das indústrias essenciais como produtores de comida.

Vai acontecer um mundo muito diferente, uma nova ordem mundial. Vai acontecer algo positivo como uma reestruturação saudável do Sistema, além de uma “imperfeita”, porém “grandiosa” distribuição de riqueza. 

É um grande TESTE de estresse que acontece a cada 75 anos. O mundo será reestruturado. Não vai voltar ao que era antes”.

Uma boa promessa no mundo já está aparecendo: mais sensibilidade. No início desta semana mais de 100 Organizações internacionais pediram a suspensão dos pagamentos das dívidas  para os países pobres.

Na nova ordem mundial vão acontecer reestruturações. Será que na Igreja não irá acontecer alguma reestruturação? 

O Papa apela para a criatividade. Será que só a Igreja não vai tirar alguma lição para alguma criatividade?

sábado, 2 de maio de 2020

SÓ JESUS SALVA – A FÉ SEM AS OBRAS DA LEI- A DECLARAÇÃO CONJUNTA CATÓLICO-LUTERANA DE 2016.

Só Jesus salva – A fé sem as obras da lei - O que quer dizer isso?

Quer dizer que após a vinda de Jesus, acabou o valor da Lei ou Torá, do Antigo Testamento. Não é mais a Lei ou Torá que salva, mas só Jesus, a sua vida e sua graça, numa palavra, a aceitação de Jesus como salvador. Daí o jargão: SÓ JESUS SALVA.

Na verdade, a LEI ou TORÁ, que era o patrimônio da salvação para Israel foi desbancada pela vinda de Cristo. E na medida em que os Judeus continuavam presos a ela, estavam perdendo entrar no trem da salvação. Não seria mais para a vida, mas para a morte. (cf. Rom.cap.7).

A Torá era a LUZ dos Judeus. O que fundamentava o povo como povo de Deus. Quando os evangelhos apresentam Jesus como “Eu sou a LUZ, estavam querendo dizer que a LUZ da Humanidade não era mais  a TORÁ, mas JESUS.

Assim acontece o que São Paulo chama  a “salvação pela fé.” Os Judeus se consideravam  perfeitos cumprindo as “Obras da Lei”. Em todos os detalhes; esta era a sua glória. Era ela que constituía Israel como exclusivo povo de Deus, daí excluíam todos os outros e discriminavam, até o ponto de nem tocar para não se contaminarem, como hoje acontece com o coronavírus. Esta era a salvação pelas obras da Lei.

Em contraposição, São Paulo põe a salvação ou “justificação” pela fé.” “A justiça de Deus é gratuita de Deus para todos os povos”(Rom.4,4). “A circuncisão identificou Israel como “Nação de Israel“, a Nova vida da graça faz a “Nação dos filhos de Deus”.

A tradição de Israel era que a “justiça” ou salvação de Deus pela Lei tinha que ser merecida, como salário que era devido a quem trabalha, (Rom. 4,4). 

Por isso a Torá e a salvação era restrita a Israel. Isso dava-lhes status, e a prerrogativa de povo escolhido, com o direito de “excluir” todos os outros povos do mundo. Quem quisesse ser salvo tinha que se fazer primeiro judeu para cumprir a  Torá e depois salvar-se.

A força da questão é a gratuidade da salvação. São Paulo declara “O homem não se justifica pelas obras de Lei, mas pela FÉ em Jesus Cristo” (Gál.2,16). Pondo isso como o grande princípio do evangelho, a justificação pela fé.

A virada no pensamento de São Paulo deu-se desde o encontro com Cristo na estrada (ou retiro) de Damasco. Até esse momento era fariseu, mas começou combatendo a sua própria convicção anterior de que a justificação era só de Israel e pelas obras da Lei. 

Daí em diante nasceu a sua teologia que ele chama “o meu evangelho”(Rom.2,16). E declara: “O que para mim era lucro, considerei tudo como perda por causa de Cristo.”(Fil.3,7).

