Há duas ordens de
conhecimento: o saber da fé e o saber da razão.(G.Sp, 59). O saber da fé baseia-se no testemunho de experiências religiosas
confiáveis de primeiros fãs de Deus que tiveram a capacidade de transmiti-las
com sua vida e suas comunicações verbais. O saber da ciência baseia-se em
métodos de investigação empírica, matemática e histórica. Na Grécia antiga,
Platão considerava o corpo como prisão da ama; a vida espiritual tinha como
meta a libertação da alma. Para Platão e Plotino o mundo material era apenas
uma sombra. A verdadeira realidade era o “mundo espiritual”. Digamos
já de início que Platão cortava toda a possibilidade de acreditar na ciência e
nos seus métodos, para ele só havia o valor da “experiência religiosa”, uma vez
que o “mundo material” era “uma sombra”, e a verdadeira realidade era o “mundo
espiritual”. Ainda faz parte do imaginário de 90% por cento de cristãos
este espectro da mente humana que veio desses primeiros pensadores gregos.
Entre cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis de ambos os
gêneros. Do Antigo Testamento e do Novo Testamento. E essa era a eclesiologia
dominante antes do vaticano II, época da cristandade, jurisdicista e
triunfalista. Quando o século 19 teve um despertar deste imaginário milenar
para restabelecer o valor do mundo material, a voz da Igreja, pela voz do Papa
Pio IX promulgou o Syllabus, condenando todas as novas filosofias que começavam
a pulular, se afastando do tal Platão e Plotino. Aquelas raízes da filosofia de
Platão e Plotino criavam uma separação escandalosa entre corpo x alma; terra x
céu; mundo x Igreja; profano x sagrado; natureza x graça. O vaticano II
abandonou essa postura para afirmar que Deus e o mundo não são rivais, mas o
mundo é obra de Deus, ele é constitutivo da Igreja e do cristão. Isto leva ao
problema candente sempre atual, queiramos ou não, do binômio fé e ciência,
teologia e razão.
A teologia é um
serviço à fé e uma instância crítica necessária para evitar que a prática
religiosa degenere em fideismo, fundamentalismo e fanatismo. Justamente as três
coisas que estão incluídas no imaginário do mundo recebido de Platão, como o
“corpo prisão da alma”, e o mundo “material” como uma “sombra”, e a “vida
espiritual” como a “verdadeira realidade” donde, dessas três raízes, se gera o
tal fideísmo, fundamentalismo e o fanatismo. É aí que entra a teologia. A
teologia vem dar o entendimento entre o mundo da ciência e o mundo da fé. Os
dois campos têm suas atribuições e seus limites. O mal que havia nos postulados
dos primeiros ditados do tal Platão era que o estudo do espiritual devida
abranger, regular, organizar e dominar o estudo do mundo da matéria. Veio daí
que a ciência tinha que ser escrava da fé, porque o mundo material era apenas
“uma sombra” e a vida espiritual “tinha como tarefa libertar a alma”. Estava
feita a plataforma para que a fé dominasse a ciência, e que sempre a fé tivesse
a última palavra, aumentando o desprestigio da Igreja como aconteceu com a
publicação da encíclica “Humanae Vitae”
de Pio XII. E assim sucedeu em toda a Idade Média e Antiga, até o despertar de
novo mundo e um novo modo de entender o mundo e a fé. Foi aí, no séc.19, quo
Pio IX se apavorou e pôs a Igreja em pé de guerra contra a ciência. Foi nessa
época que a ciência se independenciou da fé e que os cientistas fizeram a
seguinte afirmação quando perderam a paciência vendo que a Igreja teimava
sempre em se imiscuir em todos os caminhos da ciência, e colocava a ciência
numa camisa de forças: Quanto maior a fé,
menor a ciência, e vice-versa” (Dawkins). Nessa época a fé passava a ser
vista como um estágio a ser superado pela ciência, no dizer de Augusto Comte,
porque só atrapalhava a progresso da sociedade. Na verdade nesta época e depois
de Galileu Galilei não só se passou a questionar a autoridade da Igreja mas a
própria existência de Deus. Se uma Igreja assim era o caminho para chegar a
Deus, esse caminho não levava a Deus nenhum e era melhor ficar sem a Igreja e
seu Deus. Os cientistas dispensaram a hipótese de Deus ao mesmo tempo que dispensaram a intervenção da Igreja. Vejamos
alguns passos da ciência nos últimos séculos: 1642 a máquina de calcular por
Blaise Pascal; 1897 a telegrafia sem fio, por Morse; 1902 o rádio; 1925 a TV;
1934 o radar; 1964 o laser e calculadoras eletrônicas; 1967, primeiro
transplante de coração; 1972, inicio da engenharia genétia por Herbert Boyer e
Stanley Cohen; 1957 lançamento do primeiro satélite não tripulado em volta da
terra; 1960, os foguetes teleguiados; 1961, a primeira viagem tripulada em
volta da terra; 1968, a primeira viagem tripulada em redor da lua; 1969, a
primeira alunissagem feita pelo homem; 1942, a energia nuclear; DNA, em 1953
por Francis Crick.
A Igreja, em todos os
tempos reivindicava para si o direito de sentenciar sobre verdade e falsidade
da pesquisa científica. E a marcha vitoriosa da ciência foi por isso
erroneamente interpretada como derrota da crença em Deus. Mesmo que agora vá
respeitando paulatinamente o direito inalienável da ciência, mesmo assim fica
sempre uma tradição de se expressar nas categorias da metafisica medieval
estranhas à cultura contemporânea determinada pela moderna tecnologia. Na
verdade, todos os conceitos ou imagens de Deus, por mais adequados que nos
pareçam, não são Deus”. Santo Anselmo de Cantuária dizia que Deus
é sempre maior pois não cabe em categorias filosóficas ou científicas. (Cf. Cf.Urbano
Zilles, Desafios atuais para a Teologia, pag.29). A Igreja nunca se libertou desse medo histórico
e inconsciente da ciência, como também nunca se libertou da ambição
inconsciente de querer “controlar” a ciência e os avanços científicos. Por isso
já se criou o jargão que a “Igreja anda 500 anos atrasada”. E as boas
consciências atribuem isso à “sabedoria da Igreja”, para não dizer que essa
sabedoria é inércia, medo e paralisia.
Conclusão.
À guisa de conclusão podemos resumir a relação entre razão e fé nos seguintes
itens: 1) A fé e a razão são diferentes modos de conhecer; 2) A fé e a razão não
se podem contradizer porque o autor de ambos é Deus; 3) No homem que se abre à experiência
religiosa Deus se revela e o capacita para que possa ser um elo de transmissão
para outros humanos, tendo em vista tanto em Israel como na revelação cósmica;
4) A razão exerce papel fundamental na formulação da fé tanto nos preâmbulos
como para ilustrar por meio de comparação semelhanças e dessemelhanças. (Cf.o.c.p.82)
P.Casimiro João smbn
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