sábado, 10 de dezembro de 2022

O tanto de magia dos judeus que viralizou em magia em nossas religiões.

“Sou circuncidado, sou judeu, sou salvo”; “sou batizado, sou cristão, sou salvo“. Estes dois paralelos não ditos, mas vividos nos subterrâneos e imersos no fundo do agir cristão não estarão muito longe da realidade. No consciente e no inconsciente, no falar e no calar e no manifestar.

Explicando. A circuncisão funcionava como uma magia para a salvação dos judeus. “Circuncidareis o menino, o nascido em casa e o comprado por dinheiro ao estrangeiro”.(Lv.12,3). “Todos do sexo masculino que estão no meio de vocês deverão ser circuncidados”(Gn.17,10). Pela circuncisão todo judeu era descendente e filho de Abraão. Porém nos evangelhos é questionada da seguinte maneira: “Não penseis que basta dizer “sou filho e Abraão, Abraão é nosso pai”(Mt.3,9).

Semelhantemente e paralelamente esse dito jaz no imaginário de muitos cristãos transformado assim: “sou batizado, sou cristão, sou salvo”. Neste caso o batismo vira magia, assim como a circuncisão. Como diziam os antigos “é necessário ser batizado para ser salvo”. (Mc.16.16). Ou seja, acontece o rito, a pessoa vira de condenado para salvo.  

Falámos no Blog anterior que nos primeiros tempos, a Igreja tinha a noção de pecado original como uma “mancha”. Tirado o pecado original tirava-se a “mancha”. E o que “tirava o pecado original era o batismo. Portanto, o batismo funcionava como uma “magia”. E ficou considerado e tratado e pregado como uma coisa mágica. Nas teologias, nas pregações e nos cultos. Esclarecemos no blog anterior a polêmica que existiu entre S.Agostinho e o teólogo Pelágio. Em que Agostinho defendia a tese de que o pecado original era uma “mancha” que provinha do primeiro ato sexual de Adão. E como o ato sexual era matéria, era mau de raiz, porque a matéria era má de raiz (teoria dos maniqueus). Enquanto que Pelágio defendia que essa tese era falsa, e dizia que a matéria não era má e que não vinha nenhuma mancha derivada do ato sexual de Adão. Nisto tudo prevaleceu a opinião do Papa Inocêncio I acobertando a teoria de Agostinho por  interesses políticos.(Suzin, Luiz Carlos, “A Criação de Deus”, p.125 ss).(www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 04/12/22).

Do exposto, os três elementos pecado original, mancha e batismo andavam imbricados na história da Igreja, e hoje em dia sendo reconsiderados. Nesses tempos era necessário batizar as crianças logo depois do nascimento para tirar a mancha “original”, como estava marcada a circuncisão aos oito dias. Por seu lado, pregadores impunham o poder mágico do batismo para a salvação. E nas catequeses. De tal maneira que virou o centro das atenções da Igreja, o que notamos hoje nas orações litúrgicas em geral e mormente nas orações dos defuntos, como herança dessa teologia mágica.

Se repararmos bem, a mágica do sacramento do batismo não ficou só nele, mas embasou também toda a teologia dos outros sacramentos, resumida na equação: matéria e forma. Colocadas a matéria e pronunciada a fórmula,(ou forma, acontecia o resultado infalível: o “sacramento”.  E o efeito vinha “automático”. Era o que tecnicamente se chamava “ex opere operato”, em latim, que traduzia aquele efeito “automático”, ou como se fosse uma fórmula mágica.

Avançando mais, e segundo a nossa herança do Antigo Testamento, temos ainda o paralelo do ritual das abluções das mãos para tirar outras “manchas,” como de tocar em mortos, ou nos caixões, ou nas mãos dos pagãos. Aí se manifestava também a magia de como a água tira manchas imaginárias que “contaminavam” as pessoas, o que leva a desenvolver a superstição.

Falemos agora de superstição, que anda também imbricada com o que falámos. A definição de superstição, segundo o filósofo Espinoza é “Crença ou sentimento sem fundamento racional que induz à confiança em coisas absurdas, ao temor de coisas inócuas e imaginárias e à criação de obrigações falsas e indevidas, sem relação alguma entre os fatos e as suas causas.” (Espinoza, Tratado de filosofia política). A superstição é um dos melhores e mais poderosos meios para controlar duas instituições que mais reúnem multidões: a política e a religião. Continua Espinoza: “Os homens são dominados pela superstição enquanto dura o temor: o culto vão ao qual se constrangem com respeito e religião se dirige a fantasmas, às desorientações da imaginação de uma alma triste e medrosa. Deve haver uma classe interessada na ignorância promovida pelas práticas supersticiosas, pois estas se mantêm contra qualquer racionalidade. A superstição é um método de governo. O desespero cria pessoas ávidas pela autoridade, prontos para desejar um deus como um Rei absoluto “acima de todos”, e o Rei como um deus “acima de tudo”. É justamente a classe dos Sacerdotes e Monarcas, interessados na dominação e na obediência do povo” (Espinoza). E encerramos com a afirmação de um historiador e filósofo romano:“ Nenhum meio de governar a multidão é mais eficaz do que a Superstição” (Quinto Cúrcio).

Conclusão. Voltando ao título desta matéria, “O tanto de magia dos judeus que viralizou em magia em nossas religiões”, concluímos como a nossa herança de épocas passadas está muito dentro de nós e influencia a vida presente, quer queiramos quer não. E juntando-se a isto vem mais um condimento ancestral utilizado pelos regentes da humanidade seja no campo politico ou religioso para a sua ambição de controle e manipulação das multidões, condimento bem definido pelos filósofos Espinoza e Quinto Cúrcio, a Superstição.

P.Casimiro João     smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.

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