segunda-feira, 8 de março de 2021

Leis e “Todo o Poder Vem de Deus”? Substrato Arqueológico e Histórico Dessa Afirmação, e as Influências no Novo Testamento.


 O rei Hamurabi quando fez o primeiro Código de leis da história assim conhecido Código de Hamurabi, (1.700 a.C.) exibe a figura do Schamasch, o deus Sol para dizer que ele era o representante do deus e a figura era como o carimbo do seu deus para todos os povos. Desse modo as leis começavam a ser vistas como vindas de Deus.

Esta concepção veio permeando a história de todos os povos até chegar ao nosso tempo. E até nos autores do Novo Testamento, onde prevalecia o ditado que “todo o poder vem de Deus”. Por isso Hamurabi terminava seu Código com a proibição que essas leis não podiam ser tocadas nem alteradas porque eram divinas.

De fato o Novo Testamento nada mais faz do que copiar os autores do Antigo Testamento, que tinham copiado do Código de Hamurabi. Podemos ver isso no Livro da Sabedoria, cap. 2; e Provérbios 8,15. E São Paulo copiou e escreveu para os Romanos: “ Obedecei às pessoas de poder porque todo o poder vem de Deus” (Rom.8,13).

É bom saber também que, como diremos à frente, muito material do Código de Hamurabi foi copiado para o Código de Moisés do Sinai. E também é interessante saber que o primeiro povo de um só deus, monoteísta, não foi Israel, mas já tinha sido o povo do rei Akhenaton, uns 500 anos atrás.

Para vermos o ambiente em que São Paulo escreveu, vejamos que ele herdou esses conceitos na formação de rabino que ele tinha,  em segundo lugar ele e os cristãos estavam no meio de perseguições. E suas cartas tinham um duplo objetivo, primeiro, não bater de frente com o poder de Roma que estava matando os cristãos, e segundo, tornar o cristianismo aceitável pelos cidadãos romanos e pelo poder romano, para parar com as perseguições. Foi esse o ambiente em que Paulo escreveu para apaziguar os ânimos e tornar o cristianismo uma religião simpática aos romanos.

Como dito já aqui noutro lugar, enquanto os cristãos faziam parte das sinagogas judaicas, o governo não perseguia, porque os Judeus tinham leis que os aceitavam como religião no Estado, mas quando os cristãos se separaram dos Judeus e das Sinagogas,(ano 70 d.C.), eles ficaram como uma religião fora da lei, separados dos Judeus, pelo que estavam sujeitos  todo momento a ser perseguidos, presos e mortos.

Viria depois com os gregos a noção filosófica que os direitos humanos são anteriores às leis escritas que dependem do momento e dos caprichos e  interesses individuais  e grupais de quem as faz. (Antígona e Sófocles, (441 a.C.).

Na Idade Média foi alimentada esta concepção, vindo só a resolver-se com a Revolução Francesa (1788), que deu origem à Declaração dos Direitos Humanos, e com as teorias do Iluminismo e as novas Ciências Humanas. Tão entranhada estava esta ideia, que a Igreja católica foi a última das Instituições a reconhecer os Direitos Humanos assim como a liberdade de consciência.

Desde o homem das cavernas e a domesticação dos camelos em 1.900 a.C. aparece então o 1º Código de Leis com o carimbo do deus Sol.

As últimas investigações arqueológicas chegaram à conclusão de que não é possível fixar a data dos Patriarcas. E há evidências de que a história deles se mistura com outras dos mesmos povos distantes no tempo.

Na verdade, deve ser lembrado que na última parte do 3ºmilênio a.C. as civilizações de Idade do Bronze antigo (3.000 a.C.) chegaram ao fim, e as cidades foram destruídas e abandonadas. Séculos se passaram. Um povo de Amoritas invadiu todos os territórios do Crescente Fértil (Médio Oriente) e destruiu toda a civilização, assim como fizeram os bárbaros no séc.V na Europa. Só  que aqui foi em Ur e na Mesopotâmia. Até esta data não se encontraram nos documentos da história mundial sinais de referências de nenhum nome histórico de Israel.

Também não podemos dizer com certeza quando o povo de Israel desceu para o Egito. Aliás essa é uma questão que ainda nem pode ser cogitada porque nesta data ainda não existia o povo de Israel. As cidades mais conhecidas nesta época eram as cidades de Mari, Ur, e Harã e Ebla, na Mesopotâmia e na Turquia.

A maioria dos textos e documentos desta época foram encontrados em Mari e em Ebla. Foi dado como certo que no Egito antigo (3.500 a.C.) havia já a prática e o exercício da profecia sendo o mais conhecido o profeta Neferti, e também nestas culturas havia profetas e profecias.

Os textos da cidade de Mari (3.000 a.C.) mostram-nos muito bem que a profecia foi levada para Israel pelos antepassados deste meio cultural onde ela já existia. E do mesmo jeito que a profecia, também os códigos de leis, como os de Eshunna e de Hamurabi. Portanto, assim como a profecia, também o Código do Sinai foi trazido da Mesopotâmia. Assim como as tradições da criação e do Dilúvio.

Além do Código de Hamurabi, foi escrito o poema de Gilgamesh, onde as histórias do jardim do Éden e da Torre de Babel foram escritas primeiro que o Gênesis. E influenciaram a escrita do Gênesis. Porquê? Porque os Israelitas eram mesopotâmicos e amoritas, e quando se estabeleceram na Palestina levaram com eles essas literaturas que eles já sabiam de cor.

Quando a civilização sumérica chegou ao fim por volta do ano 2.000 a.C. a região da Mesopotâmia fragmentou-se em vários Estados. Durante mais de  200 anos estas cidades mantiveram-se em lutas constantes. Nesta situação Hamurabi herdou de seu pai o trono da Babilônia. Ele conseguiu unificar toda a Mesopotâmia: as tribos dos Sumérios, dos Acádicos, e dos Amoritas. E também unificou as suas línguas num só idioma, que mais tarde virou o aramaico, como veremos á frente.

O rei Hamurabi fez o primeiro Código de Leis. Porquê? Porque a palavra oral já não mais bastava para garantir a ordem. Surgiu então a produção da lei escrita manifestada inicialmente no barro e em papiros bem como gravada em ossos de animais. Assim surgiu o primeiro Código de Hamurabi escrito num único bloco de pedra, com 282 artigos que expressavam as leis do rei.

Falemos agora da língua aramaica. Estamos acostumados a unir a língua aramaica aos hebreus. Porém, ela se originou da junção de todas as línguas unificadas pelo rei Hamurabi quando pacificou as tribos, na época que publicou o Código de leis. A pré-história dos Patriarcas de Israel se encontra de mistura com estes povos. Nesta época remota do 2º milênio a.C. havia o costume de os clans estabelecerem aliança entre o chefe do clan e o seu deus. Por outro lado, os antepassados dos patriarcas pertenciam a esta cultura e faziam igualmente já esse tipo de aliança com o seu deus. (Cf.Jhon Bright, História de Israel, 119).

Os historiadores concluem que devemos colocar as antepassados de Israel entre os clans vindos para a Palestina no início da Idade do Bronze (3.000 a 2.500 a.C.). Mas continuavam fazendo parte do império de Hamurabi.

Daí em diante começa a história de Abraão, Isaque e Jacó, que a Bíblia descreve como pessoas isoladas, mas na verdade seriam chefes de clans na mistura com as confederações ainda existentes, na sua época, onde todos os chefes de clans faziam alianças com o seu deus.

Estaremos agora mais capacitados para responder à questão inicial: As “Leis” e “todo o poder vem de Deus”?

P.Casimiro          SMBN

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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