Na época bíblica Moisés fazia as vezes
de chefe da nação e chefe da religião. Era a época da teocracia, na qual
quem mandava, mandava em nome de Deus. Teocracia significa “poder de Deus”.
Isto existia não só nos Judeus, mas em todos os povos antigos do entorno. Os
reis, sacerdotes, profetas, partilhavam ao mesmo tempo o palácio e o templo.
Isto é importante porque numa pergunta feita a Jesus Cristo, segundo os
evangelhos, vem a seguinte questão: Você
fala que “no início o Criador os fez homem e mulher, e por isso os dois serão
uma só carne; e o que Deus uniu o homem não separe” (Mt.19, 5). Os
apóstolos replicaram: Se foi assim,
“então como é que Moisés mandou dar certidão de divórcio e despedir a
mulher?”(Mt.19,7). E a tréplica de Jesus:”Moisés permitiu despedir a mulher por causa da dureza do vosso
coração”(Mt.19,8).
Prestemos atenção na progressão do
diálogo: Apóstolos: É permitido ao
homem...? Jesus: Desde o
início o Criador... Apóstolos: Então
como é que Moisés...? Jesus: Moisés
permitiu... Motivo: a dureza
do coração. Temos vários
elementos a considerar: 1), O Criador, 2), O início, 3), Moisés,
4), Fora do início, 5), dureza de coração. Pontos a considerar,
primeiro: De duas uma: A ordem do Criador era irrevogável ou não era? Se
era irrevogável, porquê Moisés a revogou? Segundo: Dureza do coração: O
Criador sabia da dureza do coração ou não sabia? Supondo que sabia, mas “deu a
ordem “de não separar”. No entanto
permitiu separar (divórcio).
Segundo item:
Moisés era o chefe civil e religioso, como dissemos, falando em teocracia.
Hoje em dia existe a democracia. E na democracia existe a separação do poder
religioso e do poder civil. Partimos da tese que na Nação hoje em
dia tem várias religiões e vários poderes religiosos. É lógico que o poder
civil abrange e “comanda” os cidadãos de todos os poderes religiosos ao mesmo
tempo que todos os cidadãos. Todos colaboram para a eleição do poder civil da
Nação. Também é lógico que os legisladores do poder civil farão leis para
todos, e de todas as religiões, porque por elas eleitos. Tratando agora, por exemplo
sobre a Igreja, o chefe da Nação não tem só cristãos para governar; tem
gente de todas as religiões, e sem religião nenhuma. E os chefes da Nação são
os encarregados das “durezas” de todos.
Quais são as “durezas”? Cada época tem as suas e suas incompatibilidades.
E quando numa democracia, alguma lei vence pela maioria de votos, os
cristãos tanto como os que não são cristãos devem obedecer. E Deus fala por
essa Lei, porque terceirizou. Enquanto nos tempos antigos havia a ideia
de que Deus fazia as coisas diretamente, em pessoa, hoje sabemos que Deus terceiriza
o governo do mundo. Não terceirizou também com Moisés? E terceirizou o
encargo de ver e entender qual é a dureza da época. No
tempo de hoje, os “Moisés” de hoje têm o encargo de ver e entender
as durezas de hoje, ou seja, as dificuldades e os problemas de hoje.
Por isso seria totalmente inadequado e arrogante a atitude de um
presidente que condenasse as leis de
outras Nações sobre casamento e matrimônio. Não nos devemos admirar que noutra
nação já tenham sido aprovadas certas leis, porque os “Moisés” ou legisladores daquelas
nações tiveram em consideração o que outros não tiveram. E os legisladores representam
todos os cidadãos da sua Nação. Aí, as Igrejas e as não igrejas são todas
iguais perante a Lei.
Houve um tempo, no tempo da Cristandade,
em que todo mundo era obrigado a ser cristão. E como “todo mundo” era
“cristão”, então a Igreja legislava para toda a Nação junto com o governo dos
reis. E o Papa para todas as Nações da “Cristandade”, porque “todas eram
cristãs”. E todos os governos compartilhavam. Agora não tem mais isso. O regime
agora é de separação de IGREJA e de ESTADO. É o regime de ESTADO LAICO.
É importante ter em conta que o cidadão, antes de ser religioso é um ser
humano. Numa nação, os GOVERNANTES cuidam do SER HUMANO, enquanto
que os RELIGIOSOS cuidam dos RELIGIOSOS, porém tendo em conta que
o ser religioso é também ser humano. Enquanto é ser humano é igual a
todos os outros cidadãos e sujeito como eles AO ESTADO. É a
democracia partilhada que tem a missão de estabelecer a paz social que paira
sobre ideologias e religiões diferentes.
Conclusão. Falando do “Moisés” bíblico e dos “Moisés”
de hoje ou “legisladores” somos convidados a considerar que os legisladores
civis ou “Moisés” de hoje têm poder mais abrangente do que os “Moisés”
religiosos das Igrejas. Isso é certo porque os primeiros têm na sua
responsabilidade e comando tanto os
religiosos como os não religiosos, isto é, todo cidadão como SER
HUMANO. Enquanto que os “Moisés” religiosos têm sob sua alçada somente os
de sua igreja ou religião. Vemos assim a reviravolta copernicana que se deu
desde os temos da Idade Média e antes dela, quando os “Moisés” da Igreja ou das
Igrejas tinham no seu poder todo o “cidadão”. E tudo estava nas mãos deles.
P.
Casimiro smbn
www.parolquiadechapadinha.blogspot.com.br
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