segunda-feira, 3 de novembro de 2025

A CRIAÇÃO E O PECADO ORIGINAL EM PAULO E AGOSTINHO.

Num certo capítulo das Cartas de Paulo, ele seguiu o caminho da cosmologia e antropologia de sua época, tendo feito também a plataforma para a teologia de Agostinho que desembocou na célebre teoria da necessidade do batismo para a salvação. E, de quebra, se o batismo era necessário para a salvação, então estavam postas as premissas para a salvação ou não salvação das crianças que morriam sem o batismo. Logo então, era só colocar a conclusão: que, sendo necessário o batismo para a salvação, a conclusão vinha direto: que criança  não batizada não se salvava. Esta teologia bíblica de Agostinho, que por sua vez estava já implícita na teologia bíblica de Paulo, passou por toda a Idade Média até à época do II concílio do Vaticano. Onde Agostinho se firmava? Na Carta de Paulo aos romanos, cap.V. E onde Paulo se firmava? Em Gênesis, cap. 02 e 03. É evidente que a Carta de Paulo seguia a mesma cosmologia e a mesma antropologia de Gênesis, que hoje não tem fundamento. Cosmologia define-se como a teoria da formação do mundo, ou cosmo. Antropologia define-se como o estudo da formação do ser humano, antropos. E está definido hoje que a cosmologia primitiva não era científica, mas mítica. E do mesmo modo a antropologia primitiva também não era científica mas mítica. Por mítica se entende o arrazoado onde não entra a ciência, mas só a imaginação. Vale dizer, os primeiros humanos imaginavam uma maneira de ‘como’ seria possível o aparecimento das estrelas, das plantas, e do cosmo e da nossa terra. E sobre o ser humano  imaginavam ‘como’ teria sido o aparecimento dos seres humanos na terra. São estas ‘imaginações’ que são chamadas ‘mito’, que hoje mais popularmente se chamam também de ‘lendas’. Qual é então a narrativa de Paulo, tirada do mito da ‘criação’, e que deu origem à teologia bíblica de Agostinho? O seguinte como lemos na Carta aos romanos: “O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram” (Rom,5,12-15). A cosmologia da ‘imaginação’ do Gênesis e a antropologia da mesma ‘imaginação’ são trazidas para aqui por São Paulo. Porém, hoje a Pontifícia Comissão Bíblica declarou já  que essa narrativa do Gênesis se baseia numa cosmologia ultrapassada. E afirma a necessidade de uma interpretação no hoje do nosso mundo porque “os textos da Bíblia são a expressão de tradições religiosas que existiam antes deles,  os quais foram retrabalhados e reinterpretados para responderem a situações novas desconhecidas anteriormente”. E no início desta colocação começa com a declaração explícita: “Essa narrativa do Gênesis se baseia numa cosmologia ultrapassada”.  (Pont. Com. Bíblica, 1994). Por seu lado, Agostinho extrapolou ainda mais, e recorreu `a teoria maniqueísta de que a matéria era má, e só o espírito era bom. Ora, como a criança era gerada pela matéria má do pai que era o sémen, era gerada em pecado. (Cf. Bárbara Andrade, em “Pecado original, ou graça do perdão? Paulus 2007, p.121). Esse pecado foi chamado “o pecado da origem”, ou pecado “original”. A ‘geração’ era a origem do pecado original, e como tal passava o pecado também para todos os homens. As consequências são terríveis. Agostinho argumentava que a ‘geração’ embora que era má e pecaminosa, mas era necessária.  Como se diz, era então um mal necessário. Mas veja a doutrina moral que daí se desenvolveu por exemplo para o casamento. Como podia ser isso? Sim, que haja casamento mas somente para que haja filhos, sem nenhum tipo de outras coisas  como afeto, carinho, abraços, carícias, tudo simplesmente como sexo tipo animal, só porque é necessário para reprodução. Esta situação, além de vir dos maniqueus também já vinha dos Judeus, para  os quais só o sexo com reprodução é que podia acontecer, casamento sem filhos não podia. E quantos mais filhos melhor, sabe porquê? Para trabalhar as terras, porque a terra era a única fonte de renda para as famílias. (Cf. Eduardo L. Azpitarte, em Ética da sexualidade e do matrimônio, p.83). Tire daí as conclusões deles porque é que condenavam o sexo não reprodutivo, e é isso que botaram na sua bíblia. Por isso quando hoje se invoca a Bíblia sobre sexo e sobre relações sexuais veja as tradições e ‘contradições ‘humanas’ e antiquadas e obsoletas que pode estar ouvindo...Paulo transcreveu situações sofridas daquele dualismo de sua teologia bíblica da carne como sendo má, quando declarou : “Estou ciente de que o bem não habita em mim, isto é, na minha carne. Com efeito, não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero. Homem infeliz que eu sou.” (Rom.7,18-19.24).  Esta teologia bíblica que moldou a teologia da Idade Média e a moral não ficou só por aqui mas trouxe consequências. E entramos na temática do matrimônio. Como dissemos noutra página, a Igreja  só começou a marcar a sua presença  nos matrimônios no séc.XII, quando o matrimônio entrou para o número sete dos sete sacramentos. Antes o matrimônio era só uma questão de família. Os pais acompanhavam os noivos para o quarto, despiam-nos e iam para o banquete, depois de dar uma bênção para o casal. O costume da presença do sacerdote começou da iniciativa de um pai que um dia convidou um padre para essa bênção. Mas a teoria bíblica, e melhor dito maniqueia da “maldade” da matéria tinha entrado de forma drástica na cabeça do clero. O sexo era “mau”? Era. No entanto era “permitido” por causa da geração dos filhos. Mas excluídas carícias, e todos sinais de afeto e carinho, só sexo igual animal, tudo o resto era pecado. A confissão tornou-se uma sessão de tortura porque exigia uma sessão de perguntas sem fim. Por isso o Papa Francisco um dia disse que a confissão não deve ser uma sessão de tortura, certamente lembrando dessas situações. Outra coisa, já pensamos porque até há bem pouco tempo o pai não podia abraçar ou beijar os filhos? Não seria também por esses motivos? E tudo isso vinha, além dos maniqueus, também vinha dos judeus, porque na ideia deles sexo sem filhos não era permitido, como dissemos porque tinham que trabalhar as terras da família, a única fonte de renda das famílias nessa época. Por isso todas as relações e todo sexo que não fosse produtivo era condenado. Daí você pode enumerar as consequências dos atos não direcionados à reprodução como  eram condenados e porque é que eram condenados. Podemos então imaginar por quê e por quais vias muitas leis  e muitas morais eles colocaram na sua bíblia como proibidas e condenadas. Podemos observar e comparar com isso a herança manifestada na encíclica de Pio XI, condenando o onanismo pela única razão de não produzir filhos: “criminosa licença essa que alguns se arrogam, porque só desejam satisfazer seu prazer sem a carga dos filhos” (AAS,22,1930 359, apud Azpitarte, o.c.p.109). Continua aqui a herança da reprodução herdada dos judeus. Como observa Azpitarte, “o receio tradicional para o prazer fez com que a sexualidade perdesse seu caráter festivo para muitos cristãos.” E o mesmo autor afirma que o prazer só pelo prazer “não era considerado comportamento digno do cristão. No entanto a experiência de prazer pelo simples fato de sê-lo não deve ser  catalogado como pecaminoso, o contrário produz tantas patologias.” (o.c.p.111-112).

