segunda-feira, 31 de março de 2025

ARETOLOGIA O QUE É

Aretologia era uma literatura greco-romana sobre pessoas em que se tornava visível uma força divina, chamada areté, força, virtude e valor fora do comum entre os humanos, de tal maneira que eles eram classificados como “os divinos”. Isso deu origem a um tipo de literatura baseada no cacife desses personagens, assim tipo axé  dos afrodescendentes brasileiros da Bahia, onde o axé é força, virtude  espiritual. Este gênero de escrita foi um gênero que campeou em círculos cristãos da Igreja primitiva e se apoderou também da vida de Jesus, e mais tarde continuou a comandar a escrita dos “Atos dos mártires” e “Vidas dos Santos” como chegaram até nós hoje. Essa doutrina influenciou fortemente os judeus da diáspora que depois se tornaram cristãos, como afirmam os historiadores. Personalidades como Alexandre Magno e o imperador Augusto eram considerados como “homens milagrosos e apelidados como “filhos de Deus”, os “divinos”. No conceito popular eram seres celestes “revestidos de figura terrestre que apareceram em nosso mundo, alguns vivendo tão virtuosamente, muitas vezes renunciando a todo prazer, à carne e à sexualidade, e com tanta força ou areté, que eram exorcistas e curavam doentes, às vezes ressuscitavam mortos. O divino tornava-se visível em seu miraculoso aparecimento terreno. Nasciam também miraculosamente do próprio Deus, muitas vezes virginalmente, isto é, eram divinos. Depois da morte eram “arrebatados”, tirados “dentre os humanos” e “assumidos” junto aos seres divinos e não raramente apareciam depois a seus íntimos e “admiradores”. Os estudiosos dizem  que “judeus de língua grega, educados com tais ideias, ao ouvirem falar sobre Jesus e ao se tornarem cristãos, sentiam-se plenamente motivados para interpretarem Jesus neste formato padrão helenista dessa aretologia. (Cf. E.Schillebeeckx, Jesus a história de um Vivente, p.425). No evangelho de Marcos e de João foram usadas referências que tiveram como fonte essa aretologia. Uma referência muito clara é a terminação do evangelho de João onde diz: “Jesus realizou ante os olhos de seus discípulos muitos outros  sinais que não estão escritos neste livro. Estes foram escritos para que creiam que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e, crendo, tenham a vida em seu nome” (Jo.21,25). Justamente era assim que terminava o final das vidas de todos os miraculosos homens de Deus: “Poderíamos falar de muitas outras coisas e nunca terminaríamos. Mas para concluir podemos dizer: “ele é tudo”. Como poderíamos encontrar forças para elogiá-lo?” (Sr.43,27). E: “O restante das ações dele, de seus combates, das proezas que realizou, de seus títulos de glória, não foi escrito pois seria assunto demais” (1.Mc.9,22). Aretologias e biografias de heróis se escreviam com finalidade propagandista. Lucas usa frequente este recurso a fim de tornar seu evangelho mais “acessível” para os gregos. Em lugares mais destacados, como o seu evangelho da infância de Jesus, é apresentado como uma aretologia.  E não só: Os Atos dos Apóstolos continuam a mesma narrativa sobre os “grandes feitos” dos apóstolos, como em At.2,22. (o.c.p.427). No Novo Testamento, a primeira propaganda missionária pertence à aretologia, aumentando as listas de milagres bem como os formatos de vocações e chamados para uma missão.

Conclusão. Numa de suas Cartas Paulo fala sobre missionários que têm no bolso “cartas de recomendação”. Na realidade eram cartas onde alguma comunidade atestava neles obras miraculosas, “aretológicas”, imitando os grandes milagres de Jesus. Em resposta, Paulo declara que prega Jesus mas “sem esses poderes, para não diminuir o valor da cruz de Cristo”. Por isso se refere aos valores onde se baseava: “nos sofrimentos e nas perseguições por amor a Cristo” (2Cor.4,7-12). Isto prova como essa aretologia influenciava comunidades e cristãos. Tomara que hoje, passados tantos anos, ainda não continue influenciando não só pregadores evangélicos, mas também católicos.

P.Casimiro João      smbn

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sábado, 29 de março de 2025

CHAPADINHA 87 ANOS

Chapadinha, és a cidade do Senhor Jesus, e de NªSª das Dores, terra amada e sempre intercedida pela Mãe de Deus, sua Padroeira e Mãe do Salvador.

