Para
nossa surpresa quem subscreve este dito é um teólogo norte americano,
adventista, Harvey Kox. Ele se refere simplesmente à Bíblia como
sendo um “Papa de papel”, para os fundamentalistas protestantes da América do
Norte. E já temos que saber que o “Fundamentalismo” nasceu em 1920.
Entre
os quatro objetivos que eles tinham em vista era a luta contra a teologia da
libertação. Porquê? Porque alimentavam a ideia fixa do próximo retorno de Cristo
“sobre as nuvens”, “nos ares” (1Tes.4,16-18). Desta maneira, para eles, a
teologia da libertação estava errada, porque pensavam que ninguém se devia
importar com os pobres.
As
novidades trazidas no séc. 19 pela ciência confundiram e fizeram tremer muitas
“certezas” da fé protestante, e não só. Investigações históricas e científicas
mexeram muito com a Bíblia.
Na
verdade, até o séc. 19 todo mundo tinha a Bíblia não só como o livro
sagrado de fé mas também da ciência. Enquanto que começou-se a
separar na Bíblia o que é fé e o
que é ciência: era o filtro da investigação cintífica bíblica. O que não era fé era ciência. E
ciência da época, não de agora. Porém, a Bíblia não era para transmitir ciência
mas fé. Só isso. E isso é que eles não admitiam, afirmando que a Bíblia não
podia falhar porque era ditada letra a letra por Deus.
Firmados
nisso, para eles o Iluminismo e a investigação científica não podia
mexer na Bíblia, seria blasfêmia. Na verdade, do lado católico havia uma voz
infalível que era o Papa. Durante toda a Idade Média reinava a sentença: “Roma
locuta, causa finita”, i.é, Roma falou, a questão acabou. E entre os
protestantes havia um mote semelhante “A Bíblia falou, a questão
acabou”. E ainda hoje essa frase se diz com frequência “A Bíblia diz assim”, sem saber o que na verdade a
Bíblia quer dizer.
O
problema é que não só do lado protestante era sentido este abalo, mas também do
lado católico. Do lado católico começavam a ser condenadas todas as novas
teorias e movimentos que faziam parte do mundo moderno, o que era chamado de Modernidade, ou
“Modernismo”.
Já
desde o séc. 16 o Renascimento, com toda a sua carga cultural trouxe a
teoria do humanismo, heliocentrismo, cientificismo, antropomorfismo, e a reforma
protestante; e a Igreja católica sentiu as suas bases abaladas. A Igreja via um
risco e uma perspectiva de não ser mais a única instituição doutrinária
que determinava as regras e normas que conduziam a sociedade e a vida dos
homens, como em toda a Idade Média.
A
ciência reinante no mundo era a ciência de Ptolomeu, 160 antes de
Cisto, que estabelecera que a Terra era o centro do universo,
o geocentrismo. Quando Copérnico (séc.16), e Galileu (séc. 17),
revolucionaram essa teoria e descobriram o Sol como o centro do universo,
deu-se a chamada virada copernicana, a Terra dando lugar ao Sol como centro.
A descentralização da Terra pôs em risco a centralidade da Igreja, deixando de
ser o centro do poder mundial.
Começava
a ser questionada a antiga e única filosofia aristotélica que se baseava
na silogística. Bacon e Descartes
introduziram a metodologia empírica, com o “Discurso do Método”,
tendo-se ajuntado a eles a saga dos filósofos renascentistas, Diderot, Blaise
Pascal, Espinoza, Isaac
Newton, Leibniz, Bercley e Thomaz Hobbes. E os filósofos Iluministas
da saga de Kant, com a “Crítica da Razão Pura”, Voltaire, D.Hume,
Rousseau, e A.Smit. E veio também a nova teologia com os teólogos dos séculos
17 e 18: Kierkegaard, e Henri Newmann, Scleiermacher, Hugo
Grotius, Ellen White, Felipe Melanchton, Fhilipo Jacobo Spener,
E.Swudemberg, George Bull, e Jhon Knox.
