“Pedras podem
transformar-se em pães”? (Mt.4,3) Sim, as pedras do povo se transformam em
riqueza e muito pão para outros que têm cargos de governo nas nações. O povo
tem muitas pedras e muitos espinhos na sua vida. “No meio do caminho havia uma
pedra” (Drumomond de Andrade). Parafraseando
podemos dizer que no meio do caminho dos pobres não há somente uma pedra mas
muitas pedras e muitos espinhos dolorosos. Nestes casos a fragilidade de uns é glória
de outros. Fala-se muito em estupros de vulneráveis. Sim, aqui quem é vulnerável
é a nação, e muitos governantes estupram a nação e o povo. Desde 2014 que as
autoridades das cidades costeiras do Brasil (Baixada Santista) foram avisadas
dos riscos de deslizamentos e nada fizeram. Em Petrópolis, autoridades ficaram
com os recursos destinados aos atingidos pelos deslizamentos de 2021 conforme
afirmado pelos canais televisivos. Dois dias antes dos deslizamentos da Vila
Sahy de São Sebastião, os prefeitos foram avisados, porém nada fizeram, e
deixaram o Carnaval correr, mas em vez do carnaval quem correu foram as águas
que mataram 74.
Em segundo lugar, para
nos colocarmos no início da quaresma, seria possível Jesus “subir na parte mais
alta do Templo para se jogar” (Mt.4,5). Reflexão: O analfabetismo geral se
transforma em domínio fácil para alguns, e ainda mais usando a religião para
seus fins perniciosos. Temos outra derivante que encerra a parábola das
“tentações de Jesus”: No cimo de uma montanha foram oferecidos a Jesus “todos
os reinos do mundo e sua glória se ele adorasse o demônio” (Mt.4,8). Na verdade
muitas pessoas, levadas pelas ganâncias e por muitas alienações facilmente se
entregam nas mãos de políticos habilidosos, gananciosos e perversos para
adorá-los. Eles até podem dizer assim: “esse deus que vocês adoram não lhes dá
nada mas eu darei tudo que vocês precisam”. Eles pretendem que sejam adorados
pelo povo.
No outro lado da
medalha, uma oração da quaresma fala assim: “que a Igreja e seus ministros não
cedam à tentação do poder, da glória e da riqueza”. Não será que a Igreja terá contribuído
muito para que em vez do povo adorar a Deus, adore as pessoas, achando que por
uma roupona vistosa são adorados, e pela riqueza, e pela glória, e pelo poder,
igualmente como os políticos? Os fariseus receberam uma advertência de Jesus
quando lhes disse: “ vocês trazem largos filactérios e estendem largas franjas
nos seus mantos, e amam os primeiros lugares nos banquetes e as primeiras
cadeiras nas sinagogas” (Mt.23,5).
Na verdade, a Igreja
está no patamar dos poderes políticos, no outro lado da medalha, por todas as
vezes que as pessoas do mando usam roupas vistosas, poder, glória e riqueza. E
em vez de servir, se oprime o povo. Porque a riqueza dá poder, as rouponas dão
poder, e com o poder vem a glória. Em contrapartida, há uma oração rezada todos
os dias, que diz assim: “não nos deixeis cair em tentação”. No entanto, quanto
mais se reza essa oração todos os dias, mais se busca a riqueza, mais se buscam
roupas vistosas, mais se busca glória e mais se busca poder. Em todos os níveis
da Igreja. Aliás nós sabemos que as vestes da Igreja são uma herança do Império
romano. Quando o império romano acabou passou para a Igreja em honrarias, roupagens,
brasões e títulos. O poder do imperador passou para o Papa, e como imperador o
Papa dizia “eu mando em todos e ninguém manda em mim” (Inocêncio XIII), e o
título de “príncipe” passou para os bispos, como “príncipes da Igreja” e o Papa
como o “rei dos reis” (www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
de 24/10/21).
Ainda está aí um caso
bastante escondido que conta o seguinte: No encerramento do concílio Vaticano
II houve uma resolução para que fosse vendida a Tiara de três coroas de ouro
usada pelo Papa, e de fato Paulo VI vendeu-a para entregar o dinheiro aos
pobres da rua da cidade de Roma e começou usando uma tiara mais simples e sem
ouros. Ótimo que foi bom. Porém, dali a pouco mais de 20 anos um dos
sucessores, em 2009, Bento XVI lembrou que nos baús antigos do Vaticano havia
uma Tiara ainda mais rica, da época dos imperadores e cheia de ouro, conseguiu
essa coroa e começou usando, igual a outra vendida. (Hans Kung, “A Igreja tem
salvação?”, p.228).
Hoje em dia há alguns
candidatos ao seminário que quando
voltam à sua cidade depois de um ano no seminário da
diocese de Frederico Westphalen (RS) regressam com vestes clericais semelhantes
a cardeais. A xarada é que um paroquiano deu o seguinte comentário: “Como? Aquele
menino saindo há pouco dos cueiros e já vem vestido de cardeal?”
Conclusão.
Há uma oração dos cristãos que reza assim: “o pão nosso de cada dia nos dai
hoje”. Hoje quem tem a barriga cheia diz que quem cobra pão para os pobres é
comunista. Porque não querem que ninguém mexa com eles. Na época de Jesus
chamavam a Jesus de belzebu, e que tinha belzebu; porque ainda não havia esse
termo de comunista. Na verdade, quem não tem pão não tem poder. Muito
menos riqueza, glória e vestes de grife. A Igreja e o Estado, quem sabe,
poderão achar que o pão para os pobres é um favor, mas para eles é um direito.
E é sempre bom lembrar a invectiva de Jesus: “Ai de vós fariseus hipócritas que
trazeis largos filactérios e largas franjas nos vossos mantos, e amais os
primeiros lugares nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas”
(Mt.23,5).
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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