segunda-feira, 22 de agosto de 2022

O que é o significado de “salvação” judeu-cristão e nas outras religiões mundiais. Além da nossa galáxia do cristianismo, há outras galáxias de outras religiões e com gente 10 vezes mais do que a nossa.



 

A palavra “salvação” não existia só na religião judaica, mas é expressa em todas as religiões. Porém, debaixo de conceitos históricos e culturais diferentes. Nos judeus, a palavra salvação incluía um intermediário ou “mediador” tipo bode expiatório”, muito da cultura judaica. O bode expiatório assumia os pecados do povo e seria castigado ou imolado no lugar das pessoas. Digamos à parte que é uma ideia que induz muito a um egoísmo feroz, de “lavar as mãos” porque outro já pagou por mim, ainda que fosse um animal, e eu me “safei,” me “salvei”.

Nas outras religiões mundiais há outros significados de “salvação”. Nelas há um significado de transformação da existência humana no sentido filosófico que tudo o que é criado tem destino de crescer, de evoluir e se transformar e sublimar como a borboleta que ganha asas depois da transformação do seu ser. Não inclui culpa nem castigo.

Historicamente, derivado de nossas origens judaicas, desenvolvemos o conceito judaico de culpa, castigo e terceirização: terceirizamos o castigo no bode expiatório e cantamos vitória enquanto continuamos muitas vezes alienados. Além disso, herdamos também dos judeus as pretensões exclusivistas de sermos os melhores e temos a melhor religião e a salvação ao nosso alcance. Com efeito a Torá, a Lei, para os judeus era o único caminho de salvação. Eles tinham escrito: “A Sabedoria diz, em mim encontra-se o caminho de toda a verdade, da virtude e da vida”(Prov.cap.8). E os evangelhos foram aí, e copiaram e aplicaram a Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”(Jo.14,6). Para citar um exemplo, nestes dias houve o X Encontro mundial das Famílias em Roma. O Papa Francisco orou pela situação das famílias que tiveram que seguir em frente por outras opções para “encontrarem outro caminho do amor”. Vale dizer, não há só o caminho do matrimônio inicial; se por ventura não deu certo há outro caminho de exercitar o amor. A Igreja pretende colaborar agora com a felicidade do novo casal, e não no papel do fariseu. Mas tem eclesiásticos que condenam os casais em segundas núpcias ao inferno. Repare bem, na época de santo Agostinho as crianças sem batismo também eram condenadas ao inferno, só que agora não, pois a Constituição Teológica Internacional declarou que elas têm entrada direta no céu, e também as que foram abortadas. (www.vaticano,28 abr.07/01:58 am (ACI). Ai, esses que condenam os tais casais, quando irão dizer que também os casais em segunda união estão no caminho do céu? E “eles” que condenam com tanta facilidade, para onde irão?...

Portanto, o conceito de salvação é abrangente, e ainda não está esgotado. Só para dar mais outro exemplo, vejamos como era severamente castigado o adultério no Antigo Testamento: “os dois serão réus de morte”(Lv.20,10), no entanto como era fácil o divórcio: “se o homem encontrar na esposa algo que lhe desagrade, dê-lhe documento de divórcio” (Dt.24,1).

Retomemos o conceito de salvação. Apesar das declarações da própria Igreja que os 11 primeiros capítulos do Gênesis são uma parábola ou mitos, no entanto ainda todo nosso imaginário continua grudado na letra da queda original. Não nos damos conta de que a humanidade e a ciência caminham mais além, isto é, nos caminhos de uma nova cosmologia e antropologia. Por isso achamos que não é adequado se basear nas projeções dessa teoria religiosa de uma cosmologia que não é mais a de hoje para fazer dela um padrão universal de “salvação” para todas as religiões do mundo (cf.C.Geffré Babel a Pentecostes, p.265).

Além disso, é incontestável que a evolução da ciência comanda mais em todas as esferas e no agir e na vida moderna do que as convicções antigas, sem falar no poder da Literatura, das Novelas, e da Arte cinematográfica.

