Este estudo é sobre as
diferenças entre o evangelho de Mateus, “Amai os vossos inimigos Mt.
5,44 e o evangelho de João: “Amai-vos uns aos outros, Jo.13,34. E
sobre as consequências que daí resultam, como veremos no final. Em Mateus o amor inclui os inimigos; em João
especifica: “uns aos outros”. Quem são esses “uns aos outros”? São os
discípulos da mesma comunidade, que “observam os mandamentos”. “Se
observardes os meus mandamentos permanecereis no meu amor”Jo.15,1-6. Já vem
de outra afirmação, do fato de Jesus recusar “a orar pelo mundo” “Não rogo
pelo ‘mundo’, mas por aqueles que me deste, porque são teus” Jo17,9. Quem
são os do “mundo”? No primeiro significado cosmológico, o ‘mundo’ era a Criação
que era má porque era do demiurgo ou do maligno, e não do Deus supremo que não
se misturava com a matéria; Esta afirmação tem o seu reflexo nas Cartas
joaninas nas quais o ‘mundo’ também eram os judeus num primeiro tempo, mas
depois estendeu-se aos ‘separatistas’ que tinham deixado a comunidade e fizeram
outras comunidades, i.é, era tudo o que era alheio a eles.
(Cf.wwwparoquiadechapadinha.blogspot.com.br de 18/72021). Isto sacamos também
da 1ª Carta de João: “E há pecado que conduz à morte, não digo que se reze
por eles” 1Jo.5,16, transformando-se
numa recusa a orar por outros cristãos que cometeram o ‘pecado’ de se
separarem da comunidade deles. As Cartas de João são contra os “separatistas”
que em massa deixaram a comunidade por divergências sobre a Cristologia (cf.www.paroquiadechapadinha.com.br
de 08/8/2021). Então os separatistas já
não eram mais “irmãos”. Para o autor das Cartas, os ‘irmãos’ eram os da
comunidade dele. Na verdade foram estas disputas internas que deram origem às
Epístolas joaninas. Como afirma R.Brown, no livro “A Comunidade joanina”. E
aqui aparece a grande anomalia dos escritos de João. Em nenhuma ocasião do Novo
Testamento se levanta tanto a voz em favor do amor dentro da fraternidade
cristã. Com fervor evangélico o autor afirma: “Quem não ama seu irmão a quem
vê, como poderá amar Deus a quem não vê” 1Jo.4,20. No entanto esta mesma
voz é implacável em condenar aqueles irmãos que tinham sido membros da sua
comunidade. Porém, agora eles são ‘demoníacos’, ‘anticristos’, ‘falsos
profetas’, como afirma mais adiante: “Eis que há muitos anticristos; eles
saíram dentre nós, mas não eram dos nossos” 1Jo.2,18. Enquanto que os
membros da comunidade são exortados a se amarem mutuamente. A Carta
recomenda que o trato com os dissidentes
deve ser o seguinte: “se alguém vem ter convosco sem ser portador desta
doutrina não o recebam em casa nem o saúdem; aquele que o saúda toma parte em
suas obras” 2Jo.10-11. Olhando superficialmente, ficamos maravilhados como
o autor joanino mistifica o “amor” enrolado na sua comunidade. Porém dá
a impressão que para a tradição joanina só existia ‘um único mandamento’, “esse
é o meu mandamento’ Jo.15,12. No entanto, debaixo destas palavras está o
radicalismo de se considerarem como irmãos somente eles. Em consequência com
esta tese vêm outras afirmações limitadoras: “O Espírito da verdade que o
mundo não pode receber porque não o vê nem o conhece mas vós o conheceis porque
permanece em vós” Jo.14,17. E ainda: “Pai justo, o mundo não te
conheceu, mas eu te conheci” 17,25. Isto não nos surpreende numa tradição em que o
evangelho coloca Jesus prometendo que aqueles que o conhecem conhecerão também
o Pai. Claro que eram eles também os que “conheciam” o Pai. Assim como eram
eles que “agiam segundo a verdade” e que “aproximavam da luz” Jo.3,21
e os “outros” andavam “nas trevas
porque se afastavam da luz” Jo.8,12. Perto de finalizar, comparemos a linguagem
dualista empregada por João no evangelho e nas Cartas contra o ‘mundo’ e contra
os judeus: Os seguidores de Jesus “não andavam nas trevas”: “Quem ama seu
‘irmão’ não anda nas trevas. Quem ama seu ‘irmão’ permanece na luz” Jo.8,12. Agora
o oposto: “Vós tendes como pai o demônio” Jo.8,44. “Aquele que peca é
do demônio; todo o que é nascido de Deus não peca” 1 Jo.3,8. Claro que quem peca são os “outros”; e os “justos”
são eles. Mas os separatistas diziam que João os odiava com tantas condenações
contra eles. Quando avaliamos o evangelho de João descobrimos um senso de
hostilidade de “nós contra eles”. Este fato levou os cristãos de séculos
posteriores a ver uma divisão dualista da humanidade. Um “nós” que estamos
“salvos” e um “eles” que não estão. Na sua atitude para com os separatistas “nem
os recebam nem saúdem” 1Jo.2,19 ele forneceu incentivos àqueles cristãos de
todos os tempos que se sentem justificados, e motivação para odiar outros
cristãos” cf.R.Brown, o.c.p.141.
Concluindo.
É provável que nos cause arrepios esta constatação talvez nunca imaginada por
leitores dos escritos atribuídos a João. Mas temos que nos acostumar com a
ideia de que os escritos bíblicos foram escritos por gente igual a nós que
viveram as mesmas lutas e tiveram as mesmas experiências de amor limitado e
grupal, e repulsa e condenação para quem não pensava igual a eles. E também
caíram na tentação de ‘apropriar-se da verdade’ de Deus e da sua ‘salvação’ e
da presença do seu Espírito limitada a eles. Isso mostra um quadro mais real da
vida da Igreja, com mazelas e tudo, como dito atrás www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
de 18/7/2021.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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