segunda-feira, 6 de julho de 2020

O fim do mundo e as Seitas Milenaristas

No imaginário dos primeiros cristãos a primeira coisa que tinham sobre o Messias era que ele veio como o encarregado de trazer o castigo divino sobre o mundo, salvando os justos e vingando a morte de Jesus. “Este Jesus que vós crucificastes, e que Deus transformou em juiz dos vivos e dos mortos” (At, cap2)

Essa foi a primeira explanação colocada na boca de São Pedro logo após a Páscoa. Por outro lado, isso ressuscitava o imaginário apocalítico do Antigo Testamento iniciado com o livro de Daniel (cap. 12) e logo tomado pelos Macabeus.

Os Macabeus insistem na vingança divina e fazer ressuscitar o sangue derramado. O Apocalipse de Daniel insiste em que o povo de Deus feito servo sofrido há de aparecer glorioso vindo do céu para a vitória sobre os seus torturadores.

Este servo sempre foi o povo da Aliança, e depois o Messias, que assumiu essas dores do povo de Deus e que finalmente se manifestaria na sua descida  com glória nas nuvens do céu para vingar os inimigos.

Quando os primeiros cristãos começaram arriscando as primeiras conversas sobre a Bíblia, o ponto aglutinador era a ideia de um Messias prometido. 

Claro que além da ideia clássica da vingança de Deus anunciada e esperada ainda tinham o outro substrato de um filho prometido a Davi que seria o Messias com a finalidade de restaurar o povo derrotado em suas humilhações e cativeiros, para vingar todos os povos que o tinham oprimido, e inaugurar o reino eterno de Deus. 

Assim, ao imaginário deste Messias glorioso juntou-se o imaginário do Servo Sofredor transformado agora em juiz das nações: Eram como dois rios que se juntavam num só mar.

Este era o  imaginário que enchia as cabeças e as conversas de todos os primeiros cristãos convertidos dos judeus, e dos primeiros missionários. E como iriam transmitir isso para os pagãos que não sintonizavam e não tinham sido iniciados numa história “sagrada” como eles?

Então eles esclareciam assim: este acontecimento escatológico dos últimos dias já aconteceu na pessoa de Jesus de Nazaré que em breve voltará em glória como Filho do Homem a fim de restabelecer o reino eterno de Deus.

Pode parecer estranho, mas não era tanto, porque os ouvintes já tinham muitas histórias em que os deuses deles também morriam e ressurgiam, e celebravam essas mortes e ressurreições nos seus cultos. 

Além disso tinham sacrifícios em que na comunhão com o deus, o deus era comido na refeição sagrada, e eles assim participavam na vida desse mesmo deus.

No tocante ao retorno final, a primeira geração morreu sem ver o retorno de Cristo, e como e porquê continuava tudo do mesmo jeito? Então começaram a dividir-se: 

Uns grupos opinavam, vamos aguardando, que a data vai chegar. O segundo grupo perdia a esperança e dizia, vamos tirar o cavalo da chuva porque isso não vai acontecer nunca. Um terceiro grupo arriscava que a mesma volta de Jesus era por meio do Espirito Santo que Jesus tinha prometido. 

E o quarto grupo preferiu empurrar tudo para o fim dos tempos, se apoiando nos salmos que diziam “ Mil anos diante de Deus são como um dia, e um dia como mil anos”(Sl. 90,4).

Foi da ideia deste quarto grupo que depois surgiram as seitas milenaristas: em cada 1.000 anos esperavam a volta de Jesus.
P.Casimiro SMBN
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

Nenhum comentário: