Em
Dt.18,9-14 é proibida a prática da magia. Diremos o motivo desta
proibição. Aliás na literatura dos gregos vem também a mesma proibição e
concordamos que a motivação seja igual. Vejamos nas Leis de Platão sobre
o caso:
“Qualquer homem que fere os outros com
amarrações mágicas, encantamentos, feitiçaria ou qualquer das práticas semelhantes,
ainda que ele se tenha como um profeta ou adivinho, que morra; e se, não se
tendo por um profeta, se for condenado por feitiçaria, assim como no caso
anterior, que seja fixado o que ele deve pagar ou sofrer” (Platão, Leis, 93
c-e; Ph.Wanderbaum, Argonautas do deserto, p.246).
Vejamos
na Bíblia: ”Não se achará no meio de ti ninguém que faça passar um filho ou filha
pelo fogo, ou que pratique adivinhação, ou que seja agoureiro ou feiticeiro,
ou alguém que lance encantos, ou que consulte fantasmas ou espíritos ou que
busque oráculos dos mortos. Qualquer um que faça estas coisas é abominável ao
Senhor.” (Dt.18, 10-12). A magia era proibida, tanto em Platão como na
Bíblia por causa do perigo da cair no politeísmo, invocando outros
deuses nos encantamentos, portanto era para defender o monoteísmo.
Em Atenas, assim como Sócrates, também defendiam o monoteísmo, conforme
Platão, Livro X; o.c.p,246).
2.
Sobre os juízes do povo. Vejamos primeiro nas Leis de Platão, e
depois sobre o mesmo assunto na Bíblia: “Aqueles que servem o seu país devem servir sem receber presentes, e não
deve haver desculpas ou aprovação para o ditado: ’os homens deveriam receber
presentes como recompensa pelos bons, mas não pelos maus feitos’; pois saber o
que estamos fazendo e nos mantermos firmes pelo nosso conhecimento não é uma
questão fácil. A direção mais clara é obedecer à lei que diz: ’não preste
nenhum serviço por um suborno’, e aquele que desobedecer, se condenado, que
simplesmente morra”(Platão, Leis, 955,c-d; o.c.p.247). Comparemos o mesmo
tema na Bíblia:
“Não distorcerá a justiça; não
mostrarás parcialidade; e não aceitarás subornos, porque o suborno cega os
olhos dos sábios e subverte a causa daqueles que estão no direito. A justiça,
somente a justiça buscarás, de modo que possas viver e ocupar a terra que o
Senhor te deu”.(Dt.16,19-20).
3.
Sobre os juros. “Se emprestares
dinheiro ao meu povo, aos pobres no meio de ti, não tratarás com eles como um
credor; não exigirás juros deles” (Êx.22,25).
Agora
nas “Leis” de Platão”: “Ninguém
depositará dinheiro com outro em quem não confie como amigo, nem emprestará
dinheiro a juros, e o mutuário não deverá estar com a obrigação de pagar
capital ou juros”(Leis – Platão, 742b; o.c.p.255).
4.
Sobre os pecados dos pais. Bíblia: “Os
pais não serão mortos por causa dos seus filhos, nem os filhos serão mortos por
causa dos seus pais, apenas pelos seus próprios crimes as pessoas podem ser
condenadas à morte” (Dt.24,16). Comparando com Platão: “Haja uma regra geral de que a desgraça e a
punição do pai não deva ser visitada nos filhos, exceto no caso de alguém cujo
pai, avô, e bisavô foram sucessivamente submetidos à pena de morte” (Leis, 856
c-d; o.c.p. 256).
5.
sobre que o Sol parou. Tanto Josué como Agamenón oram para
que o Sol parasse antes de terem derrotado os seus inimigos. Vejamos primeiro
no poema da Ilíada, de Homero: “Agamenón
orou dizendo: Zeus, deus glorioso, que habitas no céu a cavalgas sobre as
nuvens de tempestade, concede que o Sol não se ponha nem a noite caia até que o
palácio de Príamo seja derrubado e as suas portas sejam consumidas com fogo.
Fazei com que a minha espada possa perfurar a camisa de Heitor sobre o seu
coração e que muitos dos seus companheiros possam comer o pó ao redor dele.” (Ilíada,
II, 410-20; o.c.p.262). Agora a Bíblia:
“No dia em que o Senhor entregou
os amorreus aos israelitas, Josué falou ao Senhor, e disse na presença de
Israel: ‘Sol, fica parado em Gibeão, e Lua no vale de Aijabom’; e o Sol se
deteve e a Lua parou até que a nação se vingou dos seus inimigos”
(Jos,10,12-14).
