A origem dos ditos “EU SOU” de Jesus nos evangelhos de João e de Mateus.
Os
primeiros pregadores cristãos partiram do imaginário do Messias do Antigo
Testamento para anunciar Jesus. Mas por onde começar para pregar o Cristo para
aqueles que não estavam buscando por um Messias?
Deveria
alguém instruí-los primeiro na visão de um mundo bíblico e judaico e só depois
inculcar-lhes lentamente a esperança messiânica? Ou poderia alguém começar com
eles no ponto em que eles estavam?
Para
os judeus, começavam pelo Messias prometido partindo do servo sofredor
mais que os vivos e os mortos, e que era agora constituído por Deus o juiz “dos vivos e dos mortos” (At.10,42). Mas
para começar a pregação para os pagãos?
O
evangelho de São João, nascido na comunidade joanina, colocou Jesus numa
encenação fazendo esta pergunta: “ O que procurais?” (Jo.1.38). E como
procuravam na deusa Ísis a luz, a vida, o princípio e o fim,
então começaram por aí, no próprio terreno que eles estavam.
Nos
hinos que o povo cantava para a deusa Ísis, se rezava assim: “EU SOU a
que tem a luz; EU SOU a primeira e a última; EU SOU
a esposa e a virgem; EU SOU a casada e a solteira; EU
SOU a mãe e a filha; EU SOU
a estéril e com numerosos filhos; EU SOU os braços da
mãe.
Então
eles só se deram ao trabalho de transferir e adaptar todos esses EU SOU
para o Messias, o que vem em vários lugares do evangelho de João: “EU SOU
o pão da vida; “EU SOU a videira; “EU SOU a verdade e a vida; “EU
SOU a ressurreição e a vida; “EU SOU o caminho; “EU SOU a
porta; “EU SOU a luz do mundo.
Notemos
que em Mateus aparece menos vezes “EU SOU, nas tem outra fonte. Mateus
tinha o objetivo de explicar que Jesus era o cumpridor de todas as perfeições
do Antigo Testamento. Por isso os “EU SOU, na sua versão representam
esse objetivo.
Por
outro lado havia ainda outro recurso para os gregos, o LOGOS que caía
bem tanto no ambiente dos judeus como dos gregos. Para os judeus, o logos
era a Sabedoria pré-existente que acompanhava Deus em todas as obras da
criação como arquiteto (Prov cap.8).
Para os gregos era a mesma SOFIA
(Sabedoria), nascida de Deus e que era também a criadora da matéria, já
que Deus no universo deles era o PLEROMA, que era o conjunto de todas as
perfeições e não se podia misturar com a matéria que era má. Por
isso tinha a Sofia que era o demiurgo a Sabedoria ou Logos
criador.
Um
último item aproveitado também pelos primeiros pregadores era a ideia corrente
que nas religiões antigas tinha histórias de divindades que transformavam água
em vinho. Então não tinha melhor do que começar o evangelho de São João com
essa cena da transformação da água em vinho.
Nas ideias brilhantes daquela
época estava previsto que chegaria um dia em que a terra produziria 10 mil
vezes mais, e uma videira daria mil ramos, e cada ramo mil cachos de uvas. Por
isso o Messias dos judeus se comparava a esse prometido poderoso que
transformava mais de 120 litros de água no melhor vinho, e cinco pães em
alimento para cinco mil pessoas.
É
belo comparar situações. Os antigos hebreus receberam dos povos vizinhos
cenários como o “cordeiro pascal” que vinha do sangue dos carneirinhos que eram
sacrificados e jogados sobre os currais do gado e protegiam contra os espíritos
da floresta.
Então eles transformaram essa cerimônia no sangue jogado nos
batentes das portas, primeiro contra os espíritos e depois contra o Faraó no
Egito. A Igreja avançou e fez desse cordeiro a figura de Nosso Senhor como o “Cordeiro de
Deus”.
Assim
também no início do cristianismo aconteceram estes cenários. A Igreja
continuará avançando e compartilhando cenários e imaginários dos vários povos e
culturas, como noutro dia falei no tema “ a descolonização da teologia”, porque
num grande período a Igreja só tinha a cultura da Europa e dos países
colonizadores.
P.
Casimiro SMBN www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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