A palavra “salvação” não existia só na
religião judaica, mas é expressa em todas as religiões. Porém, debaixo de
conceitos históricos e culturais diferentes. Nos judeus, a palavra salvação
incluía um intermediário ou “mediador” tipo bode expiatório”, muito da
cultura judaica. O bode expiatório assumia os pecados do povo e seria castigado
ou imolado no lugar das pessoas. Digamos à parte que é uma ideia que induz
muito a um egoísmo feroz, de “lavar as mãos” porque outro já pagou por mim,
ainda que fosse um animal, e eu me “safei,” me “salvei”.
Nas outras religiões mundiais há outros
significados de “salvação”. Nelas há um significado de transformação da
existência humana no sentido filosófico que tudo o que é criado tem destino de
crescer, de evoluir e se transformar e sublimar como a borboleta que ganha asas
depois da transformação do seu ser. Não inclui culpa nem castigo.
Historicamente, derivado de nossas
origens judaicas, desenvolvemos o conceito judaico de culpa, castigo
e terceirização: terceirizamos o castigo no bode expiatório e
cantamos vitória enquanto continuamos muitas vezes alienados. Além disso,
herdamos também dos judeus as pretensões exclusivistas de sermos os melhores
e temos a melhor religião e a salvação ao nosso alcance. Com efeito a Torá,
a Lei, para os judeus era o único caminho de salvação. Eles
tinham escrito: “A Sabedoria diz, em mim
encontra-se o caminho de toda a verdade, da virtude e da vida”(Prov.cap.8). E
os evangelhos foram aí, e copiaram e aplicaram a Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”(Jo.14,6). Para citar um
exemplo, nestes dias houve o X Encontro mundial das Famílias em Roma. O Papa
Francisco orou pela situação das famílias que tiveram que seguir em frente por
outras opções para “encontrarem outro caminho do amor”. Vale dizer, não há só o
caminho do matrimônio inicial; se por ventura não deu certo há outro caminho de
exercitar o amor. A Igreja pretende colaborar agora com a felicidade do novo
casal, e não no papel do fariseu. Mas tem eclesiásticos que condenam os casais
em segundas núpcias ao inferno. Repare bem, na época de santo Agostinho as
crianças sem batismo também eram condenadas ao inferno, só que agora não, pois
a Constituição Teológica Internacional declarou que elas têm entrada direta
no céu, e também as que foram abortadas.
(www.vaticano,28 abr.07/01:58 am (ACI).
Ai, esses que condenam os tais casais, quando irão dizer que também os casais
em segunda união estão no caminho do céu? E “eles” que condenam com tanta
facilidade, para onde irão?...
Portanto, o conceito de salvação
é abrangente, e ainda não está esgotado. Só para dar mais outro exemplo,
vejamos como era severamente castigado o adultério no Antigo Testamento: “os dois serão réus de morte”(Lv.20,10), no
entanto como era fácil o divórcio: “se o
homem encontrar na esposa algo que lhe desagrade, dê-lhe documento de divórcio”
(Dt.24,1).
Retomemos o conceito de salvação.
Apesar das declarações da própria Igreja que os 11 primeiros capítulos do
Gênesis são uma parábola ou mitos, no entanto ainda todo nosso imaginário
continua grudado na letra da queda original. Não nos damos conta de que a
humanidade e a ciência caminham mais além, isto é, nos caminhos de uma nova
cosmologia e antropologia. Por isso achamos que não é adequado se
basear nas projeções dessa teoria religiosa de uma cosmologia que não é mais a
de hoje para fazer dela um padrão universal de “salvação” para todas as
religiões do mundo (cf.C.Geffré Babel a Pentecostes, p.265).
Além disso, é incontestável que a
evolução da ciência comanda mais em todas as esferas e no agir e na vida
moderna do que as convicções antigas, sem falar no poder da Literatura, das
Novelas, e da Arte cinematográfica.
