segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Teologias que avançam com as armas; e teologias que morrem com as armas.


 

Estou me referindo a teologias e espiritualidades que elevam o cristão “acima das nuvens”, vivendo quase sem tocar os pés no chão, no amor a Deus que faz esquecer até os irmãos que vivem na mesma casa, mas num “deixa pra lá”, “não me incomode” que estou na “minha oração”.  Quando é hora de ir pro templo e pra igreja não tem como implorá-los de botar uma mãozinha numa porta que não fechou bem, ou numa janela que teimou em reabrir: “os outros que o façam”. Eu sou de Deus e não sou de me preocupar com isso e nem perder um minuto. Isso mesmo como fez um dia um sacerdote de templo em Jerusalém que seguiu com o seu coroinha atentos em não olhar para o lado. Mesmo quando passaram por um acidentado na estrada nem perguntaram se precisava de um copo de água. Quando eles chegaram no templo deram pela falta de um cristão que chegou já no final do culto e chamando à parte o rotularam de “comunista” porque só se importava com socorrer o homem acidentado, e tendo perdido assim as horas do culto (Cf.Lc10,25 ss).

Quando eles leram um dia o texto de Dt. “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda tua força e com toda a tua inteligência”(Dt.6,’) ficaram de peito inflado, se considerando uns cumpridores. No dia seguinte eles foram num comício ou num “cercadinho”. Lá eles escutaram o seu líder político, e seu ídolo contar essa história acontecida com eles, e ele comentando: “esses são dois tremendamente religiosos, mas aquele safado que ficou atrasado e perdeu o culto é um “comunista”. Eles bateram palmas e gritaram aos pulos: senhor presidente fomos nós esses tremendamente religiosos, e que deixamos o comunista pra fora porque só cuida de pobre.

Acontece que depois daquela afirmação proferida por eles da exaltação do amor de Deus, vem a outra face da moeda: “e amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lc10,27). Ninguém se deu conta disso porque esse negócio de amar o próximo seria de “comunista”.

Na verdade, há teologias que avançaram com o poder das armas, e há teologias que “morrem” com o poder das armas. As primeiras são as teologias apoiadas pelo poder dos reis, antigamente, e agora pelos políticos. Simples assim; porque de “rezar”, cuidar “das coisas da igreja”, ser padre e “cristão de sacristia” não incomoda ninguém. Porém não dizer “amém” aos poderes, não concordando com seus caprichos e ganâncias sim que incomoda, e muitos políticos já têm na boca uma jargão que essas pessoas são “comunistas”.

Infelizmente, muitas vezes a Igreja andava de braço dado com os poderes, desde que os primeiros imperadores tomaram as rédeas da Igreja, fazendo grandes doações e até presidindo concílios e nomeando bispos do seu agrado. Coisas essas que aconteceram por toda a Idade Média com o sistema feudal, continuando até na época colonial com a escravatura.

No século passado, após o concílio Vaticano II, surgiram uns bispos, e uns eclesiásticos e uns cristãos que olharam mais para o pobre e o acidentado na beira do caminho, semelhantemente como São Francisco. Escreveram e agiram junto com o povo trabalhador, nas fábricas e nos campos. A estes os governos começaram apontando o dedo e ameaçando com a cadeia, dizendo: “vocês são comunistas”. Houve até  um célebre professor e pedagogo que, perseguido como “comunista” seguiu exilado para os países da América Latina, esse foi Paulo Freire de renome internacional.

Mas isso tem uma história, vejamos. A América do Norte era governada pelo presidente Ronald Reigan que olhava o mundo cortado ao meio, de um lado a Rússia comunista, e do outro lado era ele. Tudo que não fosse igual ele, era comunista da Rússia. Ele falava para o Brasil que todo trabalhador que reclamasse dos direitos era comunista. Por coincidência, era a época da teologia da libertação, começada após o concilio Vaticano II. Então ele proibiu essa teologia na América do Norte (USA) e em toda América Latina. E após ele, a Igreja colaborou e concordou com essa proibição na época de João Paulo II e do Card. Ratzinger. Deste modo, aconteceu a confirmação da minha afirmação inicial: Há teologias que avançam com as armas e há teologias que morrem com as armas.

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

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