Introdução. No início do séc.II começou uma comunidade na Síria,
depois das comunidades de Paulo (Corinto) e de Pedro (Antioquia). Foi a comunidade
joanina. Era pelo ano 110 d.C. Nessa data já nenhum dos apóstolos
era vivo, inclusive o apóstolo João já tinha morrido também.
Esta
comunidade foi formada, segundo os eruditos, por cristãos que tinham passado
por outras comunidades já mais antigas. E assim começaram rivalizando com essas
comunidades. Até porque viviam num ambiente da filosofia gnóstica, muito
espalhada nessa área da Síria.
Nesse
ambiente é que surgiu a comunidade joanina para recordar a memória
do apóstolo João. E foi aí justamente que começaram a ser escritos os primeiros
pergaminhos do evangelho de João.
1. Histórico do evangelho de João: o “presbítero João” e o “Discípulo Amado”.
O evangelho de João foi recebido com muitas suspeitas pelas
primeiras comunidades por conta da sua filosofia e teologia gnósticas.
Ele circulou primeiro nos círculos gnósticos, e quem o espalhou e comentou primeiro
foi Heracleon, mestre gnóstico, para as suas escolas.
Na
igreja, os primeiros que falaram nesse evangelho foram São Justino, 150 d.C. e
Santo Ireneu, 180 d.C. mas com muitas suspeitas. Quando mesmo ele foi admitido
nos livros canónicos foi só em 350 d.C. séc.IV e foi porque nessa época
pensaram que o “presbítero João”(1Jo.1,1)” e o “discípulo amado”(Jo.19,26)
seriam a mesma pessoa, o apóstolo João.
Porém,
mais à frente e nas últimas investigações certificaram-se que esse “presbítero João” era um líder
das comunidades joaninas, até porque
o apóstolo João já tinha morrido quando o evangelho de João e as epístolas
foram escritas.
“O Que vimos
e ouvimos nós vos anunciamos” de
1 Jo.1-4 não é indicativo de que foi escrita por João, mas é uma reivindicação
de toda a comunidade como um todo. São Justino em150 d.C. e S.Ireneu em 180
usaram as mesma expressões em suas Cartas.
Aliás no livro de Números do A.Testamento se diz: ”Nós éramos escravos de
Faraó” (Num.26,4), e a explicação: Em
cada geração um homem deve considerar-se como se ele mesmo tivesse saído do
Egito”.
E a outra confusão quanto ao “discípulo amado” averiguou-se que este nome foi dado à sua comunidade, que rivalizava com as outras comunidades.
2- Dificuldades de incluir o evangelho de João no livros canônicos.
Esta
dificuldade era pelo conteúdo da
filosofia gnóstica em que ele se baseava e que ficou ainda muito clara mesmo
com a correção para a 2ª edição que chegou até nós, porque a 1ª edição
tinha sido rejeitada pelas comunidades da época.
Este
evangelho foi primeiramente admitido e aceito nos círculos gnósticos, o que
levava muita suspeição pelas comunidades cristãs. E na verdade o 1º
comentário ao evangelho de João foi feito pelo mestre gnóstico Heracleon,
em 165 d.C., que o introduziu nas escolas gnósticas como atrás já ficou dito.
3-
As influências gnósticas no evangelho de João.
3.1-
Nos círculos cristãos da comunidade joanina a disputa inicial era sobre se o Messias
era um ser humano, de carne e osso, porque se ele era um ser divino
não poderia ter matéria; porque a matéria era má e não tinha
sido criada por Deus, segundo a filosofia gnóstica.
Porque
Deus era intocável e não podia se misturar com a matéria. Quem criou a matéria
teria sido um ser intermédio, o demiurgo que tinha se desprendido
da divindade e tornou-se o “senhor deste mundo” ou o “príncipe deste
mundo,” como fala o próprio evangelho de João, num dos sinais da filosofia gnóstica que ainda ficaram no
evangelho que leva o seu nome, “Já não
falarei mais convosco porque vem o príncipe deste mundo; mas ele não tem
nada em mim” (Jo.14,3).
Por
isso, as primeiras comunidades joaninas andavam muito misturadas com este
gnosticismo, e para elas Jesus seria só um ser divino. Aliás, no
conhecimento que eles tinham de outras religiões, deuses se transvestiam de humanos
e vinham passar algum tempo na terra e voltavam para onde tinham saído.
3.2-
A filosofia do “LOGOS”. Havia
outro ramo da mesma filosofia que se baseava no Logos. O Logos
era a mesma “Sabedoria” dos Judeus, ou Sofia em grego, que tinha a
missão de ser a inteligência do demiurgo. Tanto para os judeus como para
os gregos este Logos era companheiro de Deus na criação, e era como deus
também pré-existente. No princípio era a Sabedoria que com Deus tinha
criado todas as coisas (Prov. 8, 26-27).
Este
Logos ou Sabedoria foi traduzido na Biblia como o Verbo, ou Palavra. No princípio era o Verbo,
que no grego era o Logos” (Jo.1,1). O Verbo foi aplicado a Jesus, e só
mesmo neste evangelho de João. Logos era um termo-chave tanto no mundo
antigo judaico quanto na religião greco-romana. Era o princípio racional
que preenchia o universo. Logos é a raiz da palavra Lógica.
3.3-
Havia outra corrente que ficou muito ligada ainda às religiões tradicionais, como
hoje os que se ligam ao candomblé. Eram os seguidores da deusa Ísis.
Nos hinos se cantava assim: “ Eu sou a água viva”; “eu sou a luz da humanidade”;
“eu sou o pão da fartura”. Quando esses cristãos se converteram quiseram
transferir esses hinos e aplicá-los a Jesus Cristo. Daí todos aqueles “Eu sou” foram
escritos nos pergaminhos do evangelho de João. (Boring II, 1223).
Aliás,
os cristãos convertidos dos judeus também aplicavam a Jesus os ditos da Torá
que era a luz para o Antigo Testamento e a luz da humanidade. Na
festa dos Tabernáculos os sacerdotes portavam grandes tochas numa
grande procissão da Luz que era a Torá. Por isso, adequava com a
mesma coleção dos “cristãos de Ísis”. Assim, a nova luz é Jesus.
4-
Os segundos pergaminhos do evangelho de João e a segunda edição.
Estes foram os primeiros pergaminhos do evangelho de João. Porém, os eruditos sustentam que nós recebemos uma 2ªedição do evangelho de João com a insistência na pessoa de Jesus de carne e osso para corrigir as primeiras tendências que olhavam só o lado divino de Cristo.
E de uma maneira para nós bastante velada e confusa, nesta 2ªedição vem expressa essa correção em Jo.6. Não é por acaso que no evangelho de João não vem a instituição da eucaristia mas é substituída por esse capítulo conhecido como o milagre da multiplicação ou a parábola teológica da multiplicação dos pães, onde o corpo e sangue de Jesus representam a pessoa inteira de Cristo que é objeto da fé das comunidades.
5-
Para terminar, voltamos àquela observação que foi a dificuldade de aceitar o
evangelho de João como canônico, mesmo depois da 2ª edição. Na verdade
ficaram ainda muitos rastos da filosofia gnóstica, como aquela citação do demiurgo,
ou “o príncipe deste mundo” (Jo.14,3),
ou também “senhor deste mundo” (Jo.12,18). Essa aceitação no cânon só
aconteceu no séc. IV. Faltou pouco para que ficasse no rol dos livros
apócrifos.
No
entanto, como Deus (e a Igreja) escreve direito por linhas tortas a aceitação
deveu-se a essa confusão que causou o “engano do nome “o presbítero” e do “discípulo
amado” que não sendo o apóstolo João, eles pensaram como sendo o João apóstolo.
P.Casimiro
smbn
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