1. Falaremos sobre o aval que São Paulo parece ter dado sobre a escravidão, e em segundo lugar sobre a submissão das mulheres como parte integrante do controle social das mulheres. E em terceiro lugar, o uso de Paulo para a sustentação de políticas imperialistas. Começarei com duas citações referentes aos dois primeiros itens, para nos situarmos.
“As mulheres sejam submissas a
seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é
a cabeça da igreja, seu corpo, do qual ele é o salvador. Ora, assim como a
igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus
maridos” (Ef.5,22-24).
E
sobre o aval para a escravidão: “Eras
escravo quando Deus te chamou? Não te preocupes disto. Mesmo que possas
tornar-te livre, antes cuida de aproveitar melhor o teu chamado. Quanto ao
mais, que cada um viva na condição na qual o Senhor o chamou. É o que recomendo
a todas as igrejas” (1 Cor. 7,21 e 7,17).
Falemos
logo sobre a escravidão: Eis a primeira pergunta feita no batismo, no séc.18 na
América do Norte ao batizando: “Declaras
na presença de Deus e perante esta Congregação, que não pedes o santo batismo
para qualquer intenção de te livrares do dever e da obediência que tens para
com teu patrão enquanto viveres, mas só para o bem de tua alma e para
participar das graças e bênçãos prometidas aos membros da igreja de Jesus
Cristo?”.
Meu
Deus, isto era uma chamada à Bíblia para sacramentar a sujeição do escravo: “Eras escravo quando Deus te chamou? Não te
preocupes disto. Mesmo que possas tornar-te livre, antes cuida de aproveitar
melhor o teu chamado. Nessas horas, nas igrejas protestantes da América do
Norte se repetia todos os dias aquela ordem de São Paulo. E ainda esta outra: “Todo mundo se submeta às autoridades
constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem
foram estabelecidas por Deus” (Rom. 13,17).
A
utilização das Cartas de Paulo para sistemas de dominação e opressão foi clara
e palpável. Para muitos autores estas palavras foram interpoladas nas Cartas de
Paulo, mas quer sejam ou não, elas sempre funcionam com a autoridade do
apóstolo, e serviram para salvo conduto
de todas as opressões históricas.
2.
Sobre o aval para a submissão das mulheres: “As
mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor” tornou-se mantra semanal em muitos
púlpitos dessas igrejas da América do Norte. E de tal maneira que um ministro
dessas igrejas afirmava que “bater em mulheres é uma honra para o homem” (Neil
Elliott, 23).
3.
Em terceiro lugar, o aval para a sustentação das políticas imperialistas: Esta
mesma Carta de São Paulo serviu para a igreja da África do Sul defender o Apartheid,
e o imperialismo norte americano. Apesar de alguns teólogos católicos e
protestantes do movimento Kairós avisarem que essas nações estavam usando
uma justificativa teológica do racismo, capitalismo e totalitarismo. Essa
igreja abençoava a injustiça, canonizava a vontade dos poderes, abusando de
conceitos teológicos e textos bíblicos para seus próprios objetivos políticos.
Essa
mesma teologia deu suporte para a ideologia do Estado de Segurança Nacional
tirando todos os direitos dos cidadãos, escravizando-os ao Estado. E deu
suporte para a propaganda imperialista do império norte americano com o slogan do
estabelecimento da Nova Ordem Mundial com Ronald Reagan em 1980. Foi
neste contexto que o imperialismo norte americano fez de tudo para acabar com a
teologia da libertação, com o Instituto para a Religião e Democracia.
Toda
esta ideologia se firma em São Paulo, e quem sabe, ele inocente ou não dessas
palavras que muitos autores negam que sejam dele, mas outros indivíduos as
terão escrito buscando capitalizar em cima da influência de Paulo para avançar
seus próprios preconceitos políticos. (N.Eliott, 34). No entanto, “está na
Bíblia”, e tem sempre sido considerado como escrito de São Paulo.
Além
da hipótese de inserção nos escritos de São Paulo, há três vertentes para a
compreensão de Paulo. Primeira, a posição privilegiada de Paulo dentro da
sociedade romana; segunda, o modo como a tradição teológica mistificou e
despolitizou Paulo; terceira, como São Paulo e o Novo Testamento desviaram a
culpa dos romanos em relação à execução e morte de Cristo, para atribuí-la os
povo judeu, para que o cristianismo fosse bem aceito pelos romanos.
Para
finalizar, uma tentativa do resgate de Paulo sobre a sua teoria da escravidão:
a sua expectativa sobre a vinda próxima do retorno de Cristo, a parusía,
e do fim do mundo. Essa
expectativa teria produzido essa posição conservadora pela qual seus leitores
não deveriam mudar seus papéis na sociedade, nem políticos, nem morais: ““Eras
escravo quando Deus te chamou? Não te preocupes disto” “Estás solteiro, não
procures esposa; Eu digo, irmãos, o tempo está breve, os que têm mulher vivam
como se não tivessem; os que compram, como se não comprassem” (1 Cor.7,
22.29-30).
E
outro segundo argumento ainda baseando-se na sua teologia da justificação
pela fé, donde resultava a igualdade em Cristo pela cruz de Cristo
que libertava da Lei. Para ele então, não há escravo nem livre pois
todos vocês são um só em Cristo” (Gál. 3,28). Por isso opinava que os
escravos permanecessem na condição de escravo. Para Paulo, um interesse do
escravo por sua situação não era só desnecessária, mas até inconveniente,
segundo sua teologia que hoje poderíamos chamar teologia de alienação.
P.Casimiro smbn
www.paroquiadechapadinhablogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário