domingo, 14 de junho de 2020

UM JESUS DE CARNE E OSSO


A disputa inicial sobre Jesus era se ele era humano, isto é, corpo humano, de “carne e osso”.

A fé de muitos dos primeiros cristãos da comunidade joanina (de São João) andava muito misturada com o gnosticismo que dizia que Jesus só tinha aparência de um corpo humano, mas ele seria só um ser divino.

Veja os sete princípios do gnosticismo: 1. Desconforto com este mundo; 2. Desprezo pelo elemento carne e matéria; 3. Ansiedade de deixar as tarefas desta vida; 4. Este mundo vive deslocado do seu eixo que é o logos; 5. A ideia de que havia seres espirituais que pertencem ao mundo divino e que podiam assumir forma humana  e comunicar conhecimentos secretos; 6. A Sofia ou Sabedoria, ou Logos que era o deus vindo do seio do Pleroma é que sustenta o alento dos que se sentem peregrinos nesta terra; 7. O Cristo pré-existente tendo compaixão se revestiu da carne de um ser mortal para vir libertá-lo, mas se separou dele e voltou para o céu quando essa carne foi crucificada.

O evangelista João vivia muito preocupado com isso, e na 1ª Carta volta muito a essa ideia. “Todo o espirito que não proclama que Jesus não se encarnou não é de Deus” (1 Jo, 4,3). 

E no evangelho vem nesta direção na ocasião da multiplicação dos pães, quando o evangelho se refere que quem acredita em Jesus é acreditar que ele é verdadeiramente um ser humano com corpo e sangue, “carne e osso”.

Acreditar em Jesus é alimentar-se da sua pessoa de carne e osso como objeto da fé. É a minha pessoa de carne e osso que vocês têm que acreditar, “que engolir” assim como os vossos pais engoliram o maná no deserto. (Jo.5,49).

Por isso vemos que “desde então muitos dos seus discípulos se retiraram e não andavam mais com ele”(Jo.6,66). 

Estes discípulos eram cristãos da comunidade da época de João. Artifício do gênero evangelho colocando cenas da época como sendo acontecidas com Jesus.

São João não coloca no seu evangelho a instituição da Eucaristia como os outros evangelhos. Coloca esta para explicar as outras.

Muito trabalho para um único objetivo: explicar que a pessoa de Jesus não era um ser divino habitando um corpo carnal, mas um Jesus de carne e osso.

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