domingo, 13 de junho de 2021

A fé molda a história, ou é a história que molda a fé?

Vamos referir-nos somente  à fé vetero-testamentária, embora a fé neo-testamentária merecesse outro capítulo. Vejamos o assunto em 6 itens.

1- O monoteísmo. Somente depois do exílio o monoteísmo se firmou na fé israelita. Para olhar só na época dos dois reinos do Norte e do Sul: No reino do Norte cultuava-se Baal e outros deuses canaanitas ao lado de Iahweh. No reino do Sul cultuava-se Aserah, rainha dos céus junto com Iahweh e outros deuses menores.

Na volta do cativeiro, os Judeus que optaram por retornar retornaram, mas vinham “sem rei nem roca”, como diz o ditado, entregues à própria sorte. Os reis tinham sido aniquilados e mortos pelos assírios e babilônicos. Não havia mais rei.

Destarte os pobres judeus tiveram que escolher somente Iahweh por seu deus, dado que os seus reis todos tinham os decepcionado e entregues nas mãos dos estrangeiros. Por outro lado, tanto os profetas falavam que os cativeiros tinham sido castigo dos pecados de idolatria, que agora tiveram que voltar à época das tribos, quando só Iahweh era o seu rei, antes da monarquia. Isto é o primeiro fato histórico.

2- A Sabedoria- Desde o Cativeiro os Judeus conviveram com os iranianos e babilônicos, onde a Sabedoria era uma personificação de Deus, tomando o lugar como a deusa da Sabedoria. Os judeus incorporaram no seu vocabulário e nos seus escritos esse conceito de Sabedoria e começaram a considerar a Sabedoria como uma emanação da divindade, como escreveram no Livro dos Provérbios e no Livro da Sabedoria (Prov. Cap.8, e Sab, cap.7). E não só, mas associada também ao mesmo conceito dos gregos, mas com o nome de Logos.

3- Os Anjos-  Eles na religião iraniana eram também deuses inferiores e faziam o serviço de mensageiros do deus supremo que não intervinha no governo do mundo, mas eram eles os encarregados. Foram também incorporados nos conceitos e nos escritos depois do Exílio. Tanto estes Anjos mensageiros como os anjos rebeldes que tinham Satã como seu chefe.

4- A “ressurreição dos justos”- Esta crença não se encontrava no Judaísmo antes do Exílio. Os pensadores não se conformavam com o fato de o mal ficar sem castigo e o justo sem recompensa nessa vida, e foram levados a procurar além túmulo uma solução para o problema: a ressurreição dos justos, derivada da religião iraniana na qual essa crença era corrente. Assim, a “ressurreição dos mortos” foi a solução pós-exílica para o problema de “os maus ficarem sem castigo” e os bons sem recompensa”.

E estes temas surgiram no Livro dos Macabeus e no Apocalipse de Daniel, além dos “Testamentos dos Doze patriarcas” e no 1 Enoc. Para os que estavam indecisos, a perseguição de Antíoco Epifanes foi o voto decisivo. Mesmo assim, para os Saduceus nunca foi teoria aceitável, assim como a imortalidade da alma. No Eclesiástico se afirma: “A imortalidade do homem está nos seus filhos” (Eclo.30,4).

5- Apocalíptica – Como constataram que as profecias não se cumpriram, o que era confirmado pelos sonhos quebrados e pelos exílios e cativeiros, então a profecia deu lugar à apocalíptica ou descrição da vingança final de Deus sobre todas as nações, numa luta entre Deus e Satã, onde tinha lugar o Juízo final, e um fim do mundo pelo fogo onde Deus iria cumprir todas as promessas. Também aqui não estava ausente o conceito iraniano.

6- Finalmente, o Cativeiro levou a reformular e formatar a fé pós-exílica num novo formato histórico, com os cinco Itens apontados, adotando vários elementos como a Sabedoria, Anjos e demônios e a ressurreição dos justos, e voltando à prática original do monoteísmo das tribos de antes da monarquia. Porque foi a monarquia que os decepcionou.

Daí voltamos à questão inicial do nosso Título desta matéria: É a fé que molda a história, ou é a história que molda a fé? Na afirmativa, não será a fé, portanto, uma fé histórica?

P.Casimiro João    smbn

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