Bom,
que coisa, mistério significa coisa que não podemos entender. O que você quer
dizer com isso?
Quero
dizer que mistério não significa coisa difícil de entender, não, mas
coisas ocultas para os outros, que não podem nem devem ouvir, nem desconfiar.
Então mistério significa segredo.
Etimologicamente
e historicamente é este o significada da palavra mistério. É um segredo
que não é para dizer a ninguém
Exemplo:
Na África tem três dias de aprendizado que é feito durante a noite, três noites
e três dias na floresta em que os antigos juntam os adolescentes e as
adolescentes e lhes comunicam os segredos dos adultos. Noutros locais é um mês inteiro. Essa moçada quando saem
dali não podem falar pra ninguém, senão serão castigados. É o segredo
das tribos e dos clans.
Esses
três dias e três noites que os adolescentes passam têm o nome de iniciação.
E os que passam aí chamam-se iniciados. Antes não era iniciados. Quando
há alguma coisa que numa reunião é preciso dizer, o chefe diz: “Quem não é
iniciado tem que sair. E os que não são iniciados saem.
Na
primitiva Igreja também era assim. Os que passavam pela iniciação depois não
podiam falar isso com ninguém dos de fora. Era o segredo. Por exemplo,
nas celebrações em que tinha a eucaristia, quando chegava o momento da
consagração do pão, o presidente dizia: “agora quem não é iniciado tem que
sair. E os que não eram iniciados saíam.
A
palavra segredo, em grego é “mysterion”. E ela entrou para as
línguas modernas. Porém, nas nossas línguas ela tomou uma conotação sacral,
ou sagrada, só reservada para as coisas sagradas.
Por isso tomou o
status de coisa divina que não se pode mexer, quase como tabu. Porém é,
e continua sendo simplesmente como segredo. Quem quiser ficar por dentro tem
que ter a iniciação. É por isso que a Igreja católica está voltando a chamar a
catequese de Iniciação à Vida Cristã”.
Na
África, por exemplo, as crianças não iniciadas não põem ver um morto nem ir nos velórios nem
no enterro. É sagrado, diríamos lá tem mistério.
Na
antiguidade também havia os “Segredos” das religiões tradicionais. Os iniciados
aprendiam segredos mas não podiam compartilhar com os de fora.
Os iniciados era
eleitos por escolha e participavam no culto. O senhor adorado no culto do
mistério era um deus morrendo e ressurgindo correspondendo ao ciclo anual. E
ele podia libertar os outros neste mundo e no próximo.
O
culto dos mistérios era tipicamente seguido de uma refeição festiva.
Nessa comunhão de refeição o senhor do culto está presente e algumas vezes é
simbolicamente comido.
Depois de serem iniciados e aprenderem a história que
estabelece sua identidade, os iniciados assumem para si a vida do deus para si
mesmos.
Também nestas refeições de comunhão havia muitas vezes um bode
expiatório e uma ritualização do abate do animal para tirar simbolicamente os pecados e desgraças das populações. Aí se
sacrificava um animal ou até uma pessoa a fim de salvar a cidade.
Os
primeiros missionários cristãos adotavam e adaptavam, de fato, muitos temas e
práticas daquele mundo, que era o seu próprio mundo de pensamento. O
cristianismo primitivo, como uma resposta ao evangelho tinha muito em comum com
outas religiões da época.
Nos
mistérios também se celebravam os semideuses imortais, homens divinos e figuras
salvadoras. No mundo greco-romano as fronteiras que separavam os seres humanos
e dos deuses não eram tão firmes.
Pregadores admiráveis e grandes curandeiros
podiam ser considerados como deuses (Cf. At. 14,18), onde os habitantes de
Listra queriam sacrificar a Paulo e Silas porque os consideravam como “deuses”.
Deuses
podiam disfarçar-se em seres humanos. Outros eram nascidos de mãe humana e de
um deus, e ressuscitavam mortos. Há um conto popular em que uma família
ofereceu hospitalidade a dois deuses sem o saber.
No
primeiro século da igreja viveu um desses seres chamado Apolônio de Tyana, mas
a vida dela só foi escrita cem anos depois. Apolônio nasceu de uma maneira
miraculosa de mãe humana e do deus Protheus.
Ele expulsava demônios, curava
doentes, e ressuscitava mortos. Acalmava as ondas e inundações do mar. Andava
entre animais ferozes e não lhe causavam
dano.
Há
uma carta dele autêntica a seu irmão Hestiacus
que diz: “Outros homens me consideram igual aos deuses, e alguns deles
como um deus, e até agora sempre meu próprio país me ignora, esse país para o
qual em particular eu lutei a fim de ser uma pessoa distinta” (Cf. Eugêne
Boring).
O
imperador Diocleciano quis condená-lo e o acorrentou, porém ele rompeu as
cadeias. Depois desapareceu da sala do tribunal e entrou no templo de um dos
deuses e aí desapareceu de novo em meio ao coro dos coristas celestiais
dizendo: “vem da terra para os céus, vem”.
Encerrando,
vemos como navegamos em palavras que podem-nos assombrar, mas a culpa não é das
palavras, é do nosso imaginário.
Se
você não desse esse imaginário à palavra “mistério” iria ficar mais
libertado para pensar melhor, não ficar tão aprisionado nas suas ideias.
Claro
que que as religiões querem mesmo lidar com esse imaginário porque sempre elas
querem se impor com o medo, que é
o aprisionamento da liberdade. P.Casimiro SMBN www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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