domingo, 21 de junho de 2020

A origem dos ditos “EU SOU” de Jesus nos evangelhos de João e de Mateus.

A origem dos ditos “EU SOU” de Jesus nos evangelhos de João e de Mateus.

Os primeiros pregadores cristãos partiram do imaginário do Messias do Antigo Testamento para anunciar Jesus. Mas por onde começar para pregar o Cristo para aqueles que não estavam buscando por um Messias?
Deveria alguém instruí-los primeiro na visão de um mundo bíblico e judaico e só depois inculcar-lhes lentamente a esperança messiânica? Ou poderia alguém começar com eles no ponto em que eles estavam?
Para os judeus, começavam pelo Messias prometido partindo do servo sofredor mais que os vivos e os mortos, e que era agora constituído por Deus o juiz  “dos vivos e dos mortos” (At.10,42).   Mas para começar a pregação para os pagãos?
O evangelho de São João, nascido na comunidade joanina, colocou Jesus numa encenação fazendo esta pergunta: “ O que procurais?” (Jo.1.38). E como procuravam na deusa Ísis a luz, a vida, o princípio e o fim, então começaram por aí, no próprio terreno que eles estavam.
Nos hinos que o povo cantava para a deusa Ísis, se rezava assim: “EU SOU a que tem a luz; EU SOU a primeira e a última; EU SOU a esposa e a virgem; EU SOU a casada e a solteira; EU SOU a mãe e a filha; EU SOU  a estéril e com numerosos filhos; EU SOU os braços da mãe.
Então eles só se deram ao trabalho de transferir e adaptar todos esses EU SOU para o Messias, o que vem em vários lugares do evangelho de João: “EU SOU o pão da vida; “EU SOU a videira; “EU SOU a verdade e a vida; “EU SOU a ressurreição e a vida; “EU SOU o caminho; “EU SOU a porta; “EU SOU a luz do mundo.
Notemos que em Mateus aparece menos vezes “EU SOU, nas tem outra fonte. Mateus tinha o objetivo de explicar que Jesus era o cumpridor de todas as perfeições do Antigo Testamento. Por isso os “EU SOU, na sua versão representam esse objetivo.
Por outro lado havia ainda outro recurso para os gregos, o LOGOS que caía bem tanto no ambiente dos judeus como dos gregos. Para os judeus, o logos era a Sabedoria pré-existente que acompanhava Deus em todas as obras da criação como arquiteto (Prov cap.8). 
Para os gregos era a mesma SOFIA (Sabedoria), nascida de Deus e que era também a criadora da matéria, já que Deus no universo deles era o PLEROMA, que era o conjunto de todas as perfeições e não se podia misturar com a matéria que era má. Por isso tinha a Sofia que era o demiurgo a Sabedoria ou Logos criador.
Um último item aproveitado também pelos primeiros pregadores era a ideia corrente que nas religiões antigas tinha histórias de divindades que transformavam água em vinho. Então não tinha melhor do que começar o evangelho de São João com essa cena da transformação da água em vinho. 
Nas ideias brilhantes daquela época estava previsto que chegaria um dia em que a terra produziria 10 mil vezes mais, e uma videira daria mil ramos, e cada ramo mil cachos de uvas. Por isso o Messias dos judeus se comparava a esse prometido poderoso que transformava mais de 120 litros de água no melhor vinho, e cinco pães em alimento para cinco mil pessoas.
É belo comparar situações. Os antigos hebreus receberam dos povos vizinhos cenários como o “cordeiro pascal” que vinha do sangue dos carneirinhos que eram sacrificados e jogados sobre os currais do gado e protegiam contra os espíritos da floresta. 
Então eles transformaram essa cerimônia no sangue jogado nos batentes das portas, primeiro contra os espíritos e depois contra o Faraó no Egito. A Igreja avançou e fez desse cordeiro  a figura de Nosso Senhor como o “Cordeiro de Deus”.
Assim também no início do cristianismo aconteceram estes cenários. A Igreja continuará avançando e compartilhando cenários e imaginários dos vários povos e culturas, como noutro dia falei no tema “ a descolonização da teologia”, porque num grande período a Igreja só tinha a cultura da Europa e dos países colonizadores.
P. Casimiro SMBN www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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