Conclusão . Às vezes ouvimos isto já tão manjado: "A Bíblia diz". Já dissemos noutra página que uma coisa é a “Bíblia dizia”, outra coisa é “a Bíblia diz”. A Bíblia dizia para a sua época, não diz isso para hoje. O que se ouve, como eu ouvi de um eclesiástico que “família é pai e mãe e filhos” nem sabe que está falando linguagem dos judeus.

P.Casimiro João           smbn

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segunda-feira, 27 de outubro de 2025

A FÉ E O HOJE


 

O cristão, por regra, tem medo de ser feliz. Quando goza de certo ambiente momentâneo de felicidade, logo já vem a saudade da infelicidade que tomou conta da sua vida, como a ave que, acostumada na prisão, não se sente bem quando voa dois metros longe da sua gaiola onde se acostumou. Os estudiosos o que dizem sobre a fé que tem orientado a Igreja? “Há todo um lado dolorido da religião que alimenta a melancolia. Frequentemente a fé transforma-se num alibi de que o fiel depende, que quer “agradar” e em função do qual age. Fonte de angústia, porque nos anula a liberdade, a autonomia para tomarmos nas mãos  o próprio caminho, sentindo-nos comandados por outro” (Libanio, Olhar para o futuro, p. 67).  O cristianismo é especialista em grande dureza de uma fraternidade áspera, falta de coração e insuficiente capacidade de amar. Imagem deformada de Deus, rigorismo moralista e masoquista, medo da novidade, insuficiência crítica, fideísmo camuflado, falta de criatividade, repressão da liberdade. Há uma esquizofrenia que afeta muitos eclesiásticos ao terem que ensinar, defender, pregar verdades importantes impostas que não correspondem às suas experiências, à sua interioridade, à verdade deles mesmos. Ou então renunciam a viver no mundo de hoje, aceitando tudo sobre o que pensar e o que conhecer. (Cf. Drewermann, apud Libanio o.c.p.68). E vejamos o que afirma o mesmo autor: “Algum dia a Igreja acabará descobrindo que enquanto continuar presa ao conceito de  uma verdade exterior que não se coadune com a realidade vivida, ela mais ocultará a verdade divina do que revelará. Entretanto os leigos estão a passar por uma trágica experiência de fracasso, incapazes de transmitir aos filhos as suas convicções religiosas, ou seja, o que eles pensam e o que ainda continuam ensinando de maneira antiquada”. E isto torna-se um drama de consciência porque esbarra com a realidade de cada dia. Deste modo, faz-se necessário o questionamento: “Há todo um lado dolorista da religião?” O que nos remete à discussão filosófica, socilógica e psicológica sobre os aspectos negativos ou problemáticos que podem  emergir de crenças e práticas religiosas. A literatura atual, incluindo referências filosóficas como Paul Tilich e estudos sociológicos e psicológicos contemporâneos, descobriu diversas dimensões em que certasformas de religiosidade podem gerar sofrimento ou dor, seja individual ou socialmente falando. Vejamos as causas: primeiro, a religião e o medo: Muitas tradições religiosas estruturam a experiência humana em torno de conceitos de pecado, julgamento e punição eterna, provocando medo constante nos fiéis. Esse temor pode afetar a saúde mental, levando a neuroses ou sensação de inadequação. Segundo: tensão ente religião e modernidade: Estudos contemporâneos apontam que a religião, quando não dialoga com os valores democráticos, culturais e científicos do mundo moderno, pode gerar conflitos internos ou sociais, aumentando o sofrimento de quem tenta reconciliar fé, liberdade individual e conhecimento crítico.

