Na pesquisa de Jesus “quem dizem os homens que Eu sou” (Mc.8,27), há uma versão
antiga muito interessante no Evangelho de Tomé.
Eu
gostaria de destacar a importância histórica do evangelho de Tomé, como
evangelho que está despertando muito interesse nos autores atuais.
É
de admirar quantas vezes os estudiosos atuais apelam para o evangelho de Tomé.
Vejamos um local de primeira importância e central nos evangelhos Sinóticos, e
qual é a versão de Tomé na “enquete” que Jesus fez a respeito de sua pessoa
“Quem dizem os homens que Eu sou?” (Mc.8,27).
No
Dito 13 do evangelho de Tomé: “Jesus
disse a seus discípulos: Fazei comparações, dizei-me a quem me assemelho”.
Simão Pedro disse-lhe: “Tu és como um
Anjo justo”. Mateus disse-lhe: ”Tu és
como um sábio filósofo”. Tomé disse-lhe:
“Mestre, minha boca é completamente incapaz de dizer a quem te assemelhas”.
(Dito 13).
Aqui
vemos outra versão do evangelho de Tomé sobre esse intrincado episódio. E os
autores se interrogam sobre a relevância do papel de Pedro e de Mateus nesse
episódio. Porquê Pedro e Mateus foram escolhidos para testemunhar
sobre Jesus, na intenção dos redatores? Quanto a Pedro, teria sido para
evidenciar a figura apostólica de Pedro entre os cristãos “ortodoxos”, despeitados
com os cristãos das comunidades de Paulo. E porquê Mateus? Mateus seria
um dos mias esquecidos dos Doze se não lhe tivesse sido atribuído um
Evangelho.
E
temos uma observação a fazer neste particular: o evangelho de Tomé exaltou o
ensinamento ético de Jesus como ensinamento de um filósofo e de uma ética
superior. No Mundo Antigo, a Ética era domínio dos filósofos. E
um Mestre de ética como o Jesus do evangelho de Mateus podia ser muito
bem descrito como “um sábio filósofo”.
Quanto
ao evangelho de Tomé, ele quer sublinhar dois aspectos. Em primeiro lugar ele
nos quer dizer que em nenhum outro Evangelho
o ensinamento ético é tão proeminente quanto no Evangelho de Mateus.
Basta olhar quantas vezes insiste na fórmula “Eu Vos digo”, em contraste
com a outra “Os Antigos diziam”...
E
o segundo item que deduzimos do evangelho de Tomé, não se reportando ao messianismo
de Jesus, era que o Evangelho de Tomé não tinha interesse algum na Bíblia
hebraica ou na expectativa messiânica judaica.
Efetivamente,
no evangelho de Mateus, que aumenta os ditos de Jesus que não vêm no evangelho
de Marcos, que foi o primeiro, vem assim: “Eu
te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado
nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt.16,19).
Aqui
reflete-se o messianismo da Bíblia hebraica, e o evangelho de Mateus foi buscar as palavras do profeta Isaías a
respeito dessa expectativa na pessoa do
Rei Davi: “Porei sobre os seus ombros as
chaves da Casa de Davi: quando ele abrir, ninguém fechará, quando ele fechar,
ninguém abrirá” (Is.22,22).
É
estranho que esta promessa não vem no primeiro evangelho que é a fonte dos
outros, o evangelho de Marcos. Porém, o evangelho de Mateus estava interessado
na relevância de Pedro, como dissemos atrás, e para acrescentar trouxe à baila
a antiga expectativa messiânica.
Por
seu lado, os pesquisadores da história bíblica sabem que o evangelho de Tomé é
da mesma época e contemporâneo do evangelho de Marcos(50 d.C.), portanto antes
dos evangelhos de Mateus e Lucas e João. E também não estava interessado, como
dito atrás, na Bíblia hebraica e na expetativa messiânica de Mateus.
Voltando
ao nosso início, vale a pena refletir e dar o seu devido valor a esta versão em
questão: “quem dizem os homens que Eu sou” na versão dos redatores do evangelho
de Tomé (50 d.C.), contemporâneo do evangelho de Marcos.
P.Casimiro smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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