“Este mundo é um
palco, cada individuo cumpre o seu ato e dá a continuação do drama a outros
indivíduos. É o todo que é o drama. Os indivíduos, na verdade, depois de
cumprir seu papel aqui, não saem de um drama, que no seu conjunto continua a
marchar sem fim e, por assim dizer, em um palco firmemente montado continuam
sempre dando a outros indivíduos espirituais a possibilidade da apresentar o
seu ato” (K.Rahner, Curso fundamental da fé, p.514).
Este trecho leva-nos a
pensar na questão do cristão perante o pluralismo da existência humana. Na 1ª
Carta de Paulo aos coríntios ele limita a vida do homem cristão e da mulher
cristã ao “sagrado” e ao “profano”: “Meus
irmãos, eu gostaria que estivésseis livres de preocupações. O homem não casado
é solícito pelas coisas do Senhor e procura agradar ao Senhor. O casado
preocupa-se com as coisas do mundo e procura agradar à sua mulher e assim está
dividido. Do mesmo modo a mulher não casada tem zelo pelas coisas do Senhor e
procura ser santa de corpo e espírito. Mas a que se casou preocupa-se com as
coisas do mundo e procura agradar ao seu marido”.(1Cor.7,32-34).Esta
reflexão de Paulo é fruto do dualismo da sua época que separava Deus e o mundo,
Deus e marido, Deus e esposa, espírito e corpo como coisas opostas e proibidas,
filosofia e antropologia agora fora de época e que perdeu a validade de prazo.
Ele louvava a mulher solteira pelo fato de estar “livre”para servir o Senhor,
como se o Senhor fosse inimigo do “mundo” e do “marido”, e vice-versa o homem
solteiro, como se o Senhor fosse inimigo do “mundo” e da “mulher”. Enquanto que
existe uma unidade: servir o marido e servir o “mundo” aí se serve ao mesmo
tempo o Senhor, como uma medalha com verso e reverso. Quem quisesse usar esses
versículos para uma pastoral familiar e tomasse à letra poderia cair numa
grande alienação e alienar o auditório. É por isso que a Bíblia cria muitas
armadilhas e pode iludir muita gente. Na verdade, o homem cristão e a mulher
cristã são confrontados com o pluralismo da vida, com uma vida plural, e nessa
pluralidade devem realizar a unidade do seu entendimento e do seu agir, e não
devem cair na tentação de querer agir como uma barata correndo em todas as
direções sem encontrar um rumo de uma unidade: “onde eu encontro Deus se eu tenho que dar conta do meu balcão? e dos
meus relacionamentos com agnósticos, com ateus, e com gente que faz assédios? e
dar conta do meu namoro, e dos meus relacionamentos com o marido? e logo depois
como posso encarar a igreja, a missa e as tarefas dos meus compromissos
religiosos?...”
Na verdade, o cristão
tem o direito e o dever de se entregar tranquilamente e cheio de confiança ao
pluralismo de sua própria existência. “E de experimentar o amor e a morte, o ódio
e a ternura, sucesso e desilusão. E no meio de tudo isso, cheio de confiança,
deixar-se interpelar pelo próprio Deus que quis este pluralismo do seu mundo a
fim de que o homem faça ideia de que tudo isso está envolvido pelo mistério
eterno. E algumas vezes o homem cristão e a mulher cristã tem que contar com
uma realidade plural obscura, cheia de trevas e incompreensível” (o.c.p.421), onde
terão ocasião de exercitar a calma e o discernimento do seu espírito. O cristão
é o que aceita tranquilamente a diferença entre o que somos e o que devemos ser,
como tarefa. E nisto supõe a relatividade do presente. E estará habilitado a
dizer um “não” a alguma coisa e um “sim” a outra coisa.
Esta diferença faz
parte do palco da vida humana e coloca o cristão em pé diante dela.
Precisamente o homem cristão e a mulher cristã aceitarão tranquilamente este
palco da vida, ou seja, a distância entre o que somos e o que devemos ser;
assim como vemos o mundo como é e como devia ser e tomar uma atitude de
“aceitar-se”. Aceitar-se quando erramos e aceitar-se quando acertamos, sabendo
de antemão que nem sempre vamos acertar. É maravilhosamente confortante fazer a
cabeça pensando que não se é perfeito. E ainda mais cultivando a resiliência e
a predisposição para prosseguir mais alto.
O homem cristão e a
mulher cristã saem sempre de sua própria falha e se voltam para o que lhe está
adiante. Na incompreensibilidade de sua liberdade por vezes cheia de trevas e
escuridão sabem-se continuamente envolvidos pela graça de Deus e que sempre
devem refugiar-se nessa graça. E são sempre aqueles que jamais fazem cálculos
perante Deus mas, pelo contrário, entregam a Deus e à sua graça todo cálculo,
todo esforço moral, uma vez mais sem a pretensão de fazer contas perante Deus”
(o.c.p.475). Deste modo avaliamos aquela teologia de que falamos embasada numa
cosmologia tradicional e fora de validade de prazo. Para manter seu otimismo, o
homem cristão e a mulher cristã poderão afirmar em sua fé cristã e na esperança
coletiva a ela vinculada que o mundo no seu conjunto está salvo, que o drama da
história da salvação terá em seu conjunto êxito positivo, que Deus já superou
por Jesus Cristo crucificado e ressuscitado o “não” dito pelo mundo com o
pecado” (o.c.p.479).
Conclusão.
K.Rahner encerra o seu livro “Curso fundamental da fé” com o dito que formou o
título desta matéria, “Este mundo é um palco”. E o cantor Francisco Marinho, natural de Chapadinha tem
um título “A vida é um show: eu sou o palco e a vida é o show”. Vejamos mais
algo da letra do hino: “O ar que eu
respiro faz parte do show, e os instrumentos que tocam é a paz e o amor; Jesus
é o artista; eu sou o palco e a vida é um show. Respeitar a vida é simples
assim: saber dar valor à arte e à cultura: viver o amor. É deixar o amor tomar
conta de ti: a vida é um show. A vida é dez e até mais de cem: a vida é uma
festa e não tem pra ninguém: a vida é linda, a vida é um show”. Para ouvir
digite o site: (www.franciscomarinhoreligiao).
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário