Como conviver hoje em dia com estas realidades.
Não é raro o povo cristão ficar perplexo, e se culpar pelos olhos e pelo que
eles topam.
Para o entendimento do pecado devemos
ter em conta o entendimento hoje diferente do sentido de como foi descrito nos
primeiros capítulos do Gênesis e de como é entendido hoje. Aí se destaca o
imaginário da cosmologia primitiva que fez as colunas mestras do entendimento
daquela época. Entendimento que deu origem à ideologia dos maniqueus e estoicos,
que originaram a teologia de Agostinho e de toda a Idade Média e que faz ainda
o imaginário da moral atual da quase totalidade dos cristãos e não só. Sabemos,
até pela Declaração oficial da Igreja que a visão desse criacionismo bíblico passou
de prazo de validade. A Pontifícia Comissão Bíblica, falando sobre a evolução e
sobre os 11 primeiros capítulos do Gênesis abriu as portas ao diálogo entre a
ciência e a fé, inclinando-se ao entendimento de que as narrações bíblicas da
Criação têm que ser entendidas na mentalidade
do seu tempo, portanto no gênero alegórico e mítico. www.genesis:gn.1-11de16dejaneirode1948pp.45-48).
Baseados na nova cosmologia sabemos que
antes da descrição da Bíblia, homens e mulheres já se relacionavam há milhões
de anos, a Terra já existia há bilhões de anos, havia morte e vida sem conexão
alguma com a “queda” do imaginário primitivo. E que não houve um deus que
tivesse amassado o barro com o sangue de outro deus caído do céu como diziam os
imaginários ugaríticos e babilônicos, ou com água como disseram os judeus
bíblicos.
Em segundo lugar devemos considerar que
os Judeus compartilharam essas narrativas com os Poemas dos babilônicos e
ugaríticos entre os quais viviam, como o poema Enuma Elish e Gilgamesh,
onde se fala da Criação e do dilúvio nos mesmos termos, inclusive a pomba e o
sacrifício aos deuses depois do fim do dilúvio.
Numa cerimônia solene realizada na
Pontifícia Academia de Ciências o Papa Francisco declarou que “a Criação não é
fruto de uma ‘varinha magica’. Muitas pessoas se enganam ao ler o capítulo da
Criação no Gênesis imaginando Deus como um mago; mas não é assim. As teorias do
Big Bang e da Evolução são reais”(Papa Francisco, 27/6/22). Por sua vez, o Papa
Pio XII já abriu as portas para a ideia da evolução em 1950. E João Paulo II
disse que a Evolução é um fato comprovado, em 1994.
Seguindo aquele imaginário do pecado de
Adão, S.Agostinho fez a sua teologia em cima das teorias maniqueístas onde se
tinha formado resumidas na dualidade: a matéria é má, o espírito é bom.
Portanto, como a geração veio da ação sexual de Adão ela é má porque veio da matéria
e por isso toda a humanidade teria ficado contaminada, e a isso ele chamou de
pecado original. Na mesma época o teólogo Pelágio era contra essa teoria de
Agostinho. Pelágio dizia que a geração não era a fonte do pecado, portanto o
ser humano nascia bom e inocente. Esta polêmica levou mais de 100 anos. Segundo
o historiador Le Goff, a teoria do pecado original serviu muito bem para o
controle da cristandade e aumentar o poder da Igreja sobre a vida sexual na
Idade Média (Susin, Luiz Carlos, A Criação de Deus, Paulus, 124ss). Segundo Pelágio,
não existe pecado congênito nem transmitido, mas o Papa Inocêncio I que no
séc.V reforçou o poder político da Igreja, abraçou a teoria de Agostinho,
enquanto que hoje a teologia vai pelos caminhos da nova antropologia e
cosmologia que favorecem a tese de Pelágio. Foi a teologia de Agostinho que não
aceitava a salvação das crianças sem batismo, o que hoje não tem mais cabidela.
Foi também a teologia de Agostinho que levou ao jargão que “fora da Igreja não
há salvação”, que hoje em dia também é matéria fora de validade de prazo. Era
também aquela teologia que afirmava “quem não for batizado não será salvo”,
seguindo a teologia judaica da circuncisão sem a qual ninguém se salvava. A
circuncisão teve o seu prazo de validade vencido, e semelhantemente a salvação
sem o batismo, como a circuncisão é uma realidade vencida
Segundo a concepção herdada de Agostino
podemos considerar que muitos “tabus” foram-se originando, um dos quais foi
considerar o pecado como “mancha” que tivesse manchado toda humanidade. Podemos
aduzir então a opinião de moralistas de renome internacional como Marciano
Vidal e B. Haring nas seguintes afirmações: A nova situação da humanidade
obriga a repensar a noção e vivência da culpabilidade cristã”.(M.Vidal, Moral
de atitudes, vol.I p.343. E sobre os “tabus” e “mancha” da teologia de
Agostinho: “O pecado entendido como “tabu” tem feito parte da compreensão e vivência
cristã. Encontramos bastantes elementos ou resíduos tabuísticos tanto na maneira
de falar como na maneira de encarar o pecado” (o.c.p.359).
Onde o referido autor mais concretiza esse
aspecto de “mancha” é na conexão entre a “mancha” à qual se atribuem castigos
divinos, como por exemplo; há um mal físico, doença ou morte e logo são atribuídos
à mancha de algum pecado. Assim nos deslocamos para o Antigo Testamento onde os
males como cegueira, paralisia, e lepra eram atribuídos à “mancha” do pecado.
(Jo.9,2). E o Antigo Testamento ainda vive em nós na porcentagem de três quartos
e na vida da Igreja em geral.
O autor referido ainda tem uma
observação muito psicológica que são as faltas ou “manchas mecânicas”, como deixando
o ritmo de algumas ações: muitas pessoas se acham culpadas, porque não fizeram
aquela ação naquela hora e naquele tempo. O ritmo mecânico da repetição de
nossos atos religiosos e a psicologia da culpabilidade e as consequências na
conduta moral produzem falsas avaliações que herdamos de atos que chamamos pecado.
Conclusão.
“A atualização continua sendo necessária nas comunidades dos fiéis. Textos
foram redigidos em função de circunstâncias passadas e em sua linguagem
condicionada por diversas épocas.” São palavras da Pontifícia Comissão Bíblica
de 15 de Abril de 1993
Reportando-nos ao nosso titulo “Internet,
vídeos e pornô” lembremos a dica do grande moralista M.Vidal: “A nova situação
da humanidade obriga a repensar a noção e a vivência da culpabilidade cristã.”
Na verdade, são caminhos novos da humanidade que trazem crescimento tanto da ciência
como da personalidade humana e cristã. Não podemos incorrer na ideia vencida de
culpa-tabu ou “mancha” herdada dos judeus como coisa mágica que mancha se tocar,
como a “mancha” de tocar em caixão de defunto que obrigava o judeu à lavagem de
purificação. Seria ainda agir como um agir de marionete onde a magia comanda a
ação. Coisas de prazo vencido onde a liberdade e a responsabilidade humanas
eram sufocadas. Seria como andar na rua como um ser alienado, de tudo
desconfiado.
Hoje andamos na rua física e na rua
virtual. A rua sempre foi lugar da convivência humana. Somos convidados a andar
confortavelmente tanto na rua física como na rua virtual.
P.Casimiro João
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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