Conclusão: Sim, podemos afirmar que há um lado dolorista na experiência religiosa, particularmente associada a culpa, medo, intolerância e perda de autonomia, sobretudo quando se enfatiza a obediência rígida, dogmas punitivos ou exclusão social. 

P.Casimiro João       smbn

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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

AMAI OS VOSSOS INIMIGOS.


 

Este estudo é sobre as diferenças entre o evangelho de Mateus, “Amai os vossos inimigos Mt. 5,44   e o evangelho de João:  Amai-vos uns aos outros, Jo.13,34. E sobre as consequências que daí resultam, como veremos no final. Em Mateus  o amor inclui os inimigos; em João especifica: “uns aos outros”. Quem são esses “uns aos outros”? São os discípulos da mesma comunidade, que “observam os mandamentos”. “Se observardes os meus mandamentos permanecereis no meu amor”Jo.15,1-6. Já vem de outra afirmação, do fato de Jesus recusar “a orar pelo mundo” “Não rogo pelo ‘mundo’, mas por aqueles que me deste, porque são teus” Jo17,9. Quem são os do “mundo”? No primeiro significado cosmológico, o ‘mundo’ era a Criação que era má porque era do demiurgo ou do maligno, e não do Deus supremo que não se misturava com a matéria; Esta afirmação tem o seu reflexo nas Cartas joaninas nas quais o ‘mundo’ também eram os judeus num primeiro tempo, mas depois estendeu-se aos ‘separatistas’ que tinham deixado a comunidade e fizeram outras comunidades, i.é, era tudo o que era alheio a eles. (Cf.wwwparoquiadechapadinha.blogspot.com.br de 18/72021). Isto sacamos também da 1ª Carta de João: “E há pecado que conduz à morte, não digo que se reze por eles” 1Jo.5,16, transformando-se  numa recusa a orar por outros cristãos que cometeram o ‘pecado’ de se separarem da comunidade deles. As Cartas de João são contra os “separatistas” que em massa deixaram a comunidade por divergências sobre a Cristologia (cf.www.paroquiadechapadinha.com.br  de 08/8/2021). Então os separatistas já não eram mais “irmãos”. Para o autor das Cartas, os ‘irmãos’ eram os da comunidade dele. Na verdade foram estas disputas internas que deram origem às Epístolas joaninas. Como afirma R.Brown, no livro “A Comunidade joanina”. E aqui aparece a grande anomalia dos escritos de João. Em nenhuma ocasião do Novo Testamento se levanta tanto a voz em favor do amor dentro da fraternidade cristã. Com fervor evangélico o autor afirma: “Quem não ama seu irmão a quem vê, como poderá amar Deus a quem não vê” 1Jo.4,20. No entanto esta mesma voz é implacável em condenar aqueles irmãos que tinham sido membros da sua comunidade. Porém, agora eles são ‘demoníacos’, ‘anticristos’, ‘falsos profetas’, como afirma mais adiante: “Eis que há muitos anticristos; eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos” 1Jo.2,18. Enquanto que os membros da comunidade são exortados a se amarem mutuamente. A Carta recomenda que o trato com  os dissidentes deve ser o seguinte: “se alguém vem ter convosco sem ser portador desta doutrina não o recebam em casa nem o saúdem; aquele que o saúda toma parte em suas obras” 2Jo.10-11. Olhando superficialmente, ficamos maravilhados como o autor joanino mistifica o “amor” enrolado na sua comunidade. Porém dá a impressão que para a tradição joanina só existia ‘um único mandamento’, “esse é o meu mandamento’ Jo.15,12. No entanto, debaixo destas palavras está o radicalismo de se considerarem como irmãos somente eles. Em consequência com esta tese vêm outras afirmações limitadoras: “O Espírito da verdade que o mundo não pode receber porque não o vê nem o conhece mas vós o conheceis porque permanece em vós” Jo.14,17. E ainda: “Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheci” 17,25.  Isto não nos surpreende numa tradição em que o evangelho coloca Jesus prometendo que aqueles que o conhecem conhecerão também o Pai. Claro que eram eles também os que “conheciam” o Pai. Assim como eram eles que “agiam segundo a verdade” e que “aproximavam da luz” Jo.3,21  e os “outros” andavam “nas trevas porque se afastavam da luz” Jo.8,12. Perto de finalizar, comparemos a linguagem dualista empregada por João no evangelho e nas Cartas contra o ‘mundo’ e contra os judeus: Os seguidores de Jesus “não andavam nas trevas”: “Quem ama seu ‘irmão’ não anda nas trevas. Quem ama seu ‘irmão’ permanece na luz” Jo.8,12. Agora o oposto: “Vós tendes como pai o demônio” Jo.8,44. “Aquele que peca é do demônio; todo o que é nascido de Deus não peca” 1 Jo.3,8.  Claro que quem peca são os “outros”; e  os “justos”    são eles. Mas os separatistas diziam que João os odiava com tantas condenações contra eles. Quando avaliamos o evangelho de João descobrimos um senso de hostilidade de “nós contra eles”. Este fato levou os cristãos de séculos posteriores a ver uma divisão dualista da humanidade. Um “nós” que estamos “salvos” e um “eles” que não estão. Na sua atitude para com os separatistas “nem os recebam nem saúdem” 1Jo.2,19 ele forneceu incentivos àqueles cristãos de todos os tempos que se sentem justificados, e motivação para odiar outros cristãos” cf.R.Brown, o.c.p.141.

