“Um proprietário plantou uma vinha, cercou-a
com uma sebe, colocou um engenho, e construiu uma torre. Arrendou-a a
vinhateiros, e viajou para o estrangeiro. No tempo oportuno mandou seus servos
para receberem os seus frutos. Mas os lavradores agarraram os servos,
espancaram um, mataram outro, e apedrejaram o terceiro. Enviou outros servos em
maior número do que os primeiros e fizeram-lhes o mesmo. Por fim enviou seu
próprio filho dizendo: hão de respeitar o meu filho. Os lavradores, porém,
vendo o filho, disseram uns aos outros “Eis o herdeiro, matemo-lo, e teremos a
sua herança” (Mt.21,33-39).
Além
da interpretação usual, tem fontes com outra versão de interpretação
alternativa que é a seguinte: O homem rico do texto representa aqueles que
acumularam as terras roubando dos camponeses pobres da Galileia. Na hora da
colheita o proprietário quer os frutos da colheita, porém os trabalhadores
defendem os seus direitos. O envio do filho, o herdeiro tinha como objetivo
intimidar os trabalhadores.
Na
interpretação tradicional é tudo legitimo, tudo o que o proprietário tem e faz.
E ao contrário, tudo errado o que fazem os trabalhadores. Nesta versão
invertem-se os papéis. Errado o proprietário porque terá acumulado
terras às custas de tirar dos mais pobres, e acertado o comportamento
dos trabalhadores, que cobram os seus direitos. Na verdade, os latifundiários,
na época de Jesus, tiravam as terras dos pobres quando eles não tinham com que
pagar as dívidas, e ficavam escravos dos patrões. Assim os ricos ficavam mais
ricos, e os pobres ficavam mais pobres.
Uma
é a perspectiva dos três evangelhos
sinóticos, outra a perspectiva aqui representada. Tem uma parábola semelhante,
a dos talentos, na qual todo mundo elogia a atitude do patrão, e condena
a atitude do servo, que não colaborou para aumentar os lucros do patrão,
e enterrou o talento. “servo mau e preguiçoso, não devias ter colocado meu
dinheiro no Banco, e à minha volta, eu receberia com os juros
o que é meu”? (Mt.25,26-27).
O
P.Nilo Luza, nos comentários da “Liturgia Diária” comenta este capítulo
como representando os problemas sociais da época. E na verdade, em ambas
as parábolas os problemas são iguais.
Falta
respondermos à pergunta: Porquê esta inquietação não vem expressa nos
evangelhos sinóticos, e eles dão razão aos patrões? Além da explicação do
P.Nilo Luza, temos a explicação que oferece o teólogo Leonardo Boff, da
seguinte maneira, seguido por outros teólogos como Eugène Boring, Neill Eliott,
Frei Jacir Freitas e Richard Bauckam: No princípio o Cristianismo estava junto
com o Judaismo. O Judaismo era uma religião legalizada pelo Império. Mas quando
o cristianismo se separou do Judaismo tornou-se uma seita, a “Seita
dos nazarenos”. Como tal vivia na ilegalidade e era uma religião
inferior, e sujeita à repressão.
Nessa
época, foram escritos os evangelhos sinóticos. Aí nos diz textualmente Leonardo
Boff: “Os apologetas se esforçaram por apresentar o Cristianismo como uma
religião que poderia desempenhar uma função útil ao Estado como os demais cultos,
e se tornar uma religião lícita” (Igreja, Carisma e Poder, 143).
Numa
situação de perseguição como aquela os evangelhos iriam, digamos, sair em
defesa dos romanos, porque os patrões eram todos romanos ou afetos a eles. Não
iriam cair na desavença contra eles mas iriam procurar uma aceitação do
cristianismo entre eles.
Ao
invés disso, esta versão se reporta à situação das comunidades da Galileia,
mais afastadas dos centros de Roma. Os abusos dos proprietários e
latifundiários na região da Galileia é que estavam aí denunciados. E os
estudiosos dizem que é mais provável que esta versão esteja mais próxima à
versão de Jesus.
Concluindo,
temos ocasião de ver como as duas versões foram desenhadas, dependendo do
objetivo: ou defendendo uma classe, ou defendendo outra, inclinando o pêndulo
para a vantagem de não magoar os exploradores, ou para a defesa dos explorados.
Ainda
hoje a Bíblia pode servir para manter o “status quo” dos poderosos ou para
denunciar a exploração, como “faca de dois gumes que vai “até à medula dos
ossos” (Heb. 4,12).
Quantas
vezes pregadores, palestristas, sobretudo em cerimônias de
ocasião ou cultos de adulação, dão-se ao trabalho de escolher textos:
“Este não, porque vai contra os ouvintes tal e tal, que ficariam
revoltados. Então se escolhem outros, ou que podem servir de elogios, ou
que não dizem nada, “não são quentes nem frios", e mais que mornos. É da
experiência de cada um, só não dos profetas.
Vemos
assim a abrangência da Parábola dos vinhateiros, a vinha e a torre, e os frutos
do latifúndio; o talento enterrado no chão, e a atitude do “preguiçoso” que não
é preguiçoso, ao contrário, é o inteligente.
P.Casimiro smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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