domingo, 16 de agosto de 2020

As intenções teológicas de Mateus

 Outra semana vimos as intenções teológicas da Marcos, e João e hoje é a vez de olharmos o evangelho de Mateus, e tentar colocá-lo no seu ambiente.

1. Sobre a igreja.

A palavra “igreja” só se encontra no evangelho de Mateus. Mateus foi escrito no ano 80 depois de Cristo. Local, na Antioquia.

Origem do vocábulo: primeiro, foi aplicado para uma comunidade concreta, a comunidade onde São Pedro era o líder.

Motivação: para se contrapor a outra comunidade paralela da mesma cidade de Antioquia que não aceitava Jesus como o Messias crucificado. Então, para identificar a comunidade liderada pelo apóstolo Pedro ficou escrito “esta é a minha “igreja”, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt.16,18).

Eles não iriam pensar que essa expressão iria ganhar as proporções que ganhou depois para toda a Igreja. Até porque ainda não havia o cânon dos livros canônicos. O Novo Testamento ainda não existia. Só dali a 300 anos no séc IV.

2. Sobre a autoridade de Pedro

Os primeiros apóstolos de Antioquia foram São Barnabé e são Paulo, cf.At.11,25-26. Depois foi para lá também o apóstolo Pedro, e trabalharam  juntos algum tempo e aconteceram atritos entre os dois “Quando porém Pedro veio para Antioquia, enfrentei-o francamente por sua atitude condenável, pois antes de chegarem alguns da parte de Tiago ele comia com os incircuncisos; mas quando vieram aqueles, ele se retraiu e separou-se deles, temendo os circuncisos” (Gl.2.11-14).

Com esse desentendimento São Paulo largou o trabalho em Antioquia e foi fundar as comunidades de Corinto. E começou escrevendo as primeiras Cartas, as chamadas CARTAS PAULINAS, que chegaram também em Antioquia.

Então a comunidade de São Pedro, ou petrina quis destacar a evangelização de Pedro em relação a Paulo, e nos primeiros pergaminhos que estavam sendo escritos do evangelho atribuído depois a Mateus colocaram lá aquelas palavras “ Tu és Pedro, eu  te darei as chaves do reino dos céus” (Mt.18,18), notando que estas chaves só vêm nesse evangelho de Mateus, em nenhum dos outros não tem essas chaves.

Como dissemos antes também, aqui não tinam ideia de que um dia teriam o alcance que tiveram, como aquelas anteriores aplicadas depois para toda a Igreja, e como tendo sido proferidas por Jesus.

3. Sobre a última palavra da Torá: e sobre a expressão “EU VOS DIGO. 

Ao mesmo tempo que esta comunidade se identificava como a “igreja” de Cristo e se considerava como a comunidade messiânica e povo escatológico, herdeiro das promessas do fim do mundo que estava próximo, (Mt.25,31-46 e 5,4), também consideravam o Cristo como a ultima palavra sobre a Torá, e a última palavra de Deus antes do julgamento final. E traduziam essa convicção pelas expressões “EU VOS DIGO” “Ouviram o que foi dito aos antigos, eu porém lhes digo...” (Mt.5,22). Aliás, eles foram também buscar essa expressão ao evangelho apócrifo de Tomé.

4.Sobre a família patriarcal em Mateus e o adultério e o olhar de cobiça. 

Eu porém vos digo, todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração” (5,22a). “Aquele que chamar de louco será condenado ao fogo eterno” (5,22b)

Ouçamos o que dizem os eruditos: “Tomando à letra o pecado de chamar louco ou tolo, e de olhar com olhar de cobiça e ser digno do fogo do inferno, estaríamos todos com viagem marcada para lá e ninguém se salvaria” (Koester, História e literatura do cisianismo primitivo, 192). Porém aqui está subentendida uma intenção teológica do evangelho de Mateus em relação à família patriarcal. Qual é? 

Historicamente, era para proteger as famílias palestinas dos ataques tanto das perseguições locais como dos romanos. Na verdade, as famílias dos Sumos Sacerdotes cada uma armava seus próprios esquadrões de assassinos profissionais para extorquir os impostos no campo e dividir entre eles e os romanos. 

E quanto ao divórcio, essas famílias aumentavam as suas propriedades recorrendo ao expediente do divórcio com troca de esposas. Veja como se tinha tornado fácil quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, se ela não tiver mais graça aos seus olhos, lhe dará uma certidão de divórcio” (Dt.24,1).

Com estes quatro itens tivemos ocasião de ter uma ideia das intenções teológicas de Mateus.

P.Casimiro smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br


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