segunda-feira, 25 de agosto de 2025

DOBRAR O JOELHO, HISTÓRICO.


 

“ Por isso Deus  o exaltou e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho de quantos há no céu, na terra e nos abismos e toda língua proclame para glória de Deus Pai que Jesus Cristo é o Senhor” (Fil.2,9). Nas literaturas apocalípticas antigas, Henoc e Moisés eram narrados como mensageiros de Deus, e são elevados até junto de Deus e recebem o nome do próprio Deus: são chamados com o nome de “senhor”. Henoc recebeu até todos os setenta nomes de Deus, e lhe foi dado o império, o poder sobre todas as criaturas. E o nome de Moisés era ”senhor de todos os profetas” (Schilleebeeckx, Jesus, a história de um Vivente, Paulus, 2014,p.492). Como vemos, para os judeus antigos era aceitável esta atribuição do próprio nome de Deus e “senhor” aos seus mensageiros antigos e não contradizia o pensamento estritamente monoteísta deles. “O nome de Deus, “o Senhor”, o “nome colocado acima de todo nome” também foi colocado em Jesus, e atribuído a ele como mensageiro enviado por Deus, e depois devolve tudo aos pés de Deus” (o.c.p.492). Em Deuteronômio está escrita a teoria sobre o profeta escatológico dos últimos dias: “Javé, teu Deus, fará surgir dentre teus irmãos um profeta como eu em teu meio, e vocês o ouvirão” (Dt.18,15). Na tradição antiga, Deus colocou, ou carimbou seu próprio nome nos seus mensageiros. Por isso colocou e carimbou a pessoa de Jesus com seu próprio nome. Que a Jesus era atribuído o nome de profeta dos últimos dias do Livro de Deuteronômio atesta-o o evangelho quando ele é chamado de profeta: “Um grande profeta surgiu entre nós” (Lc.7,16) e: “um dos antigos profetas” (Lc.9,19). Em cima desta missão como “profeta dos últimos tempos” se aumentaram todos os outros títulos e atributos dados a Jesus, e foi nesse status que se firmaram as credenciais de Deus para que fosse proclamado “Senhor”, “Guia” e “Salvador”, e “Kyrios”, como missões que eram credenciadas da parte do Pai. E como diante de Deus se dobrará todo joelho, igualmente diante do seu mensageiro Jesus Cristo. “Diante de mim se dobrará todo joelho, e jurará toda a língua” (Is.45,23), que depois foi traduzido livremente por Paulo quando escreveu: “Está escrito, por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho e toda língua dará glória a Deus” (Rom.14,11). Esta citação de Isaías Paulo copiou-a e colocou num contexto do julgamento de todos por Cristo como juiz. Isto esclarece a missão do profeta escatológico dos últimos tempos que também vinha com a missão de juiz: “Por isso é que  morreu e retornou à vida, para ser o “senhor” tanto dos mortos como dos vivos. Porque julgas então o teu irmão? Todos temos que comparecer perante o tribunal de Deus. Está escrito, por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho e toda língua dará glória a Deus. Assim, pois, cada um de vós dará contas de si mesmo a Deus” (Rom.14,11-14). Nesta página tivemos ocasião de ver a origem da expressão “dobrar o joelho”, e seu histórico. Qual o significado de “dobrar o joelho”? É expressão figurada para render-se, submeter-se ou humilhar-se. Na religião cristã, dobrar o joelho ou ajoelhar-se é um gesto de súplica, respeito e adoração. Uma cortesia ou reverência que é um tradicional gesto de saudação na qual alguém dobra seu joelho, ou curva a fronte. O gesto é caracterizado como uma tradicional saudação de um inferior para um superior, mormente aos reis e rainhas. Também acompanhado com a mão que se leva à boca, que em latim se diz “ad oris”, isto é, levar à boca, donde veio a palavra “a-dorar”.

Cnclusão. Palavras geram atitudes e atitudes são sempre relativas e culturais. A palavra “adorar” afinal vem de um gesto e de uma atitude: o joelho e a mão e a boca. (o beijo).