O
Iluminismo defendia a liberdade de consciência, a tolerância
religiosa, a fraternidade universal, e a separação da Igreja e do
Estado, excluindo a antiga teoria do direito divino do Rei, que
vinha desde o Cesaropapismo
bizantino, do séc.IV. E de quebra, também a única teologia
escolástica reinante de Tomás de Aquino começou a ser questionada.
Esta
reviravolta copernicana abria brechas para o saber crítico, e questionamentos
sobre posições sociais, políticas,
econômicas e filosóficas. As filosofias e teologias baseadas na aporia de Deus
como sendo o motor imóvel, de Tomás de Aquino e de Aristóteles, foram questionadas, e
prepararam o caminho para a evolução do mundo e das espécies. O Teocentrismo
deu lugar ao Antropocentrismo, e a relevância do ser humano. Galileu
(séc.17) uniu o método da indução e da empírica com a matemática.
Nascia
assim a Idade Moderna, que teve o incremento com as Navegações, e
o alargamento dos horizontes do mundo. Deu-se realce à Crítica do Conhecimento,
com a saga de Descartes, o que mexeu também com a revelação bíblica.
O
mundo começou a despertar. Deu-se a Independência dos Estados Unidos da América
do Norte (1776), e a Revolução Francesa, em 1889. A Democracia e a
Revolução industrial vieram junto com o
Iluminismo
Qual
foi o impacto disto tudo na Igreja católica? Em vez de se abrir ao diálogo com o mundo, a
Igreja fechou-se a essas ideias, e isolou-se. Fechou-se no passado, em vez de
olhar para o futuro, não escutando a filosofia de um grande filósofo alemão “O
Deus bíblico é um deus cuja essência é a futuridade.” (Ernesto
Bloch). E também diz o ditado popular que “quem vive do passado é museu”.
Pio
IX fez um documento em que condenava todo este renascimento, o documento “Sillabus”
de 1873, com o qual condenava o
“modernismo” no seu conjunto. Inclusive condenava as traduções da Bíblia
e a leitura da Bíblia. O clero e a Igreja passaram a ser vistos
como “os inimigos do progresso e da
civilização”.
Na
verdade, o Papa na Idade Média tinha os seguintes créditos: Era o Rei;
o Papa-Rei; o Soberano dos Césares; o Rei altíssimo; o Príncipe
majestático; o Regente supremo; o Máximo soberano do Mundo; o
Rei dos reis.
E
para quem fazia seus esses títulos e direitos, se tornou muito difícil a
adaptação à nova ordem mundial. Após a condenação com o documento “Sillabus” Pio IX convocou o Concilio Vaticano I
em 1870 com a ideia fixa de definir a Infalibilidade pontifícia.
Certamente
apoiava-se naquilo que o Papa Bonifácio VIII (1303) declarava na Bula “Unam Sanctam,”
contra o rei Filipe IV da França, sobre a sua autoridade absoluta sobre os reis
“aos reis caberia apenas um poder de execução”; “O Papa julga todo mundo e não
é julgado por ninguém”.
E
assim o Papa Pio IX forçou os cardeais para que fosse aprovada no Vaticano
I. Inclusive contam os historiadores que
muitos cardeais abandonaram as Sessões do Concílio antes da votação, diante das
constantes ameaças do Papa. Na Alemanha e na Espanha, segundo Augusto Harler
saiu publicado o livro em 1980 e 1985 respectivamente: “Como o Papa tornou-se
infalível”, que conta como foi manobrada a votação. Note-se que o Concílio de
Trento tinha-se recusado a mexer no conceito de infalibilidade.
Concluindo,
o século 19 foi tumultuado para o Protestantismo e para o Catolicismo. E aos
trancos e barrancos no lado católico ficou definida a infalibilidade pontifícia,
e o lado protestante pelejava para que não se mexesse na infalibilidade da
Bíblia no sentido de “cada palavra e
letra” ser escrita por Deus.
A
definição da infalibilidade papal fortaleceu a posição do Papa, que segundo Pio
IX estava em risco, e a Bíblia como autoridade infalível teria que ser,
segundo os fundamentalistas norte
americanos um ”Papa de papel” paralelo à autoridade papal. (Cf. Harvey Kox – O
futuro da Fé, Paulus, 203).
P.Casimiro smnb
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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