“Moisés então estendeu a mão e o Mar
Vermelho se abriu. Os israelitas passaram através dele, como se as duas partes
do mar fossem paredes. Quando os egípcios se encarregaram de persegui-los
Moisés estendeu a sua mão novamente, as águas os cobriram e eles se
afogaram”(Êx.14,21-29).
Uma
história semelhante se encontra em Heródoto, nos gregos: “Quando três meses se passaram enquanto
Artabazos cercava a cidade, deu-se ali um grande refluxo do mar que durou muito
tempo; e os persas, vendo que se tinha produzido água rasa, esforçaram-se por
passar para dentro da península. Mas quando tinham passado por dois quintos do
trajeto e ainda restavam três quintos, os quais tinham que passar antes de
estar dentro da península, então veio sobre eles uma grande maré alta do mar,
maior do que nunca. Assim, aqueles que não podiam nadar pereceram, e aqueles
que podiam nadar foram mortos pelos
inimigos, que os perseguiam em barcos” (Heróto,8,129; Ph.Wandenbaum, Argonautas
do deserto, p.197).
2.
As serpentes venenosas. “Quando os
israelitas se queixaram de novo no deserto Deus lhes enviou serpentes venenosas
que morderam o povo” (Nm.21,4-6). Este conto também é encontrado na Argonáutica,
dos gregos onde os argonautas estão perdidos no deserto, e Mopsos pisa
numa cobra venenosa e morre. (Argonáutica, IV,1518). A Bíblia continua: “E o Senhor disse a Moisés: faça uma serpente
de bronze e a coloque em uma haste; e todos aquele que for mordido
deverá olhar para ela e viver. Então Moisés fez uma serpente de bronze e a
colocou numa haste; e sempre que uma serpente mordesse alguém, essa
pessoa olharia para a serpente de bronze e viveria”(Nm.21,4-6). Vejamos a
continuação do conto na Argonáutica: “Esculápio
era filho do deus Apolo, o deus da medicina. Os argonautas estavam
infetados por uma praga e pediram auxílio a Apolo, deus da cura. Apolo
mandou o seu filho Esculápio se dirigir ao rei em sonho, dizendo: esqueça os
seus medos porque eu virei a ti e deixarei meu altar. Mas agora você olhe para
a serpente com as suas voltas que se seguram entrelaçadas em torno deste bastão,
e abra bem os seus olhos para que você possa reconhecê-la. Sou eu que me
transformarei nesta forma, mas de um tamanho maior; eu aparecerei aumentado e
de uma magnitude à qual um ser celeste deve ser manifestado” (Ovídio, Metam.
XV,650; o.c.p.229). A Bíblia mistura este conto no Novo
Testamento, que mistura com o Antigo Testamento, que mistura com os contos
gregos. Este conto mitológico, que é o
mesmo da Bíblia, deu origem ao símbolo das Farmácias em todo o mundo com
a serpente enrolada numa haste significando Esculápio filho do deus
Apolo.
3.
A jumenta de Balaão. “Quando a
jumenta viu o anjo do Senhor ela se deitou debaixo de Balaão; e a ira de Balaão
se acendeu e ele espancou a jumenta com o seu bastão. Então o Senhor abriu o
boca da jumenta e ela disse a Balaão: o que te fiz e por quê me bateu três
vezes? Balaão disse à jumenta: porque fizeste de mim um tolo? Eu queria ter uma
espada na minha mão! Eu te mataria agora mesmo. Mas a jumenta disse a Balaão:
não sou eu a tua jumenta, a que tens montado
toda a tua vida até hoje? Tem sido o meus costume tratá-lo dessa maneira? E
ele disse : Não” (Nm.22,22). Vamos agora comparar um conto semelhante na
literatura grega.