E a história da Padroeira com a criação da cidade vem de muito tempo atrás:

Chapadinha foi elevada à categoria de cidade no dia 29 de Março de 1938, há 86 anos, e antes mesmo de sua emancipação política, a Paróquia de Nossa Senhora das Dores já existia desde o dia 02 de Março de 1802. E tempos depois, nosso amado território, homologou-se com a Carta régia de 16 de Setembro de 1804, criando a freguesia de Nossa Senhora das Dores. Pouco depois, em 1838, a Família Ferreira ofereceu à Nossa Senhora das Dores a área de uma légua de raio (6,6 km partindo da atual Igreja Matriz) nas terras habitualmente conhecida como Chapada das Mulatas à Nossa Senhora das Dores por ter sido livrada das Guerra da Balaiada. É assim, que desde a chegada das famílias ao nosso território, que a nossa Paróquia Bicentenária faz parte do cotidiano dos munícipes. E aqui só nos fortalece a Fé, que especialmente em Setembro, em toda a cidade habita um forte e fervoroso turismo religioso.

Mas hoje, rogamos e damos graças ao seu povo ordeiro e feliz, que Nossa Senhora os abençoe continuamente, livrando esta terra amada de todo o mal.

P.Casimiro João      smnb

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segunda-feira, 24 de março de 2025

PALAVRA DE DEUS


 

Nós recebemos palavras e expressões dos nossos antigos, mas usamos sem saber a origem. Por exemplo, A expressão que usamos cada dia “Okei” (0.k.) vem da história de um soldado de plantão da noite que saía pela madrugada pra dar uma volta pelo acampamento pra ver se havia algum soldado morto. Quando voltava e trazia a boa notícia, que em inglês é: “Zero killed”  ou: “0.k”, significava “Zero mortos”  ou “nenhum soldado morto”, o que deu o nosso “okei”, ou “Oká”.  Agora não são soldados mortos ou vivos, mas que tudo vai bem. A expressão “palavra de Deus” tem a sua origem na antiguidade. Na antiguidade havia as pitonisas ou adivinhas “inspiradas” que pronunciavam oráculos “inspirados” pelos deuses. E havia também os profetas desses povos antigos que se pensavam como se fossem como “divindades”. Estes recursos faziam parte dos sistemas religiosos antigos para impressionar o povão, ou seja, para “fazer a cabeça do povão”; E não só, deuses falavam , não só terceirizavam, mas também tinham ocasiões especiais da “fala deles”. Então as palavras de pitonisas, adivinhas e profetas eram consideradas “palavra de Deus” embora que tudo era feito à base de truques, bebidas alucinantes e vapores destilados que punham as pitonisas em estado de transes e êxtases. Ou seja é um componente dos sistemas religiosos  da antiguidade e que entrou no sistema religioso cristão. Noutra página demos a diferença entre religião e sistema religioso. Religião é a busca de Deus; Sistemas religiosos são os diferentes formatos e expressões da busca de Deus. Falámos que até os próprios deuses falavam em certas ocasiões e convidavam pessoas escolhidas para uma refeição. Temos ecos de disso no Livro de Êxodo. “E subiram setenta anciãos de Israel; eles viram a Deus, e comeram e beberam com ele” (Êx.24,9-11) E daí, tanto nos povos antigos como em Israel vinham expressões como esta: “Deus disse”; “assim falam os deuses”, ou “o deus de nossos pais disse” e :”Estas são palavras de Deus” (Cf. Eduardo Arns, a Bíblia sem mitos, Paulus, 2014, p.288). Para os Judeus isto passou com a expressão “Assim falou Javé”. Quanto às palavras das pitonisas, dos profetas e dos deuses veio o jargão dado como certo “palavra de Deus”, que entrou automaticamente no Novo Testamento. E ninguém contesta, visto que são expressões que ganharam sacralidade, e ficaram como pilares dos sistemas religiosos. Como vinham dos antigos, assim foram recebidas e sacralizadas. E não se faz distinção e não excluindo, mas incluindo que todas as “Escrituras” são “palavra de Deus”. Mesmo que  histórias e narrativas imaginárias sejam incluídas, como onde se diz” que seus bebês sejam jogados contra a rocha”, no Salmo 137,9). Por isso diz o autor citado: “As palavras da Bíblia têm os mesmos conceitos e os mesmos ‘erros’ que as pessoas do seu tempo; nesse contexto são simplesmente “cultura religiosa” (o.c.p.294). Não só entre os escritores bíblicos, mas entre os fundadores e redatores de outras religiões, “todos se jugavam inspirados por Deus”. Vejamos no Novo Testamento, as Cartas deuteropaulinas, assim chamadas porque não são de São Paulo mas dos discípulos dele. Vejamos os acréscimos que foram aumentados já ao A.T. e depois aos evangelhos primitivos e nas próprias Cartas. E quanto às cópias de documentos antigos, se inventaram palavras às que estavam apagadas, ou queimadas ou rasgadas pelo tempo. Mas tudo isso entrou no tratamento como “palavra de Deus”. No entanto, “ a Bíblia não deve ser sacralizada nem absolutizada como se Deus a tivesse ditado ou escrito”(o.c.p.295). A Pontifícia Comissão Bíblica no seu documento de 1993 nos alerta: ”Por interpretação literal entende-se uma interpretação primitiva, literalista, que exclui todo esforço de compreensão que leve em conta seu crescimento histórico e seu desenvolvimento, opondo-se ao método histórico-crítico e a todo outro método científico para a interpretação da Escritura” (PCB,1993).

