“Sou
circuncidado, sou judeu, sou salvo”; “sou batizado, sou cristão, sou salvo“.
Estes dois paralelos não ditos, mas vividos nos subterrâneos e imersos no fundo
do agir cristão não estarão muito longe da realidade. No consciente e no
inconsciente, no falar e no calar e no manifestar.
Explicando.
A circuncisão funcionava como uma magia para a salvação dos judeus. “Circuncidareis o menino, o nascido em casa e
o comprado por dinheiro ao estrangeiro”.(Lv.12,3). “Todos do sexo masculino que
estão no meio de vocês deverão ser circuncidados”(Gn.17,10). Pela
circuncisão todo judeu era descendente e
filho de Abraão. Porém nos evangelhos é questionada da seguinte maneira: “Não penseis que basta dizer “sou filho e
Abraão, Abraão é nosso pai”(Mt.3,9).
Semelhantemente
e paralelamente esse dito jaz no imaginário de muitos cristãos transformado
assim: “sou batizado, sou cristão, sou
salvo”. Neste caso o batismo vira magia, assim como a circuncisão. Como
diziam os antigos “é necessário ser batizado para ser salvo”. (Mc.16.16). Ou
seja, acontece o rito, a pessoa vira de condenado para salvo.
Falámos
no Blog anterior que nos primeiros tempos, a Igreja tinha a noção de pecado
original como uma “mancha”. Tirado o pecado original tirava-se a “mancha”.
E o que “tirava o pecado original era o batismo. Portanto, o batismo
funcionava como uma “magia”. E ficou considerado e tratado e pregado como uma
coisa mágica. Nas teologias, nas pregações e nos cultos. Esclarecemos no blog
anterior a polêmica que existiu entre S.Agostinho e o teólogo Pelágio. Em que
Agostinho defendia a tese de que o pecado original era uma “mancha” que provinha
do primeiro ato sexual de Adão. E como o ato sexual era matéria, era mau de raiz,
porque a matéria era má de raiz (teoria dos maniqueus). Enquanto que Pelágio
defendia que essa tese era falsa, e dizia que a matéria não era má e que não
vinha nenhuma mancha derivada do ato sexual de Adão. Nisto tudo prevaleceu a opinião
do Papa Inocêncio I acobertando a teoria de Agostinho por interesses políticos.(Suzin, Luiz Carlos, “A
Criação de Deus”, p.125 ss).(www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
04/12/22).
Do
exposto, os três elementos pecado original, mancha e batismo andavam
imbricados na história da Igreja, e hoje em dia sendo reconsiderados. Nesses
tempos era necessário batizar as crianças logo depois do nascimento para tirar
a mancha “original”, como estava marcada a circuncisão aos oito dias. Por seu
lado, pregadores impunham o poder mágico do batismo para a salvação. E nas
catequeses. De tal maneira que virou o centro das atenções da Igreja, o que
notamos hoje nas orações litúrgicas em geral e mormente nas orações dos
defuntos, como herança dessa teologia mágica.
Se
repararmos bem, a mágica do sacramento do batismo não ficou só nele, mas
embasou também toda a teologia dos outros sacramentos, resumida na equação: matéria
e forma. Colocadas a matéria e pronunciada a fórmula,(ou forma, acontecia o
resultado infalível: o “sacramento”. E o
efeito vinha “automático”. Era o que tecnicamente se chamava “ex opere
operato”, em latim, que traduzia aquele efeito “automático”, ou como se
fosse uma fórmula mágica.
Avançando
mais, e segundo a nossa herança do Antigo Testamento, temos ainda o paralelo do
ritual das abluções das mãos para tirar outras “manchas,” como de tocar em
mortos, ou nos caixões, ou nas mãos dos pagãos. Aí se manifestava também a
magia de como a água tira manchas imaginárias que “contaminavam” as pessoas, o
que leva a desenvolver a superstição.
Falemos
agora de superstição, que anda também imbricada com o que falámos. A definição
de superstição, segundo o filósofo Espinoza é “Crença ou sentimento sem
fundamento racional que induz à confiança em coisas absurdas, ao temor de
coisas inócuas e imaginárias e à criação de obrigações falsas e indevidas, sem
relação alguma entre os fatos e as suas causas.” (Espinoza, Tratado de
filosofia política). A superstição é um dos melhores e mais poderosos meios
para controlar duas instituições que mais reúnem multidões: a política e a
religião. Continua Espinoza: “Os homens são dominados pela superstição enquanto
dura o temor: o culto vão ao qual se constrangem com respeito e religião se
dirige a fantasmas, às desorientações da imaginação de uma alma triste e
medrosa. Deve haver uma classe interessada na ignorância promovida pelas
práticas supersticiosas, pois estas se mantêm contra qualquer racionalidade. A
superstição é um método de governo. O desespero cria pessoas ávidas pela
autoridade, prontos para desejar um deus como um Rei absoluto “acima de todos”,
e o Rei como um deus “acima de tudo”. É justamente a classe dos Sacerdotes e Monarcas,
interessados na dominação e na obediência do povo” (Espinoza). E encerramos com
a afirmação de um historiador e filósofo romano:“ Nenhum meio de governar a multidão é mais eficaz do que a Superstição”
(Quinto Cúrcio).
Conclusão. Voltando ao título desta matéria, “O tanto de magia dos judeus que viralizou em magia
em nossas religiões”, concluímos como
a nossa herança de épocas passadas está muito dentro de nós e influencia a vida
presente, quer queiramos quer não. E juntando-se a isto vem mais um condimento
ancestral utilizado pelos regentes da humanidade seja no campo politico ou
religioso para a sua ambição de controle e manipulação das multidões, condimento
bem definido pelos filósofos Espinoza e Quinto Cúrcio, a Superstição.
P.Casimiro
João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.
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