segunda-feira, 17 de março de 2025

BÍBLIA IDOLATRADA, VALIDADE DO ANTIGO TESTAMENTO.

Não é novidade que havia validades de prazo do Antigo Testamento. Essa descoberta não é só da visão teológica e da crítica atual, mas “já foi manifestado por autores de diversos escritos do Novo Testamento, pois há partes do A.T. que foram abrogadas, outras deixaram de ser normativas e outras foram relativizadas ou corrigidas, especialmente as leis do Pentateuco” (Eduardo Arens, “A Bíblia sem mitos” Paulus, 2014, pag.199). Sem contar que teólogos antigos como Marcião excluíam do seu cânon o Antigo Testamento. Partes que foram abrogadas não é difícil de encontrar, como Circuncisão. Abluções, Leis sabáticas, todas as leis de morte para “pecados sexuais” (Lev.19,20-29); leis de morte e apedrejamento. E pecados que eram castigados com fogueira, “os três serão queimados vivos” (Lev.20,14). Outras que deixaram de ser normativas, como sacrifícios de animais, cultos e suas cerimônias e suas vestes e leis de sangue. E leis relativizadas, como de gênero, de todo tipo de exclusão por conta de raça, de riqueza, doença, ou pobreza ou gênero. Assim como maldições (Lev.26, 15-46). E também leis de escravidão que permitiam a venda de pessoas como escravas (Lev.25,44-54). Todas estas situações tiveram seu tempo que dependia da cultura atrasada e primitiva da humanidade e dos judeus. Acabou o prazo de validade. Embora que a própria Igreja tivesse imitado até há bem pouco tempo essas situações de morte, de queima etc. pelos séculos XVI até XVIII. Isto nos leva a ver que seria incômodo afirmar que estas eram “palavra” de Deus e “ordens de Deus”. Eram palavras e ordens das pessoas humanas daquela época primitiva, que se atribuíam autoridade com coisas tão odiosas. E não iríamos dizer que essas autoridades eram constituídas por Deus, mas nasciam de relações primitivas de como os povos entre si se organizavam, tanto na ordem social como na religião. E nem que essa religião e essa autoridade vinha de Deus porque se fosse de Deus, seria  Deus que era o culpado. Como vimos noutra página, cada povo teve sempre uma religião e seus sistemas religiosos, assim como teve uma política e seus sistemas políticos.  Tanto entre judeus como não judeus. Já vimos o que é religião e o que são sistemas religiosos: religião é a busca de Deus e de obediência à consciência; sistemas religiosos são as formas e as formatações de como exprimir e manifestar a amizade com Deus, ou o temor, ou o louvor, e “aplacar” Deus para ele não “castigar”, e depois agradecê-lo. E isto inclui gestos, ofertas de animais, danças, e livros que contam as coisas de cada época, e as louvações ou sacrifícios de cada época, que mudavam segundo as circunstâncias e os entendimentos de cada época. É isso que estamos detectando também na Bíblia, que faz parte desses sistemas religiosos universais. Vejamos alguns exemplos de coisas que acabaram com o tempo na Bíblia, além do relatado atrás: A poligamia(vários casamentos) praticada por todos os reis de Israel; a facilidade do divórcio, como ficou escrito no Deuteronômio, e como  era praticado por todo o judeu: “Se um homem toma uma mulher e se casa com ela, e resulta que esta mulher não ache graça a seus olhos porque descobre nela algo que lhe desagrada, lhe redigirá uma ata de repúdio, colocará na mão dela e a despedirá de sua casa” (Dt.24,1-5). Eis o que diz Eduard Arns a respeito: “A Bíblia não é um livro onde se encontram respostas a todos os problemas, tal como controle da natalidade, corrida armamentista, ecologia. Os problemas daqueles tempos não são idênticos aos nossos. Não somente isso, mas as respostas correspondem ao grau de compreensão de cada época. É assim que o problema do divórcio recebeu diferentes respostas em diferentes escritos da Bíblia (Dt.22,13; e cap.24,1-5; Mc.10,1-12 e Mt.19,3-9). As respostas estavam condicionadas pela teologia do momento e dirigiam-se a auditórios concretos daqueles tempos. A vontade de Deus para nosso momento histórico atual deve ser buscada para tempos de hoje. Os escritores bíblicos  ofereciam referências e orientações para o tempo deles. Eles não tinham condição de ensinar sobre questões de biologia, de antropologia, de psicologia social, mas para comunicar suas crenças” (o.c.p.233-234). Para terminar vejamos alguns erros da Bíblia: *A arqueologia descobriu que Jericó não era habitada nos tempos de Canaã (Js.6-9) *Nabucodonosor era rei da Babilônia, e nunca foi rei de Nínive (Jd.1,1) *Em Dn.cap.5 se dia que Baltazar era filho de Nabucodonosor, mas não era; ele era filho de Nabomid, o último rei da Babilônia. *Não foi Dário que conquistou a Babilônia, mas Ciro (Dn.6,1). *Dário não era filho de Xerxes, ao contrário, ele é que era o  pai de Xerxes (Dn.9,1). *Na arca de Noé se diz duas coisas contrárias, uma vez que entrou um casal de cada ser vivo e noutro lugar que entraram sete casais de cada ser vivo (Gn.6,19 e Gn.7,2). * Também num lugar diz que o dilúvio foi de 40 dias, e noutro lugar de 150 dias (Gn.7,12 e Gn.7,24). *Que o rei Joaquim não tinha filhos (Jer.22,19) mas quem lhe sucedeu foi seu filho (2Rs.24,6). *Em 2Sam. se diz que Davi comprou um terreno por 50 ciclos de prata, e em 1Cr. que comprou o mesmo terreno por 600 ciclos de ouro.(1Cr.21,25). Enquanto há o mandamento “Não matarás” (Ex.20,13), em Josué Deus mandou “passar a fio de espada” todos os habitantes das cidades conquistadas, inocentes ou não (Jer.10,28). Para terminar, “como poderia explicar-se que teria sido Deus quem inspirou a ideia de que a terra era plana e o centro do universo, quando sabemos que a terra é somente um planeta que gira em redor do sol, e não o contrário? Caso tivesse sido assim, Deus se teria equivocado muitas vezes e seria responsável pelos erros que estão na Bíblia” (E.Arnes, “A Bíblia sem mitos”, p.243).

Conclusão. Para o Islão o livro do seu sistema religioso é o Corão, e eles afirmam que foi escrito por Deus. Eles idolatram o Livro. Em contrapartida o Novo Testamento acabou por idolatrar também a Bíblia porque também “escrita por Deus”. Será que Deus disse uma vez uma coisa e depois outra coisa? Afinal, os dois livros fazem parte de dois sistemas religiosos. O Corão faz parte do sistema religioso deles, e a Bíblia faz parte do sistema religioso dos judeu-cristãos. Não podemos idolatrar a Bíblia.

P.Casimiro João       smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

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