Concluindo. É provável que nos cause arrepios esta constatação talvez nunca imaginada por leitores dos escritos atribuídos a João. Mas temos que nos acostumar com a ideia de que os escritos bíblicos foram escritos por gente igual a nós que viveram as mesmas lutas e tiveram as mesmas experiências de amor limitado e grupal, e repulsa e condenação para quem não pensava igual a eles. E também caíram na tentação de ‘apropriar-se da verdade’ de Deus e da sua ‘salvação’ e da presença do seu Espírito limitada a eles. Isso mostra um quadro mais real da vida da Igreja, com mazelas e tudo, como dito atrás www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br de 18/7/2021.

P.Casimiro João      smbn

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segunda-feira, 6 de outubro de 2025

VINHO E ÁGUA NO CASAMENTO DE CANÁ


 

Segundo o evangelho de João, cap. dois, num dia de casamento são colocados dois símbolos muito significativos: Seis grandes panelas de água, de 100 litros cada uma, e o vinho que acabou. Logo um observador atento  nota que a água era “para abluções dos judeus” (Jo.2,6). E a história que o vinho acabou é para focar no que vem a seguir sobre as panelas e a água. O Antigo Testamento baseava-se nas abluções e na observância da lei de Moisés. Era isto que representavam as panelas e a água. E desde logo o Novo Testamento irá se basear na obediência a Jesus Cristo. É o significado do vinho novo que “veio” da dita transformação da água. No fundo, vem sempre a questão: aceitar Moisés, ou aceitar Jesus? Aqui a teologia deste trecho fica paralela com o que Paulo afirma: “A lei de Moisés já era; agora é a cruz de Cristo pela qual eu estou morto para o mundo e o mundo para mim”, (Gl.6,14) e: “Cristo é o fim da lei, para justificar todo aquele que crê.” (Rom.10,4). No final da cena vem a intervenção da mãe de Jesus para fechar a situação com chave de ouro: Vão fazer tudo que Jesus disser, ou vão continuar fazendo tudo que Moisés disse?

Conclusão. Temos falado na resistência que o evangelho de João encontrou para ser incluído no cânon do Novo Testamento porque não fazia referências aos sacramentos. E foi só aceito porque um redator posterior postou as referências ao batismo com o episódio de Nicodemos de Jo.cap.3 e com as referências à eucaristia no capítulo seis. E no presente caso uma referência ao matrimônio. “O evangelista fez uma reflexão sobre Jesus Cristo como esposo da comunidade o qual oferece o vinho da alegria e da vida nova aos que participam de sua festa.” (Nilo Luza, em Liturgia Diária, 2025 p.78). Cf. também R.Brown, Comentário ao evangelho segundo João, vol.I p.305).

P.Casimiro João        smbn

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segunda-feira, 29 de setembro de 2025

TEOLOGIA DA HISTÓRIA, ORIGEM DO CULTO AO IMPERADOR.