Aquiles retirou seus homens da guerra
contra Tróia como resultado da sua contenda com Agamenon. Mas quando seu melhor
amigo Pátroclo foi morto, Aquiles decidiu vingá-lo e arreou os cavalos porque
Pátroclo tinha pego os cavalos e armas de Aquiles, mas nunca voltou vivo. Em
sua ira e tristeza Aquiles com voz forte repreendeu os seus cavalos dizendo: “Xanto
e Bálio, descendência famosa de Podarge, desta vez quando lutarmos,
certifiquem-se de trazer o vosso condutor em segurança de volta e não deixá-lo
morto no chão como fizestes a Pátroclo”. Então o ligeiro Xanto
respondeu: ‘temível Aquiles, disse ele, decerto te salvaremos agora, mas o dia
da tua morte está próximo e a culpa não será nossa pois será a sorte severa do
céu que te destruirá. Nem foi por qualquer preguiça ou negligência da nossa
parte que os troianos despiram Pátroclo da sua armadura, foi o deus poderoso a
quem o encantador Leto deu à luz quem o matou enquanto ele lutava entre os
primeiros e concedeu um triunfo a Heitor. Nos podemos voar tão rapidamente
quanto Zéfiro, o mais ligeiro de todos os ventos, no entanto, é teu destino
cair pela mão de um homem e de um deus; Quando ele assim falou, as Erínias
deusas da vingança calaram a sua boca”(Homero,II,XIX,400-20; o.c.p.230-231). Em Números, da Bíblia, Balaão discutindo com a jumenta;
No Livro da Odisseia do grego Homero, Aquiles brigando com seus
cavalos. Em ambos os contos as deidades “dotaram os animais com a fala humana”.
4.
O cadastro e a divisão da terra pelas 12 tribos. Em Números, chegamos ao
paralelo mais significativo com o “Livro
das Leis,” de Platão, onde
também fala das doze tribos. Vejamos primeiro o que conta a nossa Bíblia: “Este foi o primeiro número dos Israelitas:
seiscentos e um mil setecentos e trinta. O Senhor falou a Moisés dizendo: Para
estes a terra será repartida por herança de acordo com o número de nomes. Para
uma grande tribo dareis uma grande herança e para uma tribo pequena uma pequena
herança; a cada tribo será dada a sua herança de acordo com o seu registro. Mas
a terra será repartida por sorteio; de acordo com o nome das suas tribos eles
herdarão. Sua herança será repartida de acordo com a sorte entre as maiores e
as menores”(Nm.26,51-56).
Agora
nas LEIS de Platão: “O legislador dividirá os cidadãos em doze
partes e organizará o restante das suas propriedades tanto quanto possível
de modo a formar doze partes iguais; e
deverá haver um registro de todos. Depois disso eles deverão
atribuir doze lotes a doze deuses, chamá-los pelos seus nomes, dedicar a
cada deus as suas várias porções e chamar as tribos de acordo com eles.
E eles deverão distribuir as doze divisões do país da mesma forma.”(Leis,
745b-c; o.c.p.236). Em Platão assim como na Bíblia acontece o mesmo método
e o mesmo critério, e também as terras não podem ser vendidas. Um detalhe: A
palavra hebraica “goral” que
significa lote deriva da palavra grega usada por Platão, “kleros”. Nos
dois textos a palavra lote significa um pedaço de terra, e a operação de
escolha por sorteio. (.o.c.p.237).
Conclusão: O arcebispo Desmond Tutu, da África do Sul, prêmio Nobel
da Paz de 1984, falou uma vez que “Deus
não é cristão”. Será que não é também grego, africano, asiático,
índio?
S.Agostinho
disse que Deus fez dois Livros, a Natureza e a Bíblia.
Será que o livro da Natureza não é maior que a Bíblia? Parafraseando Santo Agostinho, também poderíamos dizer
Deus fez dois Livros, a Filosofia e a Bíblia: será que a Filosofia não veio
antes que a Bíblia?
Nos
próximos blogs veremos mais, como sobre a Magia na Biblia e nos gregos,
a Usura, os pecados dos pais, e os contos de Débora e Sansão
e Gedeão. Aguarde
P.Casimiro
João
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