segunda-feira, 25 de julho de 2022

A fé divide e só o amor une. É o princípio da teologia do pluralismo religioso: Há mais verdade religiosa na soma de todas as religiões do que numa só: Uma flor é uma flor, um jardim é um jardim.


 

Tratamos agora da teologia do pluralismo religioso de fato e teologia do pluralismo religioso de direito. Definição. O pluralismo religioso de fato é a constatação histórica que depois de 20 séculos o cristianismo só se estabeleceu nos países “colonizados”, e em 17,7% da população global. O pluralismo religioso de direito, segundo o teólogo Claude Geffré  baseia-se na reflexão teológica sobre a “salvação presente nas religiões mundiais, não apesar das suas teologias, mas pelo valor das suas teologias. E mais, atendendo ao principio seguinte: elas têm uma plenitude de salvação quantitativa em relação ao cristianismo, que dizemos que rem uma plenitude qualitativa. O que não significa que elas tenham de deixar o que são, para integrar-se no cristianismo, ou seja nas Escrituras, ritos e liturgias do cristianismo, mas continuando com as suas “Escrituras, ritos e liturgias (Cf. Claude Geffré, de Babel a Pentecostes, p.72). Na verdade, “se estas religiões do mundo invocam sua religião como “Escrituras Sagradas” perguntamo-nos por que seria impossível considerar essas “sementes como palavras de Deus aos homens?(Id).

Desde que há homens há uma única revelação como dom de Deus que coincide com a experiência espiritual do Absoluto que todo ser humano pode fazer, no dizer de Karl Rahner. E ainda: Se as diversas tradições religiosas têm um lugar no interior do desígnio de salvífico de Deus, isso quer dizer que há maior verdade religiosa na soma de todas as religiões do que numa religião tomada isoladamente, inclusive o cristianismo. (Cf.o.c.p. 70).

Tomamos como premissa que o amor vale mais do que a fé, como tenho repetido neste Blog(cf.1 Cor.13,13). Porém, olhando para a história, a constatação não é essa, mas para a Igreja e para as Igrejas a fé tem valido mais que o amor. Por causa da fé se caluniava, se brigava, se matava, se perseguia, se queimava gente. Esse alerta de Paulo sobre o amor não era posto em prática. A fé divide e só o amor une. Hoje em dia o Espírito orientou os olhos dos estudiosos para enxergar que as Igrejas deixem de perseguir outras igrejas e outras religiões e outras teologias. Na verdade, Deus não cabe nos conceitos humanos, Deus é maior do que as palavras. Deus não cabe aí, só cabe no amor. É por isso que “há maior verdade religiosa na soma do que numa parte”. Você observa uma flor; e observe um jardim; quem sabe, lá tem a totalidade da beleza. Mas não na flor que tem na mão. Uma flor é uma flor, um jardim é um jardim. Tudo que há no mundo são parcelas, são sementes do bem. E por isso trata-se das sementes de verdade, de bondade e de santidade das quais as próprias religiões são portadoras. Veja bem, no Antigo Testamento vem assim, que a “Sabedoria” diz: “Em mim está o caminho de toda a verdade, da vida e da virtude”(Versão latina de Siraque, 24,25). E que afinal os evangelhos aplicaram a Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim”(Jo.14,6). Isto não admira, na medida em que toda a religião se arroga o direito de ser a verdade e o caminho, como direi no próximo tema (www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 19/6/22).

É a Constituição Lumen gentium que faz referência ao bem e “Sementes do Verbo” no coração dos seres humanos, e também a Enciclica “A missão do Redentor” de Pio XII fala das “sementes e fulgores que se abrigam nas pessoas, e nas tradições religiosas da humanidade(n.51). Como eu falei, na soma das religiões como um jardim, o teólogo Claude Geffré diz que “há verdades nas outras religiões, e experiências autênticas que não foram e nem serão tematizadas ou postas em prática no interior do cristianismo pelo fato mesmo de sua particularidade histórica”(o.c.p.72). São como as flores que não estão todas no pequeno jardim do cristianismo. O mesmo teólogo fala de “palavras de Deus” nessas religiões, como estas flores que não germinaram no nosso jardim, e fala de “plenitude qualitativa” cristã, e de “plenitude quantitativa” a de todas as religiões. E deste modo também são palavras de Deus aos homens. (o.c.p.72). Isto nos leva a pensar na possibilidade de cada religião ser portadora de salvação.

No Blog anterior falámos que o “céu geográfico” da teologia do eurocentrismo foi ultrapassado pelo “céu planetário”, e que, por outro lado, o “céu olímpico” de que eles se julgavam donos também, eles não são mais os donos. Se nos apoiarmos no nascimento de Jesus como localizado no “céu geográfico” da Palestina temos que convir que Jesus levava esse “céu geográfico na sua pessoa, na suas cultura e na sua história. Da tradição de Jesus recebemos a instituição da Igreja, da Palavra, dos ministérios, e dos sacramentos. Porém, como lembrou a Constituição Lumen gentium, “a graça é oferecida a todos os homens segundo as vias conhecidas só de Deus”. E no decreto Ad gentes afirma-se que o “desígnio salvifico de Deus se realiza igualmente pelos atos religiosos pelos quais, de diversas maneiras, os homens buscam a Deus”(n.3). E João Paulo II: “Cada oração autêntica é suscitada pelo Espírito Santo que está misteriosamente presente em cada pessoa humana”. Outro teólogo do pluralismo religioso declarou: Se muitos homens e mulheres são salvos, não é apesar da sua religião, mas nela e através dela”.

Chamamos a isto teologia do pluralismo religioso de direito, que é o reverso da medalha do pluralismo religioso de fato. Vale dizer, por um lado a religião cristã só é praticada por 17,7%por cento da população global, restando os 82,3% por cento sem o cristianismo. E por outro lado, que as religiões destes 82,3% por cento  constituem possíveis mediações de salvação.(Christian Dupuis).

Falámos atrás na metáfora do imenso jardim para a amplitude das religiões mundiais. E, como aqui cada flor ou canteiro de flores contém suas características e propriedades, não se deve ter a pretensão de substituí-las para que ingressem ou tomem a cor dos canteiros do cristianismo. Quer isto dizer que a Igreja não pode pretender integrar nem substituir as riquezas autênticas das outras religiões.

Conclusão. Podemos concluir com o teólogo Claude Geffré: “É por isso que nos parece legítimo falar de um pluralismo religioso de principio (ou de direito) que depende do desígnio de Deus criador e libertador. Como conclusão é adequado dizer que se os valores das religiões são recapitulados em Cristo é sob a condição de que seus valores próprios não sejam compreendidos como degraus inferiores e transitórios que desapareceriam completamente quando encontrassem seu cumprimento na religião cristã. Cada figura religiosa tem algo irredutível na medida em que pode ser suscitada pelo Espírito de Deus que sopra em todos os lugares.” (o.c.p.83).

P.Casimiro João    smbn

www.paroqiadechapadinha.blogspot.com.br

 

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