domingo, 30 de agosto de 2020

O retorno de Cristo, nas Cartas de São Paulo


 Irmãos, não queremos que ignoreis, irmãos, coisa alguma a respeito dos mortos para que não vos entristeçais, como os outros homens que não têm esperança.

Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos também que Deus levará consigo os que morreram. Eis o que vos declaramos conforme a palavra do Senhor, por ocasião do retorno do Senhor, nós que ficamos ainda vivos não precederemos os mortos.

Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao sinal da trombeta, o mesmo Senhor descerá do céu, e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro, depois nós, os vivos, que ainda estamos na terra, seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens ao encontro do Senhor nos ares e assim estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1.Tes.4, 13-18).

Esta expectativa da proximidade da volta ou retorno do Senhor é um elemento integrante do pensamento teológico de São Paulo desde as suas primeiras Cartas (1.Tes.4,13-18) até as últimas, como Rom. 13,11 e Fil;3,20).

Porque falamos desde as primeiras Cartas? É que de fato, as Cartas aos Tessalonicenses são as duas primeiras peças dos escritos cristãos de todo o Novo Testamento mesmo antes  dos evangelhos. A 1 Tes. foi escrita no ano 50 d.C. 17 anos após a conversão de São Paulo à comunidade de Tessalônica, constituída por não mais de 20 pessoas.

Duas observações a fazer. A primeira é que São Paulo usou a linguagem figurada apocalíptica do Antigo Testamento para falar sobre o imaginário do “retorno” de Cristo. Segundo, porque é que São Paulo fala “aqueles que já morreram”? e: “consolai-vos uns aos outros com estas palavras”?

É porque tinha havido uma peste na cidade e tinham morrido muitos irmãos de Tessalônica, e como eles estavam no aguardo do retorno de Cristo em breve, pensavam que só eles iriam ao encontro de Cristo e os mortos não. Aí São Paulo os acalma dizendo, tenham calma, eles também irão ao encontro de Cristo, e em primeiro lugar.

E você pergunta: Mas esse Jesus nunca voltou assim como eles esperavam. Tem razão. Daí nasceram quatro atitudes. A primeira: vamos aguardando, que a data há de chegar. A segunda: isso nunca vai acontecer, tirem o cavalo da chuva. A terceira: essa vinda está chegando, é a vinda de Jesus por meio do seu Espírito que ele prometeu.

É ele que vem com a força desse Espírito que ele chama Espirito Santo que fortalece, que ilumina e que recorda tudo o que ele ensinou: “Ele me glorificará porque receberá do que é meu e lhes ensinará; tudo o que o Pai possui é meu, por isso eu disse, há de receber do  que é  meu e lhes anunciará” (Jo.16,14-15).

E os da quarta atitude preferiram empurrar tudo para o final dos tempos, trazendo à memória o mesmo retorno que vinha já do Antigo Testamento como “a vingança de Deus” para premiar o sofrimento dos justos e para o castigo do opressor.

E foram buscar a sentença do salmo 90,4 que diz: “mil anos para Deus são como o dia de ontem que já passou” (Sl.90,4). A segunda Carta de Pedro a reproduz: “Mas há uma coisa, irmãos de que não vos deveis esquecer: um dia diante do Senhor é como 1000 anos, e 1000 anos como um dia”.(2 Pd.3,8).

O “retorno de Jesus” que está ainda no imaginário de muitas  seitas cristãs e quem sabe de muitos católicos tem o seu contexto tirado do oráculo que retrata Jesus retornando feito um governador quando voltava de uma viagem, como acontecia na época de Jesus. Os súditos saíam para saudá-lo, seja ele o rei, a rainha, ou o governador, e o acompanhavam em cortejo triunfal até a sua cidade.

Este é o termo oficial para “ir ao encontro do Senhor”, também chamado depois de “parusía”, que está muito irmanado com a “escatologia” e “apocalíptica” do Antigo Testamento, que é a expectativa da vinda de Deus na figura de um Messias (ungido) que daria a vitória final a Israel como povo de Deus e vingança aos seus inimigos.

A apocalíptica de hoje tem em mistura essas quatro atitudes diluídas que fazem parte ainda hoje do nosso imaginário, com o qual a teologia continua-se debatendo.

P.Casimiro   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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