domingo, 9 de agosto de 2020

As intenções teológicas do evangelho de João

 Data do evangelho de João: por volta de 125 d.C. Local: Na Síria.

Introdução. No início do séc.II começou uma comunidade na Síria, depois das comunidades de Paulo (Corinto) e de Pedro (Antioquia). Foi a comunidade joanina. Era pelo ano 110 d.C. Nessa data já nenhum dos apóstolos era vivo, inclusive o apóstolo João já tinha morrido também.

Esta comunidade foi formada, segundo os eruditos, por cristãos que tinham passado por outras comunidades já mais antigas. E assim começaram rivalizando com essas comunidades. Até porque viviam num ambiente da filosofia gnóstica, muito espalhada nessa área da Síria.


Nesse ambiente é que surgiu a comunidade joanina para recordar a memória do apóstolo João. E foi aí justamente que começaram a ser escritos os primeiros pergaminhos do evangelho de João.


1. Histórico do evangelho de João: o “presbítero João” e o “Discípulo Amado”. 

O evangelho de João foi recebido com muitas suspeitas pelas primeiras comunidades por conta da sua filosofia e teologia gnósticas. Ele circulou primeiro nos círculos gnósticos, e quem o espalhou e comentou primeiro foi Heracleon, mestre gnóstico, para as suas escolas.

Na igreja, os primeiros que falaram nesse evangelho foram São Justino, 150 d.C. e Santo Ireneu, 180 d.C. mas com muitas suspeitas. Quando mesmo ele foi admitido nos livros canónicos foi só em 350 d.C. séc.IV e foi porque nessa época pensaram que o “presbítero João”(1Jo.1,1)” e o “discípulo amado”(Jo.19,26) seriam a mesma pessoa, o  apóstolo João.

Porém, mais à frente e nas últimas investigações certificaram-se  que esse “presbítero João” era um líder das comunidades joaninas, até porque  o apóstolo João já tinha morrido quando o evangelho de João e as epístolas foram escritas.

 “O Que vimos e ouvimos nós vos anunciamos” de 1 Jo.1-4 não é indicativo de que foi escrita por João, mas é uma reivindicação de toda a comunidade como um todo. São Justino em150 d.C. e S.Ireneu em 180 usaram as mesma expressões em suas Cartas.

Aliás no livro de Números do A.Testamento se diz: ”Nós éramos escravos de Faraó” (Num.26,4), e a explicação: Em cada geração um homem deve considerar-se como se ele mesmo tivesse saído do Egito”.

E a outra confusão quanto ao “discípulo amado” averiguou-se que este nome foi dado à sua comunidade, que rivalizava com as outras comunidades


2- Dificuldades de incluir o evangelho de João no livros canônicos

Esta dificuldade era  pelo conteúdo da filosofia gnóstica em que ele se baseava e que ficou ainda muito clara mesmo com a correção para a 2ª edição que chegou até nós, porque a 1ª edição tinha sido rejeitada pelas comunidades da época.

Este evangelho foi primeiramente admitido e aceito nos círculos gnósticos, o que levava muita suspeição pelas comunidades cristãs. E na verdade o 1º comentário ao evangelho de João foi feito pelo mestre gnóstico Heracleon, em 165 d.C., que o introduziu nas escolas gnósticas como atrás já ficou dito.


3- As influências gnósticas no evangelho de João.

3.1- Nos círculos cristãos da comunidade joanina a disputa inicial era sobre se o Messias era um ser humano, de carne e osso, porque se ele era um ser divino não poderia ter matéria; porque a matéria era má e não tinha sido criada por Deus, segundo a filosofia gnóstica.

Porque Deus era intocável e não podia se  misturar com a matéria. Quem criou a matéria teria sido um ser intermédio, o demiurgo que tinha se desprendido da divindade e tornou-se o “senhor deste mundo” ou o “príncipe deste mundo,” como fala o próprio evangelho de João, num dos sinais da  filosofia gnóstica que ainda ficaram no evangelho que leva o seu nome, “Já não falarei mais convosco porque vem o príncipe deste mundo; mas ele não tem nada em mim” (Jo.14,3).

