“A injustiça institucionalizada do 3º mundo gera a “violência básica”; esta violência gera a violência nº 2, que é a “revolta”, e esta provoca o 3º nível de violência, a “repressão oficial”. (Dom Helder Câmara).
O analisa americano R. Horsley faz uma reflexão em
cima desta afirmação de Dom Helder, e observa
que os romanos faziam essa mesma violência e a chamavam de “paz”, a “paz
romana”. E o historiador Tácito já dizia: “fazem a devastação e a chamam de
paz”.
Sobre a violência da execução de Jesus, os
historiadores modernos descobriram que
para agradar aos romanos, os evangelhos desviaram a culpa deles pela execução
de Jesus para colocá-la nos Judeus. Uma maneira estratégica de São Paulo foi
atribuí-la: “por nossos pecados” (Rom.15,3. Esta expressão de São Paulo vem de
conceitos e preconceitos que traziam do Antigo Testamento, como no caso do
“bode expiatório” (Lev. 16,10).
Os evangelhos obscurecem a natureza política do conflito
que levou à morte de Jesus desviando a responsabilidade para os líderes
judaicos e população judaica: isso era importante para as comunidades para
serem acolhidas nos ambientes romanos. Um segundo argumento era a explicação
piedosa de atribuir a culpa da destruição de Jerusalém, colocada na autoria de
Jesus que isso ira acontecer, devido às culpas dos Judeus. Uma coisa é a
teologia, outra coisa é a história. Na verdade, São Marcos argumenta que a
rejeição judaica do Evangelho levou à destruição da Nação, da sua cidade e do
Templo pelas autoridades romanas.
Um terceiro argumento vem de São Paulo quando usou
a sua teologia adâmica para a morte de Cristo, a célebre expressão, como
dissemos, “por nossos pecados”, e quando ele diz: “assim como em Adão todos morremos, temos todos que morrer em Cristo”
(1.Cor.15,22), que foi escolhido como “um por todos”, descarregando Deus
todas a culpas da humanidade numa só pessoa, como num bode expiatório.
Teólogos há que chamam a isso a mitologização da
cruz em São Paulo. Na verdade, quando Paulo afirma que “Cristo nos redimiu
da maldição da Lei” tornando-se ele
mesmo “maldição por nós” (Gal.3,13) sancionou a sua teologia pessoal de
teologia sacrificial, baseando-se no antigo rito do bode expiatório
(Lev.16,10). Favorecendo deste modo também a “teologia do império” da época
e das épocas futuras, e também dos tempos sombrios das Igrejas quando se
perseguiam umas às outras e perseguiam e torturavam os “errados”.
Assim, a teologia sacrificial de Paulo baseava-se
no bode expiatório e na teologia adâmica. Para reforçar ainda mais esta
teologia de Paulo temos dois argumentos da filosofia gnóstica da mistificação
dos “poderes cósmicos”, não humanos, como sendo destruídos pela cruz, desviando
toda a responsabilidade dos poderes temporais, quando diz: “Expoliou os principados e potestades, e os
expôz a ridículo triunfando deles pela cruz” (Col.2,15). Os poderes
temporais podiam continuar tranquilos.
Aqueles principados e potestades são os mesmos
declarados em Efésios, onde se diz ”não é
contra homens de carne e osso a nossa luta mas contra os principados e
potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal espalhadas no ares” (Ef.6,12).
Com esta derrota destes “poderes dos ares” os
governadores deste mundo ficaram e continuam ficando muito tranquilos e tomando
essas palavras da Bíblia como um mito agradavelmente inofensivo.
Um outro argumento, quando São Paulo declara
“Cristo “obediente até a morte”, de Fil.2,6-8 tomado de um hino gnóstico da igreja
helenista, segundo o qual o Cristo (Verbo - Logos) pré-existente tomou forma
humana e depois dessa forma, a outra
forma de se deixar acabar na condição de morte escrava, a crucificação. Tudo
resumido: exaltando a obediência mítica gnóstica, equiparada ao bode expiatório
dos judeus, para amaciar mais a situação e servindo sempre aos governantes
militares e à Igreja. Sempre tendo como pano de fundo o imaginário do Antigo
Testamento, pois lá se dizia “Deus exalta
um e humilha o outro” (Sl.74,8).
Por seu lado, as comunidades de São Marcos e São
João ficaram muito decepcionadas com o messianismo de Jesus, e viram que a paz
messiânica proclamada por Jesus não veio nunca e em vez disso veio a violência
generalizada do império romano. E se interrogavam se Jesus era mesmo o Messias?
Então os evangelistas responderam que a autoridade do Messias não era “deste
mundo” e projetaram aquela autoridade para o céu e para o futuro indefinido ”
toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra, e eu estarei convosco todos
os dias até o fim do mundo” (Mt,18,20).
Autores como
Wink e Girard afirmam que os cristãos dos primeiros inícios viram-se
embaraçados para explicar a cruz de Cristo, e resolveram a questão assim: Deus
teve a intenção de que Cristo morresse como o “último bode expiatório” e nos
reconciliar de uma vez por todas (Heb.5,1). Eles transformaram assim o Deus de
Jesus num Deus colérico e vingativo, para exigir a morte de seu filho. E também
tornaram a cruz como símbolo da piedade sadomasoquista que serviu para os
sistemas de dominação: uma piedade que inculca nos opressores a violência necessária.
“Deus exalta um e humilha o outro”, como já citado no salmo 74,8. Também a
Igreja inculcou a piedade da submissão necessária que tem servido aos
interesses pastorais da Igreja.
Porém, a história foi bem diferente. O teólogo
salvadorenho Jon Sobrino afirma: “Isolar a cruz do seu itinerário histórico que
levou à execução em virtude de seus conflitos com os poderes políticos só
promoveu uma mística do sofrimento”. Para agradar aos romanos, os evangelhos
desviaram a culpa deles para colocá-la nos Judeus.
E Paula Fredriksen e Bultmann, falando dos eventos
que levaram à morte de Jesus, o mais determinante foi que os romanos executaram
Jesus porque o perceberam a ele e às suas multidões como politicamente
desordeiros. E que as narrativas da paixão fornecem um sofisticado ocultamento
da natureza politica da execução de Jesus.
Esta teóloga observa que tem havido o cultivo de
uma leitura simplista da história com o intuito de favorecer as intenções piedosas
generalizadas. Na esteira de Fredriksen, Jon Sobrino afirma que a crucificação
de Jesus foi por motivos políticos e não por blasfêmia; sendo a blasfêmia usada
assim para ocultar a verdadeira causa política.
Terminando estas considerações voltamos à afirmação
inicial de que para agradar aos romanos os evangelhos desviram a culpa deles pela
execução de Jesus para colocá-la nos Judeus. A teologia da morte de Jesus é uma
coisa, outra coisa é a história.
P.Casimiro
smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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