segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

A SIRIA FOI O LUGAR DA COMPOSIÇÃO DOS QUATRO EVANGELHOS.

 

O local da composição dos 04 evangelhos está sendo confirmado que foi na Síria, tanto o primeiro evangelho, de Marcos, como as suas “cópias”, Mateus e Lucas, e assim como o evangelho de João, sem falar nas Cartas de João e o apocalipse. Até há pouco tempo se dava como certo que o evangelho de Marcos teria sido escrito em Roma ‘por causa dos deus latinismos’, e da sua proximidade com Pedro. Isso porém foi ultrapassado, uma vez que a missão de Pedro predominava mais na Síria, e latinismos ocorriam onde se estabelecia a presença romana e sua administração. Além disso, depois da Guerra judaica, no ano 70 d.C. os Sírios acolheram todas as comunidades a partir de Antioquia. Por seu lado, Pedro exerceu sua missão na cidade de Antioquia da Síria e ali permaneceu como membro da igreja local (Cf. H.Koester, Introdução ao N.T. vol.II, p.176). E como dizíamos numa página anterior, após as divergências com Paulo a sua influência se estendeu além da Síria; até que “a tradição sobre sua chegada a Roma e o martírio sob Nero é lendária. De tudo isto, “as últimas conclusões procedem sobre a escrita do evangelho de Marcos na Síria”(o.c.p.176). A atestação mais antiga de Marcos confirma que os dois Evangelhos que usaram seu evangelho, Mateus e Lucas foram também escritos na parte oriental do império romano, ou seja na Síria. Marcos foi escrito depois dos anos subsequentes à Guerra judaica, 70-80 d.C. e Mateus pouco antes do fim do séc. I, 80-90 d.C. Em segundo lugar, Mateus compilou o evangelho grego de Marcos. “Não há a mínima dúvida de que o evangelho de Mateus foi originalmente escrito em grego a partir de duas fontes gregas, especificamente o Evangelho grego de Marcos e o Evangelho dos Ditos também em grego. Este evangelho dos Ditos “serviu de base para os discursos de Mateus, os cinco grandes discursos”(o.c.p.188). Um detalhe: A explicação hermenêutica dos radicalismos de Mateus “os inimigos”, o “adultério do desejo” é devido ao seguinte: Em Mateus Jesus era maior do que Moisés, então as suas exigências tinham que ser maiores do que as de Moisés. (Cf. E.Boring, Comentário do N.T. vol.II, p.1021). Lucas se apoiou tanto em Mateus como no evangelho de Marcos, e assim como ele, foi composto também na Síria. Quanto ao evangelho de João, nunca surgiram dúvidas sobre a sua composição na Síria. Foi aqui, na Síria, que se desenvolveram as filosofias e os círculos gnósticos. Nesses ambientes estavam mergulhadas as comunidades joaninas e com elas conviviam e compartilhavam. Deste modo foram muito influenciadas quando estava surgindo a composição do evangelho de João. Vejamos o que dizem os estudiosos: “O evangelho de João é produto de uma tradição especial que deve ser situada na Síria, e ele supõe um desenvolvimento de comunidades, independente, de muitas igrejas sírias. Bultmann propôs a hipótese de que João usou uma fonte de discursos gnósticos não cristãos para sua composição. Bultmann poderá bem estar correto em seu conceito de que os discursos joaninos são devedores a um debate em matéria dos gnósticos,  e foram formulados no contexto desse debate. A descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi possibilita o acesso a inúmeros escritos que auxiliam na reconstrução da evolução desses discursos” (o.c.p.195). Havia  um evangelho Os  diálogos do Salvador, o evangelho de Pedro, e o evangelho de Tomé, além do mais conhecido, o evangelho dos Ditos,  e todas estas novidades foram descobertas na Biblioteca de Nag Hammadi em 1930. João se utilizou de todos estes recursos no seu evangelho. Como exemplo vejamos o discurso de Jesus com Nicodemos: “O discurso em João com Nicodemos pode servir de exemplo. Ele começa em Jo.3,3 com a citação de um dito sobre renascimento, de Justino Mártir no contexto de sua catequese sobre o batismo. O autor do diálogo com Nicodemos apropriou-se dessa expressão “renascer” e mudou para “nascer do alto”. Outras expressões são tiradas de uma máxima teológica de Inácio de Antioquia quando fala em “espírito e carne”(o.c.p.195). Além disso, na época eram lidos os contos de Apolônio de Rodes, entre os quais a serpente que se defrontou com Esculápio, o deus da cura, suspensa numa árvore; e o autor do discurso de Nicodemos sobre o batismo aplicou essa história a Jesus que nos curaria suspenso na cruz. (Cf. Ph.Wajdenbaum, “Os Argonautas do deserto”, Paulus, 2015, p.229). Muitas coisas do evangelho de João são também devedoras do evangelho apócrifo de Tomé. Alguns exemplos do evangelho de Tomé que passaram para o evangelho de João: “Eu sou a luz que que está acima de todos”, um tanto mudada  “eu sou a luz do mundo” Jo.8,11). Outra: “Quem bebe da minha boca”, transformada para: “Se alguém tiver sede venha a mim e beba”Jo.7,37). (H.Koester,  o.c.p. 196). Pelo meio do evangelho situam-se afirmações próprias da gnose, ou da sabedoria dos gnósticos, donde João parte e as aplica ao conhecimento tanto de Jesus como do Pai: “Quem conhece a mim conhece o Pai”Jo.14. E “ver”: Quem me vê, vê o Pai”, i.é, “ver” igual a “conhecer”. “Contrapondo a interpretação gnóstica do apelo de Jesus ao autoconhecimento o evangelho de João parte para a fé em Jesus. É a partir dessa perspectiva que João desenvolve os Ditos “Eu sou” de Jesus (o.c.p.196).

Conclusão. Não imaginávamos a deslocação da geografia que foi e cenário da escrita do Novo Testamento. Na verdade, isto aconteceu numa época em que havia muita turbulência no império romano e pretendia assegurar sua influência na Síria, haja vista que Roma estava em brigas entre generais, e com os sucessos e derrotas de cada um. Era quando o Senado aprovava ou não aprovava, e assim o derrotado aprontava contra o outro. Isso aconteceu com Nero e Diocleciano, até chegar a Constantino que também brigou com seu irmão Magêncio e conseguiu por meio de muitas tramas derrotá-lo, até inventar a lenda de uma suposta visão de uma cruz no céu para se prevalecer com esse piedoso engano diante dos cristãos. Foi depois dele que o império se dividiu, e aí a metade mais importante foi justamente para a Síria: tanto em Constantinopla como Antioquia. E como o império ficou fraco na parte de Roma, a Igreja, com os bispos e o Papa, digamos, se aproveitaram para tomar o lugar do império. Veja só os imperadores rivais que brigavam nesse tempo: Valério(306-309),  Severo(309-311),Magêncio(303-312), Maximiano II (310-313), Licínio(308-324).

P.Casimiro João     smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

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