segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Paulo e a escravidão, Paulo e as mulheres, Paulo e a política.


 1. Falaremos sobre o aval que São Paulo parece ter dado sobre a escravidão, e em segundo lugar sobre a submissão das mulheres como parte integrante do controle social das mulheres. E em terceiro lugar, o uso de Paulo para a sustentação de políticas imperialistas. Começarei com duas citações referentes aos dois primeiros itens, para nos situarmos.

“As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da igreja, seu corpo, do qual ele é o salvador. Ora, assim como a igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos” (Ef.5,22-24).

E sobre o aval para a escravidão: “Eras escravo quando Deus te chamou? Não te preocupes disto. Mesmo que possas tornar-te livre, antes cuida de aproveitar melhor o teu chamado. Quanto ao mais, que cada um viva na condição na qual o Senhor o chamou. É o que recomendo a todas as igrejas” (1 Cor. 7,21 e 7,17).

Falemos logo sobre a escravidão: Eis a primeira pergunta feita no batismo, no séc.18 na América do Norte ao batizando: “Declaras na presença de Deus e perante esta Congregação, que não pedes o santo batismo para qualquer intenção de te livrares do dever e da obediência que tens para com teu patrão enquanto viveres, mas só para o bem de tua alma e para participar das graças e bênçãos prometidas aos membros da igreja de Jesus Cristo?”.

Meu Deus, isto era uma chamada à Bíblia para sacramentar a sujeição do escravo: “Eras escravo quando Deus te chamou? Não te preocupes disto. Mesmo que possas tornar-te livre, antes cuida de aproveitar melhor o teu chamado. Nessas horas, nas igrejas protestantes da América do Norte se repetia todos os dias aquela ordem de São Paulo. E ainda esta outra: “Todo mundo se submeta às autoridades constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram estabelecidas por Deus” (Rom. 13,17).

A utilização das Cartas de Paulo para sistemas de dominação e opressão foi clara e palpável. Para muitos autores estas palavras foram interpoladas nas Cartas de Paulo, mas quer sejam ou não, elas sempre funcionam com a autoridade do apóstolo, e serviram  para salvo conduto de todas as opressões históricas.

2. Sobre o aval para a submissão das mulheres: “As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor”  tornou-se mantra semanal em muitos púlpitos dessas igrejas da América do Norte. E de tal maneira que um ministro dessas igrejas afirmava que “bater em mulheres é uma honra para o homem” (Neil Elliott, 23).

3. Em terceiro lugar, o aval para a sustentação das políticas imperialistas: Esta mesma Carta de São Paulo serviu para a igreja da África do Sul defender o Apartheid, e o imperialismo norte americano. Apesar de alguns teólogos católicos e protestantes do movimento Kairós avisarem que essas nações estavam usando uma justificativa teológica do racismo, capitalismo e totalitarismo. Essa igreja abençoava a injustiça, canonizava a vontade dos poderes, abusando de conceitos teológicos e textos bíblicos para seus próprios objetivos políticos.

Essa mesma teologia deu suporte para a ideologia do Estado de Segurança Nacional tirando todos os direitos dos cidadãos, escravizando-os ao Estado. E deu suporte para a propaganda imperialista do império norte americano com o slogan do estabelecimento da Nova Ordem Mundial com Ronald Reagan em 1980. Foi neste contexto que o imperialismo norte americano fez de tudo para acabar com a teologia da libertação, com o Instituto para a Religião e Democracia.

Toda esta ideologia se firma em São Paulo, e quem sabe, ele inocente ou não dessas palavras que muitos autores negam que sejam dele, mas outros indivíduos as terão escrito buscando capitalizar em cima da influência de Paulo para avançar seus próprios preconceitos políticos. (N.Eliott, 34). No entanto, “está na Bíblia”, e tem sempre sido considerado como escrito de São Paulo.

Além da hipótese de inserção nos escritos de São Paulo, há três vertentes para a compreensão de Paulo. Primeira, a posição privilegiada de Paulo dentro da sociedade romana; segunda, o modo como a tradição teológica mistificou e despolitizou Paulo; terceira, como São Paulo e o Novo Testamento desviaram a culpa dos romanos em relação à execução e morte de Cristo, para atribuí-la os povo judeu, para que o cristianismo fosse bem aceito pelos romanos.

Para finalizar, uma tentativa do resgate de Paulo sobre a sua teoria da escravidão: a sua expectativa sobre a vinda próxima do retorno de Cristo, a parusía, e do  fim do mundo. Essa expectativa teria produzido essa posição conservadora pela qual seus leitores não deveriam mudar seus papéis na sociedade, nem políticos, nem morais: Eras escravo quando Deus te chamou? Não te preocupes disto” “Estás solteiro, não procures esposa; Eu digo, irmãos, o tempo está breve, os que têm mulher vivam como se não tivessem; os que compram, como se não comprassem” (1 Cor.7, 22.29-30).

E outro segundo argumento ainda baseando-se na sua teologia da justificação pela fé, donde resultava a igualdade em Cristo pela cruz de Cristo que libertava da Lei. Para ele então, não há escravo nem livre pois todos vocês são um só em Cristo” (Gál. 3,28). Por isso opinava que os escravos permanecessem na condição de escravo. Para Paulo, um interesse do escravo por sua situação não era só desnecessária, mas até inconveniente, segundo sua teologia que hoje poderíamos chamar teologia de alienação.

P.Casimiro   smbn

www.paroquiadechapadinhablogspot.com.br

Nenhum comentário: