Não está falado que
eram três, mas “alguns” (Mt.2,1). Também não está falado que eram reis, mas "alguns magos”(id).
Sobre ver uma estrela, temos o primeiro link sobre personalidades famosas que,
naquela época, também eram contempladas com aparição de estrelas no seu
nascimento, por ex: Apolônio de Tiana, o taumaturgo, e imperadores como
Augusto, Tibério, e Nero. Sobre Herodes, diz um teólogo e historiador: “Devemos
observar que a cena é historicamente improvável”. Porque Herodes não iria
consultar os sacerdotes e escribas, com quem andava sempre em guerra. E não se encontram referências a esse episódio da morte de crianças por Herodes em nenhum escrito dessa epoca.(Warren
Carter, o Evangelho de Mateus, Comentário sociopolítico e religioso, pag.113). Em
vez disso “progressivamente aparecem ecos da história de Moisés nesta cena
quando Jesus revive eventos no passado de Moisés e Israel, um novo Êxodo”
(o.c.p.117). Vale dizer, Mateus fez um novo link com o êxodo indo buscar o
episódio da matança dos filhos dos hebreus no Egito e transportando para este
capítulo (Cf.Êx.1,15).
Sobre os “presentes”
oferecidos pelos magos temos um outro link, indo buscar ao terceiro Isaías
quando descreveu a alegria da volta do povo hebreu no regresso do cativeiro da
Babilônia; e o profeta, que também é poeta falou do coração batendo forte, pois
com esses retornados “chegarão as riquezas de além-mar e mostrarão o poderio de
suas nações; será uma inundação de camelos e dromedários de Madiã e Efa a te
cobrir; virão todos os de Sabá trazendo ouro e incenso e proclamarão a glória
do Senhor” (Is.60,6). Mateus faz então esta alusão introdutória fazendo os link
que lhe convinham antes do inicio da vida de Jesus, no cap.3, que começa com a narração
do batismo. Tanto ele como Lucas e João fazem estes links com a sociedade
antiga e com o Antigo Testamento. Para introduzir o início da vida de Jesus e
para unir Jesus com a história universal e do povo bíblico. Os autores clássicos
e o imaginário cristão têm no pensamento que o Antigo Testamento era uma
preparação para Cristo. Porém o atual pensamento é outro, como afirma Karl Rahner:
“Sobre Antigo Testamento como ‘preparação para Cristo’ é mais uma experiência
da suposta necessidade da redenção; mas não se torna propriamente claro se e de
que maneira essa preparação possa constituir mais do que uma experiência da
suposta necessidade de redenção; não se torna claro como então se deva entender
esta preparação se nos lembrarmos de que as gerações do gênero humano se sucedem,
como também se desligam umas das outras de sorte que em certo sentido cada uma
delas há de começar tudo de novo” (K.Rahner, Curso Fundamental da Fé,
pag.201-202).
O escopo de Mateus nessa
narração introdutória não é primeiramente histórico, i.é, se as coisas aconteceram
assim ou não, mas é teológico, ou seja, é a mensagem a transmitir, que é o
chamado de todos os povos para a família de Cristo e a salvação em Cristo, como
dito por Paulo: “Este mistério Deus não o
fez conhecer às gerações passadas mas acabou de o revelar agora pelo Espírito
aos seus santos apóstolos e profetas: os pagãos são admitidos à mesma herança,
são membros do mesmo corpo e associados à mesma promessa em Jesus Cristo por
meio de Evangelho”(Ef.3,5-6). Deste modo esta mensagem imbrica naquela
outra que, assim como Moisés foi o pastor e guia do Antigo Testamento, assim
Jesus Cristo é o novo Moisés, pastor e guia do Novo Testamento.
Conclusão:
Esta mensagem delineada no Prefácio de Mateus na introdução da vida de Cristo é
o mote que perpassa transversalmente em todas as páginas do evangelho de
Mateus.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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