Por isso, as primeiras comunidades joaninas andavam muito misturadas com este gnosticismo, e para elas  Jesus seria só um ser divino. Aliás, no conhecimento que eles tinham de outras religiões, deuses se transvestiam de humanos e vinham passar algum tempo na terra e voltavam para  onde tinham saído.


3.2- A filosofia do “LOGOS”.  Havia outro ramo da mesma filosofia que se baseava no Logos. O Logos era a mesma “Sabedoria” dos Judeus, ou Sofia em grego, que tinha a missão de ser a inteligência do demiurgo. Tanto para os judeus como para os gregos este Logos era companheiro de Deus na criação, e era como deus também pré-existente. No princípio era a Sabedoria que com Deus tinha criado todas as coisas (Prov. 8, 26-27).

Este Logos ou Sabedoria foi traduzido na Biblia como o Verbo,  ou Palavra. No princípio era o Verbo, que no grego era o Logos” (Jo.1,1). O Verbo foi aplicado a Jesus, e só mesmo neste evangelho de João. Logos era um termo-chave tanto no mundo antigo judaico quanto na religião greco-romana. Era o princípio racional que preenchia o universo. Logos é a raiz da palavra Lógica.


3.3- Havia outra corrente que ficou muito ligada ainda às religiões tradicionais, como hoje os que se ligam ao candomblé. Eram os seguidores da deusa Ísis. Nos hinos se cantava assim: “ Eu sou a água viva”; “eu sou a luz da humanidade”; “eu sou o pão da fartura”. Quando esses cristãos se converteram quiseram transferir esses hinos e aplicá-los a Jesus Cristo. Daí todos aqueles “Eu sou” foram escritos nos pergaminhos do evangelho de João. (Boring II, 1223).

Aliás, os cristãos convertidos dos judeus também aplicavam a Jesus os ditos da Torá que era a luz para o Antigo Testamento e a luz da humanidade. Na festa dos Tabernáculos os sacerdotes portavam grandes tochas numa grande procissão da Luz que era a Torá. Por isso, adequava com a mesma coleção dos “cristãos de Ísis”. Assim, a nova luz é Jesus.


4- Os segundos pergaminhos do evangelho de João e a segunda edição.

Estes foram os primeiros pergaminhos do evangelho de João. Porém, os eruditos sustentam que nós recebemos uma 2ªedição do evangelho de João com a insistência na pessoa de Jesus de carne e osso para corrigir as primeiras tendências que olhavam só o lado divino de Cristo


E de uma maneira para nós bastante velada e confusa, nesta 2ªedição vem expressa essa correção em Jo.6.  Não é por acaso que no evangelho de João não vem a instituição da eucaristia mas é substituída por esse  capítulo conhecido como o milagre da multiplicação ou a parábola teológica da multiplicação dos pães, onde o corpo e sangue de Jesus representam a pessoa inteira de Cristo que é objeto da fé das comunidades.

 

5- Para terminar, voltamos àquela observação que foi a dificuldade de aceitar o evangelho de João como canônico, mesmo depois da 2ª edição. Na verdade ficaram ainda muitos rastos da filosofia gnóstica, como aquela citação do demiurgo, ou “o príncipe deste mundo” (Jo.14,3),  ou também “senhor deste mundo” (Jo.12,18). Essa aceitação no cânon só aconteceu no séc. IV. Faltou pouco para que ficasse no rol dos livros apócrifos.


No entanto, como Deus (e a Igreja) escreve direito por linhas tortas a aceitação deveu-se a essa confusão que causou o “engano do nome “o presbítero” e do “discípulo amado” que não sendo o apóstolo João, eles pensaram como sendo o João apóstolo.

P.Casimiro smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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