Depois da morte de Jesus os autores
cristãos expressaram os fundamentos da espiritualidade cristã, e esses
fundamentos permanecem constantes, enquanto a cultura, a visão de mundo e
nossas imagens de Deus já mudaram 190 graus. Por exemplo, a cozinha, o lugar de
trabalho, o jardim, o Centro comunitário, o quarto de dormir, bem como a igreja
paroquial e o tabernáculo, estão repletos da presença de Deus.
Os seres humanos estão agora atingindo
a maioridade. Na verdade, como crianças até agora que imaginavam que na casa
delas não tinha mais ninguém, só elas mesmo, e os pais para cuidar delas, agora
nós estamos escutando rumores, sons, e vozes de outros “seres humanos” na outra
“rua” de outras galáxias, e outros planetas. Que mudança, que surpresa: até
agora pensando que éramos os únicos, o centro de tudo e de toda a criação. E
mais? E se formas de vida em outros planetas existirem? O Filho de Deus teria
que “descer” para redimi-las como “baixou” aqui na terra? Olha o desafio que a ciência
vai trazer à nossa fé tão limitada e à nossa atual visão de mundo e de
salvação. Como a Igreja tem se acostumado a pretender ”controlar” a ciência, e
botar sempre sua opinião que tantas vezes são belos pitacos, será que vai
querer também pretender “controlar” vida e independência de existências
estelares? Ainda quero viver pra ver.
E aí tem lugar para falar sobre o que
se entende por revelação. Será que a revelação não foi a expressão captada da
expressão divina em determinados lugares, em determinadas culturas, com
determinados padrões de pensamento e visões de mundo? A ideia de uma divindade
estabelecida no céu que falasse só a determinado grupo de pessoas está passando
de época. Esse desafio tem dado a possibilidade de melhor diálogo com outras
religiões. Essa limitação de “exclusividade” de possuir e de ouvir Deus” está
evoluindo. Imaginemos como, e o que estará para acontecer nos próximos vinte,
cinquenta e 100 anos. Isso de “nós termos Deus do nosso lado, nós termos a
verdade e vocês não têm, não irá acontecer mais. Percebemos que não podemos
contar mais com a ideia de Deus só em nossas limitadas visões e mundo.
E ainda, como ficará a nossa percepção,
no caso, quando ainda rezamos que somos “os degredados filhos de Eva”, segundo
a bitola bem antiga, como é que eles poderão ser? Ou como seriam? Também “filhos
de Eva”? Tenho a certeza que não, porque Eva não chegou até lá. No caso, para
quem está longe da evolução da espécie humana, terá uma boa ocasião para aceitá-la.
E eles, não sendo filhos de Eva, como serão as coisas sobre o pecado original? Será
que os bispos da Santa Igreja irão ficar preocupados?
Ainda teremos que nos libertar de
coisas como os dualismos: céu-terra; alma-corpo; espírito-carne; cabeça-coração;
sagrado-profano; católico-protestante; cristão-pagão; divino-humano. Deus não
está mais presente em um do que no outro. Se existirem seres como nós nos
espaços estelares Deus estará tanto neles como em nós. E aí nós teríamos
ocasião de uma nova reflexão e uma teologia sobre a salvação, e nos desligar
bastante da limitação da nossa teologia relativa só ao nosso quintal desta
pequena casa que é a terra, um pequeno grão de areia nos espaços infinitos.
Temos que ir nos acostumando a pensar que formas de vida conscientes, pensantes
certamente existem e podem se desenvolver em outro lugar. O nosso modelo de
redenção limitou o pensamento cristão aqui, empacotando-o neste pequeno espaço.
Agora nos damos conta de que não podemos conter a realidade de Deus em nossas
limitadas visões do mundo, como num contentor. Temos que libertar nossa imagem
de Deus da camisa de força em que foi formulada. Deus é Deus de mais de 400
bilhões de galáxias. Diz o autor M.Morwood que “o Papa não tem mais a presença
de Deus do que o caminhoneiro ou a enfermeira”. Deus está tanto na cozinha como
na catedral. “Em mim Deus fala, move-se, dança, compõe música ou escreve
poesia, faz amor e cria vida, ri da imperfeição de tudo e chora por ela.” (O
Cristão da amanhã, o.c.p.101). Na verdade, fomos criados na ideia de que a “divindade
é uma realidade que existe somente “no céu”, e que a realidade que chamamos “Deus”
existe em outro lugar. Enquanto que, como vimos na matéria anterior ela existe
e pensa nas moléculas, nas articulações dos átomos e nos algoritmos, nos
trabalhos dos laboratórios e nos trabalhos diários de nossas cozinhas e nas
inteligências que distribuem nossas redes elétricas e de gás, e no trânsito
emaranhado das ruas e avenidas das grandes cidades.
Conclusão.
Ninguém nem nenhuma religião consegue capturar Deus nos seus contentores e
controlar sua posse e sua presença, ou, quem sabe, levá-lo para onde “ainda não
está”. Embora pareça o óbvio mas tem sido a tentação de muita gente e das
várias religiões. Temos coisificado Deus, e tentamos sempre mais maneiras de
coisificá-lo. Será que algum cientista ou religioso metido a cientista, ou
cientista metido a religioso um dia pretenderá “levar Deus nas suas naves
espaciais para lá, pensando que ele lá não está?
P.Casimiro João smbn
www.paroquuiadechapadinha.blogspot.com.br
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