Conclusão. Como conclusão, a Bíblia não deve ser divinizada ou absolutizada, como se Deus a tivesse ditado por sua boca ou escrito por sua mão. A Bíblia não é uma aula de ditado. 

P.Casimiro João           smbn

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segunda-feira, 17 de março de 2025

BÍBLIA IDOLATRADA, VALIDADE DO ANTIGO TESTAMENTO.

Não é novidade que havia validades de prazo do Antigo Testamento. Essa descoberta não é só da visão teológica e da crítica atual, mas “já foi manifestado por autores de diversos escritos do Novo Testamento, pois há partes do A.T. que foram abrogadas, outras deixaram de ser normativas e outras foram relativizadas ou corrigidas, especialmente as leis do Pentateuco” (Eduardo Arens, “A Bíblia sem mitos” Paulus, 2014, pag.199). Sem contar que teólogos antigos como Marcião excluíam do seu cânon o Antigo Testamento. Partes que foram abrogadas não é difícil de encontrar, como Circuncisão. Abluções, Leis sabáticas, todas as leis de morte para “pecados sexuais” (Lev.19,20-29); leis de morte e apedrejamento. E pecados que eram castigados com fogueira, “os três serão queimados vivos” (Lev.20,14). Outras que deixaram de ser normativas, como sacrifícios de animais, cultos e suas cerimônias e suas vestes e leis de sangue. E leis relativizadas, como de gênero, de todo tipo de exclusão por conta de raça, de riqueza, doença, ou pobreza ou gênero. Assim como maldições (Lev.26, 15-46). E também leis de escravidão que permitiam a venda de pessoas como escravas (Lev.25,44-54). Todas estas situações tiveram seu tempo que dependia da cultura atrasada e primitiva da humanidade e dos judeus. Acabou o prazo de validade. Embora que a própria Igreja tivesse imitado até há bem pouco tempo essas situações de morte, de queima etc. pelos séculos XVI até XVIII. Isto nos leva a ver que seria incômodo afirmar que estas eram “palavra” de Deus e “ordens de Deus”. Eram palavras e ordens das pessoas humanas daquela época primitiva, que se atribuíam autoridade com coisas tão odiosas. E não iríamos dizer que essas autoridades eram constituídas por Deus, mas nasciam de relações primitivas de como os povos entre si se organizavam, tanto na ordem social como na religião. E nem que essa religião e essa autoridade vinha de Deus porque se fosse de Deus, seria  Deus que era o culpado. Como vimos noutra página, cada povo teve sempre uma religião e seus sistemas religiosos, assim como teve uma política e seus sistemas políticos.  Tanto entre judeus como não judeus. Já vimos o que é religião e o que são sistemas religiosos: religião é a busca de Deus e de obediência à consciência; sistemas religiosos são as formas e as formatações de como exprimir e manifestar a amizade com Deus, ou o temor, ou o louvor, e “aplacar” Deus para ele não “castigar”, e depois agradecê-lo. E isto inclui gestos, ofertas de animais, danças, e livros que contam as coisas de cada época, e as louvações ou sacrifícios de cada época, que mudavam segundo as circunstâncias e os entendimentos de cada época. É isso que estamos detectando também na Bíblia, que faz parte desses sistemas religiosos universais. Vejamos alguns exemplos de coisas que acabaram com o tempo na Bíblia, além do relatado atrás: A poligamia(vários casamentos) praticada por todos os reis de Israel; a facilidade do divórcio, como ficou escrito no Deuteronômio, e como  era praticado