Vejamos algumas curiosidades sobre o
passado de Israel e partindo da árvore que foi o primeiro lugar de adoração,
“postes sagrados” ou tocos de plantas. Os antigos tinham no seu imaginário que
os deuses moravam nos “lugares altos”, como por exemplo as árvores. Aí eram feitas
as celebrações de nascimento, casamento, morte e luto. A essa árvore ou “poste sagrado”
era dado o nome de “asherah” que posteriormente virou deusa, “deusa asherah”, a
qual depois foi considerada a consorte ou esposa de Javé, quando Javé ganhou o
status de deus de Israel, já que o primeiro era o deus “EL, dos edomitas. Cf.
o.c.p.61 e 91. Daí partiram para os “lugares altos”, onde eles colocavam a
moradia dos deuses, já que os deuses dos edomitas e ugaríticos eram também os
deuses de Israel e moravam nos “lugares altos”. Daí vieram as construções dos
templos nos lugares altos, às vezes chamados só de “lugares altos”. Daí vieram
também as “torres” das igrejas porque Deus só podia habitar nos lugares altos.
E daí vieram as lendas da “torre de
Babel” por onde os deuses desciam mas os mortais não podiam subir. Alguns
lugares começaram a ganhar mais aglomerações de pessoas: peregrinações” festas
do outono, colheitas das frutas e festas das tendas. O chefe do culto era o pai
de família, o patriarca. E daí, algum outro ocupava o nome de “homem de deus”,
na falta do pai de família, como Samuel e sucessores, que também resolviam
problemas sociais e de guerra; foi a origem dos “Juizes” e do livro dos “Juizes”.
Avançando mais na linha do nosso tema
sobre a historicidade da Bíblia, grandes narrativas tidas como históricas,
veremos que são reflexões do tempo em que foram escritas sobre variações de
tempos passados, e tais escritos viraram epopeia. “Não há evidências históricas
sobre a historicidade do Êxodo ou algum tipo de historicidade por trás da
grande epopeia que foi construída. A narrativa do Êxodo até Números pode conter
tradições mais antigas que foram moldadas para responder a questões posteriores.
Alguns ancestrais puderam ter andado nessas trilhas mas sem nenhuma escravidão.
Não há evidências históricas sobre a historicidade do êxodo ou algum tipo de
historicidade por trás da grande epopeia que foi construída (o.c.p.45).
Falemos sobre o politeísmo em Israel.
“A realidade mais antiga é que muitas divindades residiam no antigo Israel, o
que foi amplamente esquecido” (o.c.p.53). Até porque as falas contra os deuses
foram escritas depois que Israel nadava tranquilamente por séculos na
convivência com todos os deuses do seu panteão, com deuses superiores e outros
inferiores como os “Angeli” (“Anjos”, “mensageiros”) que faziam as ordens dos deuses
maiores. Inclusive, com Javé com sua consorte Asherah como falei já. As várias
críticas contra os “deuses” dos pagãos são devidas à amnésia coletiva do povo,
no dizer do mesmo autor M.Smith: “A
amnésia coletiva de Israel sobre os outros deuses, a saber, que muitos destes deuses
tinham pertencido primeiramente a Israel ajudou-os a esquecer seu próprio
passado politeísta, e portanto serviu para induzir a amnésia coletiva.”
(o.c.p.25)
Vejamos várias estratégias da narrativa
bíblica. Uma delas é aquela luta contra os vários deuses. Esse politeísmo em
que sempre nadaram e mergulharam os judeus inventou a história do “bezerro de
ouro”. Essa é uma estratégia do reino do Sul (judá) contra o reino do Norte que
também tinha o santuário de Dã e Betel e diziam: “estes também são os deuses
que nos tiraram do Egito” (1 R.12,28). E a estratégia da narração foi colocar
esta crítica no episódio de Moisés no Sinai, coisa nem pensável naquela época. “A luta contra o ‘bezerro de ouro’ é uma
reação contra os santuários da Samaria e foi colocada no relato do Sinai para
fazer do Sinai o centro de toda a história bíblica. É portanto uma transposição
moral e atemporal. O que vemos em Êx.32,4.8 é uma reação contra os santuários de
Samaria no Norte em 1 Reis 12,28” (o.c.p.30 e 63). E o autor citado Mark
Smith conclui: “O problema não era o
politeísmo mas a competição entre diferentes divindades apoiadas por diferentes
santuários. O monoteísmo deles não se originou historicamente no primeiro
momento no Sinai com Moisés e a Aliança feita lá”.(o.c.p.86 e p.133). A arqueologia
encontrou documentos dos reis babilônicos dizendo: “capturamos os deuses da confiança dos judeus nas suas cidades”
(o.c.p.93).
Outra estratégia de como o deus “El”
virou Javé para os israelitas foi a lenda de Jacó versus Isaú com a seguinte
conotação: Jacó, o filho mais novo de Isaque tomou o lugar do mais velho que
era Isaú. Por isso, assim como Isaú, o mais velho perdeu para Jacó, o mais novo,
assim “El”, o deus mais velho perdeu para Yahweh, o nome do deus mais novo escolhido
agora. (o.c.p.45), Gn.32,23-33). Foi quando Jacó trocou o nome por Israel, que
era o mesmo nome da nação “Tu te chamarás Israel”; e de quebra “El” trocou o
nome por “Yahweh”, (Gn.cap.32). Este foi o jogo entre os escritores “E” e “J”,
isto é a tradição “eloista” e a tradição “javeista”. O livro de Gênesis corrobora isto
quando fala que Jacó, no Norte ofereceu sacrifício ao seu
deus El: “Aí (em Siquém) fez um altar, que
denominou El, o deus de Israel”(Gn.33,20).
E tudo isto porque ainda não existiam as inimizades entre Israel e os edomitas
como depois aconteceram nas diversas lutas sobretudo quando eles ajudaram os
inimigos a derrubar o templo de Jerusalém em 586 a.C.
Sobre Davi: “Os últimos sucessos
militares de Davi são descritos em termos adulativos, e mesmo esses sucessos
não podem ser defendidos como históricos; as questões de cronologia levantadas pelos
arqueólogos e as questões críticas levantadas pelos estudiosos demoliram a
visão gloriosa que Davi recebera na tradição religiosa posterior, assim como
como suas habilidades são lendárias”(o.c.p. 59). Afinal, reina também entre as
mesmas pesquisas que isso á atribuído também a Salomão. Na verdade, “polêmicas
reais e apologéticas são frequentemente escritas como fatos históricos, e esta
monarquia não deve ter sido tão grande quanto no início se pensou” (Finkenlstein,
Mazar e Stager, o.c.p.60). “A história
lendária de Salomão são contos populares atribuídos a ele, como as lendas do bebê
e as duas prostitutas, e da rainha de Sabá. A própria construção do templo e a
figura do templo é mais ideológica do que real, segundo o maior investigador
bíblico israelense Finkenlstein, pois nas escavações arqueológicas não se
encontram sinais evidentes do seu tamanho. (id. pp.61ss.).
Conclusão.
A Bíblia é composta de edições e reedições, e cada época de uma reedição tinha
novas versões sobre os mesmos fatos e novas ideologias e defender. E, como
disse, pertence à investigação e erudição científica destrinchar e avaliar; é o
que a gente tem que ir aprendendo e não ficar sempre pensando as mesmices de
que tudo era como antigamente.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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