segunda-feira, 30 de junho de 2025

A MORAL DO “É DANDO QUE SE RECEBE”.


Esta afirmação, atribuída a São Francisco de Assis, tem criado mentes depressivas, por um lado; e mentes gulosas e sequestradoras,  por outro lado. Depressivas, quando não correspondidas, i.é, quando não recebem de volta o bem que acham que fizeram. No dizer de Augusto Cury, isso cria um desiquilíbrio emocional ou depressivo. O equilíbrio emocional de Cristo se baseava em não esperar do outro a mesma retribuição do bem que fazia. E nos convida à mesma atitude para manter o equilíbrio emocional. Por outro lado, esse jargão cria mentes gulosas, ambiciosas e sequestradoras naqueles que, já tendo milhões, dão alguns centavos sabendo que esses centavos irão produzir milhões no futuro. Pense nas eleições de todos os países modernos, e nessa democracia quando eleitores “vendem” seu voto a um candidato astuto por algum favor momentâneo. Esse “favorzinho” e mais mil de um milhão de favorzinhos renderão para o candidato milhões nos seus salários fabulosos além de outras benesses. Por sua vez, candidatos gulosos que se tornaram deputados, senadores, etc. se associam em partidos, que, juntos, sequestram o dinheiro da Nação. E quando o poder executivo propõe planos e projetos de benefícios sociais, esses partidos da gula se arrepiam e reagem em não aprovar essas leis se não for a troco de mais dinheiro, o que no Brasil é chamado de “Emendas parlamentares”, um nome de fantasia para seu enriquecimento pessoal. Na verdade, criaram-se partidos da gula que sequestram assim todo o dinheiro e economia de uma Nação. Desta maneira se subvertem as democracias, pois “democracia” significa no seu sentido original, poder do povo. “Cratos” poder; “demo’, povo. Mas resulta que não é mais poder do povo mas poder do dinheiro. A democracia virando ditadura, por culpa da gula do dinheiro. Esta matéria leva-nos a refletir no problema maior que é a Moral e a ética. Precisamos saber que o traço característico da Moral é a universalidade, e que o problema moral preexiste ao surgimento do cristianismo, que tem apenas dois mil anos de existência. Dissemos noutra página que a fé é uma e úncia em  todo mundo, e as religiões são sistemas, ou paradigmas ou configurações. Aqui acontece a mesma coisa, e  afirmamos que a Moral é única, porém povos e culturas fizeram os seus sistemas, ou seus paradigmas, ou como têm sido chamados, seus códigos. É do conhecimento geral o “Código de Hamurabi”. Slogans ou jargões como “Não faça aos outros o que não quer que façam a  você, são universais, digamos, são o primeiro mandamento, junto com o respeito ao Deus supremo, como expresso nos primeiros Códigos da humanidade, séculos antes da Bíblia hebraica. Isso também afirmaram todos os expoentes e fundadores das religiões tradicionais, como Confúcio, Lao Tsé e Zoroastro. Portanto, “sistemas ou paradigmas de moral são as regras com que os homens organizaram a sua razão e elaboraram as suas Morais” (U.Galimbertti, Rastos do sagrado, pag.31). No cristianismo surgiu essa sentença que, à primeira vista pode parecer uma sentença padrão e de valor heroico “é dando que se recebe”, mas tem os pés de barro embora pareça com cabeça de ouro. Já vimos como pode ser utilizada para o maior egoísmo e egocentrismo, e como produz mentes gulosas e sequestradoras de fortunas. Além disso “supõe um Deus contabilista, jurídico e retribuidor. Porém, um Deus retribuidor que adota a regra do “dou para receber de volta” (do ut des) seria um Deus incapaz de graça. É preciso lembrar isso a todos que interpretam a salvação como direito que pode ser adquirido com boas ações sobre a terra, a todos os que se julgam a salvo e se esquecem de que Deus é pura gratuidade” (o.c.p33). Na verdade, podemos considerar três tipos de ética ou moral: a ética cristã, a ética laica e a ética da responsabilidade. A ética cristã é a que acabamos de considerar e que traz no seu bojo a depressão para quem se decepciona com a falta de retribuição, por um lado, e as mentes gulosas por outro lado. Ao lado dela veio a ética laica, formulada por Kant, que tem por princípio que o homem deve ser sempre tratado como um fim e não como um meio. Ele resume também, afirmando o seguinte princípio: “Faça de tal maneira que o que você faz possa ser seguido por todo mundo”. Ou seja, no conceito formulado por Kant, não se mira o receber de volta, mas a gratuidade do bem: o bem deve ser feito porque é bem Esta foi completada com a ética da responsabilidade por Max Weber com a ética da responsabilidade. O que é a ética da responsabilidade? A ética que faz questão de que quem age deve responsabilizar-se pelas consequências de suas ações. Portanto, não fazer simplesmente o bem porque  tem um mandamento, mas responsabilizar-se pelos efeitos sociais e suas repercussões. No exemplo de quem vota num candidato, não deve ter em vista o dever de votar simplesmente mas olhar às consequências sociais.

Conclusão. As duas éticas modernas completam a ética cristã, e são abrangentes. Porque nenhum ato é isolado, mas mexe com o mundo e seu  universo. São portanto três variantes no conceito de ética: a cristã, a laica e a ética da responsabilidade. Esta olha para as consequências sociais, ecológicas e humanas ou desumanas dos atos particulares e fazem a radiografia do jargão tão em voga do “é dando que se recebe”, o qual, nesta radiografia, fica como o jargão de uma moral manca.

P.Casimiro João      smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

 

 

 

 

 

 


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