Certa
vez estava São Paulo e Barnabé na cidade de Listra, quando curou um coxo de
nascença. Nessa hora chegaram uns judeus de Antioquia e Icônio que vinham
perseguir Paulo, e o espancaram, e apedrejaram deixando-o só quando pensaram
que estava morto, porém os irmãos o rodearam e o levaram para a cidade, e na
mesma hora continuou o seu trabalho. (At.14,19-21)
Em
outra ocasião a viagem era de barco e levantou-se uma tremenda tempestade de
tal maneira que andaram mais de 15 dias à deriva no escuro, no vento e nas
ondas sem rumo e sem comer nada. Até que chegaram na ilha de Malta onde puderam
saltar em terra. Ali foi picado por uma serpente venenosa, e diante do espanto
das populações nada sofreu, até que os presentes exclamaram, “este homem só
pode ser um deus” (At. 28,6).
Eu
estava lendo e fiquei pensando em tanta arte de Lucas nestes relatos. Aí me
lembrei dum livro “Técnicas da História helenística”. Nestas técnicas
eram seguidos os principais historiadores clássicos Heródoto, conhecido como o pai da História, Tucídides, Horácio, Tácito e Josefo.
Horácio
tem a teoria para contar história: “Disfrute com prazer o benefício de ler
histórias, não pode excluir o deleite de uma boa história bem contada incluindo
temas de ação e de entretenimento em que o herói escapa da prisão, resiste
ao apedrejamento, e picada de cobra".
Justo
aqui tem todos esses condimentos. Além de outras ocasiões em que Paulo e Silas saíram de noite de uma prisão quando
o chão tremeu como num grande terramoto e se quebraram as suas correntes.(At.
16,26).
São
Lucas lidava com esses conhecimentos, assim como eram conhecidos dos seus
leitores. Assim nos diz Eugênio Boring que quando Lucas empreendeu a tarefa da
composição de Atos dos Apóstolos “adotou e adaptou em boa consciência esse material
com o qual podia contar a história cristã”. (Introção ao Novo
Testamento, 1039).
O
próprio Platão compôs longos discursos e colocou na boca de Sócrates
como sendo dele, na época do seu julgamento. Do mesmo modo Josefo pôs discursos
em pessoas que nem ele conhecia, e noutros que eram bem conhecidos, como fez
com os discursos que colocou na boca de Eleázar na tomada da fortaleza da
Massada pelos romanos.
Ao
falar de discursos, São Lucas usou este mesmo método dos sábios da Antiguidade.
Em Atos uma terça parte é feita de discursos. E outra terça parte
são apresentações como se fossem citações literárias. Tanto nos
discursos como nas citações usou o mesmo artifício histórico.
Sobre
isso, o fundador da HISTÓRIA, Tucídides nos diz: “Os discursos eu
dou na língua em que me parece que os oradores se expressaram e em que eu julgo
que exprimiram os seus sentimentos”. O mesmo
fizeram os historiadores Heródoto, Horácio,
Tácito e Josefo.
Sobre
o autor de Atos e evangelho de Lucas, devemos saber que no primeiro momento os Atos
foram catalogados como CARTAS, e somadas às CARTAS PASTORAIS. Num segundo
momento acharam por bem separá-las. Aí ficou de um lado o evangelho e Atos à
parte. Qual o motivo? Porque Atos
não tinha tanto controle e ficou mais sujeito a interpolações novelísticas.
Além
do já dito da dependência da maneira histórica de narrar do São Lucas, especialistas
apelam para a base bíblica dos SETENTA,
agora mais concretamente no que se refere à composição do evangelho onde Lucas
se inspirou para usar o mesmo método novelístico em que ele era mestre.
E
aí vemos muitos assuntos confluentes e paralelos por ele adotados e adaptados
também, como no evangelho da infância, e mais à frente no episódio da viúva de
Naim, onde copiou e adaptou as cenas de Eliseu e Elias para a sua composição.
Terminando,
podemos afirmar que a habilidade de Lucas é mostrar ao invés de relatar uma
animada e envolvente maneira de contar uma história no modo regular dos
novelistas e outros autores bíblicos.
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