O local da composição dos 04 evangelhos
está sendo confirmado que foi na Síria, tanto o primeiro evangelho, de Marcos,
como as suas “cópias”, Mateus e Lucas, e assim como o evangelho de João, sem
falar nas Cartas de João e o apocalipse. Até há pouco tempo se dava como certo
que o evangelho de Marcos teria sido escrito em Roma ‘por causa dos deus
latinismos’, e da sua proximidade com Pedro. Isso porém foi ultrapassado, uma
vez que a missão de Pedro predominava mais na Síria, e latinismos ocorriam onde
se estabelecia a presença romana e sua administração. Além disso, depois da
Guerra judaica, no ano 70 d.C. os Sírios acolheram todas as comunidades a
partir de Antioquia. Por seu lado, Pedro exerceu sua missão na cidade de
Antioquia da Síria e ali permaneceu como membro da igreja local (Cf. H.Koester,
Introdução ao N.T. vol.II, p.176). E como dizíamos numa página anterior, após
as divergências com Paulo a sua influência se estendeu além da Síria; até que
“a tradição sobre sua chegada a Roma e o martírio sob Nero é lendária. De tudo
isto, “as últimas conclusões procedem sobre a escrita do evangelho de Marcos na
Síria”(o.c.p.176). A atestação mais antiga de Marcos confirma que os dois
Evangelhos que usaram seu evangelho, Mateus e Lucas foram também escritos na parte
oriental do império romano, ou seja na Síria. Marcos foi escrito depois dos anos
subsequentes à Guerra judaica, 70-80 d.C. e Mateus pouco antes do fim do séc.
I, 80-90 d.C. Em segundo lugar, Mateus compilou o evangelho grego de Marcos.
“Não há a mínima dúvida de que o evangelho de Mateus foi originalmente escrito
em grego a partir de duas fontes gregas, especificamente o Evangelho grego de
Marcos e o Evangelho dos Ditos também
em grego. Este evangelho dos Ditos “serviu de base para os discursos de Mateus,
os cinco grandes discursos”(o.c.p.188). Um detalhe: A explicação hermenêutica
dos radicalismos de Mateus “os inimigos”, o “adultério do desejo” é devido ao
seguinte: Em Mateus Jesus era maior do que Moisés, então as suas exigências
tinham que ser maiores do que as de Moisés. (Cf. E.Boring, Comentário do N.T.
vol.II, p.1021). Lucas se apoiou tanto em Mateus como no evangelho de Marcos, e
assim como ele, foi composto também na Síria. Quanto ao evangelho de João,
nunca surgiram dúvidas sobre a sua composição na Síria. Foi aqui, na Síria, que
se desenvolveram as filosofias e os círculos gnósticos. Nesses ambientes
estavam mergulhadas as comunidades joaninas e com elas conviviam e
compartilhavam. Deste modo foram muito influenciadas quando estava surgindo a
composição do evangelho de João. Vejamos o que dizem os estudiosos: “O
evangelho de João é produto de uma tradição especial que deve ser situada na
Síria, e ele supõe um desenvolvimento de comunidades, independente, de muitas
igrejas sírias. Bultmann propôs a hipótese de que João usou uma fonte de
discursos gnósticos não cristãos para sua composição. Bultmann poderá bem estar
correto em seu conceito de que os discursos joaninos são devedores a um debate
em matéria dos gnósticos, e foram
formulados no contexto desse debate. A descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi
possibilita o acesso a inúmeros escritos que auxiliam na reconstrução da
evolução desses discursos” (o.c.p.195). Havia
um evangelho Os diálogos
do Salvador, o evangelho de Pedro, e o evangelho de Tomé, além do mais
conhecido, o evangelho dos Ditos, e todas estas novidades foram descobertas na
Biblioteca de Nag Hammadi em 1930. João se utilizou de todos estes recursos no
seu evangelho. Como exemplo vejamos o discurso de Jesus com Nicodemos: “O
discurso em João com Nicodemos pode servir de exemplo. Ele começa em Jo.3,3 com
a citação de um dito sobre renascimento, de Justino Mártir no contexto de sua
catequese sobre o batismo. O autor do diálogo com Nicodemos apropriou-se dessa
expressão “renascer” e mudou para “nascer do alto”. Outras expressões são
tiradas de uma máxima teológica de Inácio de Antioquia quando fala em “espírito
e carne”(o.c.p.195). Além disso, na época eram lidos os contos de Apolônio de
Rodes, entre os quais a serpente que se defrontou com Esculápio, o deus da
cura, suspensa numa árvore; e o autor do discurso de Nicodemos sobre o batismo
aplicou essa história a Jesus que nos curaria suspenso na cruz. (Cf.
Ph.Wajdenbaum, “Os Argonautas do deserto”, Paulus, 2015, p.229). Muitas coisas
do evangelho de João são também devedoras do evangelho apócrifo de Tomé. Alguns exemplos do evangelho de Tomé que passaram para o evangelho de João: “Eu sou a
luz que que está acima de todos”, um tanto mudada “eu sou a luz do mundo” Jo.8,11). Outra:
“Quem bebe da minha boca”, transformada para: “Se alguém tiver sede venha a mim
e beba”Jo.7,37). (H.Koester, o.c.p.
196). Pelo meio do evangelho situam-se afirmações próprias da gnose, ou da
sabedoria dos gnósticos, donde João parte e as aplica ao conhecimento tanto de
Jesus como do Pai: “Quem conhece a mim conhece o Pai”Jo.14. E “ver”: Quem me
vê, vê o Pai”, i.é, “ver” igual a “conhecer”. “Contrapondo a interpretação
gnóstica do apelo de Jesus ao autoconhecimento o evangelho de João parte para a
fé em Jesus. É a partir dessa perspectiva que João desenvolve os Ditos “Eu sou”
de Jesus (o.c.p.196).
Conclusão.
Não imaginávamos a deslocação da geografia que foi e cenário da escrita do Novo
Testamento. Na verdade, isto aconteceu numa época em que havia muita
turbulência no império romano e pretendia assegurar sua influência na Síria,
haja vista que Roma estava em brigas entre generais, e com os sucessos e
derrotas de cada um. Era quando o Senado aprovava ou não aprovava, e assim o
derrotado aprontava contra o outro. Isso aconteceu com Nero e Diocleciano, até
chegar a Constantino que também brigou com seu irmão Magêncio e conseguiu por
meio de muitas tramas derrotá-lo, até inventar a lenda de uma suposta visão de
uma cruz no céu para se prevalecer com esse piedoso engano diante dos cristãos.
Foi depois dele que o império se dividiu, e aí a metade mais importante foi
justamente para a Síria: tanto em Constantinopla como Antioquia. E como o
império ficou fraco na parte de Roma, a Igreja, com os bispos e o Papa,
digamos, se aproveitaram para tomar o lugar do império. Veja só os imperadores
rivais que brigavam nesse tempo: Valério(306-309), Severo(309-311),Magêncio(303-312), Maximiano
II (310-313), Licínio(308-324).
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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