 

Podemos estabelecer a origem do culto ao imperador como um deus nos inícios do pensamento dos filósofos da antiga Grécia, com Platão, Xenofonte e Aristóteles. Eles afirmavam que os reis podiam reivindicar honras divinas, e que o exercício da realeza na terra correspondia à realeza de Deus no céu. Entre eles havia alguns mais sensatos para os quais “um rei podia receber honras divinas, mas a cidade pertencia aos cidadãos.” Enquanto que para outros o povo era propriedade do rei.” (H.Koester, Comentário do Novo Testamento vol.I,p.36). Quando o rei conquistava pela lança outros territórios, os territórios conquistados pertenciam como direito de propriedade ao rei. Os novos países eram ‘terras conquistadas pela lança’, sobre os quais o rei possuía direitos soberanos ilimitados. Os habitantes desses países eram simplesmente escravos. O mundo grego ou helenista assumiu esta filosofia, fato que passou posteriormente para as diversas partes do mundo onde, por exemplo os imperadores romanos seriam reverenciados como seres divinos, como César Augusto, Vespasiano, Nero e Domiciano. Para aprofundarmos mais a evolução desta ideologia temos que prestar atenção ao seguimento da História. A potência maior da época antiga antes do Egito, Mesopotâmia e Persa e Roma era a Grécia. Ela tinha colônias inclusive no Egito, na Mesopotâmia e na Pérsia. Conseguiu essa epopeia devido não só ao seu poder econômico e militar, mas sobretudo ao poder da sua sabedoria e sua capacidade organizativa. Os séculos XI e X a.C. renderam-lhe tributos e riquezas de outros Estados e colônias e foram a época de ouro da Grécia. Porém, com o tempo, esses Estados começaram também a se fortalecer e deixaram de enviar seus produtos e matérias primas para a Grécia, transformando-os por sua própria indústria e livre iniciativa. O resultado foi o começo do empobrecimento da Grécia que já não recebia as matérias primas de suas colônias, lá nos séculos VI e V a.C. Uma nação concorrente se fortaleceu: foi a Pérsia que desde tempos vinha concorrendo com a Grécia e que se tornou império concorrente. Foi nesta época que os filósofos foram os primeiros a apresentar a ideia de que somente um individuo com dons divinos seria capaz de restabelecer a paz, a ordem e a prosperidade da nação. A esse indivíduo davam o nome de messias. No caso da antiga Grécia, só um rei na qualidade de um filho de Deus, ou messias, podia levar a nação à antiga glória. Aí apareceu Alexandre Magno, o grego, que se prestou para conquistar de novo o mundo. Alexandre quando chegou ao Egito e o conquistou, o sacerdote egípcio o saudou diante do templo de Amon como “filho de Deus”. (o.c.§1.5b,p.37). De volta à Grécia, Alexandre Magno enviou uma carta a todas as cidades gregas para exigir ser adorado como deus. Então construiu os seus templos onde mandou colocar estátuas de seu pai Filipe II,  assim como dele mesmo e de sua esposa Olímpia e de seu filho. Os atenienses reverenciavam e tiveram estes “deuses” como deuses salvadores (o.c.§1,p.38). Por sua vez a rainha Berenice II, era chamada de “Isis”, “Mãe dos deuses”. Daí em diante Alexandre Magno conquistou a Ásia Menor, a Palestina, a Judeia, a Síria, o Líbano, o Egito, a Líbia, a Fenícia e Mesopotâmia, e a Babilônia. A principal cidade com o nome dele foi Alexandria. Nós veneramos os Santos como exemplos e de humanidade de virtudes cristãs. Já nem é tanta novidade assim, porque na Grécia antiga pessoas excelentes tinham honras de heróis depois da morte, como estamos vendo, sendo celebradas pelos poetas como seres quase divinos (o.c.p.36). Porém a aclamação e entronização como deuses eram reservadas aos reis e filhos de reis. Alguns destes  reis-deuses respeitavam o povo e seus súditos como “cidadãos”, porém, em relação aos outros povos conquistados eram deuses e senhores absolutos  enquanto as populações eram escravas. Eles governavam em linha vertical, i.é, como deuses e senhores da vontade da nação. Isto, além de ser regime da teocracia, ou poder de deuses, era poder de ditadura, onde a nação não tinha vez nem voz, onde o povo não tinha vez nem voz também. O rei era a lei. Era governo de linha vertical onde tudo descia de cima, dos deuses e das deusas que estão “lá em cima”. Porém, nos séculos 18 e 19 o mundo evoluiu para que os governos não governassem em linha vertical mas em linha horizontal, escutando a voz e as petições das nações. Era já o governo da democracia. Foi isto que falou uma vez o presidente do Brasil Luis Inácio da Silva Lula, na 5ª Conferência nacional dos Direitos da Pessoa Deficiente: ”Nós não queremos governar em linha vertical, com uma voz que vem só de cima, mas em linha horizontal, ouvindo a voz e as necessidades do povo com deficiência física”.(Canal Gov. 21/07/24).