 Hoje muitos intelectuais se sentem bastante sintonizados com as teorias de muitas religiões e filosofias orientais para os quais o Absoluto, ou aquele a quem é dado o nome de Deus escapa aos diversos rostos pessoais que as religiões históricas lhe têm atribuído. O esforço do cristianismo tem consistido em levar uma versão da nossa experiência religiosa tipicamente ocidental para outras geografias do mundo. Há religiões que podem aportar filosofias e experiências religiosas de uma magnitude não imaginada e não vivida pela experiência ocidental. Por exemplo, na religião do Atmã se diz que no fundo do coração a lei do céu não é diferente da lei moral inscrita no coração de todo humano: “O céu e homem fazem um só”. “É o serviço dos homens que é a melhor parábola do serviço do céu.” E assim se expressa o sábio Wang Yangming: “A razão pela qual  o homem  superior ou santo é capaz de ser um com o céu não está na sua inteligência, mas na virtude de humanidade inscrita no seu coração, a qual é fundamentalmente de tal espécie que ele se une ao céu”(o.c.p.270).

A humanidade mais consciente preza a ideia de uma religião mais abrangente do que aquela que vive de tirar a culpa da própria pessoa, pelo contrário, tem mais interesse numa entrega mais prática para aliviar as dores da humanidade, como as vitimas das calamidades, e da fome e doenças endêmicas e feridos de guerras.  Estão nesse caminho o Greenpeace, os Médicos sem fronteiras, e Organizações que praticam a solidariedade com o meio ambiente e com o cosmo.

No Ocidente nós separamos muito a alma e o corpo. Até se dizia antigamente “salvar almas”. Hoje no Oriente em geral eles procuram a salvação como cura integral do homem. Sabem proteger e unir na mesma defesa a alma e o corpo, o ser humano e o conjunto que o rodeia, o cosmo. E certamente objetivam mais a unidade radical da família humana. Na verdade, o corpo do mundo participa da mesma energia cósmica que é preciso captar.

Antes de concluirmos, podemos refletir ainda sobre os seguintes pressupostos: o cristianismo caminha com a pretensão de ser a única via de salvação. Hoje tal pretensão “parece exorbitante e até mesmo insultante para todos os fiéis de boa vontade das grandes religiões da humanidade”(o.c.p.274). Na Declaração “Dominus Jesus” da Congregação para a Doutrina Cristã, do ano 2000 o então Card. Ratzinger limitava-se ao jargão de que Cristo salva, mais do que àquele outro jargão que “Deus é quem salva”. Essa praia é maior do que só a praia de Cristo. Sem esquecer que este monopólio da salvação chamado cristianismo foi imposto pelas armas nos países onde chegou, fazendo apagar os rastos de luz de tantas estrelas das constelações que lá existiam. E quando o evangelho atribui a Jesus a afirmação : ”Eu sou o caminho, a verdade e a vida”(Jo.14,5) temos que saber que é uma cópia do que diziam os judeus sobre a Torá: “Em mim está todo o caminho da virtude, da verdade e da vida”(Prov.cap.8). Isso não era mais do que copiar o caminho do exclusivismo dos judeus.

Conclusão. Os astrônomos têm hoje o maior telescópio mundial James Webb a 1.500 milhão de quilômetros da Terra. Distâncias de galáxias e estrelas são medidas em anos luz. Um ano luz é mais do que 9 trilhões de quilômetros. Sabemos que existem mais de 200 bilhões de galáxias além da nossa galáxia Via Láctea que fica 25.800 anos-luz da Terra. E cada uma dessas galáxias tem mais de 100 bilhões de estrelas. Transferindo para a religião, também, além da nossa galáxia do cristianismo, há outras galáxias de outras religiões e com gente 10 vezes mais do que a nossa. Vale dizer que só no cristianismo somos 3 tipos de cristãos: católico, protestante e Oriental. E nós católicos somos dois tipos de católicos, os de Roma e os Ortodoxos de Constantinopla (Oriental: grecocopta - russo).

Foi fácil até aqui imaginarmos como foi possível admitir que o cristianismo tivesse o monopólio da salvação e do sagrado. Já vimos no tema anterior sobre o monopólio do sagrado, e agora tivemos ocasião de refletir sobre o monopólio da salvação, que está sendo questionado. Além da nossa constelação há todas as outras constelações cheias de estrelas.

P.Casimiro João   smbn

www.paroquuiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

 

 

 

 

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