segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O “Juramento de Hipócrates” dos médicos, Gilgamesh, a Criação, e as Serpentes venenosas, duas grandes Catequeses para os judeus.


 

Na catequese da Criação os judeus compartilharam as catequeses de outros povos anteriores, no caso o Poema de Gilgamesh da Babilônia. E na “caminhada do deserto” comparilharam o livro-epopeia dos Argonautas, dos escritores gregos. Vamos primeiro ao Poema da Criação e depois ao episódio das serpentes do deserto, só como um exemplo.

1. A Criação. Na Criação do Gilgamesh foi criado o primeiro homem, chamado Eukidu, a partir de uma pasta de argila, no deserto, e “ainda não havia nenhum arbusto dos campos sobre a terra” (=Gn.2,5). Em seguida, mostra-nos Eukidu vivendo “com os animais selvagens” (=Gn.2,19). Um dia ele quis “subir até ao céu” e obter um nome eterno (=Gn.cap.11).

Esse primeiro homem chegou “em plena clareira num jardim com árvores de pedras preciosas como o lápis-lazúli, e com muitas frutas agradáveis de se olhar” (=Gn.2,9-12). No jardim do Gilgamesh havia a ´”planta da vida”, e no jardim de Adão havia a “árvore da vida”. A serpente aparece nos dois relatos, com a novidade que no poema de Gilgamesh troca de pele. (Cf.Gn.3,1-4).

No dilúvio de Gilgamesh Deus mandou fazer um navio com sete andares para transportar todas as espécies de seres vivos. No fim do dilúvio soltou uma pomba, igual como Noé fez na Bíblia, e fez um sacrifício aos deuses, igual como Noé. Este é o ponto de partida para a Catequese do Gênesis sobre a Criação para os judeus que se achavam no cativeiro da Babilônia. E era lá na Babilônia que eles conviviam com esse Livro Gilgamesh.

Após esta primeira Catequese vem a segunda, da “Caminhada no deserto”. Existem histórias paralelas na Bíblia e noutro Poema chamado “Os Argonautas do Deserto” (Cf.Num,21, 4ss). No poema dos Argonautas  conta-se esta história: “Os homens do deserto, andavam cansados das caminhadas, e o chefe deles foi picado por uma serpente venenosa. O rei orou ao deus da saúde, Hipócrates. O deus disse: eu vou mandar-te em sonho o meu filho Esculápio. Esqueça seus medos, porque eu virei a ti e deixarei aí o meu filho. Você vai olhar uma serpente enrolada numa planta, e abra bem seus olhos para que você possa reconhecê-lo. E assim os argonautas se salvaram”. (Wandenhaum, Argonautas do Deserto, p.197). Conferindo esta narração com a narração da Bíblia vemos que são letra por letra. (Num.21,4-6).

É bem conhecido pelos médicos o Juramento de Hipócrates, pois é o juramento do médico no inicio da sua carreira, para defender a vida. É, digamos, a homenagem ao “deus da medicina,” Hipócrates, junto com seu filho Esculápio, o enroscado como serpente num pé da planta. Este símbolo da “serpente” enroscada numa planta virou o ícone ou Logo das Farmácias em todo mundo. E deu origem, como, como dissemos, ao Juramento de Hipócrates, dos PROFISSIONAIS MÉDICOS. “Exercerei a minha arte com consciência e dignidade. A Saúde do meu doente será a minha primeira preocupação. Mesmo após a morte do doente respeitarei os segredos que me tiver confiado. Manterei por todos os meios ao meu alcance a honra e as nobres tradições da profissão médica”.

Estas são as Duas primeiras Catequeses que entraram na Bíblia, derivadas e adaptadas para a Catequese dos Judeus. Claro que há muitos exemplos de outras catequeses como: “Abraão e Sara”; “Moisés e suas filhas”; “A passagem do mar vermelho”; “A jumenta de Balaão”;  “A água que brotou do rochedo; “Davi e as manobras para ocupar o trono de Saul”; “Elias e o carro de fogo”; “Eliseu e o machado”. (Cf.o.c.p186-322) www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 13/3/22.

Karl Rahner fala que existe a “fé herdada” e a “fé refletida ou pensada”. A fé herdada é a fé recebida e baseada na herança junto com mitos, medos e tabus. A fé refletida se baseia na crítica bíblica, nas ciências humanas, na antropologia e na cosmologia. (K.Rahner, “Curso fundamental da Fé”, p.348). Supondo que tanto estas narrativas babilônicas como dos autores bíblicos são de cerca de 1000 anos a.C. hoje nós sabemos que a humanidade surgiu na África há cerca de três milhões de anos. Por outro lado, tanto o Poema de Gilgamesh como os autores bíblicos não sabiam disso. E além dessa época, será que eles sabiam da época da criação do mundo, 15 bilhões de anos atrás?  Em comparação com isso o que são os 1850 anos de Abraão, que eles “imaginaram”?

Para nosso consumo acontece então que a Bíblia é uma catequese para os Judeus, como o Poema Gilgamesh era uma catequese para os babilônicos. O Antigo Testamento é uma grande catequese e o Novo Testamento outra grande catequese, assim como os evangelhos são catequeses ao jeito de cada comunidade que os elaborou. (Cf.Gilles Drolet,“Compreender o Antigo Testamento”p.41 ss). A primeira catequese é a Criação e segunda é a caminhada do deserto onde toparam com “as serpentes”. E continuam com as outras onde, como vimos, encontraram  paralelos nas literaturas dos povos vizinhos.

Conclusão. O cristão e o teólogo, desde 1943 estão guiados pelas orientações ditadas já pelo Papa Pio XII que falou assim: “A suprema regra para uma interpretação correta dos textos bíblicos consiste em encontrar e definir o que o autor quis dizer e estar atento aos gêneros de discurso ou de escrita que ele utiliza” (Encíclica Divino aflante Spiritu, 1943). Hoje, devido às descobertas de numerosos especialistas nos dois últimos séculos podemos penetrar melhor no contexto da época em que livros foram escritos. E também podemos discernir os empréstimos que tomaram dos escritos de povos vizinhos.

P.Casimiro João    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

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