Conclusão. Para terminar, notemos também uma espécie de paralelo entre a história da Grécia antiga e a história de Israel: Israel perdeu o seu período de ouro com os reis  Davi e Salomão nos séculos V-IV, e ficou suspirando sempre para que Deus mandasse outro período de ouro igual. Como na Grécia também eles queriam esse enviado “do alto” para a  volta das antigas glórias de Davi. Era essa a missão e o significado de  messias assim como Alexandre Magno tinha sido o messias da Grécia.

P.Casimiro João     smbn

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segunda-feira, 22 de setembro de 2025

FILOSOFAR A VIDA.


 

Tudo começou pela filosofia: a “alma”, o “céu”, o “inferno”, o “demônio”, o “pecado”, o “castigo”. Os primeiros pensadores começaram filosofando a vida. No século XIX a Igreja condenou as locomotivas, a iluminação a gás, as pontes suspensas e as vacinas porque “eram contra a vontade de Deus”, e porue os sábios pretendiam se colocar no lugar de Deus. Comecemos pela “alma”. Platão foi o primeiro filósofo que pensou no elemento ”alma”. A alma era uma chama que habitava no Olimpo, a morada dos deuses. Essa chama era uma substância imortal e eterna distinta do corpo, ela era o princípio da  vida e do conhecimento. Ela pertencia ao mundo das Ideias, ela é real e imutável, e se une ao corpo de forma temporária. A alma, em Platão, possuía três partes: a racional, a espiritual e apetitiva. Numa vida ideal, a parte racional tinha que governar as outras duas dimensões, a sensitiva e apetitiva. Alma era uma substância que existe independente do corpo, sendo este uma prisão temporária para a alma. A alma anima o corpo e é o princípio do conhecimento e do raciocínio da razão, e da busca pela verdade. A alma fazia este trabalho usando a cabeça do corpo; pela dimensão espiritual a alma fabricava as emoções, as paixões, a raiva e a coragem, usando o peito do corpo; a dimensão sensitiva ou concupiscente abrangia os desejos, os prazeres e os instintos usando o abdômen do corpo. Antes de se unir ao corpo a alma contemplava as ideias perfeitas no Mundo das Ideias. O esquecimento ocorria quando se unia ao corpo, mas depois, pela filosofia e o conhecimento recuperava essas ideias. Depois de Platão veio Aristóteles, para o qual a alma não é imortal nem separada do corpo, mas um princípio de vida que dá forma e função ao corpo, tornando-se sua essência. Aristóteles também destacou três funções na alma: a função vegetativa, a sensitiva e a função racional ou intelectiva. A função vegetativa e a sensitiva estão presentes em todos os seres vivos, plantas e animais, a intelectiva só nos humanos. Para Aristóteles a alma e o corpo são uma única coisa, inseparáveis e interdependentes. Seria assim, na metafísica de Aristóteles: a alma é a “forma”, do corpo; o corpo seria a “matéria” da alma. A alma nutritiva era responsável pela Nutrição, crescimento e reprodução; A alma sensitiva era responsável pela sensação de dor e da alegria; A alma racional tinha a função da razão, do intelecto e do raciocínio. As duas primeiras “almas” são comuns a todos os seres vivos, a racional só é própria dos humanos. Conclui-se daí que para Aristóteles a alma não era elemento sobrenatural, como para Platão, mas um princípio natural e essencial para a vida. Por sua vez Zoroastro, da Pérsia, que viveu muito anos antes, entre 1.500 e 1000 a.C. pensava a alma como essência imortal do indivíduo, e após a morte seria julgada com base nas boas ou más obras. As almas boas atravessavam uma ponte para o céu, enquanto que as outras caíam no inferno, ou casa das Mentiras. E lá também havia um lugar intermediário para as almas de ações equilibradas a que os cristãos depois chamaram de purgatório.  Porém, no final dos tempos viria um Messias que reuniria todas as almas, que, purificadas, entrariam num lugar de felicidade. Estamos vendo sobre a filosofia da ‘”alma” e do “céu”. Falemos agora sobre quando se começou a falar sobre sobre “demônio”. Esta palavra começou a ser falada entre os  gregos, era uma divindade menor. Era um deus menor chamado “daimon”, que servia de intermediário entre deuses e humanos, e que podia agir para o bem ou para o mal. No antigo livro de Enoque os demônios eram os filhos dos anjos que foram deixados na Terra depois do dilúvio para levar os homens a adorar os ídolos. No livro do Gênesis fala-se nesses filhos de deuses ou anjos que depois se uniram com as primeiras mulheres e produziram os gigantes,(Gn.cap.6). Finalmente, formou-se a lenda do Apocalipse da “luta de Lúcifer”; numa batalha celestial onde o arcanjo Miguel e os exércitos celestiais lutaram contra o Anjo da luz  ou Lúcifer que queria ser igual a Deus. Derrotado, é lançado na Terra. (Apoc. cap12). Por seu lado, os rabinos judeus ensinavam nos seus segredos  que Deus criou os demônios