por todo o judeu: “Se um homem toma uma mulher e se casa com ela, e resulta que esta mulher não ache graça a seus olhos porque descobre nela algo que lhe desagrada, lhe redigirá uma ata de repúdio, colocará na mão dela e a despedirá de sua casa” (Dt.24,1-5). Eis o que diz Eduard Arns a respeito: “A Bíblia não é um livro onde se encontram respostas a todos os problemas, tal como controle da natalidade, corrida armamentista, ecologia. Os problemas daqueles tempos não são idênticos aos nossos. Não somente isso, mas as respostas correspondem ao grau de compreensão de cada época. É assim que o problema do divórcio recebeu diferentes respostas em diferentes escritos da Bíblia (Dt.22,13; e cap.24,1-5; Mc.10,1-12 e Mt.19,3-9). As respostas estavam condicionadas pela teologia do momento e dirigiam-se a auditórios concretos daqueles tempos. A vontade de Deus para nosso momento histórico atual deve ser buscada para tempos de hoje. Os escritores bíblicos  ofereciam referências e orientações para o tempo deles. Eles não tinham condição de ensinar sobre questões de biologia, de antropologia, de psicologia social, mas para comunicar suas crenças” (o.c.p.233-234). Para terminar vejamos alguns erros da Bíblia: *A arqueologia descobriu que Jericó não era habitada nos tempos de Canaã (Js.6-9) *Nabucodonosor era rei da Babilônia, e nunca foi rei de Nínive (Jd.1,1) *Em Dn.cap.5 se dia que Baltazar era filho de Nabucodonosor, mas não era; ele era filho de Nabomid, o último rei da Babilônia. *Não foi Dário que conquistou a Babilônia, mas Ciro (Dn.6,1). *Dário não era filho de Xerxes, ao contrário, ele é que era o  pai de Xerxes (Dn.9,1). *Na arca de Noé se diz duas coisas contrárias, uma vez que entrou um casal de cada ser vivo e noutro lugar que entraram sete casais de cada ser vivo (Gn.6,19 e Gn.7,2). * Também num lugar diz que o dilúvio foi de 40 dias, e noutro lugar de 150 dias (Gn.7,12 e Gn.7,24). *Que o rei Joaquim não tinha filhos (Jer.22,19) mas quem lhe sucedeu foi seu filho (2Rs.24,6). *Em 2Sam. se diz que Davi comprou um terreno por 50 ciclos de prata, e em 1Cr. que comprou o mesmo terreno por 600 ciclos de ouro.(1Cr.21,25). Enquanto há o mandamento “Não matarás” (Ex.20,13), em Josué Deus mandou “passar a fio de espada” todos os habitantes das cidades conquistadas, inocentes ou não (Jer.10,28). Para terminar, “como poderia explicar-se que teria sido Deus quem inspirou a ideia de que a terra era plana e o centro do universo, quando sabemos que a terra é somente um planeta que gira em redor do sol, e não o contrário? Caso tivesse sido assim, Deus se teria equivocado muitas vezes e seria responsável pelos erros que estão na Bíblia” (E.Arnes, “A Bíblia sem mitos”, p.243).

Conclusão. Para o Islão o livro do seu sistema religioso é o Corão, e eles afirmam que foi escrito por Deus. Eles idolatram o Livro. Em contrapartida o Novo Testamento acabou por idolatrar também a Bíblia porque também “escrita por Deus”. Será que Deus disse uma vez uma coisa e depois outra coisa? Afinal, os dois livros fazem parte de dois sistemas religiosos. O Corão faz parte do sistema religioso deles, e a Bíblia faz parte do sistema religioso dos judeu-cristãos. Não podemos idolatrar a Bíblia.

P.Casimiro João       smbn

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sábado, 8 de março de 2025

OS TEMPOS DE NETANYAHU E OS TEMPOS DE TRUMP.

“Todos os povos foram criados por causa de Israel” (4Esd.6,59). Ainda faltava inserir na saga  da história de Israel esta novidade, enfocada desde os livros secretos de Israel que foram inspiradores de muitas histórias bíblicas dos últimos anos turbulentos das últimas narrativas bíblicas. E esta afirmação nos surpreende, assim tão clara, embora ela esteja difundida como uma sombra que atravessa transversalmente todas as publicações da biblioteca judaica que chamamos A Bíblia do Antigo Testamento, e respingou ainda para as novas publicações do N.T. sobretudo para o Apocalipse. Esta afirmação contundente vem no livro secreto do 4Esdras,(4Esd.6,59). E o espanto dos antigos israelitas manifestava-se assim: “Se o mundo foi criado por nossa causa, então por que não somos donos deste mundo”? (4Esd.6,50). Portanto, “redenção significa: Israel será libertado de seus inimigos que o impedem de ser dono do mundo. Por isso, o aniquilamento de todos os inimigos de Israel é condição escatológica para a redenção final de Israel. Somente depois que isso acontecer, o messias pode dedicar-se inteiramente a seu “resto sagrado” ou seja, Israel. Isto corresponde  ao paraíso original. O reino de Deus, o “novo céu e a nova terra” surgirá somente desse reino messiânico de paz” (4Esd.7,30-31). Apud Schillebeeckx, Jesus, a história de um Vivente, Paulus, 2014, p.447). Que Israel  agora em 2024-25 declarou-se como o maior aliado de Trump, não deixa lugar a nenhuma sombra de dúvida que sempre foi trumpista. Obs: Donald Trump é filho de pais imigrantes da Baviera e descendes de antigos israelitas).

P.Casimiro João      smbn

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segunda-feira, 3 de março de 2025

CALA-TE E SAI DELE, Mc.1,21. O MITO DOS EXORCISMOS.


 

Um dia na Sinagoga, “havia um homem possuído por um espírito mau, e ao topar com Jesus gritou: que queres de nós, vieste para nos destruir?” Mc. 1,21. Ele não devia dizer, “que queres de mim, mas falou “o que queres de nós?” Porque todos da Sinagoga sabiam que Jesus vinha para destruí-los. Então ele representava a Sinagoga inteira. Nesse caso, trata-se de uma metáfora, dizendo que toda a Sinagoga era espírito impuro, isto é algo impuro. E como Jesus vinha destruí-los? Vejamos, destruir o sistema: “Vocês lavam o copo por fora, mas o interior de vocês está cheio de rapina e de impureza” (Mt.23,25). Dai vem uma segunda cena: “Cala-te e sai dele” Mc.1,21. Marcos arruma aí um quadro de mágica, porque a mágica funciona quando o sistema o fabrica e o aceita. Heródoto, historiador grego e muitos outros historiadores, todos usavam mágicas de curandeirismo e exorcismos de demônios porque todos acreditavam nessa magia. Naquela época, como em épocas aqui no Nordeste do Brasil, em qualquer doença psicológica se dizia: fulano está ‘espritado’, porque tudo era atribuído a maus espíritos. Era o que se praticava também na Palestina. “Se eu expulso demônios pelo poder de belzebu, os filhos de vocês por quem os expulsam?” Mt.12,27. Vale dizer, os judeus viviam de exorcismos, e Jesus entrou nessa de exorcismos, ou se não entrou, os evangelistas lhe atribuíram essa atividade. Foi a cena que Marcos encenou nesta ocasião. Jesus o intimou ‘cala-te e sai dele’. Funciona a metáfora: subrepticiamente Marcos quis dar uma baita lição de que toda a Sinagoga era um espírito impuro. “Sai dele quer dizer, sai da sinagoga” Vejamos bem que estamos no capítulo primeiro de Marcos, e logo de início ele propõe qual é projeto e o programa da ação de Jesus: Purificar a religião judaica, que tinha-se tornado “antro de ladrões” e corações fingidos e pintados por fora como sepulcros caiados, mas por dentro cheios de ossos e de podridão, de falsidade e de rapina” (Mt.21,13).

Conclusão. Enquanto escrevia esta página me lembrei da igreja fundada pela ex-deputada Flordelis, “Comunidade Evangélica Ministério Flordelis”, no Rio de Janeiro, atualmente na prisão. Certamente devem ter feito muitos “exorcismos”. Mas porque não tiraram o "mau espírito" do corpo dela, que a levou a matar o seu marido Anderson do Carmo e a fazer toda sorte de suruba com todo os ‘filhos adotivos’ do harém que tinha em sua casa?

P.Casimiro João   smbn    www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

MITOS POR AQUI E POR ALI NOS EVANGELHOS

 

“A Bíblia sem mitos” é um livro aberto de Eduardo Arns, Paulus, 2014. Hoje tomei como tema o episódio narrado por Marcos onde conta a degolação por Herodes, e onde peritos encontram mitos e lendas. (Mc.6,14-21). Entre as várias considerações que aqui cabem, vou-me limitar a três. Primeira: Não é histórico que João Batista tivesse se encontrado com Herodes, e por isso é considerado redacional aquela narrativa segundo a qual ele lhe teria dito ‘não te é permitido ficar com a mulher do teu irmão’. (Mc.6,8). E de quebra a outra afirmação que “Herodes gostava de ouvi-lo embora ficasse embaraçado quando o escutava e por isso o protegia” (v.20). Isto são preliminares redacionais para compor a cena que se segue. Em seguida vamos falar dos dois motivos-chave da cena desenvolvida  em dois atos. O primeiro ato trata do tema do matrimônio, que teria levado João à prisão e à degolação. O historiador Flávio Josefo, testemunha insuspeita sobre a história declara que Herodes desde o princípio odiava João e o perseguia mandando espiões emissários para espionar a atuação de João Batista que ele considerava subversivo e com potencial de arrastar multidões para uma revolta política (Cf. Shed Meyer, O Evangelho de Marcos, pag. 264). Por sua vez, os matrimônios na Palestina eram feitos por alianças. Deixavam uma esposa por outra por causa de alianças com a nova família e por amizades e compromissos com os pais de uma ou de outra.(o.c.p.321). Por isso ao evangelista interessava só o motivo religioso para não expor as autoridades desviando do motivo político, que era o único em questão, visto que tanto para os profetas como para o povo em geral essa situação era normal, e muito mais para as autoridades reais como acontecia com Davi e Salomão com as suas concubinas. Em segundo lugar aparece a arrumação adequada para aumentar a “moralidade” do conto: a dança da filha de Herodíades. Os estudiosos consideram esta cena como uma “lenda piedosa” para encontrar motivo de pedir a cabeça de João Batista: “É uma parábola para descrever o sistema de como a vida humana era pisada para salvar a face régia” (S.Meyers o.c.p.265). Não é difícil comparar com cenas de hoje, pensando como são pisadas vidas humanas na Faixa de Gaza para salvar figuras de mandantes tiranos como o primeiro ministro de Israel e o aliado presidente da América do Norte. Na verdade o evangelho é um código. Não devemos parar numa palavra como tal, mas é um link com muitos desdobramentos. Reportamo-nos agora com um olhar relâmpago à “Bíblia sem mitos” para ajudar-nos na conclusão do nosso tema. Sobre alguns imaginários  vejamos algumas afirmações: “Muitos pensam que tudo o que é narrado pelo fato de estar na Bíblia é histórico” (Eduard Arns, Bíblia sem mitos”, p.105). Perguntemos o que se entende por ‘lenda’: “A vida de um personagem essencialmente histórico, mas onde se exagera o aspecto no qual a lenda se esconde tanto que parece incrível” (E.Arns, o.c.p.103). Outro exemplo: “Quase todos os leitores contam como se o episódio da entrega da Lei no Sinai ocorresse como se narra; porém, na entrega da Lei de Hamurabi o rei recebe também a Lei das mãos do deus Marduk” (o.c.p.106). Também pensamos que profecias e Apocalipse dizem coisas sobre o futuro; porém os profetas falavam do presente e para o presente do seu povo e não para 20 séculos adiante, e para traduzir aquilo quando dizemos: ‘quem ri por último ri melhor’. (o.c.p.110).

Conclusão. Não seria pequeno o número de lendas e mitos pesquisados na Bíblia, a começar no relato da criação e encerrando com o Apocalípse, o primeiro e o último dos livros da Bíblia. Começamos com os evangelhos mas nosso confronto foi mais longe dando essa olhada de relâmpago mais vasta.

P.Casimiro João      smbn

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