Hoje muitos intelectuais se sentem bastante
sintonizados com as teorias de muitas religiões e filosofias orientais para os
quais o Absoluto, ou aquele a quem é dado o nome de Deus escapa aos
diversos rostos pessoais que as religiões históricas lhe têm atribuído. O esforço
do cristianismo tem consistido em levar uma versão da nossa experiência religiosa
tipicamente ocidental para outras geografias do mundo. Há religiões que podem
aportar filosofias e experiências religiosas de uma magnitude não imaginada e
não vivida pela experiência ocidental. Por exemplo, na religião do Atmã se diz
que no fundo do coração a lei do céu não é diferente da lei moral inscrita no
coração de todo humano: “O céu e homem fazem um só”. “É o serviço dos homens
que é a melhor parábola do serviço do céu.” E assim se expressa o sábio Wang
Yangming: “A razão pela qual o
homem superior ou santo é capaz de ser
um com o céu não está na sua inteligência, mas na virtude de humanidade
inscrita no seu coração, a qual é fundamentalmente de tal espécie que ele se
une ao céu”(o.c.p.270).
A humanidade mais consciente preza a
ideia de uma religião mais abrangente do que aquela que vive de tirar a culpa
da própria pessoa, pelo contrário, tem mais interesse numa entrega mais prática
para aliviar as dores da humanidade, como as vitimas das calamidades, e da fome
e doenças endêmicas e feridos de guerras.
Estão nesse caminho o Greenpeace, os Médicos sem fronteiras, e
Organizações que praticam a solidariedade com o meio ambiente e com o cosmo.
No Ocidente nós separamos muito a alma
e o corpo. Até se dizia antigamente “salvar almas”. Hoje no Oriente em
geral eles procuram a salvação como cura integral do homem. Sabem
proteger e unir na mesma defesa a alma e o corpo, o ser humano e o
conjunto que o rodeia, o cosmo. E certamente objetivam mais a unidade radical
da família humana. Na verdade, o corpo do mundo participa da mesma energia
cósmica que é preciso captar.
Antes de concluirmos, podemos refletir
ainda sobre os seguintes pressupostos: o cristianismo caminha com a pretensão
de ser a única via de salvação. Hoje tal pretensão “parece exorbitante e
até mesmo insultante para todos os fiéis de boa vontade das grandes religiões
da humanidade”(o.c.p.274). Na Declaração “Dominus Jesus” da Congregação para a
Doutrina Cristã, do ano 2000 o então Card. Ratzinger limitava-se ao jargão
de que Cristo salva, mais do que àquele outro jargão que “Deus é quem
salva”. Essa praia é maior do que só a praia de Cristo. Sem esquecer que
este monopólio da salvação chamado cristianismo foi imposto pelas armas
nos países onde chegou, fazendo apagar os rastos de luz de tantas estrelas das
constelações que lá existiam. E quando o evangelho atribui a Jesus a afirmação
: ”Eu sou o caminho, a verdade e a vida”(Jo.14,5) temos que saber que é uma
cópia do que diziam os judeus sobre a Torá: “Em mim está todo o caminho da virtude, da verdade e da vida”(Prov.cap.8).
Isso não era mais do que copiar o caminho do exclusivismo dos
judeus.
Conclusão.
Os astrônomos têm hoje o maior telescópio mundial James Webb a 1.500
milhão de quilômetros da Terra. Distâncias de galáxias e estrelas são medidas
em anos luz. Um ano luz é mais do que 9 trilhões de quilômetros.
Sabemos que existem mais de 200 bilhões de galáxias além da nossa
galáxia Via Láctea que fica 25.800 anos-luz da Terra. E cada uma
dessas galáxias tem mais de 100 bilhões de estrelas. Transferindo para a
religião, também, além da nossa galáxia do cristianismo, há outras galáxias de
outras religiões e com gente 10 vezes mais do que a nossa. Vale dizer que só no
cristianismo somos 3 tipos de cristãos: católico, protestante
e Oriental. E nós católicos somos dois tipos de católicos,
os de Roma e os Ortodoxos de Constantinopla
(Oriental: greco – copta - russo).
Foi fácil até aqui imaginarmos como foi
possível admitir que o cristianismo tivesse o monopólio da salvação e do
sagrado. Já vimos no tema anterior sobre o monopólio do sagrado, e agora
tivemos ocasião de refletir sobre o monopólio da salvação, que está sendo
questionado. Além da nossa constelação há todas as outras constelações cheias
de estrelas.
P.Casimiro João smbn
www.paroquuiadechapadinha.blogspot.com.br
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