P.Casimiro João     smbn

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segunda-feira, 18 de agosto de 2025

O INÍCIO DO INÍCIO DO CASAMENRO


 

Convido você a brincar só um pouquinho com uma interpretação que supostamente terá sido atribuída a Jesus num dado momento. É quando o próprio Jesus teria dito: “Moisés permitiu despedir a mulher por causa da dureza do vosso coração; mas não foi assim desde o início” (Mt.19,7b). E “Nunca lestes  que o Criador  desde o início os fez homem e mulher; e disse: por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne; portanto, o que Deus uniu, não separe o homem” (Mt.19,4-7). Vejamos: Havia cinco milhões de anos que haviam passado quando estas coisas foram escritas no livro do Gênesis. Já 5 milhões de anos que os homens e as mulheres se uniam, e não esperavam a ordem de Deus. E, onde se diz: “Não foi assim desde o inicio”: sabemos que desde o início foi pior porque ninguém sabe como foi, mas pouco diferente  dos animais. Eles não sabiam “quando” foi o “início”, nem “como” foi. Parece curioso notar isto, mas tem que se dizer: nem eles nem Jesus sabiam quando foi esse início. E nem eles nem Jesus sabiam da cosmologia de hoje, que diz que nós, os humanos, aparecemos por evolução, ou seja, eles estavam na cosmologia antiga do “criacionismo” que dizia que o homem tinha sido criado do pó da terra, ou com o sangue de algum deus, segundo o “mito” dos vizinhos dos judeus, ou com a água e o pó da terra segundo o “mito” dos judeus. E de quebra haveria só um casal. Enquanto que hoje temos a teoria científica da evolução do cosmo,  que diz que não foi só um homem e uma mulher que surgiram, mas um sem número de machos e fêmeas, o que levou o nome de poliformismo.  Chegando agora na pequenina tribo de Israel, na época de quando foi escrita esta narrativa, o que sabemos? Duas coisas: a primeira, que quando o homem queria abandonar a companheira, bastava que acordasse mal naquele dia achando que ela não estava bonita ou algum defeito na comida, então escrevia um papel, um “libelo”, lhe entregava, e a mandava para a casa da mãe. É donde vem a pergunta: “É permitido ao homem despedir a mulher por qualquer motivo?” Mt.19,3. Segundo: As famílias dos sumos sacerdotes tinham esquadrões de assassinos profissionais encarregados de invadir as casas dos camponeses para tirar até com ameaças de morte os dízimos e os impostos, e raptar esposas para eles trocarem ou ajuntarem às que já possuíam, como afirma Helmut Koester em História e cultura do cristianismo primitivo, pag. 192.                               Se era assim na época deles, imagine como devia ser naquele “início dos inícios”, em que os primeiros machos e fêmeas eram ainda meio animais e meio humanos. Em terceiro lugar, a ciência diz que entre o reino animal 25% por cento são híbridos, isto é, misturados num só animal os dois sexos. E ainda: em todas as culturas ancestrais dos seres humanos tem havido a mesma proporção da mesma hibridez. Percorrendo a história da Grécia e de Roma fica evidente essa narrativa. Então, o “mito” que Deus os formou “homem e mulher” estaria só na cabeça do redator, mas não estava escrito nem na criação seja da mãe natureza, seja do Pai-Deus criador.

P. Casimiro João        smbn       www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

PODER E LEI NA IGREJA.


 

Noutra pagina falei nesse tópico “poder e lei” mais que o reino de Deus, e isso fazia  parte da teologia tradicional do Antigo Testamento. E não só, também em datas mais recentes havia esse casamento do poder e da lei. Desde alguns anos que a Igreja vem tentando uma reviravolta dessas atitudes no passado, deixando para trás ligações, alianças e compromissos com o poder político. Sobrou no entanto o apego ao seu próprio poder “sagrado” tomando o lugar do outro poder temporal. Isto acontece quando o seu próprio poder é “sacralizado”, tornando-o igual ao antigo poder imperial, com a característica de que é “sagrado”, como vindo de Deus, enquanto não, o que vem de Deus é o “serviço” (Mc.10,45). Até porque, se o poder imperial era perigoso enquanto usando e sendo usado por forças humanas, este se torna ainda mais perigoso enquanto “poder sagrado” da Igreja, porque ganha todas as condições para um domínio mágico sobre o povo. Na verdade, a Psicologia diz que a religião é o que exerce a maior força psicológica sobre a humanidade. O concílio vaticano II foi o princípio de uma conversão, mas só o princípio. E tanto foi só o princípio, que logo ao nascer, surgiram forças ocultas dentro da própria Igreja para não deixar essa plantazinha crescer. O modelo de Igreja do concílio foi de uma Igreja que está no mundo a serviço do mundo, não mais para “dominar” o mundo. A visão de que a Lei e o Poder eram mais importantes que o Evangelho do Reino de Deus começava a ser diagnosticada como doença e começou a causar  incômodos  em muitos setores da Igreja. As elites econômicas e políticas do mundo rico e da Igreja tiveram um sobressalto e um susto. Porque o seu modelo de Igreja era claramente de cristandade articulado pela relação Igreja-Poder. E a espiritualidade era desligada da realidade. As primeiras reações começaram e aumentaram fomentadas por setores e movimentos tanto da Igreja como do poder temporal. Nos Estados Unidos instaurou-se um regime de domínio de toda a América Latina, com Herry Truman. Foi quando se formaram os dois blocos Rússia versus Estados Unidos. E aí, nos Estados Unidos estabeleceu-se esta bandeira e esta ideologia: “Tudo o que não for pela América é contra a América. Foi a chamada “Guerra Fria”. E tentou dividir o mundo nesses dois blocos, como se no mundo não houvesse mais ninguém. Esta era uma estratégia para dominar todas as nações da América do Sul. E com as Nações também a própria Igreja entrou na roda da ideologia dos Estados Unidos. Nascia assim o imperialismo moderno dos Estados  da América do Norte. O inicio do conflito “foi o discurso de Truman, em 1947, que deu origem às ditaduras da América Latina no Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Bolívia, Guatemala e Brasil. A implantação destas ditaduras militares estava diretamente associada com o cenário da Guerra Fria, começando com o discurso de Truman, enquanto que a Rússia não tinha feito nunca ameaça nenhuma a nenhum país” (Cf: Silva, Daniel http://brasilescola.uol.com.br/historiag/militar.htm). Tanto que este imperialismo dos USA conseguiu infiltrar-se na Igreja, que por três ocasiões aceitou receber políticos dos USA em Roma para conseguir as amizades do Vaticano. (Apud O.Culman) . E não só, mas conseguiram também colaboração e alianças com a Igreja em muitas nações da América do Sul. Veio desse movimento a mania de chamar comunista a quem não fosse abertamente a favor dos Estados Unidos. Isso aumentou na ditadura militar brasileira e depois da ditadura continuou essa mania ou melhor esse trauma, como um fermento e um veneno que contaminou a sociedade. Duas dimensões retornaram e renasceram numa espiritualidade doentia e até na formação do sacerdócio. As nações mais ricas começaram a dominar o mundo pelas redes sociais. Foi um poder global e digital dos Estados Unidos com o domínio dessas plataformas digitais. Eles tinham o máximo cuidado de levar as Igrejas nessa onda. Desse jeito fomentaram uma espiritualidade que servisse a sua ideologia e seu império. Assim eles promoveram um mercado de espiritualidade alienada e desencarnada, invadindo toda América do Sul com seus pastores bem alinhados ao regime e pagos com muitos dólares americanos. Por outro lado, os padres começaram sendo formados em uma concepção do sacerdócio como poder, e “poder sagrado” para dominar, tudo como reação ao concílio vaticano II. (Apud Pablo Richard – “Contexto Atual da Globalização,pg.49 e 55).

Conclusão. Enquanto que, como frutos do concílio, se fizeram na América Latina os Sínodos de Medellin e Puebla para aplicar os princípios do Vaticano II, em Roma não se davam conta das intenções dos USA que tentavam tomar terreno e afastar as Igrejas das práticas do concílio.  Deste modo, como anteriormente a Igreja se ligava aos poderes imperiais da Europa e do padroado, agora com uma nova fase de unir-se ao novo poder imperial da América do Norte.

P.Casimiro João                  smbn

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segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A RESSURREIÇÃO SEGUNDO O MUNDO HELENÍSTICO E JUDAICO.

“A maior parte da Bíblia nega ou pelo menos ignora a possibilidade da uma vida futura, com apenas alguns poucos textos que se levantam fortemente com uma ideia diferente no período do Segundo Templo” (N.T.Wright, A ressurreição do filho de Deus, pag. 202). Afirmamos numa página anterior o seguinte, que pode-nos parecer estranho: “Se o mundo antigo não judaico tinha seu antigo testamento era Homero; e Platão era o novo testamento” (o.c.p.71)  Digamos que nesta teoria helenística de Homero, séc. VIII a.C. não havia ressurreição nem imortalidade, e nisto se assemelhavam à Bíblia do Antigo Testamento com Moisés, da mesma época  séc.VIII antes de Cristo. Porém, com Platão, séc. V a.C. se falava, em vez de ressurreição, em imortalidade: a alma deixava o corpo donde saía no momento da morte e retornava imortal e incorpórea para a estrela gêmea de onde se tinha originado. Os judeus, depois da era dos Macabeus, e com o livro de Daniel começaram a falar em ressurreição, pelo ano de 160 a.C., mas no sentido de “restauração”, não como conceito ontológico mas histórico. Porque não tinham em vista o estado do indivíduo depois da morte, mas a restauração da Nação como vingança sobre os povos que os tinham oprimido. Este conceito perpassa transversalmente todo o período seguinte e acompanha também o nascimento de primitivo cristianismo no Novo Testamento. O cerne do conceito de ressurreição começou por aí. E nos primeiros capítulos do livro dos Macabeus e do mesmo Daniel essa restauração começava pelos mártires assassinados pelo rei Antíoco como representantes da restauração de todo o Israel. Com Homero, mais ou menos da época de Moisés como dissemos, não havia vida nenhuma depois da morte. Foi preciso chegar a Platão e Epicteto para chegar ao conceito de  imortalidade da alma, que se desprendendo do corpo mortal voaria para a estrela da sua origem vivendo a imortalidade na ilha das bem-aventuranças e do gozo da companhia dos deuses. Os judeus eram também avessos a qualquer vida depois da morte, uma vez que não achavam nada a respeito no Pentateuco e nos Sábios, onde se dizia: “Os mortos apodrecerão para sempre como seu próprio destino” (Jó,20,7; Ec.12,7; Sl104,19). Este era o A.T. dos judeus, como o de Homero dos gregos. Uma novidade: Quando foi escrito o livro de Daniel é de todo provável que Daniel se pusesse em contato com a nova filosofia de Platão que estava entrando na cultura judaica, e, como num link descreveu: “ Os mortos ressuscitarão a um estado de glória no mundo, e terão a condição das estrelas, da lua e do sol dentro da ordem criada” o.c.p.180). Notemos que aqui permanece vivo o conceito de restauração e vingança, enquanto em Platão é conceito ontológico. Na verdade “toda a narrativa dos cap.2 e 4 de Macabeus, como afirma o autor citado é originária de Platão no helenismo” (p.178). A ressurreição tem a sua alma gêmea na esperança. Porém, qual era a esperança dos autores bíblicos? A esperança deles concentrava-se não no destino dos seres humanos após a morte mas no destino de Israel. A Nação e a terra do presente eram muito mais importantes do que aquilo que aconteceria com o indivíduo além túmulo. Até os tradutores gregos da Bíblia dos LXX, intencionalmente mudaram afirmações, como as de Jó, que havia a vida futura, no positivo, enquanto no original estava que não, Jó, 14,14 e 19,26 (cf.o.c.p.226). Por outro lado, o referencial do mundo judaico nos dias de Jesus e Paulo alinhava-se  com este mesmo imaginário e seguia os mesmos textos supracitados de Platão e Daniel e dos Macabeus como sendo as principais fontes para a sua crença geral da ressurreição” (o.c.p.174). E, queiramos ou não, essa era ainda a crença e o imaginário do primitivo cristianismo que ainda está vigorando no imaginário geral da cristandade de hoje. Por isso já foi dito noutra página que o nosso DNA de cristão é composto com os dna’s dos gregos, judeus, mesopotâmios e persas. O que falamos sobre o Novo Testamento está bem claro quando dois apóstolos pediram a Jesus para sentarem um do lado direito e outro do lado esquerdo quando chegasse o seu reinado.(Mc.10,1,37); E a na pergunta que não calava na boca dos apóstolos na hora da ascensão: “Mestre, é agora que vais instaurar o reino de Israel?” (At.1,6). Disse que a ressurreição, historicamente falando foi sempre um conceito mais político do que ontológico, ou seja a volta a uma nova vida individual, mas visava a nação como um todo. Numa dada época surgiu uma nova leitura da Bíblia que intrigou alguns pensadores mais independentes. Trata-se de nova visão da leitura do Gênesis. O livro da criação, o Gênesis, deu inspiração para os profetas Oseias e Jeremias, pois Javé criou os seres humanos soprando neles o seu próprio espírito e, quando ele o retoma para si novamente, eles novamente voltam ao pó, e assim o sopro de Deus era um empréstimo ao ser mortal.. Foi daí que surgiu a figura dos ossos secos em Ezequiel (cap.37), embora seja alusão clara também ao povo  ressequido de Israel. (Cf. também Os. 1,6). E também o livro do Êxodo, onde se fala no Deus que restaurou a vida seca do seu povo tirando-o do Egito. De qualquer maneira que busquemos ambientes e conceitos de ressurreição-restauração, houve sempre uma classe da elite dos judeus que nunca aceitaram qualquer tipo de ressurreição, os saduceus. Por dois motivos, o primeiro porque eles mesmos se consideravam os fiéis guardiões da tradição do inicio da Bíblia que não falava nada a respeito. Segundo, porque  pessoas que acreditavam que seu Deus iria criar um novo mundo, e aqueles que morrem em lealdade a ele durante o processo ressuscitariam para ter parte nele, teriam a probabilidade muito maior de perder o respeito pela aristocracia do que pessoas que acreditavam que esta vida, este mundo, são os únicos que existirão. Por outro lado, eles, que eram a aristocracia, liam o livro de Daniel e dos Macabeus como uma ameaça dos que queriam tirar-lhes o poder, como afirma Wright.  E por último, se olhassem para o conceito de ressurreição como “restauração”, isso não mexia nada com eles porque eles não precisavam de “restauração” nenhuma pois comiam no mesmo prato da aristocracia das nações opressoras e tinham os mesmos privilégios. E a “ressurreição” em Paulo quando fala que “iremos ao encontro do Senhor nos ares”? Não devemos nos deixar enganar pela metáfora de “subir” às nuvens, o que evoca Dn.7,13 que usa este texto para falar de vindicação ou vingança do povo da aliança após seu sofrimento. Ou seja, é uma maneira diferente de dizer o que Paulo já tinha dito em Gal.5,5 “o povo que pertence ao Deus único será vindicado”. Na sua linguagem metafórica ele fala também em “dormir e despertar” expressões empregadas para denotar  a transformação da vida que se produz em virtude da pregação do evangelho. Com esta metáfora Paulo reforça o ensinamento moral, e confere este ensinamento com a repetição da promessa sobre  o que Israel esperava: que a ressurreição-restauração que Israel ansiava já está em caminho em suas vidas por ação do Espirito Santo. Mais ainda, vejamos o ponto central: a lição de que a ressurreição de Jesus foi o cumprimento repentino e perturbador da história de Israel, inaugurando um novo e inesperado período da história, no qual os chamados pelo evangelho vivem como filhos do dia, esperando pelo amanhecer final (o.c.p. 320). A pista para tudo isto é que na morte e ressurreição de Jesus o Deus criador derrotou o poder da morte, de forma que a vida de seu novo mundo, a nova criação, o novo dia que amanhece já se antecipam nas vidas daqueles que foram conquistados pela palavra do evangelho e será completa na volta do Messias (id.id.)   Em tempo: “Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel? Era a questão dos discípulos que explodiu na “despedida oficial” que Lucas colocou no final do seu evangelho e inicio dos Atos dos Apóstolos, At.1,6. Não admira então que Jesus, não tendo correspondido a essas expectativas, tenha tido o desfecho da condenação, como quem diz, este não nos serve, temos que esperar um outro. E daí a confusão de quando ele falava que ia sofrer e ser entregue, com a resposta do evangelho: “Eles não entendiam nada, mas tinham medo de interrogá-lo” (Mc.9,32). Conclusão. Compreendemos agora o conceito platônico sobre imortalidade, conceito ontológico referente à natureza do indivíduo e o conceito histórico de ressurreição-restauração dos judeus que se baseava na história da Nação.

P.Casimio João             smbn

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