na tarde do sexto dia mas não teve tempo de dar-lhes um corpo, porque com o pôr do sol começava o descanso do sábado. Por isso eles ficaram vagando. E então entravam no corpo das pessoas e cada um tinha uma doença para adoecer os homens. (Prado, José Luis, biblista). Sobre os princípios da humanidade, muito se tem falado nos mitos do Enuma Elish, e Gilgamesh que foram em parte copiados para o Gênesis, mas agora apresento um mito dos povos africanos: "Deus criou muitos filhos dos homens no céu. Mas um dia apareceu uma criança deformada. Como os homens se revoltassem, foram nesse instante expulsos do céu. Aí Deus se apresentou na Terra em forma de peixe. Em seguida tomou a forma de homem e tornou-se seu companheiro. Ingrato, o homem insultou a Deus, e então Deus separou-se para sempre do homem. Quando os primeiros homens saíram do pântano do caniço, o chefe do pântano mandou um camaleão levar-lhes a seguinte mensagem: os homens morrerão, mas hão de ter outra vida. O camaleão pôs-se a caminho vagarosamente. Entretanto o chefe do pântano mudou de opinião e despachou o lagarto de cabeça azul para dizer aos homens: morrereis e apodrecereis debaixo da terra. O lagarto partiu imediatamente, e em breve ultrapassou o camaleão. Quando enfim chegou o cameleão com sua mensagem, os homens disseram-lhe: vens tarde demais, o animal da morte chegou primeiro” (Altuna, “Cultura tradicional africana, apud Vicente, José Armando “A salvação na RTA, Loyola, pag.145-146). Israel sempre quis ter Deus ao seu serviço. Isso traz consequências teológicas. Israel não gerou filosofias, apenas teologismos, e estes direcionados ao orgulho de sua nação, sobre o seguinte: que Deus tinha que estar a seu serviço para derrotar os inimigos, e um dia dominar todo mundo. Tal como o atual Donald Trump de hoje, que alguns historiadores dizem ser descendente de imigrantes de judeus da antiga Baviera alemã. Comparem com o comparsa dele, Natenyahu, de Israel. Porém, na Grécia nasceu a filosofia, que bota a cabeça e a razão para trabalhar e equilibrar a mente, a escrita e as ações. E a pouca filosofia que reinou entre Israel foi tardia, e copiada da Grécia, como o livro da Sabedoria de Ben Sirac, que releu toda a Bíblia sob o prisma da “Sabedoria”, uma filosofia eclética a partir da filosofia dos gregos. A Bíblia dos Judeus não se  interessava com “céu” nem com “inferno” como o zoroastrismo da Pérsia, mas estes conceitos vieram em dado momento tardio para a Bíblia do Novo Testamento, copiando da filosofia  de Zoroastro. Na verdade, para os judeus funcionava assim: Depois da morte havia outro estágio de vida, que chamavam “dormir”, aguardando a vinda final do Messias, como afinal também no zoroastrismo. Porém esse Messias não vinha tratar de  uma vida “no céu”, mas outra vida nesta Terra, vida feliz e libertada dos inimigos da Nação que agora aprontaria todas as vinganças contra todos seus inimigos. Não seria ressurreição como nós entendemos hoje mas uma vida feliz aqui na terra de “novos céus e nova terra”(Is.65,17, e Apoc,21,1). (Cf. N.T.Wright, a ressurrição do filho de Deus, pag.590-595). Isso consta do próprio evangelho quando Pedro perguntou a Jesus o que “eles”, os apóstolos iriam ganhar depois de deixarem tudo:  “Não há ninguém que tendo deixado tudo isso não receba já neste mundo 100 vezes mais em casas, irmãos, irmãs, filhos, terras, e no século vindouro a vida eterna ”(Mc.10,28).  E ainda, no momento da despedida de Jesus, na Ascesão, qual era a preocupação dos discípulos: “É agora que vais restaurar o reino de Israel?” (At.1,6). Podemos ainda conferir o pedido dos filhos de Zebedeu: “queremos o primeiro lugar,  um à tua direita e outro à tua esquerda na vinda do teu reino” (Mc.10,37). Finamente, quando entrou em voga o termo “ressurreição”? “Ressurreição era um símbolo imponente: de “pôr de ponta-cabeça a ordem presente e marcar o começo do reinado do “Messias”, ou seja o “reinado de Israel”. Este conceito vem em todas as entrelinhas do cap.3 do Êxodo, episódio da “sarça ardente”, em Ez. Cap.37, no sentido da “destruição do “(Jo.2,19), e em Isaías cap. 53-56, quando a exaltação do servo sofredor representa a exaltação de Israel. ("Cf. Wright, o.c.p. 595). Falamos em filosofar a vida. Neste capítulo demo-nos conta que a fé vem depois da filosofia. Os elementos que mais nos impressionam e ao mesmo tempo nos incomodam vieram todos da filosofia: ALMA, CÉU, PURGATÓRIO, PECADO, DEMÔNIO, PRIMEIROS ANTEPASSADOS E "SALVAÇÃO". Isto nos diz que o cristão deve botar mais a cabeça na organização da sua vida; Há uma coisa contraditória nisso aí, é aquela atitude dos povos que nos parecem mais religiosos, como Israel, e se mostram os mais egoístas, como o povo judeu, que sempre quiseram ter Deus ao seu serviço. E porque Jesus não se pôs ao seu serviço o eliminaram.

