domingo, 24 de dezembro de 2023

Fé bíblica e fé atualizada – Advento, Natal, Anunciação


 

A Pontifícia Comissão Bíblica em 1993 declarou para toda a Igreja e para toda a humanidade que na Bíblia as palavras não são ”palavra por palavra palavra de Deus” (n.40). Temos muitos exemplos de autores bíblicos que nos divertem com “contos” como o conto ou novela de Jonas; o conto ou novela de Sansão (Jz.cap.13 segs); o livro de Jó que é uma reflexão sobre a sabedoria; o livro de Gênesis, só para trazer alguns exemplos. Inclusive os 30 capítulos do livro dos Provérbios vêm de livros mais antigos de provérbios, o livro dos provérbios de Amenenope (cf.A.Raymond, 2011,p.175-180). E também profetas copiaram a profissão e arte da profecia de antigos profetas sumérios, mesopotâmios, zoroastros, persas e babilônicos. Há uma confusão entre “fé bíblica” e fé atualizada. O teólogo K.Rahner  diz que existe a “fé irrefletida e a fé refletida”(Curso Fundamental da Fé, p.340).(www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 23/4/23). Se falarmos em fé bíblica teremos que afirmar que o mundo foi feito em 6 dias; que a serpente “falava”; que “Adão e Eva” eram figuras reais; que não houve evolução das espécies; que a burra de Balaão falou; que Jonas esteve 3 dias na barriga da baleia; que o sol parou com uma ordem de Josué, e por ai adiante.

A mesma Comissão Bíblica Pontifícia também alertou para o fundamentalismo “que tem a tendência a uma grande estreiteza de visão, pois ele considera conforme à realidade uma antiga cosmologia já ultrapassada só porque vem na Bíblia. A necessidade de uma hermenêutica, isto é, de uma interpretação no hoje do nosso mundo encontra um fundamento na própria Bíblia e na história da sua interpretação. E ainda avança: Os textos da Bíblia são a expressão de tradições religiosas que existiam antes deles”. Por isso é que a nossa fé não pode ser a dos tempos bíblicos, nem como foi na Idade Média, nem a fé de Agostinho que botava as crianças sem batismo no inferno, e como a fé de São Cipriano e do concílio de Cartago para os quais ”fora da Igreja não havia salvação” (conc. de Cartago, séc.III; IV conc. de Latrão, séc. XIII e de Florença, séc.XV).

Por outro lado, além de sabermos que muitos artigos de fé da Bíblia dos judeus são devedores à fé dos sumérios e babilônicos, como o trinômio céu, inferno, purgatório, também sabemos que a ressurreição não pertencia à fé da Bíblia antes do profeta Daniel que escreveu no século dois a.C. E que mesmo assim o partido dos Saduceus nunca aceitou que há “ressurreição, nem Anjos nem espíritos”(At.23,8). E também sabemos que muitas coisas do Antigo Testamento foram passadas para o Novo Testamento, tipo esquemas ou “formatos” de histórias de vocações de heróis importantes e de Nascimentos. Um exemplo é o anúncio e o nascimento de Sansão, o “conto” ou lenda que já falei, além de outros. Nesses formatos havia os seguintes itens iguais para todos: Estéreis e (ou) idosas; anjos; gravidez de estéril ou velha; medo; não beber bebidas alcoólicas; a cria seria consagrada desde o ventre materno. Compare esse formato do A.T. (Jz.13) com o anúncio do Nascimento feito a Zacarias: Estéreis e idosos; não tinham filhos; anjo; medo e perturbação; não beberá álcool; consagração desde o ventre. (Lc.1,5-26) e com o anúncio feito a Maria e encontrará os mesmos elementos. Devido a isso os estudiosos dizem que o anúncio a Maria faz parte do Antigo Testamento, ou seja, o evangelho de Lucas foi buscar o esquema no A.T. Desta maneira os estudiosos dizem que o evangelho de Lucas se divide em três seções, a primeira a seção do Antigo Testamento; a segunda o tempo de Jesus; a terceira o tempo da Igreja. (Cf. Eugene Boring, Comentário ao Novo Testamento vol.II, p.1055). Isto porquê? Porque para o anúncio do Nascimento, Lucas foi buscar os esquemas ou formatos do A.T. E isso não pertence à vida de Cristo, que inicia com o Batismo, como afirmei.

Os teólogos nos previnem que os evangelhos não são geográficos, nem históricos, mas teológicos. Isto é, se há Anjos ou não, não vem ao caso, o que importa é a mensagem. Se a narrativa aconteceu daquele jeito como vem escrita não vem ao caso. A este respeito, a Igreja passou por várias teologias, e algumas foram deixadas para trás, como a primitiva teologia de Santo Agostinho que afirmava que crianças não batizadas não iam para o céu. Outra, a afirmação teológica que “fora da Igreja não há salvação” como definiram os concílios de Cartago e Florença e IV de Latrão, entre outras. Atendendo a este processo sabemos que entre os evangelistas, cada um tinha que defender uma posição ou teologia reinante em sua comunidade e foi assim que escreveram os evangelhos.

Numa coisa os evangelhos são unânimes tanto os sinóticos como o IV evangelho: descrever o início da vida e atividade de Jesus com o batismo por João Batista. Porém com o seguinte detalhe: somente Marcos começa direto “naqueles dias Jesus, veio de Nazaré, da Galileia e foi batizado por João”(Mc.1,9). Os outros trazem um Prefácio, ou Prólogo, onde dizem a crença ou mensagem que vão expor. Assim tem o prólogo de João, de Mateus e de Lucas. Ontem fiquei pensando que se não fosse São Lucas não teríamos o imaginário do Natal, e se não fosse São Francisco não teríamos o presépio.

Conclusão. Do que fica dito vamos reter o seguinte: Nesses anúncios todos e no anúncio a Maria não é para ver como é que foi mas para ver em que a Igreja acreditava. E isso era a “teologia” ou a “mensagem” a transmitir. FELIZ NATAL.

P.Casimiro João      smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

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