...Ora uma grande manada de porcos andava pastando ali junto do monte;
E os espíritos suplicavam-lhe: manda-nos para os porcos para entrarmos neles.
Então os espirito imundos, tendo saído, entraram nos porcos; e a manada, de uns
dois mil, precipitaram-se no mar e afogaram-se” (Mc. 5, 1-14).
Cada
evangelho desenvolve uma teologia própria. Vejamos a de Marcos. Esta cena tem a
ver com a questão da purificação das mãos antes de comer, e da partilha das
refeições de judeus com não judeus. Foi uma luta interna da Igreja que não
ficou resolvida depois da morte de Jesus e nem depois da reunião de Jerusalém.
Os
cristãos na época de Marcos estavam ensaiando as primeiras viagens missionárias
fora dos limites da Judeia. As cenas colocadas aqui são uma parábola teológica
sobre o que é puro e não é; tudo é puro, e o evangelho de Marcos quer colocar
isso bem claro: que com as ações de Jesus não tem mais animal, nem gente, nem
territórios impuros para os pés dos judeus.
Com
esta cena forte da “cura do geraseno” o evangelista tem a seguinte lição: como
Jesus tinha purificado as terras dos pagãos e não apenas a pessoa individual do
“endemoninhado”, então ele declara puros todos os alimentos e todos os
territórios. “O que a pessoa come não lhe
entra no coração mas vai ao ventre, e daí volta pra natureza, e assim ele
declarava puros todos os alimentos” (Mc7,19).
E vem a outra parte paralela do geraseno: “ a manada dos porcos, de uns dois mil, precipitou-se no mar, afogando-se” (Mc.5,13). O território ficou purificado, ao mesmo tempo que a pessoa individual ficou purificada, porque o mar simbolizava o lugar dos monstros, lugar imundo e impuro que é para onde os porcos foram, porque o porco também era imundo.
Na visão dos estudiosos bíblicos reside aqui a intenção teológica de Marcos em reação a esses dois casos e à sua catequese: a purificação das pessoas e a purificação dos territórios.
Em seguida há uma viagem de Jesus para Jerusalém onde Jesus topa com o cego de Betsaida, e ele o chama de “Filho de Davi”. O mesmo fazem as multidões que nessa mesma viagem aclamam Jesus como “Filho de Davi” após a purificação do templo e a entrada de Jesus em Jerusalém.
Aqui há algumas intenções de Marcos.
A primeira é para dizer que o templo já não existia, já tinha sido destruído no
ano de 70 quando as linhas deste evangelho foram escritas, e a segunda é para
esclarecer sobre a missão de Jesus.
Sobre o templo: ele já não existia. E agora? Agora é como na Epidemia de 2020: Os judeus que já não dispunham do templo não tinham outro jeito senão ir para as Sinagogas que eram casas mais aconchegadas.
E os cristãos das comunidades para se considerarem como o espaço da morada de Deus, o novo templo, feito não de pedra e tijolos, mas de pedras vivas que são os cristãos, como disse depois a Carta de Pedro: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados como templo espiritual” (1 Pd. 2,5).
E
uma terceira intenção ainda: Após estas cenas tem esta ainda: Jesus pergunta
sobre Cristo (que quer dizer Messias) e o Filho de Davi, e declarou aos
presentes que adequar o Cristo(ou Messias) com o Filho de Davi é um engando
profundo: “Continuava a ensinar e propôs
esta questão: como dizem os escribas que Cristo (ou Messias) é filho de Davi?
Pois se o mesmo Davi falou: disse o Senhor a meu senhor, senta-te à minha
direita até que eu ponha os teus inimigos sob os teus pés? Ora se o próprio
Davi o chamou senhor, como então é ele seu filho?” (Mc. 12,36)
Qual
a intenção teológica de Marcos? A questão era responder às perguntas e dúvidas
das comunidades se a libertação de Deus viria através da violência militar dos
líderes davídicos ou não. Se eles pensavam isso podiam tirar o cavalo da chuva,
porque Jesus não era esse Messias (ou Cristo) que segundo Davi iria usar da violência.
Se
Jesus fosse esse Messias davídico, eles podiam esperar dele agir pela violência,
e não era esse tal. Dai que Jesus preferiu sempre se apelidar como “Filho do
Homem”, que não vinha pela violência mas pelo serviço e doação da vida.
P.Casimiro smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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