Julgamos que o homem é justificado pela fé sem a obediência da Lei” (Rom.3,28). “Será que Deus é só o Deus dos Judeus? Não é também dos pagãos? Sim, é também Deus dos pagãos, o qual justifica pela fé os circuncisos e também os incircuncisos” (Rom.3,29-32).

O embasamento de toda esta teologia de São Paulo era a figura de Adão e de Abraão. Na época de Paulo corria o livro de um judeu, Filão chamado “A VIDA DE ADÃO E EVA”. Aí traz a promessa de um Adão fiel de ressurreição para acesso renovado à árvore da vida: “e serás imortal para sempre”.

Este segundo Adão seria Cristo, descendente de Adão, descendente de Abraão. E como Abraão sacrificou o filho e o teve de volta, assim também esse filho era a figura de Cristo que por seu sacrifício foi perdoada a Humanidade. Aí se firmou a teologia sacrificial de Paulo.


De tal maneira era a nossa incorporação com Adão e com Cristo que enquanto não morrermos todos em Adão não viveremos todos em Cristo: "Assim como todos morremos em Adão, todos seremos vivificados em em Cristo".(1 Cor, 15,22). Como membros do primeiro Adão pertencemos àquela era, morreremos; como membros do segundo Adão pertenceremos à era vindoura, experimentaremos o Espírito que dá a vida.

Desta Cristologia adâmica e batismal estavam lançadas as duas premissas de salvação pela fé: a promessa de Abraão e o valor salvífico de Cristo. Daí resulta que a salvação não é mais pelas obras da antiga Lei mas pela aceitação da fé na promessa de Abrão e do sacrifício de Cristo: a salvação pela fé.

Para Paulo, o evento salvação tem três pilares: primeiro justificação pela fé, segundo, participação em Jesus Cristo, terceiro o dom do Espirito Santo.  Pelo  dom do Espirito o cristão ganha um status  renovado, participa de Cristo e ganha  uma capacitação divina

Paulo, quando era ainda fariseu fazia dos pagãos filhos dos Mandamentos da Torá; depois da sua conversão, Paulo, o apóstolo, fazia  dos pagãos filhos do Espírito.

No ano de 2016 deu-se A DECLARAÇÃO CONJUNTA DAS IGREJAS CATÓLICA E LUTERANA sobre a DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO, em ORAÇÃO ECUMÊNICA na catedral luterana de LUND, na SUÉCIA na comemoração dos 500 anos da REFORMA de MARTINHO LUTERO, assinada pelo Papa Francisco e pelo Presidente da CONFEDERÇÃO LUTERANA MUNDIAL, Bispo Munib A.Younan.

O ponto central foi este: “Unicamente pela graça, na fé na obra salvadora de Cristo e não por qualquer mérito da nossa parte, somos aceitos por Deus e recebemos o Espírito Santo, que renova os nossos corações, nos instrumentaliza e nos chama às boas obras. Luteranos e Católicos compartilham o alvo comum de confessar, acima de todas as coisas, Jesus Cristo como mediador uno pelo qual Deus, no Espírito Santo, dá a si mesmo e derrama seus dons renovadores”. 

Mais à frente esta Declaração  foi aceita também pelas Igrejas Metodista, Presbiteriana, e Anglicana


Portanto, o princípio SÓ JESUS SALVA – A FÉ SEM AS OBRAS DA LEI é agora patrimônio comum entre as Igreja cristãs, e foi um enorme passo no objetivo comum do ECUMENISMO em curso. 

Podemos argumentar: isso afinal tinha só em mente atingir os Judeus, que queriam que alguém se fizesse judeu para depois ser batizado e ser cristão. 

Negativo. Diante de Jesus, a Torá e suas obras perderam a validade absoluta. Igualmente as nossa obras não são embasamento para a salvação hoje, mas o princípio da GRATUIDADE absoluta de Deus cujo pêndulo é a ação salvífica de Jesus Cristo.