A Pontifícia Comissão Bíblica em 1993
declarou para toda a Igreja e para toda a humanidade que na Bíblia as palavras
não são ”palavra por palavra palavra de Deus” (n.40). Temos muitos exemplos de
autores bíblicos que nos divertem com “contos” como o conto ou novela de Jonas;
o conto ou novela de Sansão (Jz.cap.13 segs); o livro de Jó que é uma reflexão
sobre a sabedoria; o livro de Gênesis, só para trazer alguns exemplos.
Inclusive os 30 capítulos do livro dos Provérbios vêm de livros mais antigos de
provérbios, o livro dos provérbios de Amenenope (cf.A.Raymond, 2011,p.175-180).
E também profetas copiaram a profissão e arte da profecia de antigos profetas
sumérios, mesopotâmios, zoroastros, persas e babilônicos. Há uma confusão entre
“fé bíblica” e fé atualizada. O teólogo K.Rahner diz que existe a “fé irrefletida e a fé
refletida”(Curso Fundamental da Fé, p.340).(www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
23/4/23). Se falarmos em fé bíblica teremos que afirmar que o mundo foi feito
em 6 dias; que a serpente “falava”; que “Adão e Eva” eram figuras reais; que
não houve evolução das espécies; que a burra de Balaão falou; que Jonas esteve
3 dias na barriga da baleia; que o sol parou com uma ordem de Josué, e por ai
adiante.
A mesma Comissão Bíblica Pontifícia
também alertou para o fundamentalismo “que tem a tendência a uma grande
estreiteza de visão, pois ele considera conforme à realidade uma antiga
cosmologia já ultrapassada só porque vem na Bíblia. A necessidade de uma
hermenêutica, isto é, de uma interpretação no hoje do nosso mundo encontra um
fundamento na própria Bíblia e na história da sua interpretação. E ainda
avança: Os textos da Bíblia são a
expressão de tradições religiosas que existiam antes deles”. Por isso é que
a nossa fé não pode ser a dos tempos
bíblicos, nem como foi na Idade Média, nem a fé de Agostinho que botava as
crianças sem batismo no inferno, e como a fé de São Cipriano e do concílio de
Cartago para os quais ”fora da Igreja não havia salvação” (conc. de Cartago,
séc.III; IV conc. de Latrão, séc. XIII e de Florença, séc.XV).
Por outro lado, além de sabermos que
muitos artigos de fé da Bíblia dos judeus são devedores à fé dos sumérios e
babilônicos, como o trinômio céu, inferno, purgatório, também sabemos que a
ressurreição não pertencia à fé da Bíblia antes do profeta Daniel que escreveu
no século dois a.C. E que mesmo assim o partido dos Saduceus nunca aceitou que
há “ressurreição, nem Anjos nem espíritos”(At.23,8). E também sabemos que
muitas coisas do Antigo Testamento foram passadas para o Novo Testamento, tipo
esquemas ou “formatos” de histórias de vocações de heróis importantes e de
Nascimentos. Um exemplo é o anúncio e o nascimento de Sansão, o “conto”
ou lenda que já falei, além de outros. Nesses formatos havia os seguintes itens
iguais para todos: Estéreis e (ou) idosas; anjos; gravidez de estéril ou velha;
medo; não beber bebidas alcoólicas; a cria seria consagrada desde o ventre
materno. Compare esse formato do A.T. (Jz.13) com o anúncio do Nascimento feito
a Zacarias: Estéreis e idosos; não tinham filhos; anjo; medo e perturbação; não
beberá álcool; consagração desde o ventre. (Lc.1,5-26) e com o anúncio feito a
Maria e encontrará os mesmos elementos. Devido a isso os estudiosos dizem que o
anúncio a Maria faz parte do Antigo Testamento, ou seja, o evangelho de Lucas foi
buscar o esquema no A.T. Desta maneira os estudiosos dizem que o evangelho de
Lucas se divide em três seções, a primeira a seção do Antigo Testamento; a
segunda o tempo de Jesus; a terceira o tempo da Igreja. (Cf.
Eugene Boring, Comentário ao Novo Testamento vol.II, p.1055). Isto porquê?
Porque para o anúncio do Nascimento, Lucas foi buscar os esquemas ou formatos
do A.T. E isso não pertence à vida de Cristo, que inicia com o Batismo, como
afirmei.
Os teólogos nos previnem que os
evangelhos não são geográficos, nem históricos, mas teológicos. Isto é, se há
Anjos ou não, não vem ao caso, o que importa é a mensagem. Se a narrativa
aconteceu daquele jeito como vem escrita não vem ao caso. A este respeito, a
Igreja passou por várias teologias, e algumas foram deixadas para trás, como a
primitiva teologia de Santo Agostinho que afirmava que crianças não batizadas
não iam para o céu. Outra, a afirmação teológica que “fora da Igreja não há
salvação” como definiram os concílios de Cartago e Florença e IV de Latrão,
entre outras. Atendendo a este processo sabemos que entre os evangelistas, cada
um tinha que defender uma posição ou teologia reinante em sua comunidade e foi
assim que escreveram os evangelhos.
Numa coisa os evangelhos são unânimes
tanto os sinóticos como o IV evangelho: descrever o início da vida e atividade
de Jesus com o batismo por João Batista. Porém com o seguinte detalhe: somente
Marcos começa direto “naqueles dias Jesus, veio de Nazaré, da Galileia e foi
batizado por João”(Mc.1,9). Os outros trazem um Prefácio, ou Prólogo, onde
dizem a crença ou mensagem que vão expor. Assim tem o prólogo de João, de
Mateus e de Lucas. Ontem fiquei pensando que se não fosse São Lucas não
teríamos o imaginário do Natal, e se não fosse São Francisco não
teríamos o presépio.
Conclusão.
Do que fica dito vamos reter o seguinte: Nesses anúncios todos e no anúncio a
Maria não é para ver como é que foi mas para ver em que a Igreja acreditava. E
isso era a “teologia” ou a “mensagem” a transmitir. FELIZ NATAL.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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