6.
Sobre Sansão. Resumiremos aqui as semelhanças entre Heracles e Sansão.
No Livro de Juízes se diz sobre o conto: ”A
esposa de Manoá, um homem da tribo de Dan, foi visitada pelo anjo de Deus. Ela foi
informada de que o seu filho por vir seria um nazireu, que ele se absteria de
bebidas alcoólicas. Ele finalmente tornaria Israel livre das mãos dos
filisteus”(Jz.3,2-7).”Sansão se deixou capturar pelos homens de Judá, que o
entregaram aos filisteus, mas depois se livrou facilmente das amarras. Ele
massacrou Mil homens com a queixada de um jumento” (Jz.15,11-16). Vejamos na literatura grega:
“Quando Héracles chegou ao
Egito, os egípcios lhe puseram grinaldas e o levaram em procissão para
sacrificá-lo a Zeus; e por algum tempo ele permaneceu em silêncio, mas quando
eles estavam começando o seu sacrifício no altar ele se entregou à bravura e
matou todos eles”.(Heródoto,II,45 e Apolodoro, Bibl.2,5,11 o.v.p.285).
Outro
episódio: “Uma vez Sansão foi a
Gaza onde viu uma prostituta e foi até ela. Os gazeus disseram, Sansão entrou
aqui. Então eles cercaram o local e ficaram à espera dele a noite toda. Eles
ficaram quietos pensando, esperemos até a luz da manhã, então o mataremos. Mas
Sansão se deitou somente até a meia noite. Assim, à meia noite ele se levantou,
pegou as portas da entrada e as duas ombreiras, puxou-as com as trancas e tudo,
colocou-as em seus ombros e as carregou até o topo da montanha que está diante
de Hebron”(Jz.16,1-3). Conto igual na Argonáutica dos gregos:
“Ao famoso Micenas irei, alavancas e
picaretas tomarei, pois levantarei de sua própria base com alavancas de ferro
essas muralhas da cidade que os ciclopes enquadraram com fio de plumo vermelho
e ferramentas de pedreiro. Mas antes que ele pudesse, a pobre mãe pegou o seu
bebê, levou-o para dentro de casa e fechou as portas; imediatamente o homem
louco, como se ele realmente estivesse às muralhas ciclópicas, começa abrir as
portas com alavancas e, derrubando as suas ombreiras, com uma coluna caída
abateu esposa e filha. No chão ele caiu, ferindo as costas contra uma coluna
que tinha desabado em duas no chão quando o telhado desmoronou” (Eurípedes, Héracles,
990-1010). Continua o conto da Bíblia:
“Ela, a Dalila o deixou cair no
sono em seu colo, chamou um homem e mandou-lhe raspar as sete tranças da sua
cabeça. Ele começou a enfraquecer, e a sua força o deixou. Então ela disse, os
filisteus vêm sobre ti, Sansão! Quando ele acordou do seu sono pensou, sairei
como das outras vezes e me livrarei. Mas ele não sabia que o Senhor o havia
deixado”(Jz.16,19-20). “Então os filisteus o prenderam e furaram os
seus olhos. Trouxeram-no a Gaza e o amarraram com correntes de bronze, e ele
moía no moinho da prisão” Assim terminou o conto de Sansão. E agora vejamos
como também igual terminou o conto de Héracles dos gregos:
“Depois disso o herói foi para Quios e
cortejou Mérope, filha de Enopião. Mas Enopião o embebedou, arrancou os seus
olhos enquanto ele dormia e os lançou na praia”. (Apolodoro, Bibl., 1.4.3;
o.c.p.287).
Conclusão. O tema da mulher traiçoeira que corta o cabelo de
outra pessoa, a traição sobre o herói, os olhos arrancados e o aprisionamento
não podem ser ao acaso se não houver compartilhamento entre os dois contos. No
próximo Blog daremos por fim a esta sequência de temas da comparação entre
ambas as Literaturas judaica e grega. Veremos os temas sobre Moisés e a água
que escorre do rochedo; sobre Samuel, e sobre Golias,
aguarde.
P.Casimiro
João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário