sábado, 28 de novembro de 2020

A Branquitude da Europa e dos USA versus Teologia da Libertação ou do 3º Mundo


 O Papa São João XXIII quando anunciou o Concílio Vaticano II disse: “A Igreja é, e quer ser a Igreja de todos e principalmente a Igreja dos pobres. Porém os bispos, por conta de atender às condições da Europa que vivia nos inícios de uma teologia do progresso e da consagração do profano, esqueceram bastante esse problema”(Gustavo Gutierrez).

Aquela recomendação do Papa João falou mais alto no pós-concílio nos bispos da América Latina, e com um representante como Dom Hélder Câmara, que promoveu várias reuniões com os bispos do Brasil nos intervalos das Sessões. E foi dessas reuniões que surgiu a CNBB da qual o Dom Helder foi o fundador, como sendo a primeira Conferência mundial dos bispos de uma nação. E entre as figuras que estiveram presentes como teólogos no Concílio foi o teólogo peruano Gustavo Gutierrez, o pai da Teologia da Libertação.

Gustavo, quando em 1965 foi pároco na cidade de Lima, capital do Peru, num bairro pobre, tinha a seguinte preocupação na sua cabeça: “como dizer ao pobre que Deus o ama”? E daí começou distinguindo dois tipos de pobreza: primeiro, a pobreza real de cada dia; a segunda, a falta de consciência e de compromisso daqueles que dizem “deixa pra lá, entrega tudo pra Deus, e cruzam os braços como se nada estivesse nas mãos deles.

Em 1969 veio para o Brasil, e aqui teve ocasião de aprender muito com o episcopado brasileiro, onde já se estava fundando a CNBB com o compromisso pelos empobrecidos. E ele viu que aqui já se falava nisso, os pobres não são pobres, mas empobrecidos. Isto é, se você é roubado de tudo que tem, você fica empobrecido. Você não nasceu pobre, é empobrecido, quer dizer roubado.

Porém, nas teologias do Vaticano os Cardeais não estavam nem aí com essa situação. Foi nessa época de 1984 a 2004 que a teologia do Padre Gustavo Gutierrez ficou sob suspeita e investigação. Foi também que essa suspeita caiu também em Leonardo Boff. 

É digno de nota que nessa época saiu, de Roma, uma Carta para o presidente dos Estados Unidos da América do Norte, Ronald Reigan, em 1984, para que proibisse na América Latina a Teologia da Libertação. Pela história, esse presidente R.Reigan foi o maior imperialista que iniciou os maiores abusos contra a América Latina.

Com a criação da “Nova Ordem Mundial” ele tornou-se o cacique mundial ao qual a Europa e Américas ficariam sujeitas, na época da queda do Muro de Berlim (1989). E claro, como a política encontra muitas vezes um aliado forte na ideia religiosa, promoveu o Instituto nacional da Religião para ser o tentáculo de dominar o mundo pela sua “mística” de viés cristão ao seu jeito. Aproveitando-se também do surgimento do Fundamentalismo protestante que prosperava nos Estados Unidos desde 1920.

Um dos pilares do Fundamentalismo protestante era a ideia fixa do retorno de Cristo que estaria próximo, e por isso seria inútil tirar os pobres da sua situação de pobreza e miséria e exploração. Foi assim que Ronald Reigan junto com  o Fundamentalismo religioso americano promoveram uma guerra declarada contra a Teologia da Libertação com as bênçãos do Vaticano.

Porém, de outra forma teria agido Roma se olhasse para estas palavras de São João Crisóstomo quando diz: “é um cisma separar o sacramento do altar do sacramento do irmão, e dissociar o sacramento da Eucaristia do sacramento do pobre”. (In José Tolentino de Mendonça, “O Elogio da sede”,138).

Assim como para os questionamentos de Dom Hélder Câmara: “O que fizemos com a mensagem de Cristo? De que maneira a multidão dos pobres, dos exilados, dos marginalizados, dos sem-casa, dos sem-terra, dos sem-nada pode acreditar que o Criador é Pai que os ama, se nós que nos dizemos cristãos, continuamos a deixar o prato deles vazio”? (id).

Porém, em 2016 novos ventos sopraram no Vaticano. Nesse ano de 2016 o teólogo Gustavo Gutierrez, do Peru, Jon Sobrino da Espanha, e Leonardo Boff do Brasil foram recebidos pelo Papa Francisco em Roma para a sua reabilitação teológica, pois os seus livros tinham sido proibidos pelo Papa anterior e pelo Card.Ratzinger quando Prefeito da Congregação da Doutrina Cristã.

Após aterrissar em Roma, ao ser recebido pelo Papa, Leonardo Boff perguntou direto ao Papa Francisco: “Santo Padre, mas o outro ainda está vivo, ele não aceita”. “ - Sim, mas o Papa agora sou eu”, respondeu o Papa Francisco. Dá para ouvir as palavras do Roger Cipó, filósofo e fotógrafo brasileiro: “A branquitude decide quando nos ouve ou não”.

Na entrevista a Leonardo Boff, o jornalista Joachim Frank em 25/10/2016 perguntou-lhe se a encíclica do Papa “Laudato Si” tinha a colaboração do teólogo Boff. Boff respondeu: Sim, ele me solicitou material para a Encíclica, e recomendou: “Não mande a papelada para a Cúria senão os funcionários interceptam e eu não receberei; mande para o embaixador da Argentina, assim eu vou receber”.

Esses são os ventos novos da Igreja que mesmo assim ainda atrapalhados por estruturas pesadas do passado. De novo vale ouvir a afirmação do Roger Cipó: “A branquitude decide quando nos ouve ou não”.

E parece até que a “a branquitude” da Europa estava sentindo saudades da Inquisição, e da colaboração com os Impérios,  como no caso da Carta para o presidente dos Estados Unidos da América do Norte.

Obs. Para a Entrevista do jornalista Joachim Frank veja a Fonte: www.ihu.unisinos.br

P.Casimiro    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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