“As mulheres estejam caladas nas assembleias: não lhes é
permitido falar, mas devem estar submissas, como também ordena a lei. Se querem
aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus maridos, porque é inconveniente
para uma mulher falar na assembleia” (1.Cor.14,34-35). Sim, é como as crianças eram tratadas
antigamente. E também as mulheres. E o respaldo: “como também e lei ordena”.
Como primeira observação, a Bíblia
dizia isso, hoje a Bíblia não diz. Antigamente a “lei” também dizia, hoje a lei
não diz. Avancemos: “ Todo homem que orar com a cabeça coberta falta ao
respeito ao seu Senhor. E toda a mulher que ora tendo a cabeça coberta falta ao
respeito ao seu Senhor, porque é como se tivesse a cabeça rapada. Se uma mulher
não se cobre com um véu, então corte o cabelo. Ora, se é vergonhoso para a
mulher ter os cabelos cortados ou a cabeça rapada, então se cubra com um véu.
Quanto aos homens não devem cobrir sua cabeça porque o homem é imagem e
esplendor de Deus. A mulher é o reflexo do homem. Com efeito, o homem não foi
tirado da mulher, mas a mulher do homem; nem foi o homem criado para a mulher,
mas sim a mulher para o homem” (1 Cor.11,5-9). De novo, sobre a oração, o recurso à lei dos
romanos da época. “Romano rezava não tendo a cabeça coberta” (Apud Eliott,
Libertando Paulo, Paulus 2013, pag.277). Claro que não tinham os SALÕES de
beleza, então o autor da Carta punha-se no lugar de cabeleireiro e dono de
Salão. E como não havia ainda a cosmologia do Big-Bang punha-se no lugar da
criança da catequese, que a “mulher foi tirada da costela do homem”. Portanto,
orar com a cabeça coberta era faltar ao respeito ao seu Senhor. Era para se
adequar aos romanos que assim faziam também “diante dos seus deuses”. E o
inverso era igual para as mulheres porque as mulheres de Roma oravam com a
cabeça coberta. E tudo era “como manda a lei. Se no entanto, alguém quiser
contestar, nós não temos tal costume, e nem as igrejas de Deus.” (1.Cor.11,16).
Porque não podiam contestar? Porque não podiam ir contra os costumes da
Colônia, porque eles eram colonos de Roma. Com isto notemos os motivos
desajeitados e espiritualizantes da Carta, e digamos, machistas: “porque o
Senhor de todo homem é Cristo, e o senhor da mulher é o homem” 1Cor.11,3. Não
será que Cristo é tanto Senhor do homem como da mulher? O autor da Carta procura uma explicação
que nós diríamos furada, para encontrar um fundamento banal. Por outro lado, é
também por essa espiritualidade e esse fundamento que também se encontra a
mesma sem razão na Carta aos Efésios: “As mulheres sejam submissas aos seus
maridos, como ao Senhor, porque o marido e a cabeça da mulher”(Ef.5,22). A
explicação maior e fundamental para todo esse desajuste é: “Esse foi o contexto
no qual foram escritas estas Cartas, e que já não é hoje. Assim como os outros
contextos quando se fala em circuncisão e não circuncisão, e ritos de lavar as
mãos, copos e vasilhas” (o.c.p 274). Na verdade, quem ainda queira teimar na
aceitação desse contexto daquela época terá que aceitar também apedrejar as
mulheres, e não deixar mulher falar e pregar nas igrejas, nem servir nos
altares, nem ministrar a comunhão. E na vida civil não usar pix, nem ser
professora ou doutora, nem juíza e nem ministra, deputada ou senadora. Por isso
quem diz: “A Bíblia diz”, seria mais adequado dizer: “A Bíblia dizia”. Ou seja,
dizia para aquela época, e não diz para a nossa época de hoje. Temos mais sobre
o ambiente que se vivia “naquele tempo”.
”Do mesmo modo, quero que as mulheres usem traje honesto,
ataviando-se com modéstia e sobriedade. Seus enfeites consistam não em
primorosos penteados, ouro, vestidos de
luxo, e sim boas obras como convém a mulheres que procuram a piedade. A mulher
ouça a instrução em silêncio, com espírito submisso. Não permito à mulher que
ensine nem que se arrogue autoridade sobre o homem, mas permaneça em silêncio.
Pois o primeiro a ser criado foi Adão. Depois Eva. E não foi Adão que se deixou
iludir, e sim a mulher que, enganada, se tornou culpada da transgressão.
Contudo, ela poderá salvar-se cumprindo os deveres de mãe, contanto que
permaneça com modéstia” (1Tim.2,11-15). De novo tratando a mulher como
criança, e no preconceito de culpada da “transgressão”, na interpretação primitiva
do mito da criação, e relegando a mulher à função biológica de só reproduzir
filhos. Finalmente, o autor desta Carta a Timóteo não é Paulo, mas um aluno
dele que se preocupava com roupas e adereços, como confirmam os autores atuais
(o.c.p.74). Aqui vemos as mesmas regras citadas atrás. Isto leva a maior parte
dos intérpretes a dizer que esta passagem foi copiada com algumas modificações
para a 1 Carta aos Coríntios, e respingando para Efésios.
Conclusão. A Bíblia dizia milhares de coisas segundo o “contexto” da
época. Hoje o contexto é outro, onde essas coisas não se podem dizer. Por isso
seria mais adequado dizer: “A BÍBLIA DIZIA”, em vez de “A BÍBLIA DIZ”.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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