domingo, 6 de novembro de 2022

CASAMENTO E OS DIREITOS DO ESTADO


 

Na época bíblica Moisés fazia as vezes de chefe da nação e chefe da religião. Era a época da teocracia, na qual quem mandava, mandava em nome de Deus. Teocracia significa “poder de Deus”. Isto existia não só nos Judeus, mas em todos os povos antigos do entorno. Os reis, sacerdotes, profetas, partilhavam ao mesmo tempo o palácio e o templo. Isto é importante porque numa pergunta feita a Jesus Cristo, segundo os evangelhos, vem a seguinte questão: Você fala que “no início o Criador os fez homem e mulher, e por isso os dois serão uma só carne; e o que Deus uniu o homem não separe” (Mt.19, 5). Os apóstolos replicaram: Se foi assim, “então como é que Moisés mandou dar certidão de divórcio e despedir a mulher?”(Mt.19,7). E a tréplica de Jesus:”Moisés permitiu despedir a mulher por causa da dureza do vosso coração”(Mt.19,8).

Prestemos atenção na progressão do diálogo: Apóstolos: É permitido ao homem...? Jesus: Desde o início o Criador... Apóstolos: Então como é que Moisés...? Jesus: Moisés permitiu... Motivo: a dureza do coração.  Temos vários elementos a considerar: 1), O Criador, 2), O início, 3), Moisés, 4), Fora do início, 5), dureza de coração. Pontos a considerar, primeiro: De duas uma: A ordem do Criador era irrevogável ou não era? Se era irrevogável, porquê Moisés a revogou? Segundo: Dureza do coração: O Criador sabia da dureza do coração ou não sabia? Supondo que sabia, mas “deu a ordem     “de não separar”. No entanto permitiu separar (divórcio).

Segundo item: Moisés era o chefe civil e religioso, como dissemos, falando em teocracia. Hoje em dia existe a democracia. E na democracia existe a separação do poder religioso e do poder civil. Partimos da tese que na Nação hoje em dia tem várias religiões e vários poderes religiosos. É lógico que o poder civil abrange e “comanda” os cidadãos de todos os poderes religiosos ao mesmo tempo que todos os cidadãos. Todos colaboram para a eleição do poder civil da Nação. Também é lógico que os legisladores do poder civil farão leis para todos, e de todas as religiões, porque por elas eleitos. Tratando agora, por exemplo sobre a Igreja, o chefe da Nação não tem só cristãos para governar; tem gente de todas as religiões, e sem religião nenhuma. E os chefes da Nação são os encarregados das “durezas” de todos.

Quais são as “durezas”?  Cada época tem as suas e suas incompatibilidades. E quando numa democracia, alguma lei vence pela maioria de votos, os cristãos tanto como os que não são cristãos devem obedecer. E Deus fala por essa Lei, porque terceirizou. Enquanto nos tempos antigos havia a ideia de que Deus fazia as coisas diretamente, em pessoa, hoje sabemos que Deus terceiriza o governo do mundo. Não terceirizou também com Moisés? E terceirizou o encargo de ver e entender qual é a dureza da época. No tempo de hoje, os “Moisés” de hoje têm o encargo de ver e entender as durezas de hoje, ou seja, as dificuldades e os problemas de hoje. Por isso seria totalmente inadequado e arrogante a atitude de um presidente que condenasse  as leis de outras Nações sobre casamento e matrimônio. Não nos devemos admirar que noutra nação já tenham sido aprovadas certas leis, porque os “Moisés” ou legisladores daquelas nações tiveram em consideração o que outros não tiveram. E os legisladores representam todos os cidadãos da sua Nação. Aí, as Igrejas e as não igrejas são todas iguais perante a Lei.

Houve um tempo, no tempo da Cristandade, em que todo mundo era obrigado a ser cristão. E como “todo mundo” era “cristão”, então a Igreja legislava para toda a Nação junto com o governo dos reis. E o Papa para todas as Nações da “Cristandade”, porque “todas eram cristãs”. E todos os governos compartilhavam. Agora não tem mais isso. O regime agora é de separação de IGREJA e de ESTADO. É o regime de ESTADO LAICO. É importante ter em conta que o cidadão, antes de ser religioso é um ser humano. Numa nação, os GOVERNANTES cuidam do SER HUMANO, enquanto que os RELIGIOSOS cuidam dos RELIGIOSOS, porém tendo em conta que o ser religioso é também ser humano. Enquanto é ser humano é igual a todos os outros cidadãos e sujeito como eles AO ESTADO.       É a democracia partilhada que tem a missão de estabelecer a paz social que paira sobre ideologias e religiões diferentes.

Conclusão. Falando do “Moisés” bíblico e dos “Moisés” de hoje ou “legisladores” somos convidados a considerar que os legisladores civis ou “Moisés” de hoje têm poder mais abrangente do que os “Moisés” religiosos das Igrejas. Isso é certo porque os primeiros têm na sua responsabilidade e comando tanto os  religiosos como os não religiosos, isto é, todo cidadão como SER HUMANO. Enquanto que os “Moisés” religiosos têm sob sua alçada somente os de sua igreja ou religião. Vemos assim a reviravolta copernicana que se deu desde os temos da Idade Média e antes dela, quando os “Moisés” da Igreja ou das Igrejas tinham no seu poder todo o “cidadão”. E tudo estava nas mãos deles.

P. Casimiro       smbn

www.parolquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

Nenhum comentário: