Falamos noutra página da encarnação ou
união hipostática cósmica. Falemos agora da revelação cósmica.
A nossa tese, e a tese de Karl Rahner é
a seguinte: A história universal do mundo significa a historia da salvação. A
história da salvação e revelação acontece onde quer que esteja acontecendo a
história humana individual e coletiva (K.Rahner, Curso fundamental da Fé, p.176
e 179). Isto nos conduz a que a história é tripartite: história humana,
história da salvação e história da revelação. A primeira afirmação é que a
auto-oferta de Deus é aquela em que ele se comunica absolutamente à totalidade
do homem, significando que a história universal do mundo significa história da
salvação. Toda a história é também por isso mesmo história da revelação. Onde
quer que a história humana seja vivida e sofrida lá está acontecendo a história
da salvação e da revelação, e veja bem, não somente onde essa história seja
vista de forma explicitamente religiosa, mas em toda a sua abrangência. Na
verdade, a mediação dessa experiência transcendental não precisa
necessariamente ser vista e vivida como explicitamente religiosa, basta ser
humana.
A segunda afirmação: Quando falamos
história e história universal de salvação, ela é coexistente com a história
universal do mundo. Trata-se aqui da universalidade da salvação, e de quebra,
da revelação. Aliás, podemos deduzir
esta verdade de várias referências do ensino dogmático cristão. Em virtude da
vontade salvífica universal de Deus não temos o direito de limitar o evento
real da salvação à explícita história da salvação narrada no Antigo e no Novo
Testamento, pois a Igreja evoluiu do axioma “fora da Igreja não há salvação”
proferida por S.Justino no séc. II para o axioma “fora da Igreja muita
salvação” um dos corolários do concilio vaticano II (L.G. 16). Aí nos avisa o teólogo:
“Esta afirmação poderá parecer surpreendente a um primeiro momento para o
cristão acostumado a ouvir que a história da revelação inicia-se com Abraão e Moisés, ou
seja, com a história da aliança no Antigo Testamento. Uma compreensão vulgar do
cristianismo, de modo geral e sem cuidados, identifica a história explícita da
revelação no Antigo e no Novo Testamento e sua escrita no Antigo e no Novo
Testamento com a história da salvação simplesmente. Pois aqui nos interessa
afirmar que a história da salvação como história da revelação em sentido
próprio ocorre em todo lugar onde está ocorrendo a história coletiva e
individual do gênero humano” (o.c.p.179).
Uma pergunta é necessária: Uma vez que
a revelação não é exclusiva da historia de Israel, perguntamos: haverá alguma
diferença entre a “revelação bíblica” e a “revelação universal ou cósmica” de
que estamos falando? A resposta empírica é a seguinte: “Tem a historia da
revelação transcendental e histórica casos bem e mais bem logrados da
necessária autoexplicação dessa revelação transcendental”. Um desses casos bem
sucedidos foi a revelação bíblica, o que não tira o mérito da revelação das
outras civilizações e culturas. Uma característica da recepção da revelação é
que possa chegar à consciência de maneira reflexa dessa história que é coextensiva
com a história universal. O povo bíblico expressamente teve consciência muito
aguda, mas uma consciência muito iluminada também foi apanágio de outras
civilizações. Neste particular, a “vontade salvífica de Deus que na dogmática
católica contrasta com o pessimismo de Agostinho, é caracterizada como
universal, i.é, prometida e ofertada a todo homem, indiferentemente do tempo e
do espaço e implica o que chamamos de visão beatífica. (Cf. o.c.p.181).
No Novo Testamento pode ter havido o
seguinte engano quando se falava de “ex opere operato”, i.é, uma vez posta uma
ação resultava a salvação, o que é uma falácia que beira a magia. “Uma pessoa
que não se realizasse na liberdade e uma salvação que fosse realidade operada
só por Deus são conceitos contraditórios. A salvação não realizada na liberdade
não pode ser salvação” (o.c.p.182). Estamos falando duma atividade chamada
autocomunicação de Deus por parte de Deus, e numa autotranscendência do homem.
Não aconteceu apenas nos tempos de Israel e naquelas pessoas determinadas, mas
em todos os tempos e raças. Afirma ainda o teólogo: “A experiência
transcendental tem uma história, e não ocorre esporadicamente de tempos a
tempos inserida na história, porque a experiência transcendental tem uma
história idêntica com a história humana e não ocorre apenas em determinados
pontos.Tudo isto que estamos apontando adéqua com os últimos documentos da
Igreja”(o.c.p.187). Vem nos seguintes documentos do concílio vaticano II: Lumen
Gentium, 16; Gaudium et Spes, 22 e Nostra Aetate, 1 ss.
Conclusão.
Os historiadores das religiões constataram a existência do profetismo e de
profetas nas civilizações anteriores ao judaísmo. Até porque “nas pessoas que
nós chamamos de ‘profetas’ vem a ser verbalizado algo que em linha de princípio
existe em todos, também em nós que não nos chamamos de ‘profetas’. O profeta,
considerado de maneira teologicamente correta, não é nada mais do que o crente
que logra expressar corretamente sua experiência transcendental de Deus”
(o.c.p.194). Para termino da nossa reflexão, não há dúvida de que seres
inteligentes habitam o imenso espaço cósmico. E o mesmo Deus que se
autocomunica ao ser humano que há 5 bilhões de anos passeia neste pequeno espaço
chamado planeta terra é o mesmo que se revela e se autocomunica a esses
admiráveis seres cósmicos. Aí a revelação que já é cósmica vai ser mais cósmica
ainda.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspopt.com.br
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