Conclusão. É preciso filosofar a vida; não só teologizar. Porque teologizar sem filosofar cai-se num espiritualismo vazio, e muitas vezes caricato, como aquele que a “iluminação a gás, as locomotivas e as pontes suspensas e as vacinas eram contra a vontade de Deus”, a teoria que condenava esses avanços científicos no séc.XIX. Isto nos diz que a teologia vem depois da filosofia e não o contrário, como aconteceu com Agostinho e Tomás de Aquino  que se seguraram em várias filosofias para fazer as suas teologias, e como acontece com os teólogos modernos.

P.Casimiro João         smbn

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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

EXALTAÇÃO DA “SANTA CRUZ”, O PORQUÊ.

É muito bonito fazer uma festa da “Exaltação da santa Cruz”. Mas é muito difícil considerar as cruzes que vão pelo mundo de guerras, de malvadezas e de hipocrisias, como em Gaza, Ucrânia, e as fomes que daí resultam. Em segundo lugar, nesta festa há dois motivos de política, um do mundo, outro da Igreja. O “mundo”, leia-se os “políticos” dizem; “o povo tem que sofrer para nós sobreviver”. A Igreja diz que o povo tem que sofrer para ir pro céu. E botam aí a vontade de Deus. E assim se formou a teologia do sofrimento, a vontade de Deus. Para os políticos é o dinheiro, para a Igreja é a vontade de Deus. Que Deus manda os sofrimentos, e quis o sofrimento de Jesus. Ora, nunca podemos dizer  isso, embora que tradicionalmente a Igreja  o falou e escreveu, até nas orações da liturgia, pelos motivos que dissemos acima. Se Jesus não sofresse seríamos salvos do mesmo modo, e os sofrimentos não vieram da vontade de Deus, mas dos homens. Logo de quebra, no Antigo Testamento fizeram o recurso às “serpentes do deserto” que “foram mandadas por Deus” para castigar o povo. É outra lenda, porque não é Deus que manda o sofrimento e nem mandou serpentes nenhumas. Sempre Deus no meio e sempre o sofrimento. Ora isso das serpentes era um conto pagão para o deus da saúde, Esculápio. E entrou no evangelho de João já mais tarde do original para uma lição do batismo para reforçar uma vida de cruz. Até porque, veja bem, se morrer um pobre cheio de sofrimentos, enterra-se em qualquer buraco. Se morrer um poderoso, vai até bispo no funeral para dizer que vai pro céu. Em vida, o pobre tem que sofrer para ir pro céu; na morte todos vão para o céu. Mesmo antigamente, quando se dizia que os maus não iam para o céu. Não deixa de ser irônico que já 1.500 anos antes de Cristo se dizia isso na religião de Zoroastro, que foi a primeira que falou de “céu”, “inferno” e “purgatório” que o purgatório iria acabar com a vinda de um messias que iria igualar todo mundo, e juntar todo mundo no reino da glória e felicidade. Então, para quê tanto sofrimento pregado? Quando o imperador Constantino concedeu liberdade ao cristianismo já se valeu da cruz com duas lendas inventadas:  numa dizia que tinha achado a cruz de Jesus na Jerusalém destruída depois de 300 anos; a outra que tinha visto no céu uns raios de luz em cruz. Aqui se valeu destas duas lendas para implementar o seu império que estava-se desmoronando: primeiro implementando o seu poder político pela cruz agradando aos cristãos, depois juntando os dois poderes, o poder político da cruz para o pobre e a teologia da Igreja para o sofrimento do povo. Deve ter vindo daí o célebre ditado que o mundo cristão esteve sempre entre a cruz e a espada.

Conclusão. Lemos nas linhas e entrelinhas dos escritores biblistas e teólogos de hoje que nos dizem que todo o Antigo Testamento é uma grande epopeia política. E que o novo é pelo menos três quartos. Situação que adéqua com este tema das “serpentes” venenosas e “teológicas” aportado para a festa da “exaltação da santa cruz”.

P.Casimiro João        smbn      www.paroquiadechapadinha.blgospot.com.br