“Quanto
a você, não reze por este povo. Não insista comigo porque eu não atenderei.
Você não está vendo o que eles fazem nas cidades de Judá e nas ruas de
Jerusalém? Os filhos recolhem lenha, e os pais acendem o fogo, e as mulheres
preparam a massa para fazer pães em honra da rainha do céu. Este templo onde o
meu nome é invocado será por acaso um esconderijo de ladrões? Vocês vão até o meu lugar em Silo,
onde antes eu fiz habitar o meu nome, e vejam o que eu fiz lá por causa da
maldade do meu povo Israel. Vou tratar este Templo onde é invocado o meu nome
no qual vocês tanto confiam, vou tratá-lo do mesmo modo como tratei Silo.
Minha ira vai pegar fogo, e não se apagará” (Jer.7,11.14.18.20).
Comparemos
com outras “pedras” do Novo Testamento, no evangelho de Lucas: “Os inimigos farão trincheiras contra ti, e
te cercarão de todos os lados. Eles esmagarão a ti e a teus filhos. E não
deixarão pedra sobre pedra. Está escrito: Minha casa será casa de oração, no
entanto vós fizestes dela um covil de ladrões” (Lc.19,43.46). Nossa constatação é a seguinte: Neste
trecho de Lucas, ele foi buscar ao Jeremias cap.7, e copiou e colou.
Isto porque o ambiente daquela época de Jeremias era o mesmo do ambiente de
Lucas no ano 80 d.C. Aliás, outras pedras já tinham derrubado o santuário de Silo,
muito antes de Jeremias. “Não viram o que
eu fiz, em Silo, o que eu fiz lá por causa da maldade do meu povo de
Israel?”(Jr.7,49). De tal forma que as pedras que derrubaram Silo (1.100
a.C.) eram as mesmas que derrubaram o Templo de Judá, com Jeremias,(600
a.C.), e o Templo de Jerusalém, com Lucas (70d.C). E os pecados eram os mesmos,
e os inimigos usaram os mesmos métodos. Em Silo as maldades começaram com
os filhos de Heli que roubavam os alimentos do santuário; Vieram
os filisteus e acabaram com o templo e carregaram a arca da
Aliança. Em Judá, onde se sacrificava à deusa Astharte, “a deusa rainha do
céu”, o templo teve a mesma sorte. Depois que os assírios destruíram o templo de Betel na Samaria (720
a.C.), foi a vez do templo do reino de
Judá, no Sul, em 600 a.C. E finalmente, já no Novo Testamento foi a vez do
Templo de Jerusalém (o segundo Templo), destruído pelos romanos, em 70 d.C.
Foram três sessões de pedras, contra três épocas de infidelidades do povo de
Israel.
Enfocando agora as pedras do texto
de Lucas, vejamos o paralelo que tem com Jeremias e como foi transposto por
Lucas para o seu tempo. Essa realidade das pedras, “não ficará pedra sobre pedra” já tinha acontecido quando foi
escrito o evangelho de Lucas no ano 80 d.C. E o Templo foi destruído no ano 70
d.C. No entanto, por um artifício literário muito frequente na Bíblia, o presente
é posto no passado, como tendo sido dito por Jesus, o que não é provável. Na
antiguidade coisas passadas eram ditas como profecias de coisas futuras. Aliás,
em comprovação do que falamos, há “profecias” na Bíblia que nunca se cumpriram,
como aquela sentença: “Não passará esta
geração antes que tudo isto aconteça”(Mc.13,3 e Lc.21,32). O que era “tudo
isto”? “Este evangelho do Reino será
pregado pelo mundo inteiro para servir
de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim”(Mt.24,14). E: “A vinda do filho do homem sobre as nuvens”
(Lc.21,27). E: “Não acabareis de
percorrer as cidades de Israel antes que volte o filho do homem”(Mt.10,23).
Voltemos ainda à reflexão de Lucas sobre o fim do Templo. Comparando com a narrativa de Mateus, qual é a diferença que existe? É que em Mateus não é mencionado o Templo mas só as construções da cidade: “Os discípulos aproximaram-se de Jesus e fizeram-no apreciar as construções. Jesus porém respondeu-lhes: vedes todos estes edifícios? Em verdade vos declaro? Não ficará pedra sobre pedra, tudo será destruído”(Mt.24,1-2). E do mesmo modo em Marcos (Mc.13,1-37). Concluímos daqui que a intenção de Lucas era expressamente trazer aqui a mesma lição de Jeremias, 600 anos atrás. Enquanto que a dos outros evangelistas era só de chamar para a vigilância e espera do final da história. “Naqueles dias depois desta tribulação o sol se escurecerá, a lua não dará o seu resplendor, cairão os astros do céu e as forças do céu serão abaladas. Então vereis o filho do homem voltar sobre as nuvens com grande poder e glória. E enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, desde a extremidade da terra até a outra extremidade do céu”(Mc.13,24-27). É impressionante a teologia de Lucas, e como conseguiu unir os episódios dos eventos dos três templos para enfocar numa única visão a atual época histórica vivida pelas comunidades, desenhando assim numa pirâmide de três faces a sua intenção e a sua teologia. Apontando para o vértice da pirâmide que o “templo não é um covil de ladrões para eles se esconderem e com esse pretexto de uma “falsa religião” enganarem a população de que eram “muito religiosos” mas à sombra do templo praticarem todas as hipocrisias.
Conclusão. O final dos
tempos ou escatologia era tema sempre presente em Israel. No livro de Isaias
vem que “os céus se enrolarão como um lençol, e as estrelas cairão como folhas
de figueira” (Is.34,4). Claro que eles pensavam que as estrelas estariam
presas no grande “lençol” do “céu e por isso iriam todas cair. Devido a isso no
Novo Testamento se fala em “sinais no céu, na lua e nas estrelas” (Lc. 21,25; Mt. 24 14; Mc cap.13) e de quebra
em tudo que atingiria o Templo.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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