Há um exemplo muito elucidativo numa etapa do crescimento ou
não crescimento do povo da Bíblia, onde se mostra uma mentalidade primitiva
mágica. É no livro do Êxodo, pelo ano 1.200 a.C: “Amanhã estarei de pé no
alto da montanha com a vara de Deus na mão. Quando Moisés conservava as mãos
levantadas, Josué vencia o inimigo, quando Moisés deixava cair as mãos, o
inimigo vencia. Pegando então uma pedra colocaram-na debaixo dele, e então Arão
e Ur, um de cada lado sustentavam as mãos de Moisés, e Josué derrotou os
inimigos a fio de espada” (Ex.17,9-13). Ainda hoje há essa atitude. Adulto que não
cresceu na fé e no entendimento continua na fé de criança, assim como os judeus
pensando que num estalar de dedos Deus resolvia todas as coisas, ou na
expressão de hoje “fazia milagres.” Vamos ver que esta magia não se infiltrou
só na oração mas também no sacramento. Comecemos pelo batismo. Comumente o batismo se torna um rito
muito simples: é só botar a água na criança e pronto. A gente acha que o
batismo automaticamente salva, como uma coisa mágica. Porém, etimologicamente
batismo significa muito mais do que isso. Batismo é um mergulho. Mergulho na
vontade de Deus e na missão que temos que fazer, do qual o mergulho na água é o
símbolo ou a comparação. Sem dúvida, como Jesus terá dito um dia: “devo
receber um batismo, e não vejo a hora para que isso se cumpra” (Lc.12,50). Qual
era esse batismo? Não seria ir para a paixão e morte próxima? Para nós, batismo é
muito simples, mas ele é esse mergulho de corpo inteiro na vontade de Deus e
nas tarefas que temos que fazer, assim como Jesus fez esse mergulho.
Infelizmente, nas catequeses habituais se insinua que o batismo perdoa os
pecados e pronto. E veio a tradição que sem o batismo não havia salvação. E de
quebra que quando estamos batizados estamos salvos. A mágica funcionou. De tal
maneira entrou na cabeça do povo que ficou resumido que a vida do cristão é só ser
batizado. Porém agora a Igreja diz que não são só os batizados que se salvam.
Nesta lógica poderá alguém perguntar: então para que serve o batismo? Eu
respondo: O batismo não é para a outra vida, é para esta. Se é na Igreja
católica é para cumprir as tarefas da Igreja católica; Se for nos evangélicos é
para cumprir as tarefas dos evangélicos, e assim por diante. Imagine só isto: o
militar é para esta vida, não é para a outra vida; o advogado é para esta vida,
não é para a outra vida; o médico é só para esta vida, não é para a outra vida.
Na outra vida não vai ter militar, nem médico, nem advogado, e nem padre, nem
bispo e nem Papa, porque lá não precisa. Onde precisa é aqui nesta terra. É
assim que Jesus disse: “tenho que receber um batismo, e era para cumprir as
tarefas que ainda faltavam. Assim nós. Na verdade, o desenvolvimento da
humanidade teve o paralelo com o desenvolvimento da criança. Vejamos.
A criança é por natureza mágica. Ela nasce mágica. Porquê?
Porque não sabe fazer ainda nada. É o pai e a mãe que fazem tudo. O pai faz os
brinquedos, conserta os brinquedos. O pai é forte. Defende do cachorro, defende
dos bichos, pega no colo, nas cacundas, cura as doenças, bota o carro para
andar, conserta os estragos, sabe onde está a água, onde está o mercado, bota
tudo em casa. O pai é o herói. É maior que todos. A humanidade era uma criança.
Ela também nasceu mágica. Assim como para a criança o pai pode tudo também
para a humanidade Deus podia tudo. Era Deus que fazia tudo, o fogo, as nuvens,
as plantas, o mar e os frutos e que vencia as guerras. Vai ver, se a criança não crescesse, ela iria
ficar sempre criança e na dependência total da mãe e do pai o tempo todo. Pais
que fazem tudo para as crianças, botam as crianças na vida sem aprender a fazer
nada. Ao contrário, a criança que começou a ganhar independência pouco a
pouco aprenderá a não depender dos outros e a resolver os seus problemas. Sua
experiência junto com o seu estudo lhe ensinarão a resolver os seus problemas.
Assim aconteceu com a humanidade. Tem aquela parte da humanidade que, apesar de
muitos séculos que passaram ainda ficaram como crianças que não desenvolveram.
Quem sabe, seriam os pais que o pouco que sabiam não ensinaram aos filhos.
Justo pelo medo de que os filhos aprendessem demais, e mais do que eles. Isto
aconteceu nas sociedades que guardavam muitos segredos. Alguns velhos que
tiveram sorte de aprender mais coisas não é que guardariam muitos segredos a
sete chaves? E por isso são temidos, porque eles podem fazer mal aos outros,
por vingança. Não será daí que vem a tradição e a cultura dos feiticeiros e dos
gurus? Em contrapartida, em outras partes do mundo democratizou-se o ensino. E
foi onde os pais não tiveram medo de ensinar os filhos. Pais e filhos
frequentaram círculos de estudo, ou eles mesmos os criaram. Nasceram assim
as escolas e as Universidades. Aplicando este aporema agora ao pensamento e à
religião acontece a mesma coisa. Aristóteles observava que o ser humano, por
natureza, tende ao saber. E também à religião. Neste desenvolvimento, a
humanidade também se dividiu em duas etapas. Na primeira etapa, a
humanidade quando era criança punha todo
poder em Deus, como a criança no poder do pai. Mas quando cresceu livremente
começou vendo que tudo não dependia de Deus mas também dela mesma. A humanidade
que entregava tudo a Deus pra ele tudo fazer, continuava com uma atitude mágica
de que só Deus podia fazer tudo pra ela como num estalar de dedos. E daqui temos ainda
hoje dois tipos de humanidade: Uma que faz, inventa, faz coisas, transforma coisas e inventa outras. E assim se chegou à inteligência
artificial, aos robôs e ao celular. Isto aconteceu numa parte da humanidade
onde o estudo acompanhou o crescimento da humanidade. Em contrapartida, naquela
parte da humanidade onde o estudo não acompanhou, a humanidade ainda vive
bastante na época da magia e dos segredos dos feiticeiros e dos gurus.
Conclusão. Falta-nos o tempo de avançar para a narrativa de outros
sacramentos, pois falamos no batismo. Mas, pelo dito, dará para descobrir
sinais de magia também, e coisificação, noutros sacramentos. Dizemos
“coisificação” porque é o mesmo significado de magia. E infelizmente essa magia
ficou por muito tempo “consagrada” na Igreja com a expressão que os sacramentos
agem “ex opere operato”, ou seja, posto o rito, tudo acontece
automaticamente. É o fato de reduzir Deus a uma “coisa”, e os
sacramentos também a “uma coisa”. Quem sabe, talvez também aquele dito de que "para Deus nada é impossivel" seja ainda uma expressão mágica já vinda também dos salmos do Antigo Testamento, (Sl.135,6). Se assim fosse, como não foi possivel os judeus vencerem todas as guerras; Porque não foi possivel livrar-se do extermínio da morte de seis milhões de judeus na Alemanha nazista na época de Aushwitz, em 1945. Por outro lado, quando alguém se joga de um prédio de 10 andares nunca ninguém reza a Deus, mas são os bombeiros que jogam os colchões para não morrer.
P.Casimiro João
smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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