sábado, 1 de abril de 2023

Domingo de Ramos e o início dos evangelhos.


 

Os primeiros escritos dos evangelhos eram a narração da paixão. Estes escritos, que certamente têm algo a ver com a fonte “Quelle” fizeram pela primeira vez a catequese coligida que fez a raiz e o broto do evangelho de Marcos, ou ‘São Marcos’. Daí a cópia passou a fazer parte da outra comunidade onde se desenvolveram as catequeses do evangelho chamado de Mateus e de Lucas. Mas sempre as origens da vida de Jesus onde o carro chefe era a paixão, morte e ressurreição.

Hoje em dia no domingo de Ramos é apresentado ao povo cristão o evangelho, ou a Paixão segundo Mateus, cap.27, 11-54.   Impressiona-nos a seguinte temática, como um refrão repetido, ou a tecla fundamental da música: Quando Pilatos perguntou ao povo se era pra soltar Jesus ou Barrabás, qual dos dois quereis que eu solte? A multidão gritou: Barrabás. “Que farei com Jesus, que chamam de Cristo?” –“Que seja crucificado”; “Mas que mal fez ele?” –“Eles porém gritaram com mais força: seja crucificado”. Pilatos lavou as mãos e disse: “então esse problema é vosso”.

São três as vezes em que Pilatos se mostrou como inocente da morte de Jesus. E as culpas todas atribuídas aos Judeus. Além daquele detalhe hilárico da mulher de Pilatos pedindo que “não se envolvesse com esse justo”. Porquê isto? Todos os estudiosos recentes dão o seguinte motivo sobre a maneira de inocentar Pilatos sobre a morte de Jesus: Os evangelistas não queriam impressionar os romanos, mas adulá-los. Tiveram todo cuidado para não atribuir as culpas a Pilatos, mas aos Judeus e às autoridades dos judeus. Justamente, porque em causa estavam as primeiras comunidades que estavam se formando entre os romanos no meio dos quais viviam como povo colonizado e não independente. E por outro lado a admiração é maior por quanto os historiadores sabem que Pilatos era um terrivel assassino e governador tirano e cruel com histórico de muitos massacres em cima da população judaica como quando mandou massacrar centenas de sacerdotes no templo quando protestaram contra a imagem de Cesar Augusto que tinha colocado no Templo. A estratégia era portanto adular e agradar os romanos. E como estes originários escritos da paixão foram o broto original que deram sequência ao resto dos evangelhos, aí se criou o quadro e o formato para outras narrativas seguintes da vida de Jesus. Vimos aqui em outros blogs o exemplo das curas do servo do centurião romano apresentado com tanta fé, que Jesus “não tinha encontrado tanta fé em Israel” (Mt.8,10). Não só, mas logo aquela afirmação ainda na hora da morte de Jesus quando também outro centurião teria exclamado: “verdadeiramente ele era filho de Deus” (Mt.27,54). Estratégias grandes para apelar à conversão dos cidadãos romanos para não perseguirem  os cristãos e para entrarem para as comunidades que estavam começando. Sempre inocentando os romanos e suas autoridades e culpando os judeus e suas autoridades.

Não podemos deixar de lado aspectos derivantes da história do Antigo Testamento que foram colocados nas cenas da Paixão. Vou-me reportar apenas aos elementos da escatologia judaica tradicional, em que “houve uma grande escuridão sobre toda a terra”; “A terra tremeu e as pedras se partiram; os túmulos se abriram, e os corpos dos santos falecidos ressuscitaram, saindo dos túmulos depois da ressurreição de Jesus e apareceram na Cidade Santa e foram vistos por muitas pessoas” (Mt.27,51-34). Estas afirmações são da escatologia antiga judaica sobre o que os antigos imaginavam que ia acontecer no fim dos tempos (Cf. Joel, 2, 10.31 e Is.26,19 e 13,10). Isto não foi verdade, são só imaginações antigas. E até porque o Novo Testamento tinha esta proposta que o fim dos tempos antigos tinha chegado, e começavam os novos tempos, o tempo da restauração e redenção com a morte de Cristo, o que notamos noutro sinal, que “a cortina do Templo se rasgou de alto abaixo em duas partes”(Mt.27,51).

Conclusão. Chamamos aqui as palavras de Pio XII quando escreveu: “A regra suprema para uma interpretação correta dos textos bíblicos consiste em encontrar e definir o que o autor quis dizer e estar atento aos gêneros do discurso ou de escrita que ele utiliza” (Encíclica Div. Aflante Spiritu,1943). Boa Semana Santa.

P.Casimiro João   smbn                

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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